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Mal edu­ca­dos, mis­eráveis e sem futuro.

Escrito por Abdon Mar­inho

MAL EDU­CA­DOS, MIS­ERÁVEIS E SEM FUTURO.

Por Abdon Marinho.

A ESCOL­INHA do povoado onde nasci há mais de cinquenta anos era uma “latad­inha” com meias pare­des de barro, exceto no fundo onde ficava o quadro negro, chão batido, com uma can­cela por onde todos entravam.

Não cheguei a estu­dar nela, quando estava com oito para nove anos fui “dester­rado” para a sede do municí­pio onde ini­ciei os estu­dos na Unidade Esco­lar Alde­nora Belo, em Gov­er­nador Archer; depois, prossegui os estu­dos na Unidade Esco­lar Castelo Branco, até a quarta série e, da quinta a oitava, na Unidade Ban­deirantes, que fun­cionava no mesmo pré­dio, em Gonçalves Dias,

Quando vim para a cap­i­tal, para cur­sar o segundo grau no Liceu Maran­hense, “estran­hei” o nível de con­hec­i­mento dos meus cole­gas em relação ao meu que era muito infe­rior – e eu era um um dos mel­hores alunos dos colé­gios por onde pas­sei e, desde sem­pre, gostava muito de ler.

Com o pas­sar dos meses fui percebendo que o mesmo estran­hamento que sen­tia em relação aos meus cole­gas de Liceu era com­patível com o descom­passo entre o que estes sabiam com o con­hec­i­mento dos alunos das esco­las pri­vadas.

Ao longo dos anos – e qual­quer um sabe disso –, temos assis­tido, con­tin­u­a­mente, ao enfraque­c­i­mento do ensino como um todo e do ensino público em par­tic­u­lar.

E, ao invés dos gov­er­nantes procu­rarem apri­morar a edu­cação na base e cobrar resul­ta­dos nas eta­pas seguintes, vai deixando o barco cor­rer, não pro­movendo as mel­ho­rias e elim­i­nando as cobranças.

Outro dia, com sur­presa, tomei con­hec­i­mento que os pro­fes­sores são ori­en­ta­dos a não reprovarem os alunos, mesmo que estes não pos­suam con­hec­i­men­tos sufi­cientes para pas­sar de série.

Soube, tam­bém, que os respon­sáveis pela edu­cação estad­ual tra­bal­ham na per­spec­tiva de “treinar” os alunos para mel­ho­rarem o Índice de Desen­volvi­mento da Edu­cação Básica – IDEB, em detri­mento do cur­rículo esco­lar reg­u­lar. Como se apare­cer bem no IDEB fosse mais impor­tante que os estu­dantes terem, efe­ti­va­mente, os con­hec­i­men­tos necessários para um futuro mel­hor.

Outro dia, o pro­grama Fan­tás­tico, da Rede Globo, exibiu uma matéria onde apon­tava fraudes no censo esco­lar para mel­ho­rar os repasses aos municí­pios. Pos­te­ri­or­mente, soube que inúmeros municí­pios estariam prat­i­cando a mesma fraude denun­ci­ada na reportagem.

Ainda que não desmereça a importân­cia de apu­rar e punir os respon­sáveis por quais­quer fraudes cometi­das, o que, ver­dadeira­mente, me chamou a atenção foi a situ­ação das escol­in­has exibidas na reportagem.

Ape­sar de ter pas­sado já meio século desde as min­has lem­branças da escol­inha de latada no meu povoado a qual­i­dade das esco­las públi­cas no Maran­hão não mudou quase nada. São prati­ca­mente as mes­mas “escol­in­has” sem quais­quer estru­turas, anos-​luz de dis­tân­cia do ensino de ponta que já vem sendo prat­i­cado nos mel­hores cen­tros do país.

Não faz muito tempo uma matéria de uma revista sem­anal mostrou que muitas esco­las estão voltadas para o ensi­na­mento de diver­sos e novos con­hec­i­men­tos preparando as cri­anças para o futuro que já chegou, trata-​se de uma ver­dadeira rev­olução no ensino. São con­ceitos estran­hos até no nome, todos em inglês: adap­tive learn­ing; blended learn­ing; byod; cod­ing; gam­i­fi­ca­tion; mak­er­space; project-​based learn­ing; solf skills.

