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A ILHA PROIBIDA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A ILHA PROIBIDA.

Por Abdon Marinho.

MADRU­GADA de domingo, um tro­vão mais intenso acordou-​me. Eram três e quinze. A par­tir daí pas­sei a acom­pan­har a chuva per­sis­tente que caia sobre a Ilha de São Luís. A chuva não ces­sava. Acos­tu­mado com as con­se­quên­cias, sai à varanda enquanto pen­sava nos transtornos que o agua­ceiro estaria provo­cando nos vários pon­tos que con­hece­mos bem.

Quando dia clareou, antes mesmo de rece­ber as notí­cias, des­mar­quei com dois ami­gos que ficaram de vir ao sítio olhar umas coisas. Sabia que as estradas não dariam passagem.

Logo após o café da manhã, pelas redes soci­ais, come­cei a rece­ber as ima­gens do caos que tomara conta dos municí­pios da região met­ro­pol­i­tana. Estrada de Riba­mar, inter­di­tada em vários, pon­tos, Estrada da Maioba, a mesma coisa, Estrada da Mata Fechada, MA 204, tomada por um mar de água na região do Beira-​Rio, tam­bém sem per­mi­tir pas­sagem.

No cen­tro da cap­i­tal um pré­dio histórico ruiu, em diver­sos pon­tos da cidade a água tomou conta de casas, inva­diu pon­tos com­er­ci­ais, esta­ciona­men­tos, nas áreas de risco, casas ruíram e famílias foram desa­lo­jadas, etc.

A Ilha de São Luís tornou-​se uma espé­cie de “ilha proibida”, com a pop­u­lação impe­dida de se loco­mover, vis­i­tar algum par­ente, fazer os pas­seios domini­cais, ir à igreja ou mesmo aos almoços de família.

Em situ­ação bem pior, aque­les que pas­saram o domingo, limpando suas casas ou empre­sas e con­tabi­lizando os pre­juí­zos, os móveis, os veícu­los e, até mesmo, os lares per­di­dos.

Decerto que as autori­dades não podem ser respon­s­abi­lizadas pelo vol­ume de chu­vas que caiu sobre a Ilha (e mesmo o estado) nos últi­mos dias, segundo dizem, em ape­nas 24 horas, choveu a metade da média histórica pre­vista para todo o mês de março.

Mas, tão pouco, é cor­reto deb­itar todo o caos ocor­rido na conta de São Pedro.

As chu­vas foram inten­sas, é ver­dade, mas tam­bém é ver­dade que os pon­tos prin­ci­pais de alaga­mento e de transtornos são os mes­mos de sem­pre.

Desta vez, encheram mais, provo­caram mais danos, mas são os mes­mos que con­hece­mos de cor: a Estrada de Riba­mar, nas prox­im­i­dades do Rio Paciên­cia – que no primeiro ano de man­dado, em 2015, o gov­er­nador, em pes­soa, durante um alaga­mento foi lá prom­e­ter que solu­cionaria o prob­lema e qua­tro anos depois con­tinua, prati­ca­mente, a mesma coisa –, nas ime­di­ações do Pátio Norte, cujo o alaga­mento piorou após a sua implan­tação; na entrada do Maiobão/​Lima Verde; depois do Maiobão, no Tam­baú; na ponte sobre o Rio São João; nas prox­im­i­dades do Wang Park, no acesso a sede de Paço do Lumiar; na MA 204, no Beira-​Rio; na Avenida Gua­ja­jaras; no Anil; no Mer­cado Cen­tral; no Renascença próx­imo ao Curso Welling­ton.

Estes são os pon­tos prin­ci­pais de alaga­men­tos respon­sáveis pelo “trava­mento” da ilha em dias de chuva.

São prob­le­mas con­heci­dos de todos e que, pela sua con­stante repetição, poder-​se-​ia usar as fotos do pas­sado como se fos­sem do último alaga­mento.

Um amigo que morava nas ime­di­ações da Lagoa da Jansen teve que aban­donar seu imóvel após se cansar e se angus­tiar com as repeti­das inun­dações da sua casa todos os anos. Isso após reit­er­a­dos pedi­dos de socorro as autori­dades estad­u­ais e munic­i­pais, de reit­er­adas matérias jor­nalís­ti­cas exter­nando o prob­lema.

