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TRÉGUA PARA O BRASIL.

Escrito por Abdon Mar­inho

TRÉGUA PARA O BRASIL.

Por Abdon Marinho.

NA SEGUNDA metade da década de oitenta o antigo líder comu­nista Luís Car­los Prestes (18981990), esteve no Maran­hão. Foi uma pro­gra­mação orga­ni­zada pela médica e ativista comu­nista Maria Aragão (19101991) e pelo então vereador Aldionor Sal­gado (19542014).

Extinto em 1990, acred­ito que aquela tenha sido a última vez que o Cav­aleiro da Esper­ança no Maranhão.

A prin­ci­pal reunião da visita ocor­reu no auditório da Bib­lioteca Bened­ito Leite, na Praça Deodoro. Para os que não con­hecem o auditório, ele, ape­sar de pequeno, é muito bonito e aconchegante, talvez por ficar sob a cúpula do prédio.

Feitas as apre­sen­tações ini­ci­ais, abriu-​se para as per­gun­tas da plateia ao con­vi­dado. Lem­bro que eu, ainda um ado­les­cente afoito, fiz a primeira per­gunta a Prestes. Pergunte-​lhe sobre o fato de ter ido ao comí­cio em apoio à Getúlio Var­gas, em 1945, ao sair da prisão.

Prestes respon­deu, com a voz já cansada pelos anos e tam­bém pela viagem, que naquele momento era impor­tante colo­car as difer­enças de lado pelo bem do Brasil. Algo mais ou menos neste sentido.

(Qual­quer dia procu­rarei a Fun­dação Maria Aragão em busca daquele reg­istro. Como dito ante­ri­or­mente, não demorou muito tempo Prestes mor­reu e no ano seguinte Maria Aragão).

Todos que não nos intrig­amos com os livros de história sabe­mos o quão con­tur­bado foi a relação de Prestes com Var­gas: o fra­casso da Inten­tona Comu­nista, sua prisão e de sua com­pan­heira, Olga Benário, a entrega de Olga aos nazis­tas, ape­sar de grávida, pelo gov­erno brasileiro; o nasci­mento da filha de Prestes e Olga, na prisão, na Ale­manha, a morte de Olga pelos nazis­tas, etc.

Ape­sar de tudo isso, com a voz mansa, Prestes nos dizia naquela noite que era pre­ciso pen­sar no Brasil e con­tra um mal maior.

Não se trata aqui de revolver­mos fatos quase cen­tenários, as razões de cada um, a con­jun­tura histórica, etc.

A razão de faz­er­mos tal reg­istro é para que ten­hamos a certeza do quanto o Brasil piorou em ter­mos de quadros políti­cos. A impressão que temos é que ninguém está “nem aí para o Brasil”, para as difi­cul­dades do povo.

Desde a rede­moc­ra­ti­za­ção do país não me recordo da democ­ra­cia brasileira encontrar-​se tão frag­ilizada. Esta­mos à beira de um abismo insti­tu­cional e com uma sociedade extrema­mente dividida.

Os poderes da República que devem (ou dev­e­riam) garan­tir a ordem insti­tu­cional nunca, em toda a história repub­li­cana, estiveram tão mal rep­re­sen­ta­dos, com uma grande parcela da sociedade não lhes recon­hecendo ou respei­tando.

Bem pior que ter­mos chefes de poderes insti­tu­cionais frágeis ou desprepara­dos é ter­mos uma oposição apo­s­tando no “quanto pior, mel­hor” e demon­strando um total descom­pro­misso com o país.

Desde o iní­cio do atual gov­erno, legit­i­ma­mente eleito – e não é porque não vota­mos nele que não vamos recon­hecer isso –, que a oposição lançou-​se numa cam­panha sem tréguas con­tra ele, fusti­gando, sab­otando, obstru­indo, etc.

Enquanto isso, na outra ponta, cobra resultados.

Outro dia, con­forme teste­munhamos, chama­ram uma greve geral de cunho emi­nen­te­mente político.

Desde a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, em 1985, tive­mos greves gerais nos gov­er­nos Sar­ney, Col­lor e FHC. Nen­huma nos gov­er­nos de Lula e Dilma.

Acom­pan­hei todas. Não vi um único movi­mento pare­dista ser chamado con­tra o gov­erno com menos de um ano de gestão.

O gov­erno Sar­ney, que pade­cia sob ques­tion­a­men­tos de legit­im­i­dade – eleição através de Colé­gio Eleitoral, sub­sti­tu­ição às pres­sas na véspera da posse dev­ido a enfer­mi­dade e depois morte de Tan­credo Neves –, ape­sar da crise, do desem­prego, da inflação, das notí­cias de cor­rupção, só foi enfrentar sua primeira greve geral em 1986.