O que temos no Maran­hão? Temos que os alunos são dis­pen­sa­dos, muitas das vezes, com duas horas de aula porque diver­sas dis­ci­plinas não têm pro­fes­sores; porque a escola não apre­senta condições mín­i­mas; porque “sumi­ram” com a ali­men­tação esco­lar das cri­anças.

Diante de tanto atraso, vejo como grande feito da edu­cação estad­ual a con­strução de “escol­inha” que de tão dis­tante da edu­cação de ponta, mas fun­cionam como uma espé­cie de “pelego” para amorte­cer o dis­tan­ci­a­mento entre o que temos e o tanto que o ensino pri­vado de ponta já avançou.

E não é por falta de recur­sos. Se colo­car­mos na ponta do lápis ver­e­mos que o ensino público gasta muito mais que o pri­vado para for­mar o mesmo número de pes­soas com muito mais qualidade.

A edu­cação pública foi – e ainda está –, sendo destruída, aumen­tando o dis­tan­ci­a­mento e a desigual­dade entre os cidadãos.

Essa é a primeira desigual­dade: a do con­hec­i­mento. Basta pegar uma cri­ança de uma escola pública e com­parar o seu nível de con­hec­i­mento com uma cri­ança da escola pri­vada para con­statar isso.

Esta é a primeira cru­el­dade cometida con­tra o “futuro da nação”. Todas as cri­anças dev­e­riam ter as mes­mas chances e opor­tu­nidades.

Mas essa desigual­dade não gera indig­nação da sociedade. É assim que vão se per­pet­uando os cic­los de explo­ração.

Não é sem razão que na mesma sem­ana em que gan­hou destaque a denún­cia do Fan­tás­tico sobre pos­síveis fraudes com os recur­sos da edu­cação e con­stata­mos a situ­ação caótica das nos­sas esco­las o Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­cas – IBGE, divul­gou um dado igual­mente inqui­etante: o Maran­hão é o estado mais mis­erável do Brasil.

Pior, a mis­éria, ao invés de diminuir, tem é aumen­tado.

Segundo o IBGE, mais de cinquenta por cento da pop­u­lação do estado sobre­vive na linha da pobreza, com renda domi­cil­iar per capita de até R$ 420,00 (qua­tro­cen­tos e vinte reais).

Qual­quer um com mais de dois neurônios sabe que essa renda não é sufi­ciente para nada.

Mas des­graça pouca é bobagem. Ainda, segundo o insti­tuto, o Maran­hão pos­sui 20%(vinte por cento) da sua pop­u­lação sobre­vivendo na linha da extrema pobreza, ou seja, com cidadãos cuja a renda famil­iar per capita é de até R$ 145,00 (cento e quarenta e cinco reais).

O Maran­hão está no topo na relação de pes­soas mis­eráveis. E, em ter­mos per­centu­ais, o nosso numero de mis­eráveis cor­re­sponde quase que a total­i­dade de mis­eráveis dos dez ou doze esta­dos da fed­er­ação que se encon­tram no final da fila.

Enten­deram? Se pegar­mos, em ter­mos per­centu­ais, a quan­ti­dade de dez ou doze esta­dos de baixo para cima, nós os super­aremos.

Só não é mais ver­gonhoso porque é demasi­ada­mente triste tal situação.

Querem ver outra coisa igual­mente triste? Os atu­ais donatários do poder, que se elegeram con­de­nando os quase cinquenta anos de atraso do grupo ante­rior, em ape­nas qua­tro anos no poder, aumen­taram o número de mis­eráveis em 20% (vinte por cento).

Fico pen­sando se não há qual­quer con­strang­i­mento nes­tas pes­soas em gastarem uma ver­dadeira for­tuna em pro­pa­ganda dizendo que o paraíso é aqui diante de estatís­ti­cas tão ver­gonhosa­mente acacha­pantes.