Cansou-​se depois que viu, depois de tan­tos ape­los, as autori­dades preferirem inve­stir uma pequena for­tuna na con­strução de praças no local ao invés de fazer a drenagem e resolver o prob­lema dos moradores.

Foi se endi­vi­dar com­prando outro imóvel para viver com a família, longe do alaga­mento certo como o movi­mento das marés.

Exceto pelo vol­ume de chu­vas, as autori­dades maran­henses – da ilha, prin­ci­pal­mente –, não estão diante de uma novi­dade, não podem ale­gar sur­presa, diz­erem que estão sur­preen­di­dos com o que acon­te­ceu e anun­ciar com pompa “medi­das emer­gen­ci­ais”.

O gov­er­nador está no quinto ano con­sec­u­tivo de mandato e foi teste­munha ocu­lar deste tipo de situ­ação desde o primeiro inverno que pas­sou no cargo, sendo aler­tado todos os anos por fatos idên­ti­cos.

O prefeito da cap­i­tal com seis anos no cargo, tam­bém não pode dizer que não sabia que isso pode­ria acon­te­cer.

Os demais prefeitos, do mesmo modo – talvez a exceção da prefeita do Municí­pio da Raposa, que não tem muita exper­iên­cia admin­is­tra­tiva, até pela pouca idade –, não podem, ale­gar que descon­hecem os prob­le­mas que agora mar­t­i­riza os munícipes, lhes causam pre­juí­zos e desassossego.

Vou além, antes os prefeitos e mesmo os gov­er­nadores, tin­ham como des­cul­pas o fato de serem de par­tidos adver­sários, inimi­gos políti­cos.

Hoje não, são todos ali­a­dos do gov­er­nador desde cri­anc­in­has.

Dizem, que se o gov­er­nador pedir a algum deles que fique sem res­pi­rar 5 min­u­tos, o indig­i­tado morre, mas não con­traria o “chefe”.

A afinidade é tamanha que fazendo troça à situ­ação de vas­salagem, outro dia um amigo contou-​me que deter­mi­nado prefeito chegou para o gov­er­nador:

— Chefe, chefe, sabe as duas pes­soas que mais gosto na vida?

O gov­er­nador pen­sou que ele fosse dizer a esposa, o filho, a amante, etc., mas per­gun­tou:

— Quem, fulano?

Ao que o cidadão respon­deu:

— A primeira é o sen­hor.

— E a segunda? Insis­tiu o gov­er­nante.

— A segunda é quem o sen­hor man­dar. Respondeu-​lhe o alcaide.

Claro que isto é uma ale­go­ria desde meu amigo, mas serve para retratar muito bem, o nível de relação entre as autori­dades da região met­ro­pol­i­tana e o governador.

Assim, parece-​nos injus­ti­ficável, que todos eles sabendo dos prob­le­mas oca­sion­a­dos aos munícipes no período das chu­vas não ten­ham travado um “diál­ogo” – para usar o termo que virou moda –, visando resolver os prob­le­mas decor­rentes das chu­vas.

Não sabiam que os rios, que insis­tem em cor­tar a Ilha pre­cisam ser limpos? recu­per­a­dos? Pas­sarem por um processo que lhes per­mi­tam rece­ber um vol­ume maior de água, uma vez que estão assore­a­dos?

Quan­tas vezes, os cidadãos, não aler­ta­mos as autori­dades para as con­struções irreg­u­lares, den­tro das faixas de domínio das rodovias e às mar­gens dos rios e igara­pés? Eu perdi as con­tas.

Quan­tas vezes não aler­ta­mos que sem drenagem pro­funda não se resolve­ria o prob­lema do excesso de água sobre as pis­tas nos dias de chuva?

Quan­tas vezes não foram aler­ta­dos para a situ­ação caótica dos pré­dios do Cen­tro Histórico da capital?

Pois é, ninguém nunca ouviu, ou, se ouvi­ram, fiz­eram pouco caso, acharam que era coisa de quem era “do con­tra”, quando na ver­dade o que se que­ria era con­tribuir com a cidade.

