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O ESTADO PRI­VA­TI­ZADO: O ESCAN­DALOSO CASO DO CAJUEIRO.

Escrito por Abdon Mar­inho

O ESTADO PRI­VA­TI­ZADO: O ESCAN­DALOSO CASO DO CAJUEIRO.

Por Abdon Mar­inho.

AINDA em 2018 quando a con­vite de um colega advo­gado vis­itei a comu­nidade do Cajueiro, local­izada na zona rural do Municí­pio de São Luís, que vive uma situ­ação de con­flito por conta da insta­lação de um porto pri­vado de um con­sór­cio sino-​brasileiro, disse as pes­soas com quem falei da importân­cia de se unirem, pois estariam soz­in­has numa luta de difí­cil vitória.

Os acon­tec­i­men­tos dos últi­mos dias com­pro­vam que estava certo, senão por uma cir­custân­cia: dizia – e até disse nos tex­tos ante­ri­ores –, que o gov­erno estad­ual estava “omisso” nesta questão.

Equivoquei-​me com­ple­ta­mente, forçoso recon­hecer que estava errado. Na ver­dade, o gov­erno não está omisso – nunca esteve –, ele fez a opção de ficar do lado da empresa pri­vada que tenta con­struir o porto na local­i­dade, expul­sando, ou ind­enizando a “preço de bananas” suas pro­priedades.

Pro­priedades estas que foram lhes con­ce­di­das pelo próprio gov­erno estad­ual.

Come­cei a firmar-​me nesta con­vicção quando vi através de diver­sos vídeos que me foram envi­a­dos no dia do cumpri­mento de uma rein­te­gração de posse deter­mi­nada pela justiça; depois quando vi, tam­bém através de vídeos que me foram envi­a­dos, a repressão empreen­dida pelas forças poli­ci­ais diante de um protesto pací­fico, feito pelos moradores que ape­nas que­riam ser ouvi­dos pelo gov­er­nador do estado; e, final­mente, quando teste­munhamos o elo­quente silên­cio do gov­erno estad­ual diante de uma nota do con­sór­cio, veic­u­lado em diver­sas mídias e até em horário nobre de tele­visão, na qual, entre out­ras coisas, “desautor­iza” a autori­dade do estado.

Se você é maran­hense e não esteve em coma nos últi­mos anos, sabe que este gov­erno é o que menos cumpriu ordens de rein­te­gração de posse, moti­vando, inclu­sive, recla­mações diver­sas. Mesmo aque­las onde o esbulho é patente, o gov­erno resis­tia a não mais poder no seu cumprimento.

Logo soa estranho que venha dizer que “não” pode­ria deixar de cumprir a decisão judi­cial – cumprida com exces­sos –, pois, temia ser sub­metido a um processo de impeach­ment, con­forme se divul­gou em uma espé­cie de nota que mais pare­cia uma piada.

Impeach­ment? Logo agora, depois de cen­te­nas de out­ros des­cumpri­men­tos? Ainda mais quando se fala em uma pro­priedade duvi­dosa, con­forme já demonstramos?

Depois, a vio­lên­cia com que se reprimiu um protesto pací­fico da comu­nidade atingida.

O que foi aquilo? Havia neces­si­dade de todo aquele excesso? Havia a neces­si­dade se mobi­lizar tanta força para reprimir pes­soas que estavam prote­s­tando paci­fi­ca­mente? Havia a neces­si­dade do próprio secretário de segu­rança pública super­vi­sionar a repressão feita na cal­ada da noite?

Quer me pare­cer que os inte­grantes do gov­erno ten­taram – e ainda ten­tam –, fugir da própria ver­gonha. Tendo já cometido toda sorte de desatino no curso deste processo e mais a vio­lên­cia na des­ocu­pação, não que­riam que a mesma viesse até a porta do palá­cio.

Bateu-​lhes à porta a vio­lên­cia e a ver­gonha.

Por fim, desde o dia 15 de agosto de 2019, todos os canais de mídia, inclu­sive, a tele­visão Mirante, veic­u­lam em horário nobre uma “nota” que mal­trata a ver­dade e insulta o gov­erno estad­ual, sem que este esboce qual­quer reação.

Não perce­beram ou a empresa doadora de cam­panha do par­tido do gov­er­nador já deter­mina que atos são ou não legítimos?

Aliás, foi a nota que motivou esse texto. Não pre­tendia voltar ao tema depois de ter escrito duas vezes sobre o assunto e esclare­cido o que entendo como o cor­reto.

Pois bem, o quarto pará­grafo da nota diz: “uma escrit­ura apre­sen­tada por alguns moradores é de 1998. Entre out­ras nul­i­dades, foi emi­tida com base em Decre­tos revo­ga­dos em 1991.Portanto, é nula de pleno dire­ito”.

