AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

FAN­TA­SIA!? QUE FANTASIA?

Escrito por Abdon Mar­inho

FANTA­SIA!? QUE FANTASIA?

Por Abdon Marinho.

AINDA não foi desta vez – e não era a intenção, muito pelo con­trário –, que o gov­er­nador do estado pas­sou des­perce­bido, ou seja, sem causar polêmica, no período momesco. E, registre-​se, não foi pela avan­ta­jada massa cor­po­ral.

Só que me lem­bro, num dos primeiros car­navais, já na chefia do gov­erno, “des­filou” de amo de boi, osten­tando, inclu­sive, um vis­toso par de matra­cas (aos que não con­hecem: são dois pedaços de pau, geral­mente madeira de lei, que se usa para fazer o som da matraca).

Noutro car­naval não pas­sou des­perce­bido e “polem­i­zou” – e aí não acred­ito que tenha culpa –, ao rece­ber uma declar­ação pública de amor, em pleno cir­cuito momesco de um aux­il­iar mais afoito. Ecoou na Avenida – e foram ouvi­dos por dias nos cir­cuitos da polêmica –, os gri­tos do mancebo ado­rador, depois secun­dado por um coro de: — Dino, eu te amo! — Dino, eu te amo! — Dino, eu te amo!

Emb­ora os amantes e os loucos ten­ham trân­sito livre, con­forme ensinou-​me papai, a declar­ação pública de amor “cau­sou” durante um bom tempo nos meios políti­cos e sociais.

Aqui do meu retiro auto imposto, longe de toda efer­vescên­cia da folia e, prati­ca­mente, sem inter­net, tomo con­hec­i­mento que sua excelên­cia “cau­sou”, mais uma vez, ao apare­cer no reinado de Momo fan­tasi­ado dele mesmo, ou seja, sem qual­quer fan­ta­sia.

Arrisco dizer que a ausên­cia de fan­ta­sia de sua excelên­cia provo­cou mais alvoroço do que se tivesse apare­cido na folia com fic­tí­cia exor­nação de “pelado com uma melan­cia pen­durada no pescoço”.

Durante o dia/​noite recebi “print’s” com a fotografia do gov­er­nador (inclu­sive a que ilus­tra o texto) e alguns comen­tários de seus opos­i­tores com críti­cas à “ausên­cia” de fan­ta­sia da excelên­cia. Como se num baile à fan­ta­sia, muito em voga no pas­sado, o folião tivesse apare­cido sem o adorno obri­gatório e estra­gado a “brin­cadeira” dos demais.

Ora, a menos que se tratasse de um “baile à fan­ta­sia”, como referido ante­ri­or­mente, não vi motivos para a “ausên­cia de fan­ta­sia” da autori­dade causar tanta polêmica. Em menor escala, pelo menos na nossa provín­cia, comentou-​se mais a falta de fan­ta­sia do gov­er­nador do que a vez em que o príncipe Henry, da Inglaterra, apare­ceu com uma fan­ta­sia mil­i­tar com a suás­tica em um dos braços.

Sua excelên­cia foi ao cir­cuito de Momo “fan­tasi­ado” de comu­nista, ou seja, sem fan­ta­sia, uma vez que se diz comu­nista e é fil­i­ado ao Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB. Qual a novi­dade?

Os que não sabem o par­tido do gov­er­nador ao longo de sua história defendeu (e defende), com dire­ito a nota ofi­cial e tudo mais, os regimes mais tirâni­cos e geno­ci­das que se tem notí­cia na história da humanidade, desde o stal­in­ismo que levou mil­hões de cidadãos à morte e à prisão na antiga União Soviética ao régime norte-​coreano na atu­al­i­dade, que dis­pensa quais­quer out­ros comen­tários, pois resiste aí à vista de todos, provo­cando mortes por inanição, man­tendo cam­pos de con­cen­tração com tra­bal­hos força­dos, impondo penas cole­ti­vas e tan­tos out­ros absur­dos, inimag­ináveis na atual quadra da história; pas­sando ainda pelos regimes chinês, cam­bo­jano, albanês, todos eles, con­tando as mortes provo­cadas em milhões.