Outro dia veio abaixo o teto do giná­sio Castelinho.

Recordei que antes mesmo da posse dos atu­ais donatários do poder, recomende-​lhes que a Sec­re­taria de Esportes ficasse com o encargo de cuidar ape­nas daquele do Com­plexo Castelão, pas­sando todos os demais giná­sios que estivesse próx­imo de alguma escola para a respon­s­abil­i­dade da Sec­re­taria de Edu­cação – que pos­sui muito mais recur­sos e ver­bas para esta final­i­dade –, fiz­eram ouvi­dos moucos.

O teto do Castelinho caiu e colo­caram a culpa em São Pedro, emb­ora aquele giná­sio esteja encravado num bairro pop­u­lar e não se tenha notí­cia que out­ras residên­cias do bairro ten­ham ruído.

Como se Éolo – o deus dos ven­tos –, tivesse lançado sua fúria somente sobre a praça esportiva, talvez zan­gado com os maus resul­ta­dos.

Como ser­tanejo aprendi que a chuva não é um prob­lema, é ela que traz far­tura, alivia a nossa sede, coloca o ali­mento na nossa mesa.

Tanto assim, que quando avis­ta­mos nuvens negras no hor­i­zonte não digo que o dia está feio e sim, que está bonito para chover.

Não temo, nunca temi a chu­vas, o que me apa­vora, mesmo, são gestores imprev­i­dentes. Aque­les que inca­pazes de apren­derem algo com a história, ten­tam cor­rer com medi­das emer­gen­ci­ais para mino­rar os prob­le­mas que não exi­s­tiriam se tivessem agido no tempo certo.

Com medo de qual­quer con­tratempo e não chegar em casa, hoje sai do escritório bem mais cedo, a tempo de atrav­es­sar as áreas de risco na baixa-​mar.

A Ilha do Maran­hão evoluiu tanto que volta­mos a nos loco­mover de acordo com a tábua da maré.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

O FRA­CASSO REPUBLICANO.

Escrito por Abdon Mar­inho

O FRA­CASSO REPUB­LI­CANO.

Por Abdon Marinho.

A SEM­ANA ter­mi­nou com dois ex-​presidentes da República como hós­pedes invol­un­tários do Estado. Na nada edi­f­i­cante condição de pre­sos.

O primeiro, o ex-​presidente Lula, há quase um ano encar­cer­ado, cumprindo penas que, somadas, já passa de um quarto de século – em ape­nas dois dos proces­sos que responde, parece que e se aprox­ima de uma dezena.

O segundo, o ex-​presidente Temer, preso pre­ven­ti­va­mente, sob a acusação de coman­dar uma quadrilha que há mais de quarenta anos dilap­ida o erário.

Em que pese exi­s­tirem dis­cussões sobre a legal­i­dade da prisão pre­ven­tiva (tendo em vista o réu pos­suir residên­cia fixa, emprego definido, até onde se sabe não está cau­sando embaraços as inves­ti­gações), poucos, quase nen­hum, dos que sus­ten­tam isso, ousam “colo­car as mãos no fogo” na defesa da inocên­cia do ex-​presidente.

Noutras palavras: mesmo os que acham que houve excesso na dec­re­tação da prisão de Temer e parte de seus “ali­a­dos”, são con­hece­dores das “estrip­u­lias” do mesmo desde mea­dos dos anos oitenta.

Emb­ora não seja inédito dois ex-​presidentes virarem hós­pedes do Estado – out­ras nações tam­bém já pas­saram por tal con­strang­i­mento –, tal fato não deixa de nos enver­gonhar.

Caso a Justiça não abuse do dire­ito de ser lenta, tal con­strang­i­mento poderá aumen­tar.

Além dos dois ex-​presidentes, que, por pura coin­cidên­cia, foram diri­gentes e eminên­cias par­das dos maiores par­tidos da nação nos últi­mos vinte anos (Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e Movi­mento Democrático Brasileiro – MDB), segundo lev­an­ta­men­tos feitos, ape­nas os ex-​presidentes Fer­nando Hen­rique Car­doso (PSDB) e Ita­mar Franco (já fale­cido) não fig­u­ram como partícipes dos escân­da­los que estão vindo à tona.