Como escon­der que mais da metade da pop­u­lação, mais de três mil­hões e quin­hen­tas mil pes­soas vivem na pobreza?

Antes de chegarem ao poder diziam que a culpa de toda a mis­éria do Maran­hão era do grupo Sar­ney que atrasaram o estado em bene­fí­cio próprio por cinquenta anos, e agora, de quem é a culpa por terem aumen­tado o número de mis­eráveis em ais de vinte por cento em tão pouco espaço de tempo?

Deve­mos con­sid­erar, ainda, que quando rece­beram o gov­erno as con­tas públi­cas estavam rel­a­ti­va­mente em ordem e o gasto com a folha de pes­soal não chegava a 40%(quarenta por cento) da receita cor­rente líquida; o fundo prev­i­den­ciário dos servi­dores apre­sen­tava um saldo con­sid­erável; os impos­tos cobra­dos estavam muito abaixo dos que hoje são cobra­dos.

Em menos de cinco anos, o estado, se já não pas­sou dos lim­ites de gas­tos pre­vis­tos na Lei de Respon­s­abil­i­dade Fis­cal — LRF, se encon­tra na eminên­cia disso; o fundo de pre­v­idên­cia, segundo dizem, que­brado; e nunca a classe tra­bal­hadora pagou uma carga trib­utária tão ele­vada.

Ape­sar de tudo isso, não tive­mos mel­ho­rias em quase nada. A Edu­cação é o que falamos; a saúde só se ouve recla­mações; a infraestru­tura desafia a paciên­cia de Jó.

Se antes tín­hamos a esper­ança e son­há­va­mos com dias mel­hores, hoje nem isso temos mais. Basta olhar para o quadro político que se desenha para os próx­i­mos anos para ter­mos a certeza que fomos nós, os maran­henses, quem ati­ramos as pedras na cruz.

Nada, entre­tanto, é mais ilus­tra­tivo de que nos “roubaram” tam­bém o futuro do que um fato acon­te­cido outro dia na Assem­bleia Leg­isla­tiva do Estado.

Durante décadas atribuiu-​se ao grupo do ex-​presidente Sar­ney a respon­s­abil­i­dade pelo atraso no Maran­hão, como dito ante­ri­or­mente, os atu­ais gov­er­nantes foram eleitos com tal dis­curso.

Pois bem, outro dia foi aprovada por una­n­im­i­dade uma hom­e­nagem ao ex-​presidente, acred­ito que pelo tran­scurso do seu aniver­sário de noventa anos a serem fes­te­ja­dos em abril do ano que vem.

A ALEMA já aprovou inúmeras hom­e­na­gens por una­n­im­i­dade a pes­soas que nunca fiz­eram por mere­cer. Outro dia cau­sou polêmica a hom­e­nagem a um can­tor local que rece­beu a comenda João do Vale; mais recente foi a vez de um blogueiro amer­i­cano que, acred­ito, nem saiba onde fica o Maran­hão ser agra­ci­ado com a prin­ci­pal comenda da Casa.

O próprio gov­er­nador do estado agra­ciou, por con­veniên­cia política, o atual pres­i­dente da OAB com a prin­ci­pal comenda do estado.

Por esse ângulo o ex-​presidente até teria maior “legit­im­i­dade” para o mimo. O que me chamou atenção na hom­e­nagem a Sar­ney foi jus­ta­mente a una­n­im­i­dade. Nem mesmo aque­les que sem­pre enx­er­garam nele a razão de toda a des­graça do estado, dis­seram qual­quer coisa, pelo con­trário, con­cor­daram, assen­ti­ram, votaram a favor.

Pelo que soube, um dep­utado, com inco­mum hon­esti­dade, reg­istrou o fato dizendo que a hom­e­nagem fora aprovada à una­n­im­i­dade uma vez que agora “eram todos Sar­ney”.

Dec­re­taram o fim da história. Temos que aceitar que somos mal edu­ca­dos, mis­eráveis e sem futuro, com muito orgulho.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A morte da sensatez.

Escrito por Abdon Mar­inho


A MORTE DA SENSATEZ.

Por Abdon Marinho.