Vejam onde cheg­amos: uma empresa pri­vada deter­mi­nando que atos estatais são váli­dos e quais são nulos de pleno direito?!

Lá no meu inte­rior se dizia que “quem aluga a bunda não escolhe a hora de sen­tar”. É de se per­gun­tar – e per­gun­tar não ofende –, se a “doação de cam­panha” com­prou a autono­mia do estado.

Mas deix­e­mos isso de mão. A nota, neste ponto, deixa de lado a verdade.

Con­forme demon­stramos, até 1976 todas as ter­ras – até por inter­esses estratégi­cos –, per­ten­ciam a União Fed­eral, inte­gravam o seu patrimônio.

Naquele ano, por força do Decreto nº. 78.129, de 29 de julho de 1976, as ter­ras foram cedi­das por afora­mento ao Estado do Maran­hão.

A ementa do decreto dizia: “autor­iza a cessão, sob régime de afora­mento, dos ter­renos que men­ciona, situ­a­dos, no Municí­pio de São Luís, Estado do Maran­hão”.

Com efeito esse decreto foi revo­gado pelo Decreto (sem número) de 15 de fevereiro de 1991, que “man­teve” as con­cessões ante­ri­or­mente con­ce­di­das, vejamos a ementa: “Man­tém con­cessões, per­mis­sões e autor­iza­ções nos casos que men­ciona e dá out­ras providên­cias”.

Não pode­ria ser difer­ente uma vez que Con­sti­tu­ição Fed­eral de 1988, em seu artigo 26, incluiu entre o patrimônio dos esta­dos “as ter­ras devo­lu­tas não com­preen­di­das entre as da União”. (Art. 26, II, CF).

É dizer, quando a Con­sti­tu­ição foi pro­mul­gada, em 1988, aque­las ter­ras já estavam inseri­das no patrimônio do estado por força do decreto de 1976, já referido.

Mas, ainda que os decre­tos não tivessem man­tido as con­cessões e o estado não pudesse ter con­ce­dido a escrit­ura con­do­minial aque­las cen­te­nas de famílias, as ter­ras teriam sido reav­i­das pela União Fed­eral e não por terceiros.

O que esta­mos dizendo – e provando com doc­u­men­tos –, é que quais­quer títu­los daque­las ter­ras só têm val­i­dade se com­pro­vado a aquisição junto à União Fed­eral ou ao Estado do Maran­hão, pois as ter­ras eram da união que as con­cedeu como foro ao estado.

Fora disso é con­versa fiada. ‘É “gri­lagem”. Mesmo porque, nos ter­mos do artigo 191, pará­grafo único, da Con­sti­tu­ição Fed­eral, ter­ras públi­cas não podem ser adquiri­das através do insti­tuto do usu­capião.

Este é um assunto que não com­porta grandes inda­gações. Mais sim­ples que isso só desenhando.

O Estado do Maran­hão tinha poderes para out­or­gar a escrit­ura àque­las famílias, como fez.

Chega a ser ver­dadeira­mente escan­daloso que uma empresa pri­vada “tutele” o estado a ponto de dizer que este ou aquele ato foi ile­gal ou é nulo de pleno dire­ito. Com qual autoridade?

Pior que ninguém diz nada. Nem do atual gov­erno nem do gov­erno que out­or­gou a escrit­ura con­do­minial.

A situ­ação fica ainda mais curiosa quando recor­damos que em 1998 vigia em nosso estado o con­domínio sarno-​comunista com estes últi­mos respon­sáveis pela com­pli­cada situ­ação fundiária do estado que fes­te­jaram como a um “gol de placa” aquela “paci­fi­cação” – ainda mais porque está­va­mos às vésperas de ini­ciar o processo eleitoral daquele ano.

Agora, ape­sar de esta­mos nova­mente vivendo a era do comuno-​sarneísmo (o que difer­en­cia um e outro é que agora os comu­nistas estão no comando), tanto uns quan­tos out­ros silen­ciem sobre uma questão de tamanha gravidade.

A empresa veicu­lou em todos meios de comu­ni­cação – inclu­sive no sis­tema Mirante onde a ex-​governadora teve (ou ainda tem) par­tic­i­pação acionária –, uma nota dizendo que ela prati­cou uma fraude, um ato nulo de pleno dire­ito, jun­ta­mente com seus sub­or­di­na­dos comu­nistas e nem ela nem o par­tido dizem nada a respeito do assunto.