Com o gov­erno Col­lor, que ao assumir con­fis­cou a poupança dos brasileiros, já apre­sen­tava indí­cios de cor­rupção desde o iní­cio, só foi enfrentar sua primeira greve geral em 1991.

Com FHC, eleito em 1994 na esteira da esta­bil­i­dade econômica decor­rente do Plano Real, a primeira greve geral só ocor­reu em 1996.

Como já reg­is­tramos os gov­er­nos petis­tas não ocor­reram greves gerais con­vo­cadas pela rep­re­sen­tação dos tra­bal­hadores muito emb­ora os escân­da­los se sucedessem, como foi o do “Men­salão”, que estourou no gov­erno Lula e o do “Petrolão”, no gov­erno Dilma.

Além dos escân­da­los de cor­rupção, só super­a­dos por eles mes­mos – até hoje não se tem a real dimen­são do roubo dos recur­sos públi­cos por agentes do gov­erno e pri­va­dos –, tive­mos cortes sig­ni­fica­tivos na saúde, na edu­cação, e em out­ras áreas, sem con­tar o iní­cio da que­bradeira econômica e o desem­prego a níveis nunca dantes vis­tos.

O atual gov­erno, além dos protestos diver­sos desde a posse, já teve con­tra si uma greve geral – que ocor­reu no último 14 de junho –, com menos de seis meses de gov­erno.

A greve geral é um instru­mento de luta legí­timo, mas con­vo­cada, como foi e pelos motivos apre­sen­ta­dos, revelou-​se ape­nas peça de um embate mera­mente político.

Pelo que li, a greve geral voltou-​se con­tra o pro­jeto de reforma da pre­v­idên­cia e con­tra o desem­prego.

Ora, a reforma da pre­v­idên­cia social é um con­senso, qual­quer um sabe que há uma neces­si­dade – mais que urgente –, de se fazer uma reforma que a torne sus­ten­tável nos próx­i­mos anos.

Os que são con­tra que diga os pon­tos que dis­cor­dam ou apre­sente um pro­jeto para dis­cussão que rep­re­sente a econo­mia para os cofres públi­cos esper­a­dos pelo gov­erno.

O outro ponto que motivou a greve geral foi o desem­prego. Mas o desem­prego que aí está não foi ger­ado pelo atual gov­erno.

Gostando dele ou não, é des­on­esto colo­car na conta do atual gov­erno os 13 mil­hões de desem­pre­ga­dos que exis­tem no país.

Quan­tos mil­hões de desem­pre­ga­dos o atual gov­erno gerou? Quan­tos mil­hões os gov­er­nos ante­ri­ores ger­aram? Quem estava no poder quan­tos os mil­hões de brasileiros perderam seus empre­gos? O que fiz­eram as rep­re­sen­tações dos tra­bal­hadores e dos par­tidos que chama­ram a última greve?

Feitas estas con­sid­er­ações, quer me pare­cer que a oposição, por seus vários braços, não demon­stra uma efe­tiva pre­ocu­pação com os des­ti­nos do país, mas sim, que aposta num clima de caos e insta­bil­i­dade como estraté­gia para retornar ao poder ou mesmo apo­s­tando que algo pior venha a acon­te­cer.

O quadro político revela-​se dev­eras instável, pois não bas­tasse um gov­erno que se rev­ela despreparado – com inúmeras pau­tas con­tro­ver­sas que divi­dem o país –, temos no comando das insti­tu­ições pes­soas, como dito ante­ri­or­mente, que não pos­suem autori­dade real.

Vejam se me faço enten­der, todas essas pes­soas, na chefia do exec­u­tivo, leg­isla­tivo e do judi­ciário, são deten­toras de legit­im­i­dade, foram eleitas ou chegaram a onde estão por meios legí­ti­mos, entre­tanto – o tempo vem mostrando –, não pos­suem a autori­dade necessária em torno da qual o con­junto da sociedade possa se sen­tir segura.

Piora este quadro ter­mos uma oposição agindo com irre­spon­s­abil­i­dade e opor­tunismo.

É a receita do fra­casso do país como nação.

A pop­u­lação sabe disso. Assim, como soube em 1985, e recu­sou o extrem­ismo dos que não que­riam uma tran­sição pací­fica de régime.