O exem­plo mais pre­sente e próx­imo da gente de régime geno­cida apoiado pelo par­tido onde o gov­er­nador do Maran­hão é das prin­ci­pais fig­uras (senão a prin­ci­pal) é o régime de Nicolás Maduro, na Venezuela, que destruiu a econo­mia e a liber­dade dos cidadãos daquele país, que reprime a pop­u­lação fam­inta, que já matou de fome sabe se lá quan­tos mil­hares de cidadãos; que provo­cou o êxodo de mais de três mil­hões de venezue­lanos, segundo a Orga­ni­za­ção das Nações Unidas — ONU; que impede a ajuda human­itária de remé­dios e ali­men­tos, enquanto os cidadãos mor­rem por falta de uma aspi­rina nos hos­pi­tais ou de fome, quando não encon­tram nada para cole­tar nas caçam­bas de lixo.

Ao meu sen­tir falece de qual­quer sen­tido criticar-​se a fan­ta­sia (ou a falta dela) do gov­er­nador quando a real­i­dade pos­sui esse nível de tene­brosi­dade referi­dos acima.

A “fan­ta­sia” do gov­er­nador compunha-​se, pelo que vi nas fotos, do boné de Mao Tsé-​Tung (não Fidel Cas­tro, como referiram-​se alguns. Mao já usava o boné em 1949, o outro dita­dor só entrou para a história dez anos depois), o geno­cida chinês que levou à morte, por baixo, setenta mil­hões de pes­soas, sua excelên­cia deve achar rel­e­vante hom­e­nagear tal figura; uma calça “verde mil­i­tar”, talvez uma hom­e­nagem ao líder cubano Fidel Cas­tro que man­dou matar, por fuzil­a­mento, mil­hares (mil­hões?) de cubanos, ape­nas por dis­cor­darem dele e do seu régime, inclu­sive, inte­grantes das chamadas mino­rias, como gays, lés­bi­cas e demais mem­bros da sopa de letrin­has; camisa em seda (chi­nesa?) uma hom­e­nagem ao régime daquele país? E, por fim, a “cereja do bolo”, os dois sím­bo­los máx­i­mos do comu­nismo em todo mundo: a foice e o martelo (dev­i­da­mente tra­bal­ha­dos em madeira de lei).

Fan­ta­sia!? Que fan­ta­sia? O gov­er­nador foi para a rib­alta “hom­e­nage­ando” ideias que respeita e fig­uras históri­cas em quem acred­ita – ainda que geno­ci­das e assas­si­nos da pior espé­cie –, fazendo política e ten­tando “tirar div­i­den­dos” até da festa de Momo.

Decerto não percebe que fica bem escarnecer do tanto de sofri­mento que as ideias que defende já provo­cou e provoca ao redor do mundo. Ou mesmo que não fica bem a um gov­er­nador – já auto­procla­mado can­didato à presidên­cia da República –, fazer tanto pros­elit­ismo de ideias retrógradas.

Emb­ora com­bi­nasse mais com o momento, uma fan­ta­sia de “fofão” não “causaria” tanto impacto.

Mas, como disse alhures, a menos que a crítica e a polêmica ocor­ram pelo fato da excelên­cia ter ido ao “baile sem fan­ta­sia”, não fazem as mes­mas quais­quer sen­tido.

Pois, pior que uma fan­ta­sia de car­naval é a real­i­dade com a qual nos defronta­mos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

UM MAU COMEÇO NA ALEMA.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM MAU COMEÇO NA ALEMA.

Por Abdon Marinho.

A Assem­bleia Leg­isla­tiva do Maran­hão fez 184 anos, soube que com uma bela hom­e­nagem mate­ri­al­izada numa exposição de doc­u­men­tos históri­cos.

Quando tra­bal­hei lá (1991÷1995), tive a chance de apren­der muitas coisas e fazer ami­gos que conservo até hoje. Reg­istro que foi um período muito bom para minha vida.

Mas, já naque­les anos, vez ou outra entre­ou­via um dep­utado ou outro, egres­sos de out­ros mandatos dizer, em tom de decepção: “ — Nunca vi uma leg­is­latura tão ruim quanto esta”. Ou: “ — Nunca vi “safra” de dep­utado tão ruim quanto a atual”.

