AbdonMarinho - A VENEZUELA NÃO É MODELO PARA O MARANHÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A VENEZUELA NÃO É MOD­ELO PARA O MARANHÃO.

A VENEZUELA NÃO É MOD­ELO PARA O MARANHÃO.

Por Abdon Mar­inho.

POR ESTES DIAS a Orga­ni­za­ção das Nações Unidas — ONU divul­gou que mais de qua­tro mil­hões de cidadãos já deixaram a Venezuela em busca pela sobre­vivên­cia. Ainda segundo aquele organ­ismo trata-​se do maior deslo­ca­mento humano em tem­pos recentes.

Indifer­ente aos prob­le­mas do país e “colado” à cadeira pres­i­den­cial, o dita­dor Nicolás Maduro, em dis­cur­sos inter­mináveis, informa ter a solução para os prob­le­mas da humanidade, mas, para a infe­li­ci­dade e deses­pero dos venezue­lanos, não tem a solução para amainar a fome do povo ou para garan­tir um mín­imo de trata­mento aos doentes, muitos deles, doentes em razão da própria fome.

Emb­ora a real­i­dade do Maran­hão seja muito dis­tinta da real­i­dade venezue­lana, a situ­ação finan­ceira do estado piora a cada dia que passa, não vemos inves­ti­men­tos públi­cos na infraestru­tura, muito pelo con­trário, as estradas se dis­solvem a cada inverno; não é inco­mum os poucos empresários que tra­bal­ham para o estado recla­marem do atraso ou falta de paga­mento; os profis­sion­ais de saúde, prin­ci­pal­mente os médi­cos, recla­mam do atraso, acima do comum, no paga­mento dos seus salários; os servi­dores ter­ce­i­riza­dos nunca sabem quando vão receber.

A estraté­gia do gov­erno, como já é de con­hec­i­mento da grande maio­ria dos cidadãos – que sen­tem no bolso –, é sem­pre aumen­tar a carga trib­utária e recor­rer a emprés­ti­mos para ten­tar equi­li­brar as finanças públi­cas.

Noutra quadra, como ampla­mente divul­gado – e denun­ci­ado –, o gov­erno estad­ual já lançou mão dos recur­sos do Fundo de Pre­v­idên­cia dos Servi­dores – FEPA, e até mesmo de recur­sos da Empresa Maran­hense de Admin­is­tração Por­tuária – EMAP o que con­sti­tuiria uma grave irreg­u­lar­i­dade, vez que tais recur­sos não pode­riam ter outra des­ti­nação que não aquela con­stante no con­trato –, para fazer face às suas despe­sas cor­rentes.

Segundo as denún­cias, os recur­sos estariam sendo alo­ca­dos na conta única do tesouro estad­ual. Como con­se­quên­cia de tal “malfeito” o Maran­hão corre o risco de ter que devolver a admin­is­tração do Porto do Itaqui para União.

A crise finan­ceira do estado parece-​me mais clara quando vejo o próprio gov­er­nador “abrir cham­panhe” toda vez que anun­cia o paga­mento em dia dos servi­dores efe­tivos ou a ante­ci­pação deste paga­mento em um ou dois dias – obser­vando que foi este gov­erno que colo­cou o paga­mento para depois da “virada” do mês. Como na “black fraude”: tudo pela metade do dobro.

Com um quadro de tamanha gravi­dade, o gov­er­nador do Maran­hão e o gov­er­nador da Bahia, foram os diri­gentes estad­u­ais a não assinarem uma carta dos gov­er­nadores do Brasil em defesa da reforma da pre­v­idên­cia e con­trários à reti­rada dos esta­dos da men­cionada reforma.

Os dois “boni­tos”, como Maduro, têm a chave do prob­lema, só não resolveram em seus esta­dos.

Este foi o fato político do país nos últi­mos tem­pos: a com­preen­são da quase total­i­dade dos gov­er­nadores estad­u­ais, a exceção dos dois já referi­dos, que urge refor­mar a pre­v­idên­cia, com­bater fraudes e priv­ilé­gios, sob pena da crise que o país vem sofrendo há quase uma década se ampliar ainda mais.

Se a pro­posta apre­sen­tada é boa ou ruim, se atende ou não as neces­si­dades do país é assunto que não posso dis­cu­tir – por descon­hecer a matéria. Entre­tanto, aque­les que dis­cor­dam pode­riam ter apre­sen­tado à sociedade uma pro­posta alter­na­tiva para dis­cu­tir – não o fiz­eram até agora.

O que fiz­eram, pelo que vi, foi se unirem as “avançadas forças políti­cas do cen­trão” para sab­otarem as pro­postas do gov­erno. Como, aliás, con­fes­sou deter­mi­nado dep­utado ao dizer que não pode­ria fazer a reforma encam­in­hado pelo gov­erno porque isso o for­t­ale­ce­ria demais.

Resta emblemático que os gov­er­nadores do Nordeste, fórum do qual o gov­erno estad­ual faz parte, ser artí­fice, depois que ficou “feio” a ausên­cia do Maran­hão e da Bahia no doc­u­mento dos demais gov­er­nadores, de uma outra Carta em defesa da pre­v­idên­cia e con­tra a reti­rada dos esta­dos da pro­posta do gov­erno em dis­cussão no Con­gresso Nacional. Esta, diga-​se, bem “mix­u­ruca”, con­te­s­tando pon­tos que o próprio gov­erno fed­eral já acor­dou em reti­rar da pro­posta, como o caso da aposen­ta­do­ria dos tra­bal­hadores rurais e o bene­fí­cio de prestação con­tin­u­ada. Out­ros pon­tos, acresce­ram por não terem o que dizer.