ACABARA de chegar, depois de uma sem­ana no inte­rior, quando recebi a lig­ação de um amigo querido convidando-​me para o lança­mento de seu livro na sem­ana seguinte. Brin­cal­hão, disse tratar-​se de um evento sim­ples e para pou­cas pes­soas, enfa­ti­zando que estas eram das que podíamos dis­cor­dar sem cor­rer o risco de virar­mos inimi­gos eter­nos.

A par­tir daí, pas­samos a tro­car algu­mas impressões sobre o clima rad­i­cal­izado das relações pes­soais e políti­cas que dom­ina o país no qual você, obri­ga­to­ri­a­mente, tem que escol­her um “lado”, con­viver com seus iguais e satanizar os que pen­sam diferente.

Con­cluí­mos que no Brasil, a única certeza é a morte da sen­satez. Ela, a sen­satez, mor­reu assas­si­nada pela intol­erân­cia política que dom­ina nos­sos dias.

Lem­brei ao amigo a famosa frase atribuída a Antônio Car­los Brasileiro de Almeida Jobim, ou sim­ples­mente, Tom Jobim, nascido no Rio de Janeiro aos 25 de janeiro de 1927 e fale­cido em em Nova Iorque em 8 de dezem­bro de 1994, segundo o qual “o Brasil não é para prin­cipi­antes”.

Rimos e nos des­ped­i­mos com a promessa de que ten­taria me fazer pre­sente ao lança­mento do livro, diante da própria difi­cul­dade de loco­moção e de morar longe do local do evento.

Nos dias seguintes pus-​me a pen­sar na frase do mae­stro brasileiro (até no nome) sobre as com­plex­i­dades do nosso país con­cluindo que ele estava longe de imag­i­nar o alcance de sua frase em relação à quadra atual da real­i­dade nacional.

Em pouco mais de uma sem­ana con­vive­mos com fatos capazes de red­i­men­sionar a frase do com­pos­i­tor, mae­stro, pianista, can­tor, arran­jador e vio­lonista brasileiro.

A sem­ana ini­ciou sob o impacto da divul­gação por uma revista sem­anal de que o ex-​presidente e pre­sidiário con­de­nado pelos crimes de cor­rupção e lavagem de din­heiro, Luís Iná­cio Lula da Silva, seria um dos autores int­elec­tu­ais da tor­tura e homicí­dio do ex-​prefeito de Santo André/​SP, Celso Daniel, ocor­rido no iní­cio do ano de 2002, do seu próprio par­tido, suposta­mente, por este ter descoberto e se recu­sado a par­tic­i­par de um esquema de propinas na prefeitura dirigida por ele, pro­movido pelo par­tido de ambos.

A rev­e­lação foi feita pelo “oper­ador” dos esque­mas de cor­rupção do par­tido, con­de­nado no famoso escân­dalo do men­salão, Mar­cos Valério, que durante anos abaste­ceu de din­heiro público a gula dos com­pan­heiros, até ter sua ação rev­e­lada pelo ex-​deputado Roberto Jef­fer­son, do Par­tido Tra­bal­hista Brasileiro — PTB, em 2005.

O Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT ainda se ocu­pava dos des­men­ti­dos pro­to­co­lares e as con­tu­mazes ale­gações de perseguição – mas trazendo como ele­mento novo: a ale­gação de que o crime que “não come­teram” suas lid­er­anças estaria pre­scrito nos ter­mos da leg­is­lação penal –, quando os atu­ais inquili­nos do Palá­cio do Planalto, talvez, toma­dos pela “inveja” da atenção dis­pen­sada aos arquir­rivais pas­saram a chamar a atenção para as suas peripé­cias.

Começou com o próprio pres­i­dente divul­gando em sua rede social o famoso vídeo do “leão e as hienas”, onde ele seria o leão sendo ata­cado por uma família de hienídeos, os mes­mos iden­ti­fi­ca­dos por par­tido, STF, etc.

O “chiste” mais do que impróprio para um pres­i­dente da República feriu os brios dos min­istros da Corte que, como se tornou comum, cor­reram para a mídia para recla­mar do “ataque” insti­tu­cional que estavam sofrendo.