Não que seja necessário, mas muitos ex-​deputados ainda estão aí para ates­tar o que digo.

De lá para cá – e já temos um quarto de século –, con­tin­uei a ouvir, a cada leg­is­latura, o velho mantra daque­les primeiros, a com­para­ção de que a ante­rior seria mel­hor, com dep­uta­dos mais com­pro­meti­dos com o inter­esse público que os suces­sivos suces­sores.

Emb­ora não dese­jável, com­preen­sível que isso ocorra. A política deixou, ao longo dos anos, de ser um espaço de dis­cussão de ideias para ser “um negó­cio” como outro qual­quer, com os cidadãos “investindo” em busca de um retorno finan­ceiro.

Nor­mal que as “safras” de políti­cos ven­ham cada vez com menos história, menos com­pro­me­ti­mento com os inter­esses da sociedade, que, longe de ser inocente, é cúm­plice e respon­sável, na medida que troca seu voto por uma van­tagem pes­soal, um emprego aqui, um mil­heiro de tijo­los ou tel­has ali, um cesta básica acolá.

Essa medioc­ridade gen­er­al­izada gera escol­has cada vez piores e uma rep­re­sen­tação cada vez mais defi­ciente.

A ponto do cidadão que não “serve” para qual­quer outra ativi­dade (advo­gado, médico, engen­heiro, arquiteto, empresário, com­er­ciante, qual­quer outra coisa), de repente “virar” rep­re­sen­tante do povo, “virar” gestor da coisa pública.

O que leva o cidadão eleger uma pes­soa que não se saiba uma coisa que fez, um prego que enfiou numa barra de sabão?

Isso sem con­tar com o “fil­ho­tismo” político, ou os mandatos ou car­gos públi­cos, como uma espé­cie de “bolsa” ou pro­grama “primeiro emprego”.

São tan­tas as deformi­dades do que sig­nifica o exer­cí­cio de um mandato ele­tivo – de gestão ou par­la­men­tar –, que no ano pas­sado acabei ouvindo – emb­ora sem acred­i­tar –, que dep­uta­dos estariam “vendendo” suas emen­das par­la­mentares.

Veja que coisa ina­cred­itável: o par­la­men­tar com um dire­ito a encam­in­har uma obra ou um serviço a deter­mi­nado municí­pio ou estado ou enti­dade, geral­mente por afinidade – ou por ter rece­bido votos –, pas­saria tais emen­das para out­ras pes­soas, inclu­sive out­ros par­la­mentares, em troca de din­heiro.

Uma outra coisa ina­cred­itável que me con­taram é que alguns (ou muitos) nego­ci­avam até os car­gos a que teriam dire­ito. Fun­cionaria assim: a excelên­cia teria A tan­tos asses­sores que ren­de­riam em salários, dig­amos que 100 mil. Ele pegaria de outro par­la­men­tar, por exem­plo, 70 ou 80 mil e o “com­prador” nomearia o fun­cionário naquele gabi­nete.

São histórias tão inverossímeis, que, como disse, não acred­itei.

Me recuso a acred­i­tar que “rep­re­sen­tantes” do povo desçam a esse nível de ban­dalha. Emb­ora tenha quem diga que até oper­adores do mer­cado finan­ceiro infor­mal estariam envolvido nesse tipo de transação pouco repub­li­cana.

Mas, como disse, não acred­itei – e não acred­ito nes­sas nar­ra­ti­vas –, e que esse tipo de coisa deve ser assunto para a Polí­cia e/​ou Min­istério Público apu­rarem.

Intro­duzi esses fatos, entre­tanto, para externar minha pre­ocu­pação com a leg­is­latura ini­ci­ada recen­te­mente.

Emb­ora de longe – mas vivendo numa aldeia onde de tudo se sabe –, tomamos con­hec­i­mento que já na sessão inau­gural dos tra­bal­hos leg­isla­tivos um dep­utado vet­er­ano e um “débu­tante” acusaram-​se mutu­a­mente de práti­cas crim­i­nosas a desafi­arem a leg­is­lação penal.