Igual­mente escan­daloso é o gov­erno tratar o assunto como um con­flito entre par­tic­u­lares dizendo só lhe cabe cumprir a ordem de rein­te­gração de posse, quando a comu­nidade ostenta uma escrit­ura con­do­minial que lhe foi out­or­gada pelo próprio gov­erno estad­ual.

Vejam que absurdo! O gov­erno estad­ual está, implici­ta­mente, dizendo que o doc­u­mento que emi­tiu não tem qual­quer valia e que as ter­ras onde o empreendi­mento será insta­l­ado per­tencem à empresa.

Os mem­bros do par­tido, hoje no poder, à época man­davam e des­man­davam no Insti­tuto de Ter­ras do Maran­hão — ITERMA, foram os respon­sáveis por todos os lev­an­ta­men­tos e assi­naram (através do pres­i­dente do par­tido) a escrit­ura con­do­minial jun­ta­mente com a gov­er­nadora e o secretário estad­ual de agri­cul­tura.

Estran­hamente, repito, não aparece ninguém nem do gov­erno nem do par­tido para defend­erem os próprios atos. Será que não restou um “gota” de con­strang­i­mento? Foi um ato estatal prat­i­cado por inte­grantes do par­tido que está no poder.

Enga­naram aque­las pes­soas – e toda a pop­u­lação do estado –, naquele momento, quando venderam a ideia que haviam resolvido o con­flito ou agora quando se colo­cam ao lado da empresa?

Igual­mente vex­atória é a posição de out­ros par­tidos – e políti­cos –, que sem­pre se bat­eram con­tra a “gri­lagem” de ter­ras no estado. Nen­hum deles tem nada a dizer sobre os fatos. A comu­nidade do Cajueiro tornou-​se invisível a eles.

O com­por­ta­mento de hoje não é muito difer­ente do com­por­ta­mento daque­les que sem­pre estiveram ao lado dos grileiros de ter­ras públi­cas em toda a história do Maran­hão. Dev­e­riam pen­sar duas vezes antes de diz­erem que falam em nome e – em defesa –, do povo.

Aqui não se trata se ser con­tra ou a favor de um pro­jeto de desen­volvi­mento para o estado – que somos inteira­mente favoráveis –, o que está em dis­cursão é uma questão de justiça. Esconder-​se sob esse argu­mento só reforça a ideia de que sem­pre foi fala­cioso o dis­curso em defesa dos fra­cos e oprimidos.

Com mil escusas por ter retor­nado ao tema. Espero não ter mais de voltar a fazê-​lo.

Abdon Mar­inho é advogado.

QUEM É GRILEIRO DAS TER­RAS DO CAJUEIRO?

Escrito por Abdon Mar­inho

QUEM É GRILEIRO DAS TER­RAS DO CAJUEIRO?

Men­ti­ras, engo­dos e omissões.

Por Abdon Marinho.

O ATUAL CON­FLITO na área e por conta das ter­ras do Cajueiro, local­izadas no Municí­pio de São Luís, Cap­i­tal do Maran­hão, tem sido usado para dis­sem­i­nar men­ti­ras, pro­mover engo­dos e descorti­nar omissões.

Com base em doc­u­men­tos ofi­ci­ais, com fé pública, por­tanto, traçarei uma linha do tempo para que perce­bam que a situ­ação não e de difí­cil indagação.

O primeiro doc­u­mento mostra que até o ano de 1976 a área per­ten­cia à União Fed­eral que a aforou em favor do Estado do Maran­hão, no total de 610 hectares, nos ter­mos do Decreto nº. 78.129÷77, con­forme matric­ula nº. 184, fls., 227, R-​01, do Livro nº. 2-​C.

O segundo doc­u­mento mostra que no dia 17 de março de 1998, foi lavrada a matric­ula 25.509, fls. 42, Protesto. 47.913, página 335, do cartório do 4º Ofí­cio, Livro nº. 112E, pelo qual o Estado do Maran­hão através da gov­er­nadora Roseana Sar­ney “pas­sou” parte daquela área a Comu­nidade do Cajueiro.

No doc­u­mento con­sta cadeia sucessória da área, con­forme podemos ver­i­ficar na parte infe­rior do doc­u­mento.

O ter­ceiro doc­u­mento mostra que em 30 de dezem­bro de 2014, o então gov­er­nador Arnaldo Melo baixou o Decreto nº. 30.610, pub­li­cado no Diário Ofi­cial do Estado do dia 31 de dezem­bro de 2014, desapro­priando a área em favor da WPR Gestão de Por­tos e Ter­mi­nais Ltda.