Era só o começo!

Já no dia seguinte a prin­ci­pal emis­sora de tele­visão aberta do país, a Rede Globo, no seu prin­ci­pal jor­nal, o Jor­nal Nacional, levou ao ar densa matéria na qual insin­u­ava através do depoi­mento de um porteiro, ter havido alguma par­tic­i­pação do pres­i­dente da República no assas­si­nato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco e do seu motorista, Ander­son Silva, ocor­rido já há quase dois anos, em que as inves­ti­gações real­izadas mais con­fun­dem que esclare­cem.

A matéria não ouviu o pres­i­dente ou sua asses­so­ria antes da veic­u­lação, ape­sar de uma equipe da emis­sora seguir os pas­sos da comi­tiva pres­i­den­cial na tour pela Ásia e Ori­ente Médio.

A forma como a matéria foi dis­posta – não pelo con­teúdo, uma vez que existindo inter­esse público, tudo pode e deve ser divul­gado –, sus­ci­tou duras críti­cas de alguns arti­c­ulis­tas “inde­pen­dentes” e, até mesmo, de out­ras emis­so­ras mais alin­hadas ao gov­erno.

O pres­i­dente, fiel ao estilo “bateu, levou” e devoto do ditado de que “remé­dio de doido é doido e meio”, lá mesmo da Arábia Sau­dita, na madru­gada, pelo horário ofi­cial de Brasília, dis­parou durís­si­mas acusações con­tra a emis­sora da família e con­tra o gov­er­nador do Rio de Janeiro, Wil­son Witzel. Visivel­mente emo­cionado e transtor­nado, acredita-​se que diante de uma acusação injusta, sua excelên­cia elevou o tom con­tra a emis­sora, seus profis­sion­ais e con­tra o gov­er­nador do estado, não os poupando de epíte­tos como canal­has, pat­ifes, e diver­sos out­ros,

Em depoi­mento à polí­cia o porteiro teria dito que o suposto mata­dor da vereadora teria estado no con­domínio onde residia o pres­i­dente e a ele teria aden­trado através de uma autor­iza­ção do próprio “seu Jair”.

Na sua resposta através da “live” na madru­gada, o pres­i­dente provou que naquele dia não se encon­trava no Rio de Janeiro e sim em Brasília, tendo o painel de votação da Câmara dos Dep­uta­dos reg­istrado sua pre­sença em dois momen­tos, o que tornaria inviável o depoi­mento do porteiro.

O próprio Min­istério Público, que acom­panha as inves­ti­gações, afir­mou através de nota e de entre­vista cole­tiva que o depoi­mento do porteiro se chocava com as provas téc­ni­cas cola­cionadas aos autos onde con­sta, inclu­sive o áudio da autor­iza­ção do ingresso do suposto crim­i­noso que fora se encon­trar com o outro impli­cado na morte da vereadora.

Ape­sar da oposição e seus seguidores tentarem esta­b­ele­cer uma nar­ra­tiva impli­cando o pres­i­dente no crime abjeto, até então, ape­sar dos exces­sos cometi­dos na “defesa bateu, levou”, a audiên­cia estava favorável a ele, seria uma vitória quase que por nocaute (lit­eral­mente) con­tra a acusação de homicí­dio qual­i­fi­cado con­tra a vereadora e seu motorista, não pas­sando de infe­lizes coin­cidên­cias o fato de um dos sus­peitos de envolvi­mento no crime morar no mesmo con­domínio que ele, um dos seus fil­hos ter namorado (ou namorar) a filha do impli­cado ou mesmo a afeição que ele e seus famil­iares sem­pre demon­straram com pes­soas envolvi­das com as milí­cias.

O pres­i­dente e seus seguidores não tiveram tempo de fes­te­jar a “vitória” con­tra os “detra­tores”.

Já no mesmo dia (ou no seguinte, como estava em viagem o acom­pan­hamento dos fatos restou prej­u­di­cado), foi a vez do filho do pres­i­dente, Eduardo Bol­sonaro, o dep­utado fed­eral mais votado do país, meter-​se a falar sobre política inter­na­cional a um canal do YouTube coman­dado pela jor­nal­ista Leda Nagle.