O novato acu­sou o vet­er­ano de ten­ta­tiva de trá­fico de influên­cia para pro­te­ger um suposto par­ente que retru­cou com acusações até bem mais graves: disse com todas as letras que o “novato” rep­re­sen­tante das “novas práti­cas políti­cas” seria useiro e vezeiro no crime de extorsão e chantagem.

Em que pese não terem chegado às vias de fato, o mais grave é que acusações tão sérias envol­vendo “rep­re­sen­tantes do povo” não ten­ham sido objeto de qual­quer cen­sura dos demais dep­uta­dos, não se tendo con­hec­i­mento que qual­quer pro­ced­i­mento para apu­rar o con­teúdo das acusações tenha sido instaurado.

Até onde se sabe, é que ficou o “dito pelo dito”, cada qual com sua “imputação” ale­gre e sat­is­feito.

Outra fato que me chamou a atenção nestes primeiros dias, foi a infor­mação que as excelên­cias não aprovam, se ori­un­dos da “oposição”, sequer, requer­i­men­tos de infor­mações.

Ora, esse tipo de “cen­sura” fere a essên­cia da ativi­dade par­la­men­tar.

É de se per­gun­tar: se um par­la­men­tar não pode requerer uma infor­mação ao Poder Exec­u­tivo, qual será mesmo o seu papel?

Repare que qual­quer cidadão, com base na Lei de Acesso à Infor­mação, Lei nº. 12.527, pode requerer quais­quer infor­mações de quais­quer órgãos do país, que não este­jam pro­te­gi­das por sig­ilo. Entre­tanto, no Maran­hão, um dep­utado não pode requerer infor­mação do exec­u­tivo porque seus pares não aprovam.

E vai servir o par­la­mento para que, mesmo?

Parece bobagem, mas não é.

A neg­a­tiva e/​ou rejeição de míseros requer­i­men­tos de infor­mações (que qual­quer cidadão tem o direto de requerer) não só depõe con­tra o Poder Leg­isla­tivo que recusa uma pre­rrog­a­tiva do par­la­men­tar, como depõe con­tra o Poder Exec­u­tivo, que tenta pas­sar a imagem de “evoluído” politicamente.

Ainda neste assunto, em data bem recente, uma das Casas do Con­gresso Nacional, sus­pendeu um decreto do pres­i­dente da República, em exer­cí­cio, que impunha lim­i­tações a Lei de Acesso à Infor­mação.

Registre-​se que essa vitória do par­la­mento fed­eral con­tou com o apoio maciço dos ali­a­dos do gov­er­nador do estado que, por estas pla­gas, instrui sua ban­cada na Assem­bleia Leg­isla­tiva a rejeitar requer­i­men­tos de informações.

Imag­inemos se fosse um pedido de inves­ti­gação, um pedido de Comis­são Par­la­men­tar de Inquérito — CPI, etc.

Ati­tudes assim enfraque­cem o Poder Leg­isla­tivo e o coloca em situ­ação de sub­al­terno ao Poder Exec­u­tivo, dando azo a todo tipo de desrespeito.

Não é sem razão que um secretário de estado tenha feito gal­hofa e foi desre­speitoso com um dep­utado estad­ual, eleito e legí­timo rep­re­sen­tante do povo. O secretário de estado se referiu, de forma pejo­ra­tiva, ao dep­utado como “ô da bici­cleta”.

— Ô da bicicleta?!

É essa a maneira “edu­cada” de se referir a um dep­utado estad­ual? Um rep­re­sen­tante do povo?

Pior que isso foi ver que seus cole­gas, tam­bém secretários de gov­erno, e até o gov­er­nador do estado com­par­til­harem e/​ou “cur­tirem” a pub­li­cação desre­speitosa.

Tal nível de acinte não se volta uni­ca­mente con­tra o dep­utado – que nada mais que­ria do que uma infor­mação –, trata-​se, na ver­dade, de uma afronta e um desre­speito a todo o par­la­mento. Não só aos dep­uta­dos, mas a insti­tu­ição.

Vendo essas coisas, acabo por acred­i­tar no antigo mantra.

No pas­sado – não sei se ainda estava por lá ou se foi pouco depois da minha saída –, um secretário de estado man­dou um requer­i­mento ao Pres­i­dente da Assem­bleia.

Dizia ele fazia aquele requer­i­mento de “ordem” do gov­er­nador.

