AbdonMarinho - O MARANHÃO É UMA IMENSA SAVANA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O MARAN­HÃO É UMA IMENSA SAVANA.

O MARAN­HÃO É UMA IMENSA SAVANA.

Por Abdon Marinho.

FOI o ex-​deputado Mar­cony Farias quem me disse, certa vez – há alguns anos –, a seguinte frase:

— Abdon, o Maran­hão é uma imensa savana coman­dada por dois leões (uma refer­ên­cia aos dois leões que ador­nam a entrada do palá­cio sede do gov­erno estad­ual).

Dos tem­pos em que os dias eram cur­tos para o muito que lia adquiri um vício: gosto de uma boa frase, uma colo­cação de impacto. Essa me pare­ceu muito inter­es­sante. Uma sín­tese per­feita do nosso estado.

Por onde pas­sava, e dizia tal frase, ouvia o assen­ti­mento e con­cordân­cia do inter­locu­tor.

Fiquei dias, sem­anas, meses, imag­i­nando como imor­talizar (quanta pre­ten­são minha) tal frase em um texto.

Dos anos de fiel admi­rador da Sétima Arte, ficava me trans­portando para aque­las vas­tas savanas africanas retratadas em uma infinidade de pelícu­las clás­si­cas.

Outra lem­brança a assaltar-​me sem­pre que ouço o termo savana, são aque­las vas­tas planí­cies dom­i­nadas pela seca que cos­tu­mamos assi­s­tir nos canais ou mesmo nas revis­tas da National Geo­graphic.

Ainda den­tro deste con­texto, Imag­i­nava os esquáli­dos feli­nos do alto do morro dom­i­nando a planí­cie, vez ou outra, descendo para caçar a refeição do dia.

Em um estranho para­doxo, a área geográ­fica iden­ti­fi­cado como savana no Maran­hão é jus­ta­mente a mais rica que, emb­ora dom­i­nada pelos leões, deles não depende para nada.

A savana a mere­cer ver­dadeira­mente o nome tal qual repor­tada no imag­inário de todos que nos remete à mais degradante mis­éria é a exper­i­men­tada pela quase total­i­dade da pop­u­lação que sobre­vive sob índices africanos em quase todos os que­si­tos pesquisa­dos por insti­tu­tos sérios – ape­sar de viver­mos em um estado poten­cial­mente rico.

O nosso atraso desafia a lóg­ica. E, neste aspecto o Maran­hão sem­pre foi uma grande savana.

Foi assim com o vitorin­ismo, com o sarneismo e, assim con­tinua, na fase do comunismo.

A impressão que fica nos cidadãos de bem é que aos leões de plan­tão – nas várias épocas –, tal mis­éria se man­tém como um instru­mento de dom­i­nação. Os leões por serem mais fortes vão reinando e dom­i­nando as demais espé­cies na vasta planí­cie da savana.

Outro dia um senador da República, Roberto Rocha, que não pediu seg­redo, disse-​me que se o gov­erno fed­eral se dis­pusesse a inve­stir um bil­hão ou mais de reais no Maran­hão em obras estru­tu­rantes de grande monta não pode­ria, porque não exis­tem pro­je­tos neste sen­tido no estado. Não duvido que esteja certo.

O senador é um dos raros políti­cos maran­henses da atu­al­i­dade que tem exce­lentes ideias. Tão boas a ponto de fazê-​lo pen­sar que só ele tem boas ideias e não querer ouvir as dos demais, o que coloca em risco as exce­lentes ideias que tem.

Já o atual gov­erno – que foi depositário de tanta esper­ança para povo pois estava pondo fim ao “régime de dom­i­nação ante­rior” –, avança pelo quinto ano sem que ten­hamos notí­cias de um pro­jeto de futuro para o estado. Seus leões – e demais inte­grantes da corte –, pas­sam grande parte do tempo “caçando con­versa” com os adver­sários – reais ou imag­inários –, e/​ou “fux­i­cando” nas redes soci­ais.

Em alguns aspec­tos, é dever reg­is­trar, até con­seguem ser piores do que o régime que sub­sti­tuiu, basta ver­mos as graves sus­peitas de bis­bil­ho­tagem à vida das pes­soas, a intol­erân­cia à liber­dade de expressão, a perseguição à imprensa livre e a própria inap­tidão para a gestão pública.

Aliás, soube que outro dia, em uma roda de con­ver­sas, alguém fez a seguinte pil­héria: dizia que quando sua excelên­cia, o atual gov­er­nante, era ape­nas um “menino do buchão” e lhe per­gun­tavam o que que­ria ser quando crescesse, ele não respon­dia que que­ria ser um juiz, um médico, um advo­gado, um jor­nal­ista, um bombeiro, um poli­cial, etc. Respon­dia que que­ria ser o “Sar­ney”. Segundo o autor do chiste o gajo batia o pez­inho e repetia incansavel­mente o desejo de ser o Sar­ney quando crescesse.

Mas isso deve ser mesmo ape­nas uma pil­héria. Não acred­ito que seja sério.