A última greve geral mostrou que a solução extrem­ista da oposição se rev­elou equiv­o­cada, tanto que pela primeira vez na história do país se viu um pres­i­dente ser aplau­dido em um está­dio de fute­bol no dia de uma greve geral.

Isso mostra que falta legit­im­i­dade as rep­re­sen­tações dos tra­bal­hadores e das forças de oposição.

Qual­quer um com mais de dois neurônios em fun­ciona­mento con­segue imag­i­nar o que pode acon­te­cer quando se tem rep­re­sen­tações insti­tu­cionais com autori­dade ques­tion­ada e oposição sem legit­im­i­dade.

Outro cav­alar equívoco da oposição é este “ataque” ao min­istro e ex-​juiz Sér­gio Moro.

A menos que apareça o áudio dele com os procu­radores, ou com quais­quer out­ros, com­bi­nando “roubar o din­heiro do con­tribuinte” ou “matar a mãe”, a pop­u­lação vai ficar do seu lado. E quanto mais fiz­erem con­tra ele mais vai aumen­tar seu apoio pop­u­lar.

A pop­u­lação sabe que não é ilegí­timo alguém fazer críti­cas ao ex-​juiz – exis­tem algu­mas pes­soas, alguns juris­tas, com esse dire­ito pois sem­pre criticaram a con­dução da Oper­ação Lava Jato –, o que não acha legí­timo é que estas críti­cas par­tam daque­les que hoje estão na oposição.

Ora, qual­quer um sabe que estes críti­cos não fazem “cav­alo de batalha” con­tra o ex-​juiz, por este ter, suposta­mente, man­tido con­tatos “inde­v­i­dos” com procu­radores, por amor ao dire­ito ou à Justiça.

Se assim fosse, não apoiariam os regimes total­itários de Cuba e da Venezuela que sim­ples­mente “aboli­ram” a noção de sep­a­ração de poderes, e tanto o min­istério público quanto o judi­ciário exis­tem ape­nas para chance­lar os atos de arbítrios daque­las ditaduras.

Se assim fosse não apoiariam o gov­erno norte-​coreano, que de tão esdrúx­ulo o régime, sequer sabe­mos como qual­i­ficar.

São estas pes­soas, com este histórico de “amor ao dire­ito”, a “justiça” e a “democ­ra­cia” que, com base em supos­tos diál­o­gos, obti­dos de forma clan­des­tina por um site estrangeiro, ques­tionam a Oper­ação Lava Jato, os procu­radores da República e o ex-​juiz Moro?

Difer­ente do que pen­sam alguns fanáti­cos mil­i­tantes, a cor­rupção, mesmo que seja endêmica, pre­cisa ser com­bat­ida com vigor, e os cor­rup­tos e cor­rup­tores, proces­sa­dos, jul­ga­dos e pre­sos.

A per­cepção da sociedade é que é a cor­rupção – e não o com­bate à ela –, a respon­sável pelos infortúnios do nosso país.

O que pas­sou para a sociedade que assis­tiu a aquela sessão da Comis­são de Con­sti­tu­ição e Justiça do Senado é que muitos que estavam ali fazendo per­gun­tas ao ex-​juiz, ao invés de inquiri-​lo, por suas vidas pre­gres­sas, dev­e­riam estarem pre­sos.

E cada um do povo con­hece bem seus rep­re­sen­tantes.

Emb­ora não ver­bal­izem de forma cabal – por covar­dia –, o que querem os inte­grantes da oposição, ao arran­jarem pre­tex­tos e atacarem o ex-​juiz Sér­gio Moro, é a anu­lação de todos os proces­sos da Oper­ação Lava Jato, a soltura de todos os pre­sos e a devolução dos bil­hões de reais rou­ba­dos dos cofres públi­cos aos ladrões – se pos­sível com o paga­mento de polpuda ind­eniza­ção aos mes­mos.

Essa é a pro­posta – não ver­bal­izada –, que se encon­tra como obje­tivo final da oposição.

Essa é a pro­posta que a sociedade rejeita.

Mais uma vez, como foi em 1964, quando apos­taram no rad­i­cal­ismo que levou a rup­tura insti­tu­cional; 1979, quando se colo­caram con­tra a anis­tia geral ampla e irrestrita, que ini­ciou a paci­fi­cação do país; 1985, quando pre­tenderam a rup­tura con­tra o colé­gio eleitoral e a eleição de Tan­credo Neves; 1993, quando se colo­caram con­tra o Plano Real, que devolveu a esta­bil­i­dade econômica ao país; e 2013 quando se colo­caram con­trárias as man­i­fes­tações pop­u­lares con­tra a cor­rupção, a oposição, ao insi­s­tir em acabar com a Oper­ação Lava Jato, devolver a liber­dade e os bil­hões rou­ba­dos aos seus ladrões, cam­in­hará em sen­tido con­trário ao sen­ti­mento da pop­u­lação.