O então pres­i­dente da ALEMA, não perdeu a viagem. Chamou seu secretário e disse-​lhe: — responda ao secretário fulano de “ordem” minha que aqui as pes­soas se enten­dem de igual para igual, o secretário manda ofí­cio para você e o gov­er­nador para o pres­i­dente.

Por vias tor­tas, naquela opor­tu­nidade, se fez valer que dev­e­ria (deve) haver um respeito entre os Poderes.

Para isso é necessário que os próprios par­la­mentares ten­ham con­sciên­cia disso.Não pensem que será uma mis­são fácil.

No mesmo dia que o dep­utado “deb­utou” na Assem­bleia con­tra o colega vet­er­ano, foi o mesmo para as redes soci­ais e sen­ten­ciou: “— para aque­les que estavam acos­tu­ma­dos com a “velha política”, vou logo avisando: eu cheguei!”. (algo mais ou menos assim).

Achei muito engraçado. Pense numa autoes­tima ele­vada. Sua excelên­cia chegou, esqueçam todo o pas­sado, o futuro e o presente.

O “eu cheguei” de sua excelên­cia resolve tudo, só tem um senão, joga no lixo os 184 anos de história da Casa de Manoel Bequimão que fes­te­jaram ainda ontem.

Podemos até enten­der que os seus cole­gas da atual leg­is­latura, pelo que disse, serão ape­nas coad­ju­vantes. Agora ele chegou. É ele e mais quarenta um.

Caberia dizer: — menos, excelên­cia, menos.

Foi ape­nas o primeiro mês, vamos torcer para não pio­rar.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A FARSA GENO­CIDA DOS TRÓPICOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