Mas voltando ao assunto sério ninguém sabe quem está “pen­sando” o estado para as próx­i­mas décadas – se é que tem alguém fazendo isso no atual gov­erno. Quais são os grandes pro­je­tos capazes de ala­van­car o Maran­hão para o desen­volvi­mento?

Segundo Sar­ney, o orig­i­nal, só nos restou agora o Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara, pelo qual deve­mos “nos bater” para ver aprovado o acordo de sal­va­guardas com os amer­i­canos e com out­ros países que dispon­ham de tec­nolo­gia para isso.

Devo con­fes­sar que acho muito pouco, mas, o que dizer de um gov­erno que solta rojões por inau­gu­rar senti­nas, um poço arte­siano aqui ou acolá ou escol­in­has de duas salas?

Quando vejo isso imag­ino o quão baixas estão as nos­sas expec­ta­ti­vas para o futuro.

Claro que tais obras são impor­tantes para o nosso povo. Mas isso não é pro­jeto de estado. Isso não é o sufi­ciente para a lib­er­tação do povo das amar­ras do atraso.

Ficamos com a impressão (ou certeza?) que nos­sos políti­cos só con­seguem enx­er­gar até a próx­ima eleição – e depois para a seguinte.

Na ver­dade, infe­liz­mente, e digo isso com pesar, não temos um pro­jeto de estado, mas sim um pro­jeto de poder da classe política local, que usa a mísera do povo para reinar sobre a imensa savana.

A última vez que ouvi um político falar em uma união em torno de um pro­jeto de desen­volvi­mento para Maran­hão foi com o ex-​governador José Reinaldo Tavares ainda no ano de 2015. E, por sug­erir isso aos novos leões dom­i­nantes sobre a savana, foi destratado, humil­hado, traído e, por fim, lev­ado ao ostracismo político.

O resul­tado desta falta de união e de pro­jeto de desen­volvi­mento para o estado é que acabamos de perder uma siderúr­gica para o Estado do Pará. Já até tín­hamos um ter­reno pronto ali em Rosário dis­tante pouco mais de 60 km da cap­i­tal.

O novo empreendi­mento que será insta­l­ado na cidade de Marabá, com poten­cial para gerar mil­hares de empre­gos dire­tos e indi­re­tos no estado viz­inho, nos traz uma pre­ocu­pação adi­cional: com a siderúr­gica insta­l­ada, por que não con­struírem um porto naque­les rios amazôni­cos para escoar não só as man­u­fat­uras, mas o próprio excesso da com­mod­ity? Qual o sen­tido do minério vir “passear” no Maran­hão depois disso?

No futuro, cor­re­mos até o risco de per­der­mos aquela fonte de renda extra para os municí­pios recém con­quis­tada: os roy­al­ties da min­er­ação pelo qual tanto se lutou. Escrevi sobre isso no texto “A Vitória da Per­se­ver­ança”.

Em meio a essa polêmica da “perda” da siderúr­gica li dois tex­tos se con­trapondo. De um lado um dep­utado de oposição crit­i­cava a perda do empreendi­mento e recomen­dava aos maran­henses procu­rarem empre­gos em Marabá, de outro, um secretário do gov­erno estad­ual ten­tando jus­ti­ficar e crit­i­cando o dep­utado opos­i­tor “egresso” do antigo régime.

Vi como sendo um debate do “sujo falando do mal lavado”, como se dizia lá no meu povoado.

Ora o dep­utado é sabedor que essa imensa savana africana que se tornou o Maran­hão não é fruto ape­nas deste gov­erno, o antigo régime, do qual fez parte tem uma colos­sal parcela de culpa. Durante os anos que os leões de sua família reinaram – assim como no reinado atual –, bil­hões de dólares foram empresta­dos sem que o resul­tado desta mon­u­men­tal dívida se revertesse em bene­fí­cios do povo e isso se devendo, tam­bém, a falta de pro­je­tos de infraestru­tura e de desen­volvi­mento para o estado.

Tanto sabe disso que uma das primeiras providên­cias – senão a primeira –, que ado­tou na atual leg­is­latura foi abdicar do nome família, pas­sando a se iden­ti­ficar, pelo menos no par­la­mento, ape­nas pelo prenome.

Por sua vez o secretário, mais moti­vado pelo desejo de “prestar serviço” aos novos leões reinantes, nada disse que jus­ti­fi­casse a perda do empreendi­mento ou apre­sen­tou os planos do estado para as décadas seguintes, falou de ques­tionáveis empreendi­men­tos da ini­cia­tiva pri­vada que nada deve ao atual gov­erno.

De certo o que temos na atu­al­i­dade é o mesmo “modus operandi” das oli­gar­quias ante­ri­ores, infraestru­tura inex­is­tentes, com estradas e pon­tas de ruas que cus­taram mil­hões se “dis­sol­vendo” com as chu­vas, um estado endi­vi­dado, um povo sem esper­ança e sem qual­quer per­spec­tiva de futuro sendo escor­chado por uma carga trib­utária de primeiro mundo enquanto ofer­ece ao con­tribuinte um serviço de último.

O que temos de con­creto é a velha e escal­dante savana africana dom­i­nada por esquáli­dos e fam­intos leões que logo mais nada mais terão para comer.

Abdon Mar­inho é advo­gado.