Ao perseguir, mais uma vez, a insta­bil­i­dade, poderá nos trazer coisas bem piores.

O Brasil pre­cisa de uma trégua. Antes de tudo, como disse Prestes naquela opor­tu­nidade, é pre­ciso pen­sar no Brasil.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

O MARAN­HÃO É UMA IMENSA SAVANA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O MARAN­HÃO É UMA IMENSA SAVANA.

Por Abdon Marinho.

FOI o ex-​deputado Mar­cony Farias quem me disse, certa vez – há alguns anos –, a seguinte frase:

— Abdon, o Maran­hão é uma imensa savana coman­dada por dois leões (uma refer­ên­cia aos dois leões que ador­nam a entrada do palá­cio sede do gov­erno estad­ual).

Dos tem­pos em que os dias eram cur­tos para o muito que lia adquiri um vício: gosto de uma boa frase, uma colo­cação de impacto. Essa me pare­ceu muito inter­es­sante. Uma sín­tese per­feita do nosso estado.

Por onde pas­sava, e dizia tal frase, ouvia o assen­ti­mento e con­cordân­cia do inter­locu­tor.

Fiquei dias, sem­anas, meses, imag­i­nando como imor­talizar (quanta pre­ten­são minha) tal frase em um texto.

Dos anos de fiel admi­rador da Sétima Arte, ficava me trans­portando para aque­las vas­tas savanas africanas retratadas em uma infinidade de pelícu­las clás­si­cas.

Outra lem­brança a assaltar-​me sem­pre que ouço o termo savana, são aque­las vas­tas planí­cies dom­i­nadas pela seca que cos­tu­mamos assi­s­tir nos canais ou mesmo nas revis­tas da National Geo­graphic.

Ainda den­tro deste con­texto, Imag­i­nava os esquáli­dos feli­nos do alto do morro dom­i­nando a planí­cie, vez ou outra, descendo para caçar a refeição do dia.

Em um estranho para­doxo, a área geográ­fica iden­ti­fi­cado como savana no Maran­hão é jus­ta­mente a mais rica que, emb­ora dom­i­nada pelos leões, deles não depende para nada.

A savana a mere­cer ver­dadeira­mente o nome tal qual repor­tada no imag­inário de todos que nos remete à mais degradante mis­éria é a exper­i­men­tada pela quase total­i­dade da pop­u­lação que sobre­vive sob índices africanos em quase todos os que­si­tos pesquisa­dos por insti­tu­tos sérios – ape­sar de viver­mos em um estado poten­cial­mente rico.

O nosso atraso desafia a lóg­ica. E, neste aspecto o Maran­hão sem­pre foi uma grande savana.

Foi assim com o vitorin­ismo, com o sarneismo e, assim con­tinua, na fase do comunismo.

A impressão que fica nos cidadãos de bem é que aos leões de plan­tão – nas várias épocas –, tal mis­éria se man­tém como um instru­mento de dom­i­nação. Os leões por serem mais fortes vão reinando e dom­i­nando as demais espé­cies na vasta planí­cie da savana.

Outro dia um senador da República, Roberto Rocha, que não pediu seg­redo, disse-​me que se o gov­erno fed­eral se dis­pusesse a inve­stir um bil­hão ou mais de reais no Maran­hão em obras estru­tu­rantes de grande monta não pode­ria, porque não exis­tem pro­je­tos neste sen­tido no estado. Não duvido que esteja certo.

O senador é um dos raros políti­cos maran­henses da atu­al­i­dade que tem exce­lentes ideias. Tão boas a ponto de fazê-​lo pen­sar que só ele tem boas ideias e não querer ouvir as dos demais, o que coloca em risco as exce­lentes ideias que tem.

Já o atual gov­erno – que foi depositário de tanta esper­ança para povo pois estava pondo fim ao “régime de dom­i­nação ante­rior” –, avança pelo quinto ano sem que ten­hamos notí­cias de um pro­jeto de futuro para o estado. Seus leões – e demais inte­grantes da corte –, pas­sam grande parte do tempo “caçando con­versa” com os adver­sários – reais ou imag­inários –, e/​ou “fux­i­cando” nas redes soci­ais.