Tanto assim que um dos “memes” que cir­cu­laram nas redes soci­ais logo após a prisão de Temer, con­tinha as ima­gens dele, do ex-​presidente Lula, com a leg­enda “preso”, e a imagem da ex-​presidente Dilma Rouss­eff, com a leg­enda “car­regando”. Uma insin­u­ação de que será a próx­ima.

Em ape­nas 34 anos – da posse de Sar­ney, em 15 de março de 1985, inau­gu­rando o que se chamou de a Nova República para cá, em oposição à ditadura mil­i­tar que dirigiu o país nos vinte anos ante­ri­ores –, temos uma sucessão de escân­da­los a não fazer a nen­huma republi­queta de bananas.

Mesmo os dois ex-​presidentes que não fig­u­ram na atual “safra” de escân­da­los, não pas­sam imunes a um exame mais min­u­cioso de suas gestões. Não estão nesta safra, mas têm seus próprios esquele­tos nos armários. E todos sabe­mos, ou tomamos con­hec­i­mento disso, nas épocas próprias e nos momen­tos pos­te­ri­ores.

Vive­mos sob a égide de um mantra: o escân­dalo de hoje é maior que o de ontem e menor que o de amanhã.

Nada rep­re­senta mel­hor ou é mais sig­ni­fica­tivo sobre tal assertiva do que o acon­te­cido no Estado do Rio de Janeiro, estado da ex-​capital fed­eral, onde o crime, a cor­rupção desen­f­reada, “seque­strou” o poder público e faliu o estado, a ponto de ano pas­sado exper­i­men­tar uma inter­venção fed­eral, fato que não tín­hamos notí­cia em tem­pos recentes.

E, para com­ple­tar, na mesma sem­ana em que um segundo ex-​presidente da República virou hós­pede do Estado, no Rio de Janeiro, todos os ex-​governadores, eleitos, ainda vivos, tiveram a exper­iên­cia de ver o sol nascer quadrado.

Coroando tudo isso, foi reg­istrado que pela primeira vez na história, o livro de posse dos par­la­mentares estad­u­ais deixou a sede do Par­la­mento Estad­ual e foi ao Com­plexo Pen­i­ten­ciário de Bangu. Motivo: empos­sar cinco par­la­mentares que, eleitos, não pud­eram assumir no dia cor­reto por estarem pre­sos por crimes diver­sos.

Cheg­amos à situ­ação em que as pes­soas – mesmo as cul­tas (ou que se dizem), artis­tas, int­elec­tu­ais –, pregam e defen­dem que a política não pode ser feita sem cor­rupção, sem o desvio de recur­sos públi­cos, sem o enriquec­i­mento pes­soal, sem o com­padrio, sem o jogo de inter­esses pessoais.

Firme nesta con­cepção que estes defen­dem, com “unhas e dentes”, que políti­cos sabida­mente cor­rup­tos, sejam jul­ga­dos “pelo povo”, como se fazia nos primór­dios da civ­i­liza­ção.

Acham – e talvez ten­ham razão, pois nunca viveram nada difer­ente –, que a política é uma coisa nec­es­sari­a­mente “suja” e que é necessário meter a mão na m***, como disse certa fez um destes artis­tas int­elec­tu­ais, para se atin­gir deter­mi­na­dos obje­tivos, como sal­var o “povo”. Acham legí­timo que para “sal­var o povo” espoliem a nação.

Por conta disso vejo diari­a­mente as pes­soas de bem “fugirem” da política, se fecharem em suas próprias vidas, cuidarem dos próprios inter­esses, enquanto os maus inten­ciona­dos se ocu­pam dos inter­esses dos esta­dos e pas­sam a admin­is­tração das coisas públi­cas.

Tam­bém, por isso, assis­ti­mos as posições públi­cas serem ocu­padas, suces­si­va­mente, por pes­soas que nunca “fiz­eram por mere­cer”, que nunca “enfi­aram um prego numa barra de sabão”, eleitos por ser fil­hos, esposas, amantes, “pro­te­gi­dos” de out­ros tam­bém sem quais­quer qual­i­fi­cações que chegaram antes.