Ao dis­cu­tir os protestos no Equador, Peru, Bolívia e Chile, enx­er­gou um movi­mento orquestrado por comu­nistas finan­cia­dos por Cuba ou Venezuela, sug­erindo que se caso tais movi­men­tos apor­tassem por aqui uma das alter­na­ti­vas seria a adoção de instru­men­tos como o Ato Insti­tu­cional nº. 05, o AI-​5, como ficou con­hecido, lançado mão pelo régime mil­i­tar em 13 de dezem­bro de 1968, que “endure­ceu o régime”, cas­sou mandatos, fechou o Con­gresso Nacional e o Supremo Tri­bunal Fed­eral, sem con­tar as prisões arbi­trárias, a repressão e a tor­tura.

A ver­dade é que o dep­utado não pode­ria ser mais infe­liz.

Até aqui, ape­sar do fes­ti­val de insanidades que toma conta das insti­tu­ições do país, sem exceção, não temos assis­tido a qual­quer movi­mento com “força política” sufi­ciente para levar o país a um clima de insta­bil­i­dade, pelo con­trário, a inflação, que era o fla­gelo de out­rora, deve fechar o ano na casa dos 3% (três por cento); a taxa de juros que no gov­erno ante­rior, beirou os 15% (quinze por cento), hoje está em 5% (cinco por cento), a mais baixa de toda a história; a Bolsa de Val­ores fechou a sem­ana acima dos 108 mil pon­tos, outro recorde histórico, e com tendên­cia de cresci­mento.

A insen­satez do dep­utado fed­eral revig­orou o dis­curso oposi­cionista que ameaçou (ou já pro­to­colou) pedido de cas­sação de mandato e gan­hou o repú­dio de diver­sos setores da sociedade.

Vejam que até o ex-​presidente Sar­ney, que se criou à som­bra do régime mil­i­tar só deixando de apoiá-​lo quando este vivia seus ester­tores, em 1984, achou-​se no dire­ito de criticar o dep­utado pela triste lem­brança de reed­ição do instru­mento da ditadura mil­i­tar, que ele apoiou.

Isso sem falar nos novos/​velhos opor­tunistas de sem­pre – que dis­pen­sarei da audiên­cia de lhes citar os nomes –, que a despeito de apoiarem ditaduras san­guinárias como Cuba, Venezuela e Cor­eia do Norte, só para citar as mais demonía­cas, saíram em busca da cruz para cru­ci­ficar o dep­utado, que errou por ignorân­cia ou estu­pidez, mas que não o difer­en­cia dos seus críti­cos que ren­dem hom­e­na­gens aos piores dita­dores da história da humanidade.

Não pensem que acabou. Para fechar a sem­ana (se nada de novo sur­gir) na terra da insen­satez, na esteira da tolice do filho pres­i­den­cial zero três, surgiu a denún­cia de que o pres­i­dente teria sub­traído o áudio do con­domínio onde morava, favore­cendo o dis­curso da posição que anun­ciou uma rep­re­sen­tação ao STF por “obstrução de justiça” e um pedido de impeach­ment na Câmara dos Dep­uta­dos.

Esqueci alguma coisa? Não!?

E assim ter­mina mais uma sem­ana neste país trop­i­cal abençoado por Deus e bonito por natureza, que nas palavras do artista não é lugar para prin­cipi­antes. Ufa!

Abdon Mar­inho é advo­gado.

O AMBI­ENTE IDEOLÓGICO.

Escrito por Abdon Mar­inho


O AMBI­ENTE IDEOLÓGICO.

Por Abdon Mar­inho.

O LEITOR já deve ter perce­bido que tudo no Brasil se tornou motivo para explo­ração política dos lados que se engalfin­ham na guerra de poder.

Quando se fala “tudo” é na acepção mais ampla da palavra. Como numa guerra, não há espaço que não esteja em dis­puta ou trincheira que não seja suscetível à con­quista.