Em alguns aspec­tos, é dever reg­is­trar, até con­seguem ser piores do que o régime que sub­sti­tuiu, basta ver­mos as graves sus­peitas de bis­bil­ho­tagem à vida das pes­soas, a intol­erân­cia à liber­dade de expressão, a perseguição à imprensa livre e a própria inap­tidão para a gestão pública.

Aliás, soube que outro dia, em uma roda de con­ver­sas, alguém fez a seguinte pil­héria: dizia que quando sua excelên­cia, o atual gov­er­nante, era ape­nas um “menino do buchão” e lhe per­gun­tavam o que que­ria ser quando crescesse, ele não respon­dia que que­ria ser um juiz, um médico, um advo­gado, um jor­nal­ista, um bombeiro, um poli­cial, etc. Respon­dia que que­ria ser o “Sar­ney”. Segundo o autor do chiste o gajo batia o pez­inho e repetia incansavel­mente o desejo de ser o Sar­ney quando crescesse.

Mas isso deve ser mesmo ape­nas uma pil­héria. Não acred­ito que seja sério.

Mas voltando ao assunto sério ninguém sabe quem está “pen­sando” o estado para as próx­i­mas décadas – se é que tem alguém fazendo isso no atual gov­erno. Quais são os grandes pro­je­tos capazes de ala­van­car o Maran­hão para o desen­volvi­mento?

Segundo Sar­ney, o orig­i­nal, só nos restou agora o Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara, pelo qual deve­mos “nos bater” para ver aprovado o acordo de sal­va­guardas com os amer­i­canos e com out­ros países que dispon­ham de tec­nolo­gia para isso.

Devo con­fes­sar que acho muito pouco, mas, o que dizer de um gov­erno que solta rojões por inau­gu­rar senti­nas, um poço arte­siano aqui ou acolá ou escol­in­has de duas salas?

Quando vejo isso imag­ino o quão baixas estão as nos­sas expec­ta­ti­vas para o futuro.

Claro que tais obras são impor­tantes para o nosso povo. Mas isso não é pro­jeto de estado. Isso não é o sufi­ciente para a lib­er­tação do povo das amar­ras do atraso.

Ficamos com a impressão (ou certeza?) que nos­sos políti­cos só con­seguem enx­er­gar até a próx­ima eleição – e depois para a seguinte.

Na ver­dade, infe­liz­mente, e digo isso com pesar, não temos um pro­jeto de estado, mas sim um pro­jeto de poder da classe política local, que usa a mísera do povo para reinar sobre a imensa savana.

A última vez que ouvi um político falar em uma união em torno de um pro­jeto de desen­volvi­mento para Maran­hão foi com o ex-​governador José Reinaldo Tavares ainda no ano de 2015. E, por sug­erir isso aos novos leões dom­i­nantes sobre a savana, foi destratado, humil­hado, traído e, por fim, lev­ado ao ostracismo político.

O resul­tado desta falta de união e de pro­jeto de desen­volvi­mento para o estado é que acabamos de perder uma siderúr­gica para o Estado do Pará. Já até tín­hamos um ter­reno pronto ali em Rosário dis­tante pouco mais de 60 km da cap­i­tal.

O novo empreendi­mento que será insta­l­ado na cidade de Marabá, com poten­cial para gerar mil­hares de empre­gos dire­tos e indi­re­tos no estado viz­inho, nos traz uma pre­ocu­pação adi­cional: com a siderúr­gica insta­l­ada, por que não con­struírem um porto naque­les rios amazôni­cos para escoar não só as man­u­fat­uras, mas o próprio excesso da com­mod­ity? Qual o sen­tido do minério vir “passear” no Maran­hão depois disso?

No futuro, cor­re­mos até o risco de per­der­mos aquela fonte de renda extra para os municí­pios recém con­quis­tada: os roy­al­ties da min­er­ação pelo qual tanto se lutou. Escrevi sobre isso no texto “A Vitória da Per­se­ver­ança”.

Em meio a essa polêmica da “perda” da siderúr­gica li dois tex­tos se con­trapondo. De um lado um dep­utado de oposição crit­i­cava a perda do empreendi­mento e recomen­dava aos maran­henses procu­rarem empre­gos em Marabá, de outro, um secretário do gov­erno estad­ual ten­tando jus­ti­ficar e crit­i­cando o dep­utado opos­i­tor “egresso” do antigo régime.

Vi como sendo um debate do “sujo falando do mal lavado”, como se dizia lá no meu povoado.