Mas voltando a Carta dos gov­er­nadores em prol da reforma da pre­v­idên­cia, descon­heço as moti­vações do gov­er­nador da Bahia, cujo estado pos­sui um déficit prev­i­den­ciário de mais de 3 bil­hões reais, para se escusar de assi­nar a carta, já no caso do gov­er­nador do Maran­hão, com o estado com um déficit de mais de um bil­hão, quiçá dois bil­hões, numa pro­jeção para o futuro próx­imo, a razão é mais que óbvia: sua excelên­cia quer ser grande.

Como não é seg­redo a ninguém, o gov­er­nador, na posse da reeleição, ou poucos dias depois, anun­ciou que estava pronto para a dis­puta da presidên­cia da República dali a qua­tro anos. É certo que recen­te­mente veio a público dizer que estava “brin­cando”, que a tal da can­di­datura era a “viúva Porcina:, aquela que era sem nunca ter sido.

Em ver­dade, tratou-​se de um breve recuo diante da reação mais que áspera dos seus com­pan­heiros de campo, cada um com seus próprios inter­esses pes­soais.

Acon­tece que sua excelên­cia pode até não vir a ser can­didato à presidên­cia da República, como anun­ciou no dia da posse (talvez as condições políti­cas não sejam favoráveis), mas, em função de tal pro­jeto tra­balha incansavel­mente.

No Brasil inteiro se tem notí­cias de “feitos” do gov­erno estad­ual – reais ou imag­inários.

Nos sites, nos jor­nais, nos blogues (não sei se já chegou na tele­visão aberta ou fechada), vê-​se pro­pa­gan­das do gov­erno estad­ual: é a infraestru­tura mod­elo, a segu­rança exem­plar, a edu­cação de primeiro mundo.

Ape­nas para reg­istro a verba para comu­ni­cação do gov­erno do pobre Maran­hão é quase a metade da verba do gov­erno fed­eral para difundir as ações de todo o país.

O “exagero” na pro­pa­ganda é tanto que um respeitado escritor do estado sug­eriu a incor­po­ração de mais um pro­grama ao vasto cardá­pio fic­tí­cio de sua excelên­cia: o pro­grama “mais verdade”.

Vejam, nada tenho con­tra o fato do gov­er­nador (ou qual­quer outro) querer ser can­didato à presidên­cia da República. Pelo con­trário, acho legí­timo que sonhe com isso.

O que me coloco con­tra é o fato das pre­ten­sões do gov­er­nador serem colo­cadas à frente dos inter­esses do Maran­hão.

Os exem­p­los estão aí, à vista de todos. Um dos pro­je­tos mais ambi­ciosos para o desen­volvi­mento do Maran­hão é a Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA.

Como não foi um pro­jeto do gov­er­nador, mas de um adver­sário, sua excelên­cia não moveu uma palha para aju­dar, pelo con­trário, o único voto con­trário na comis­são que dis­cu­tiu o tema foi de uma senadora do seu par­tido, deixando o senador Roberto Rocha, autor do pro­jeto lutando sozinho.

Mesmo em relação a uti­liza­ção Com­er­cial da Base de Alcân­tara, outro pro­jeto macro­econômico que pode ala­van­car o cresci­mento do estado – segundo o ex-​presidente Sar­ney em col­una recente, a der­radeira esper­ança, junto com o babaçu –, o gov­erno estad­ual resis­tiu no iní­cio, por se tratar de uma ini­cia­tiva do gov­erno federal.

Porém nada mais parece mais con­trário aos inter­esses do estado que esta “birra” infan­til con­tra o gov­erno Bol­sonaro.

Ora, querendo ou não, gostando ou não, o pres­i­dente que temos aí foi legit­i­mado pelo voto pop­u­lar. Não faz qual­quer sen­tido que o gov­er­nador do estado, moti­vado por inter­esses pes­soais (ser o anti-​Bolsonaro e can­didato à presidên­cia), fus­tigue o gov­erno em todos os assun­tos.

Pelo se sabe – não sei se é ver­dade porque nunca fui lá –, até hoje a foto ofi­cial do pres­i­dente da República não cru­zou os umbrais do Palá­cio dos Leões.

O que o Maran­hão ganha com isso, com essa “birra”, com essa infan­til­i­dade? Nada.

Sua excelên­cia se com­porta como o dita­dor da Venezuela, Nicolás Maduro, para quem ninguém serve para gov­ernar o país além dele – e com isso tem cau­sado a maior crise human­itária que se tem notí­cia em tem­pos recentes.

Os inter­esses do Maran­hão, assim como os da Venezuela são bem maiores que os seus gov­er­nantes.

Se o gov­er­nador quer ser pres­i­dente, senador, chanceler ou vende­dor de cupuaçu é prob­lema dele. O que não pode é colo­car seus próprios inter­esses à frente dos inter­esses estado que foi con­fi­ado a gov­ernar.

Sua excelên­cia pre­cisa com­preen­der que pre­cisamos de um Flávio mais maduro, para os desafios que estado atrav­essa, e não de um Flávio Maduro, pois a Venezuela não pode nos servir de modelo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.