Disputa-​se tudo, até aquilo que dev­e­ria ser motivo de con­vergên­cia – se hou­vesse alguma con­vergên­cia no país.

Nesta “guerra”, prin­ci­pal­mente, de vaidades, o que menos inter­essa é a ver­dade ou o bem-​estar da sociedade, que não passa de plateia. Como na antiga brin­cadeira de cabo de guerra, um lado só estará sat­is­feito com a queda do outro, sem, entre­tanto, o aspecto lúdico de out­rora.

Outro dia um amigo chamou minha atenção para a polêmica em torno da questão ambiental.

Na linha do que muitos dizem, não estaria havendo a mesma mobi­liza­ção das infini­tas insti­tu­ições e enti­dades de defesa do meio ambi­ente que hou­vera pouco antes, por conta dos incên­dios na Amazô­nia, agora, por conta do der­rame de óleo no litoral brasileiro atingindo a vida mar­inha e toda a costa nordes­tina.

Com efeito, por ocasião dos incên­dios na Amazô­nia, autori­dades do mundo inteiro se man­i­fes­taram cobrando solução para o prob­lema, chegando, inclu­sive, a sug­erirem uma “inter­venção” no ter­ritório brasileiro ou que a flo­resta amazônica deix­asse de ser con­sid­er­ada parte inte­grante do ter­ritório nacional.

O gov­erno brasileiro pas­sou a ser tratado como um pária entre as nações civ­i­lizadas.

As enti­dades ambi­en­tal­is­tas do mundo inteiro pas­saram a atribuir ao gov­erno a respon­s­abil­i­dade direta pelos crimes ambi­en­tais que estariam ocor­rendo como estraté­gia para destru­ição e explo­ração da flo­resta amazônica, como se os próprios inte­grantes do gov­erno estivessem com as tochas nas mãos colo­cando fogo nas árvores.

Mesmo agora, após pas­sado o ápice do prob­lema, gov­er­nadores da região, entre os quais o do Maran­hão, que há muito tempo deixou que destruíssem suas flo­restas, foram lit­eral­mente “recla­mar ao Papa” sobre os pos­síveis “maus tratos” impos­tos pelo gov­erno fed­eral a flo­resta amazônica.

Con­forme assen­tei naquela opor­tu­nidade, o gov­erno Bol­sonaro teve sua parcela de respon­s­abil­i­dade pelos incên­dios ocor­ri­dos, sobre­tudo, pelo dis­curso incon­se­quente de que deve­mos explo­rar as riquezas da flo­resta amazônica a todo custo, o que “abriu” opor­tu­nidade aos esper­tal­hões que há anos grilam ter­ras e explo­ram a flo­resta a se sen­tirem con­fortáveis para, inclu­sive, pro­moverem um “dia de fogo”, como ficou con­statado nas inves­ti­gações.

Outra, o gov­erno reagiu mal e fora do tom ao que estava acon­te­cendo no período, colo­cando a culpa no carteiro em detri­mento ao con­teúdo da carta.

O prob­lema não era a divul­gação das queimadas crim­i­nosas e sim as queimadas em si.

O fato de agora o Insti­tuto Nacional de Pesquisas Espa­ci­ais — INPE, infor­mar que o mês de out­ubro apre­sen­tou o menor número de focos de incên­dio em vinte e um anos não elide os pre­juí­zos oca­sion­a­dos pelos incên­dios que ainda estão ocor­rendo (ape­sar de serem os menores no espaço-​tempo), assim como os que ocor­reram ante­ri­or­mente.

Como já disse: a flo­resta amazônica “encolhe” a cada ano sendo justa a pre­ocu­pação dos cidadãos brasileiros e estrangeiros com o seu futuro.

Pois bem, enquanto a flo­resta ardia (e ainda arde), um outro desas­tre ambi­en­tal se desen­rolava: o der­ra­ma­mento de toneladas de óleo cru na costa brasileira afe­tando a total­i­dade dos esta­dos do Nordeste.