Ora o dep­utado é sabedor que essa imensa savana africana que se tornou o Maran­hão não é fruto ape­nas deste gov­erno, o antigo régime, do qual fez parte tem uma colos­sal parcela de culpa. Durante os anos que os leões de sua família reinaram – assim como no reinado atual –, bil­hões de dólares foram empresta­dos sem que o resul­tado desta mon­u­men­tal dívida se revertesse em bene­fí­cios do povo e isso se devendo, tam­bém, a falta de pro­je­tos de infraestru­tura e de desen­volvi­mento para o estado.

Tanto sabe disso que uma das primeiras providên­cias – senão a primeira –, que ado­tou na atual leg­is­latura foi abdicar do nome família, pas­sando a se iden­ti­ficar, pelo menos no par­la­mento, ape­nas pelo prenome.

Por sua vez o secretário, mais moti­vado pelo desejo de “prestar serviço” aos novos leões reinantes, nada disse que jus­ti­fi­casse a perda do empreendi­mento ou apre­sen­tou os planos do estado para as décadas seguintes, falou de ques­tionáveis empreendi­men­tos da ini­cia­tiva pri­vada que nada deve ao atual gov­erno.

De certo o que temos na atu­al­i­dade é o mesmo “modus operandi” das oli­gar­quias ante­ri­ores, infraestru­tura inex­is­tentes, com estradas e pon­tas de ruas que cus­taram mil­hões se “dis­sol­vendo” com as chu­vas, um estado endi­vi­dado, um povo sem esper­ança e sem qual­quer per­spec­tiva de futuro sendo escor­chado por uma carga trib­utária de primeiro mundo enquanto ofer­ece ao con­tribuinte um serviço de último.

O que temos de con­creto é a velha e escal­dante savana africana dom­i­nada por esquáli­dos e fam­intos leões que logo mais nada mais terão para comer.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

MORO: ENTRE A VIN­GANÇA E O MEDO.

Escrito por Abdon Mar­inho

MORO: ENTRE A VIN­GANÇA E O MEDO.

Por Abdon Marinho.

AINDA não sabe­mos toda a exten­são das con­ver­sas do ex-​juiz Sér­gio Moro com os procu­radores da Oper­ação Lava Jato e/​ou os advo­ga­dos das partes (por que não divul­gam?) – e, já disse, não me com­pro­meto com crimes de quem quer que seja –, mas pelo que se sabe é pos­sível dizer, até agora, que crimes não foram encontrados.

Tenho assis­tido a um surto histérico de pes­soas dizendo que juiz não deve con­ver­sar com as partes sobre proces­sos. Se isso é o ideal está muito dis­tante da realidade.

Qual­quer um que tenha um processo em juízo – ainda que seja um lití­gio por um metro de terra, uma dis­puta de guarda ou a divisão de bens de um casal (e já vi brigarem por uma pan­ela velha) –, o que querem é jus­ta­mente o con­trário: que todos os dias o seu advo­gado esteja com o juiz pedindo que ele dê pri­or­i­dade ao seu processo, que o juiz o despache antes de qual­quer outro. Ainda que exis­tam mil­hares de proces­sos à frente do seu.

Estes que estão indig­na­dos quando vão lit­i­gar em juízo procu­ram um advo­gado que tenha “trân­sito” com juizes ou desem­bar­gadores e/​ou laços de parentesco.

Tudo que a parte quer – qual­quer parte –, é que o seu advo­gado tenha uma boa relação com o juiz ou desem­bar­gadores que vão jul­gar suas causas.

Entra-​se com uma ação hoje é já no dia seguinte cobra do advo­gado que vá con­ver­sar com juiz. É assim pelo resto da demanda.

O grande desejo da parte é que todo dia o advo­gado “despache” com o juiz sobre o seu processo. Se o advo­gado pudesse “morar” no fórum seria o ideal.

O mantra é que o advo­gado pre­cisa de “trân­sito”. Não vejo ninguém se escan­dalizar com isso.

For­tu­nas são ger­adas assim, alguém diz que aquele advo­gado é o que tem “trân­sito” e para sua banca migram todos os clientes, pode ser que o causídico não saiba a difer­ença entre habeas cor­pus e Cor­pus Christi.

Con­hec­i­mento jurídico, ética ou seriedade é o que menos importa – sei disso porque já perdi diver­sos clientes por “excesso de hon­esti­dade”, já ouvi muito “doutor Abdon ‘briga’ com todo mundo”, “doutor Abdon é muito cert­inho”.

Um assunto na “ordem do dia” no Maran­hão é a acusação de que os gov­er­nantes estad­u­ais cri­aram um “estado poli­cial para­lelo” cuja mis­são, suposta­mente, seria o mon­i­tora­mento dos desem­bar­gadores e seus famil­iares, juízes, pro­mo­tores, advo­ga­dos, jor­nal­is­tas ou de qual­quer outro que pudesse ou possa rep­re­sen­tar embaraços ao poder estabelecido.