Acred­ito pas­sar da hora de uma autocrítica sobre as insti­tu­ições nacionais, sobre o que vem acon­te­cendo desde a Procla­mação da República até os dias atu­ais.

A própria República pre­cisa fazer uma autocrítica.

Ainda com os meus lim­i­ta­dos con­hec­i­men­tos históri­cos, chego a con­clusão que desde 1889 para cá, nunca tive­mos um período duradouro e sem escân­da­los como os viven­ci­a­dos nos momen­tos ante­ri­ores.

A história não pode se negar a recon­hecer – como, aliás o fez no último Car­naval –, que a República foi procla­mada para aten­der aos piores inter­esses e aos piores políti­cos que exis­tiam no Império.

Foi a primeira vitória dos maus políti­cos con­tra os inter­esses nacionais.

Essa é uma ver­dade que neces­sita ser recon­hecida: os maus políti­cos do império se assen­hore­aram da República recém-​proclamada, chegando, inclu­sive, à presidên­cia por mais de uma vez, para tratar dos próprios inter­esses, do for­t­alec­i­mento das próprias oli­gar­quias.

No Segundo Império se tinha uma con­sciên­cia do sen­tido de nação – com o próprio imper­ador à frente de tal sen­ti­mento e o colo­cando em primeiro lugar –, ao qual se deve a inte­gral­i­dade ter­ri­to­r­ial brasileira, caso con­trário, seríamos um mosaico de republi­que­tas (Pará, Maran­hão, Bahia, etc), como se tornou o restante da América do Sul.

O último Con­selho do Império, o do vis­conde de Ouro Preto, tinha planos de refor­mas auda­ciosos e mod­er­nos para o país – e que con­tavam com o apoio do Imper­ador D. Pedro II.

A par­tir da procla­mação da República, com a ascen­são da elite con­ser­vadora, com a roupagem do novo, se teve um mon­u­men­tal retro­cesso e o iní­cio das crises cícli­cas que per­du­ram até hoje. Sem um período de esta­bil­i­dade duradouro. Com golpes, ten­ta­ti­vas de golpes, “rev­oluções”, ditaduras.

Conta-​se nos dedos das mãos os anos de esta­bil­i­dade con­ju­ga­dos com cresci­mento e inter­esse nacional.

Já nos anos vinte – e até antes –, as primeiras crises que cul­mi­naram com a rev­olução de 30 e à ditadura Var­gas, até 45, depois um pequeno momento de tran­quil­i­dade, até o golpe de 64, os vinte e anos de ditadura, e a chamada Nova República, com todos seus pres­i­dentes na situ­ação que nar­ramos ante­ri­or­mente.

Custo a acred­i­tar que será na atual con­jun­tura, com um pres­i­dente recon­heci­da­mente despreparado, inapto (ainda que até aqui não lhe pese a alcunha de cor­rupto) que até agora não se rev­elou capaz de com­preen­der a grandeza dos prob­le­mas nacionais e uma classe política onde ser hon­esto é a exceção a jus­ti­ficar a regra, que levare­mos o país a um des­tino grandioso.

Será uma sur­presa que isso venha acon­te­cer, sobre­tudo, se não con­seguir do palanque para gov­ernar sem os pita­cos dos fil­hos que, parece, lhes tem ascendên­cia.

Nada pode ser mais ilus­tra­tivo do fra­casso do pro­jeto de nação do que ter­mi­n­ar­mos a sem­ana com dois ex-​presidentes pre­sos e, pior, com a certeza que muito mais autori­dades, de todos os Poderes da República, dev­e­riam lhes fazer com­pan­hia.

Existe sal­vação para a República brasileira?

Abdon Mar­inho é advogado.

A HORA DO MARANHÃO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A HORA DO MARAN­HÃO.

Por Abdon Mar­inho.

ALVÍS­SARAS Maran­hão! A tua hora chegou! É assim, entu­si­as­mado, que recebo a notí­cia da cel­e­bração do acordo Brasil-​Estados Unidos para a explo­ração com­er­cial da Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara — CLA.