Ape­sar da gravi­dade do dano ambi­en­tal aos diver­sos ecos­sis­temas mar­in­hos, aos mangues, onde se repro­duzem mil­hares de espé­cies e, mesmo, ao sus­tento de mil­hões de cidadãos, não vimos os protestos de enti­dades e ambi­en­tal­is­tas que “entraram em guerra”, quando das queimadas na Amazô­nia.

Assim como o gov­erno Bol­sonaro, no episó­dio da queimada da flo­resta, os protestos dos balu­artes do ambi­en­tal­ismo só foram apare­cer para criticar a demora do gov­erno na ação de com­bate ao óleo que inva­dia as pra­ias, os estuários dos rios e os manguezais.

Emude­ce­ram em relação a apu­ração das respon­s­abil­i­dades e se o der­ra­ma­mento de óleo acon­te­ceu aci­den­tal­mente ou se fora o crime cometido delib­er­ada­mente con­tra o Brasil, sobre­tudo, quando rev­e­lado, por dados cien­tí­fi­cos, que o óleo que apare­cia (e aparece) aos bor­botões tinha origem venezue­lana.

Ape­nas agora, mais de noventa dias depois da data ini­cial do desas­tre ambi­en­tal, ocor­rido a 700 km da costa da Paraíba, aponta-​se como prin­ci­pal sus­peito de ter efe­t­u­ado o der­ra­ma­mento de óleo uma embar­cação de ban­deira grega que fora car­regada na Venezuela com des­tino à Malásia.

Com a embar­cação iden­ti­fi­cada resta saber se foi aci­den­tal ou crim­i­noso o der­ra­ma­mento de óleo e as razões para não darem o alarme do aci­dente – como remen­dado –, no sen­tido de pre­venir ou mino­rar os danos a par­tir da adoção do Plano Nacional de Con­tingên­cia – PNC.

Ape­sar do que temos até aqui rev­e­lado ser estar­rece­dor, impera o mutismo sele­tivo de enti­dades ambi­en­tal­is­tas e de gov­er­nos em relação ao acontecido.

Para começar o próprio navio respon­sável pelo “aci­dente” dev­e­ria ter se repor­tado às autori­dades navais avisando do acon­te­cido. Depois, quando con­statado que se tratava de óleo de origem venezue­lana aquele país dev­e­ria ter se ofer­e­cido para aju­dar, infor­mando que embar­cações naquele período tin­ham sido car­regadas com aquele tipo de óleo.

Ambos preferi­ram o silên­cio. Por quais razões?

As descober­tas até aqui se deram graças aos esforços do gov­erno brasileiro, empresa, enti­dades e gov­er­nos estrangeiros que não aque­les que pode­riam e dev­e­riam ter aju­dado na alu­ci­nação dos fatos.

Vejam que mesmo cidadãos e enti­dades brasileiras, ditos defen­sores do meio ambi­ente, quando con­fronta­dos com a infor­mação de o óleo que chegava às pra­ias era ori­undo da Venezuela fiz­eram pouco caso ou con­tes­taram a infor­mação téc­nica numa nar­ra­tiva pura­mente ide­ológ­ica, que, aliás, per­manece até agora.

Para estes, a culpa pelo der­ra­ma­mento do óleo na costa do Nordeste é do gov­erno brasileiro – que, como em tudo que faz, é ata­bal­hoado –, e não daque­les que, efe­ti­va­mente, der­ra­ma­ram (por aci­dente ou de forma proposi­tal o óleo) e não repor­taram as autori­dades; ou do gov­erno venezue­lano que depois de saber a origem do pro­duto, nada fez para aju­dar na iden­ti­fi­cação dos respon­sáveis.

O certo é mil­hões de cidadãos brasileiros já estão pagando um preço ele­vado por um desas­tre ambi­en­tal enquanto a classe política nacional e a elas se agre­gando enti­dades de diver­sos matizes que se dizem defen­so­ras do meio ambi­ente pati­nam nas suas nar­ra­ti­vas ide­ológ­i­cas.

Onde ire­mos parar com tudo isso? Qual o futuro do país quando os inter­esses pes­soais ou das ide­olo­gias se sobrepõem aos inter­esses nacionais?

Abdon Mar­inho é advo­gado.