A denún­cia deste fato é sub­scrita por dois del­e­ga­dos de polí­cia que pri­varam da con­fi­ança do secretário da segu­rança pública e, pelo menos um, foi con­dec­o­rado pelo gov­er­nador, por bons serviços presta­dos.

O assunto (a espi­onagem clan­des­tina) é tão sério que o Tri­bunal de Justiça solic­i­tou inves­ti­gações da parte do Min­istério Público, do Con­selho Nacional de Justiça — CNJ e da Polí­cia Fed­eral.

Trago esse assunto porque outro dia a imprensa noti­ciou que o secretário de segu­rança, que figura, em princí­pio, como inves­ti­gado por deter­mi­nação do TJMA, esteve em audiên­cia com o pres­i­dente do tri­bunal que deter­mi­nou a inves­ti­gação e que, iden­ti­fi­ca­dos crimes pelos quais venha a ser denun­ci­ado, o julgará.

Exceto por uma not­inha ou notí­cia aqui ou ali, não vi ninguém “estran­hando” que uma parte estivesse de con­versa com o pres­i­dente do tri­bunal que poderá vir a julgá-​lo.

O gov­er­nador, chefe do secretário, que acha um “absurdo” que um juiz tenha tro­cado opiniões com o procu­rador fed­eral, não deve ter achado nada demais que o seu secretário de segu­rança, que o tri­bunal man­dou inves­ti­gar por acusações gravís­si­mas, tenha ido se avis­tar com quem deter­mi­nou a inves­ti­gação.

O próprio gov­er­nador que tam­bém foi juiz — e todo dia faz questão em nos infor­mar disso –, será que se fosse pos­sível “abrir” o sig­ilo de suas con­ver­sas encon­traríamos o mesmo con­teúdo daque­las do ex-​juiz Moro com os procu­radores?

Ele – ou qual­quer outro –, pode se achar imune à inter­pre­tação de uma palavra mal colo­cada em uma con­versa – que não dev­e­ria ser, mais é –, privada?

Uma das for­mas de coibir isso, ao meu sen­tir, seria proibir que os mag­istra­dos falassem com uma parte sem a pre­sença da outra.

Como não existe essa vedação, logo as más inter­pre­tações ou ilações sem­pre ocor­rerão ao sabor das con­veniên­cias políti­cas e econômi­cas do momento.

O que existe de con­creto, pelos ele­men­tos que dis­po­mos até o momento, é a man­i­fes­tação escan­car­ada da hipocrisia. Pedem a cabeça de um ex-​juiz por ter con­ver­sado com as partes de proces­sos sem qual­quer crime aparente, mas nada acham de estranho na nor­mal­i­dade com que isso ocorre diari­a­mente.

A propósito deste tipo de escân­dalo, até recordei uma pas­sagem de uma obra de Milan Kun­dera sobre espi­onagem nos tem­pos da ocu­pação da The­coslováquia, país que exis­tiu entre 1918 e 1992, pela antiga União Soviética: “O rádio trans­mi­tia um pro­grama sobre a emi­gração tcheca. Era uma mon­tagem de con­ver­sas par­tic­u­lares gravadas clan­des­ti­na­mente por um espião theco que se infil­trara entre os emi­grantes, para depois entrar nova­mente no país com grande estardal­haço. Eram con­ver­sas insignif­i­cantes, entrecor­tadas de vez em quando por palavras cruas sobre o régime de ocu­pação, mas tam­bém de frases nas quais os imi­grantes se xin­gavam mutu­a­mente de cretinos e impo­s­tores. O pro­grama insis­tia prin­ci­pal­mente no seguinte: era necessário provar que essas pes­soas não ape­nas falam mal da União Soviética (o que não deixa ninguém indig­nado), mas tam­bém se calu­niam mutu­a­mente, dizendo palavrões sem a menor hes­i­tação. Coisa curiosa, dize­mos palavrões de manhã à noite, mas se ouvi­mos no rádio uma pes­soa con­hecida e respeitada pon­tuar suas frases com “estou me cagando”, ficamos um pouco decepcionados.”

Por tudo já dito, atribuo esse “cerco” ao ex-​juiz e atual min­istro Sér­gio Moro a duas cir­cun­stân­cias: a vin­gança e o medo.