A FARSA GENO­CIDA DOS TRÓPI­COS.
Por Abdon Mar­inho.
ERA UM SÁBADO chu­voso. Entre uma leitura ou outra, depois dos afaz­eres domés­ti­cos e de escr­ever algu­mas ideias, ocupei-​me em assi­s­tir a um doc­u­men­tário na tele­visão. O título: “A Evolução da Mal­dade”, trata-​se de uma espé­cie de série mostrando a lou­cura, a vio­lên­cia, a desumanidade de uma série de dita­dores geno­ci­das ao longo da história.
O episó­dio que assisti era sobre Mao Tsé-​Tung, que dirigiu a China de 1949 até sua morte em 1976.
Nele, vimos como Mao deter­mi­nou a cole­tiviza­ção de todas as pro­priedade, meios de pro­dução e até mesmo de uten­sílios de uso pes­soal e como isso levou a pop­u­lação à mais abso­luta mis­éria. Nas fazen­das cole­ti­vas determinou-​se cotas de pro­dução cada vez mais ele­vadas, con­de­nando à morte, por inanição, aque­les que não a atin­gia ou não tin­ham condições físi­cas para pro­duzir, como idosos, cri­anças, por­ta­dores de defi­ciên­cia, etc.
Não sat­is­feito com a pro­dução baixa achou-​se, ainda, out­ros cul­pa­dos: os pás­saros e se orde­nou a matança das aves para econ­o­mizar os dez ou doze grãos que cada um pode­ria comer.
Por óbvio, que o plano não fun­cio­nou, pelo con­trário. A pop­u­lação campesina matou as aves e como con­se­quên­cia as pra­gas que os pás­saros, tam­bém, comiam tomaram conta da pro­dução. Resul­tado: mais fome, mais mortes e, até, notí­cias de cani­bal­ismo.
Em nome da sua ide­olo­gia Mao pro­moveu sua “rev­olução cul­tural”, um sis­tema pelo qual todo pen­sa­mento dis­so­nante dev­e­ria ser elim­i­nado.
Aliás, as pes­soas com capaci­dade para pen­sar dev­e­riam ser elim­i­nadas e foi isso que orde­nou a seus jovens seguidores que saíram a campo para elim­i­nar pro­fes­sores, escritores, artis­tas, pen­sadores e qual­quer um que ousasse ou fosse acu­sado de ser “opos­i­tor” ao régime, inclu­sive, pes­soas de den­tro do próprio par­tido que foram pre­sas, sub­meti­das a tra­bal­hos e foça­dos e deix­adas a mor­rer.
Pesquisadores e his­to­ri­adores não têm um número exato de mor­tos durante aquele período, mais esti­mam que tenha pas­sado de setenta mil­hões. Talvez achem pouco uma pilha com setenta mil­hões de mor­tos se com­para­dos a pop­u­lação de 600 mil­hões de habi­tantes.
Pois bem, fiz essas ligeiras con­sid­er­ações a respeito do que ocor­reu na na segunda metade do século pas­sado (prati­ca­mente, ontem), para dizer que, ape­sar de todo mundo oci­den­tal con­hecer aque­les hor­rores, deles estarem pre­sentes em doc­u­men­tários e livros históri­cos, encon­tramos em muitos par­tidos brasileiros uma defesa cer­rada do “maoísmo” que é como ficou con­hecida: “dout­rina política de Mao Tse­‑Tung (18931976), líder da rev­olução social­ista da República Pop­u­lar da China e seu primeiro pres­i­dente, car­ac­ter­i­zada prin­ci­pal­mente pela atu­ação da força do pro­le­tari­ado na luta pela liber­dade e con­sol­i­dação do comu­nismo, a fim de elim­i­nar a ide­olo­gia bur­guesa e pro­mover uma mudança histórica, não só política, mas, tam­bém, cul­tural.
Assim como existe a defesa do régime geno­cida de Stálin, antiga União Soviética; da ditadura norte-​coreana, que desde os anos cinquenta passa de pai para filho e é o régime mais autoritário do mundo, tão opres­sor que aque­les cidadãos não sabem o que é liber­dade e vivem por viver, como os seres irra­cionais.
A despeito de tudo isso, par­tidos políti­cos, artis­tas, sindi­cal­is­tas e mesmo “int­elec­tu­ais”, já se man­i­fes­taram – mais de uma vez –, em defesa do régime, como tam­bém o fiz­eram e fazem em relação ao régime cubano.
Diga-​se, de pas­sagem, que a vida inteira sem­pre “pagaram pau” aos irmãos Cas­tro.
Assim, não estran­hei ao saber que par­tidos, políti­cos, sindi­cal­is­tas, movi­men­tos soci­ais e os “supos­tos” int­elec­tu­ais brasileiros estão saindo em defesa do régime de Nicolás Maduro, da Venezuela.
Isso é ape­nas a história se repetindo, como farsa.
As pes­soas sen­sa­tas con­seguem enx­er­gar que o “madurismo” e o “chav­ismo” destruíram a econo­mia venezue­lana, levando à mis­éria quase a total­i­dade da pop­u­lação; não con­seguiram prover o essen­cial ao povo, que dizem tanto defender.
Con­struíram, com os recur­sos da nação uma “cor­rup­toc­ra­cia” que se sus­tenta basi­ca­mente com o apoio de mil­itares que fiz­eram do nar­cotrá­fico uma forma de “fazer” din­heiro e de políti­cos cor­rup­tos.
Enquanto isso, as pes­soas não têm forças, sequer, de se colo­car con­tra o régime.