Claro que um acordo entre duas nações deve ser min­u­ciosa­mente exam­i­nado, sobre­tudo, sob a ótica da sobera­nia nacional. Acabamos de eleger um Con­gresso Nacional ren­o­vado. Não são capazes de defender os inter­esses e a sobera­nia nacional?

Acred­i­ta­mos que sim e respeitada pre­missa da sobera­nia, o acordo cel­e­brado – e mais ainda os que virão –, tem uma grande relevân­cia para o nosso estado.

Não podendo nos dar ao luxo que “mim­imis” de cunho ide­ológico atra­pal­hem, ainda mais, o nosso estado.

Cri­ado em 1983, ou seja, há quase quarenta anos, o Cen­tro de Lança­men­tos de Alcân­tara – CLA, não rep­re­sen­tou mel­ho­ras (talvez o con­trário) na vida dos alcantarenses.

O municí­pio, um dos mais anti­gos do estado, com quase qua­tro­cen­tos anos, amarga indi­cadores econômi­cos e soci­ais baixos – como em todo Maran­hão.

A explo­ração com­er­cial do CLA, não ape­nas pelos Esta­dos Unidos, mas tam­bém por out­ros países, da Europa ou mesmo da Ásia, poderá mudar essa real­i­dade e trans­for­mar eco­nomi­ca­mente não ape­nas Alcân­tara – que sobre­vive graças aos repasses exter­nos rece­bidos, que rep­re­sen­tam 96,1% de sua receita, segundo o IBGE –, o seu entorno, mas a econo­mia de todo o Maranhão.

Ini­cial­mente, para que haja via­bil­i­dade desta explo­ração com­er­cial, será necessário mel­ho­rar a infraestru­tura de trans­porte para fazer chegar peças, equipa­men­tos, satélites e mesmo pes­soas ao CLA.

Isso implica numa ampli­ação do próprio cen­tro de lança­mento, do Aero­porto Cunha Machado, do Porto do Itaqui, e da infraestru­tura viária, com uma nova ponte lig­ando o Municí­pio de Bacabeira a Cajapió ou São João Batista (já que não parece viável finan­ceira­mente uma ponte marí­tima pela Baia de São Mar­cos) e a con­strução e/​ou ampli­ação, com mel­ho­ria, das rodovias, lig­ando estes municí­pios ao Municí­pio de Alcân­tara, onde está local­izado o CLA.

Além desses inves­ti­men­tos, o fluxo de pes­soas e empre­sas, no primeiro momento, para mel­ho­rar a infraestru­tura, e depois para opera­cional­iza­ção com­er­cial do CLA, impli­cará em mel­ho­ria nas rotas de fer­ry­boat, gerando mais renda para a pop­u­lação.

Todos esses inves­ti­men­tos sig­nifi­carão mais empre­gos, mais din­heiro cir­cu­lando, mais pes­soas cir­cu­lando no estado e pre­cisando de serviços, ali­men­tação, hospedagem e tan­tos out­ros serviços.

E, com tan­tas ter­ras férteis, poder­e­mos pro­duzir muito mais ali­men­tos com certeza de mer­cado garan­tido.

Ao meu sen­tir, não faz muito sen­tido as críti­cas feitas ao uso com­er­cial do CLA por amer­i­canos, rus­sos, ucra­ni­anos, france­ses, chi­ne­ses ou por mais quem queira.

A explo­ração com­er­cial do nosso cen­tro inter­essa a diver­sas nações pois, segundo os espe­cial­is­tas, o lança­mento a par­tir de Alcân­tara rep­re­senta uma econo­mia de cerca de 30% (trinta por cento) em relação a out­ras estações.

Além do inves­ti­mento estrangeiro direto de cerca de 1,5 bil­hão de dólares, outro aspecto pos­i­tivo é a trans­fer­ên­cia de tec­nolo­gia para o Brasil a par­tir destes acor­dos.

Os críti­cos ao pro­jeto do Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara – e sua explo­ração com­er­cial –, alegam pos­sível deslo­ca­mento de algu­mas comu­nidades quilom­bo­las que habitam a região com a ampli­ação do cen­tro.