Todos sabe­mos que desde que o então juiz começou a con­denar os donos do poder cul­mi­nando com a con­de­nação e encar­ce­ra­mento do ex-​presidente Lula por cor­rupção e lavagem de din­heiro, atraiu o ódio e desejo de vin­gança dos seus devotos.

O ex-​presidente foi con­de­nado em primeira, segunda e ter­ceira instân­cias, mas para os seus fanáti­cos a culpa é do Moro.

Para eles, ainda que o Lula fosse visto “tirando” lit­eral­mente o din­heiro do cofre da nação e levando para sua casa não seria roubo, estava levando por ser a sua casa por ser local mais seguro para guardar o din­heiro público. Mais, se o visse o reti­rando o din­heiro do cofre, para todos os efeitos não estaria tirando e sim colo­cando.

Ninguém fala ou rev­ela os diál­o­gos sobre as prisões ou proces­sos dos out­ros malfeitores.

Não foi só o ex-​presidente Lula que foi alcançado pela Oper­ação Lava Jato, dezenas de out­ros cidadãos foram pre­sos, con­de­na­dos e cumprem pena por seus deli­tos; bil­hões de reais já foram recu­per­a­dos para os cofres públi­cos do muito que roubaram da edu­cação, da saúde, da assistên­cia aos menos favorecidos.

Não vimos ainda o con­teúdo do vaza­mento de out­ras con­ver­sas como, por exem­plo, com algum advo­gado de parte. Se têm tudo porque não rev­e­lar tudo? O próprio ex-​juiz já disse que podem rev­e­lar.

Na ver­dade, não fazem isso porque não inter­essa. O que de fato importa é o pro­longa­mento da vin­gança, da sus­peição, da dúvida. O que querem é destruir o ex-​juiz.

Resta um con­luio (este sim, a mere­cer o nome) entre os ali­a­dos do ex-​presidente e dos demais crim­i­nosos que son­ham em reverter suas con­de­nações e, quem sabe, recu­perar, pelo menos parte dos recur­sos públi­cos que roubaram de nos­sas cri­anças, dos nos­sos pobres, dos nos­sos enfermos.

A vin­gança vem tam­bém de parte da imprensa nacional e inter­na­cional, que foi ben­e­fi­ci­ada acin­tosa­mente pelos gov­er­nos ante­ri­ores, e que agora sen­ti­ram que a fonte secou.

Com a obtenção e que­bra crim­i­nosa do sig­ilo da comu­ni­cação do juiz e dos procu­radores, vingam-​se, tam­bém, do gov­erno Bolsonaro.

Mas o grosso da vin­gança é mesmo con­tra o ex-​juiz Sér­gio Moro, pois junto com ela (vin­gança) existe tam­bém o medo.

O medo que ele se torne imbat­ível numa eleição pres­i­den­cial futura.

A vin­gança e o medo movem os ataques opor­tunistas do gov­er­nador do Maran­hão, Flávio Dino e do ex-​governador Ciro Gomes. Eles, assim como todos os out­ros, sabem que o ex-​juiz, se não for “abatido” o quanto antes, é uma séria ameaça aos seus son­hos de poder.

Esse medo tem números bem reais: com menos seis meses no cargo de min­istro da justiça, já vimos diver­sas oper­ações de com­bate ao crime orga­ni­zado, seque­stro de bens, iso­la­mento de crim­i­nosos, etc.

O resul­tado das ações efe­ti­vas das forças de segu­rança sob o comando do ex-​juiz se reflete na redução de todos indi­cadores de vio­lên­cia, só em homicí­dios a queda foi de 23%(vinte e três por cento), segundo dados do Sinesp, na com­para­ção com o mesmo período de 2018.

Ora, se em seis meses a política de segu­rança já mostra os resul­ta­dos aferi­dos, quanto não se avançará com o pas­sar do tempo, sobre­tudo, se o Con­gresso Nacional aprovar o “Pacote Anticrime”?

Os ataques são pinça­dos e dirigi­dos con­tra ex-​juiz para desmor­alizar sua rep­utação como vin­gança e por medo, porque ele rep­re­senta um sério embaraço a todos que tem como pro­jeto de poder a sucessão de Bol­sonaro.

Por isso essa “afi­nação” entre tan­tas forças políti­cas con­tra ele.

Não se ilu­dam, nen­hum dos que ata­cam o ex-​juiz Sér­gio Moro – os out­ros são víti­mas indi­re­tas –, fazem isso por amor a causa do dire­ito ou da Justiça. Agem moti­va­dos pelos próprios – e escu­sos –, interesses.

Abdon Mar­inho é advo­gado.