Elas lutam é para sobre­viver em um país que não tem ali­men­tos sufi­cientes para prover o seu sus­tento; com uma inflação que deve ultra­pas­sar os dez mil­hões por cento esse ano; com pes­soas mor­rendo à mín­gua por falta de atendi­mento médico-​hospitalar, pois falta as coisas mais comez­in­has, até mesmo para um cura­tivo; onde as mul­heres ao primeiro sinal de um nódulo no seio, aceitam se sub­me­ter à reti­rada total da mama, pois temem não terem como prosseguir com o trata­mento; onde as pes­soas catam lixo para ten­tar comer pois mais de setenta por cento da pop­u­lação já perdeu entre vinte e trinta por cento do peso dev­ido à fome; onde as cri­anças osten­tam uma das maiores taxas de mor­tal­i­dade do mundo.
Qual­quer pes­soa sen­sata con­segue enten­der que a última eleição do sen­hor Maduro foi uma fraude escan­car­ada, a começar pelas lim­i­tações de par­tic­i­pação dos adver­sários, pre­sos e/​ou impe­di­dos de dis­putar pelos donos do poder.
Ainda que tivesse ocor­rido tudo na mais per­feita nor­mal­i­dade democrática, um gov­er­nante deixa de ter qual­quer legit­im­i­dade ética, moral e política quando não con­segue gerir a nação de sorte a prop­i­ciar o bem-​estar cole­tivo.
O gov­erno do sen­hor Maduro está bem além disso. Ele provoca de forma delib­er­ada o genocí­dio do povo venezue­lano. A pop­u­lação quer e pre­cisa de ali­men­tos para saciar sua fome, medica­men­tos para curar suas enfer­mi­dades, água tratada para beber, um mín­imo de segu­rança e não tem nada disso.
Quan­tos mil­hares ou mil­hões de venezue­lanos não já mor­reram por lhes fal­tar o básico, o essen­cial?
Qual a difer­ença entre o quadro atual e o que fez Mao Tsé-​Tung no século pas­sado? Nen­huma.
E, talvez, haja uma agra­vante: no caso da Venezuela, con­forme temos assis­tido, o viés ide­ológico tem impe­dido que ali­men­tos, medica­men­tos e out­ros insumos bási­cos cheguem a pop­u­lação fam­inta e doente.
Diver­sos países – não ape­nas os Esta­dos Unidos –, man­daram ajuda human­itária a Venezuela, como os mem­bros da União Europeia, Brasil, Colôm­bia, Chile e tan­tos out­ros. Assis­ti­mos Nicolás Maduro fechar a fron­teiras e ordenar que se atire, para matar, em quem ten­tar entrar com ali­men­tos e remé­dios.
Fez mais. Em um comí­cio em praça pública para os seus apanigua­dos – que diga-​se, não estavam muito empol­ga­dos –, disse que não pre­cisava de ajuda human­itária nen­huma, que todo o ali­mento que aque­les países tin­ham para doar ele pode­ria com­prar. Não sat­is­feito, men­tiu dizendo que aque­les ali­men­tos estavam estra­ga­dos e que já tinha matado diver­sas pes­soas.
Que chefe de nação mente assim, de forma tão descarada, para o mundo inteiro assi­s­tir?
Como clas­si­ficar aque­les que negam comida com o seu povo catando lixo nas ruas para comer?Como clas­si­ficar aque­les que recusam remé­dios a pacientes doentes?
Fiz­eram mais. Além de fechar a fron­teira para impedir a entrada de ali­men­tos, man­dou que se incen­di­asse os cam­in­hões com ali­men­tos e medica­men­tos que con­seguiram “furar” blo­queio.
Como deve­mos clas­si­ficar aque­les que destroem ali­men­tos e medica­men­tos diante da neces­si­dade pre­mente da pop­u­lação?
Ao meu sen­tir, não há como jus­ti­ficar o com­por­ta­mento de Maduro e dos seus ali­a­dos de den­tro ou de fora da Venezuela que apoiam esse tipo de coisa.
Há, no mín­imo, uma deformi­dade ética ou moral em quem assim pro­cede e em quem apoia ou jus­ti­fica esse tipo de pro­ceder.
Dizer que ajuda human­itária para saciar a fome ou curar enfer­mos seria uma afronta à sobera­nia daquele país é algo abso­lu­ta­mente desproposi­tado, somente degen­er­a­dos morais que há muito perderam qual­quer senso de decên­cia pos­suem condições para jus­ti­ficar e achar cor­reto o pro­ceder do sen­hor Maduro.
A única ide­olo­gia capaz de jus­ti­ficar o que vem ocor­rendo na Venezuela – com o apoio desaver­gonhado de muitos brasileiros –, é a ide­olo­gia da morte, da farsa geno­cida dos imorais.
Ah, mas os Esta­dos Unidos querem “beber” o petróleo da Venezuela.
Estúpi­dos! Mil vezes estúpi­dos! Cíni­cos, não veem que se deve pen­sar em sal­var vidas e só depois em petróleo?
Qual­quer um brasileiro ou não que apoie o que o sen­hor Maduro está fazendo dev­e­ria ser enquadrado como geno­cida per­ante os tri­bunais encar­rega­dos de jul­gar os crimes con­tra a humanidade.
Isso que são: crim­i­nosos.
Abdon Mar­inho é advogado.