Em princí­pio, não vejo isso como um prob­lema. Ainda, segundo o IBGE, a den­si­dade pop­u­la­cional de Alcân­tara é de 14 habi­tantes por km2.

Vamos com­bi­nar que baixís­sima a den­si­dade, caso haja neces­si­dade de deslo­ca­mento de algu­mas comu­nidades não fal­tarão ter­ras onde poderão ficar. Out­ras hipóte­ses para solu­cionar um impasse desta natureza é o arren­da­mento destas ter­ras e/​ou o paga­mento de roy­al­ties a estas pop­u­lações.

Em todo caso, como já feito em relação à situ­ações análo­gas, a explo­ração com­er­cial do CLA deve con­tem­plar as diver­sas com­pen­sações soci­ais, ambi­en­tais e econômi­cas aos atingi­dos pelo empreendi­mento.

Esta é uma pre­missa básica. Cabe aos gov­er­nantes brasileiros, na esfera exec­u­tiva e leg­isla­tiva, garan­ti­rem isso, que não haja pre­juí­zos aos cidadãos, mas, sim, que con­tribuam com a mel­ho­ria de suas condições de vida.

O acordo assi­nado com os EUA para uso com­er­cial do CLA, caso seja ref­er­en­dado pelo Con­gresso Nacional, é ape­nas o primeiro passo para a explo­ração das demais poten­cial­i­dades do Maranhão.

Começa-​se com a explo­ração do CLA, rep­re­sen­tando uma econo­mia de trinta por cento em relação a out­ros cen­tros e depois podemos avançar, ainda mais, com a cri­ação da Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA, atual­mente em trami­tação no Con­gresso Nacional, uti­lizando toda poten­cial­i­dade do Porto do Itaqui, um dos mel­hores do mundo e próx­imo de todos os grandes cen­tros mundi­ais, seja pelo Atlân­tico, seja pelo Pací­fico, através do Canal do Panamá, e ainda para os EUA, Méx­ico e Canadá.

Agora mesmo, o Brasil assi­nou com o Méx­ico um acordo bilat­eral elim­i­nando as bar­reiras para o fornec­i­mento de peças e veícu­los.

Por que não pro­duzir tais pro­du­tos na nossa zona de expor­tação e aproveitar o nosso porto para fazer chegar estes pro­du­tos ao Méx­ico bem mais rápido? Quanto não gan­haria a econo­mia dos dois países?

Os indi­cadores econômi­cos e soci­ais do Maran­hão não com­bi­nam com suas poten­cial­i­dades, com as suas condições geográ­fi­cas e riquezas nat­u­rais – nunca combinaram.

A mis­éria toda que assis­ti­mos no dia a dia – e com a qual não nos con­for­mamos –, é por culpa dos gov­er­nantes que não sou­beram ou não tiveram o com­pro­misso ou a com­petên­cia de ala­van­car todas as van­ta­gens que sem­pre tive­mos em relação aos demais esta­dos da fed­er­ação.

Sem­pre vive­mos sob a égide do atraso, da má gestão, da incom­petên­cia, e tan­tos out­ros males.

Chega a ser ina­cred­itável que o Maran­hão com tan­tas condições favoráveis tenha ficado para trás em relação aos demais esta­dos brasileiros, eter­na­mente nas últi­mas posições em todos os rank­ings, ora “brig­ando” com o Piauí, ora, “brig­ando” com Alagoas – e pio­rando.

Por vezes chego a pen­sar se Deus vendo que nos dotara de tan­tas van­ta­gens: a prox­im­i­dade do equador, pos­si­bil­i­tando um acesso mais rápido e econômico aos céus; canais pro­fun­dos a per­mi­tir a con­strução dos mais efi­cientes por­tos; rios com água em abundân­cia; ter­ras férteis em toda sua exten­são; min­erais diver­sos, resolveu con­tra­bal­ancear nos dando essa classe política.

Teria outra expli­cação? Deu no que deu.

Temos chance de mudar essa sina. Agora é a hora do Maran­hão. Alvíssaras!

Abdon Mar­inho é advo­gado.