O quarto doc­u­mento o Decreto nº. 30.624, de 12 de janeiro de 2015, do gov­er­nador Flávio Dino revo­gando a desapro­pri­ação, segundo jus­ti­fica­tiva, den­tre out­ras coisas, con­siderando a existên­cia de con­fli­tos e a neces­si­dade de serem apro­fun­da­dos os estu­dos, inclu­sive quanto aos impactos socioam­bi­en­tais da implan­tação de um Ter­mi­nal Por­tuário na localidade.

O quinto doc­u­mento é o Decreto nº. 33.892, de 16 de março de 2018, baix­ado pelo gov­er­nador Flávio Dino mais uma vez desapro­priando a área do Cajueiro, agora em favor da WRP São Luís Gestão de Por­tos e Ter­mi­nais Ltda.

No mesmo decreto o gov­er­nador “dele­gou” a empresa a respon­s­abil­i­dade pelas ind­eniza­ções dos moradores da área.

Como disse – e mostrei –, isso tudo se depreende de doc­u­men­tos públi­cos deten­tores de fé pública.

Dito isso, cheg­amos as seguintes con­clusões:

  1. As ter­ras orig­i­nar­i­a­mente per­ten­ciam à União Fed­eral que as repas­sou para o Estado do Maranhão;
  2. Se antes de 1977 a União Fed­eral não vendeu qual­quer gleba a ter­ceiros e se o Estado do Maran­hão não fez isso depois daquela data, quando as ter­ras lhes foram aforadas, quais­quer ale­gação de pro­priedade se funda em título falso ou no mín­imo de duvi­dosa idoneidade;
  3. Os úni­cos e legí­ti­mos pro­pri­etários são aque­les que foram afora­dos ou tit­u­la­dos pela União Fed­eral ou pelo Estado do Maranhão;
  4. O suposto con­flito entre par­tic­u­lares é – sem­pre foi – fruto da leniên­cia do poder público;
  5. Difer­ente do que afir­mam, a respon­s­abil­i­dade é do gov­erno estad­ual, primeiro por ter feito a tit­u­lar­iza­ção em 1998 e depois por ter, em 2018, desapro­pri­ado e del­e­gado a WRP a respon­s­abil­i­dade pelas ind­eniza­ções.

Os con­fli­tos, os atos de vio­lên­cia, são provo­ca­dos e ocor­rem dev­ido à falta de sis­tem­ati­za­ção e omis­são das autori­dades.

Desde que o Estado do Maran­hão con­cedeu a tit­u­lar­i­dade aque­las pes­soas que já estavam lá em 1998, passou-​se quase vinte anos sem ouvir­mos quais­quer notí­cias de con­fli­tos, que retornaram agora quando o estado se omi­tiu e não chamou para si a respon­s­abil­i­dade pela desapro­pri­ação da área.

Não era coisa de outro mundo. O Estado tem o dire­ito de desapro­pri­ação para aten­der ao inter­esse público. Bas­taria chamar todos aque­les a quem con­cedeu a pro­priedade e ofer­e­cer uma pro­posta justa e prévia de ind­eniza­ção. Sim­ples­mente isso: desapro­priar pela escrit­ura de 1998 e, qual­quer outro, pela ben­feito­ria que por ven­tura estivesse na área.

O gov­erno estad­ual entre­gou a respon­s­abil­i­dade ao inter­es­sado no pro­jeto e deu (e está dando) toda essa con­fusão e agora está “fug­indo” às suas respon­s­abil­i­dades.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

P.S. Seguem abaixo dois decre­tos: o que con­cedeu o afora­mento e o que manteve.

TEMPO DE CAJU, TEMPO DE CAJUEIRO.

Escrito por Abdon Mar­inho

TEMPO DE CAJU, TEMPO DE CAJUEIRO.

Por Abdon Marinho.

ALGUNS DIAS escrevi um texto inti­t­u­lado “A Cap­i­ta­nia do Maran­hão”. Nele mostrava que, desde sem­pre, os que pen­sam serem os “donos” do estado, têm um com­por­ta­mento para o público externo, onde posam de evoluí­dos, democ­ratas, defen­sores das liber­dades indi­vid­u­ais e dos dire­itos humanos, mas para o público interno, para aque­les que depen­dem dos seus gov­er­nos e de suas gestões, têm um com­por­ta­mento inverso.

Traçava a linha do tempo a par­tir do vitorin­ismo, que tinha em Vitorino Freire, segundo algu­mas pub­li­cações e os mais anti­gos, uma pes­soa de grande refino, mas que no Maran­hão tinha as práti­cas mais abom­ináveis; o sarneísmo com seu líder, o ex-​presidente Sar­ney, um int­elec­tual mem­bro da Acad­e­mia Brasileira de Letras, com obras pub­li­cadas por quase todo o mundo, que além das fron­teiras estad­u­ais, posa de o mais democ­rata dos homens, mas que teste­munhamos, tem sig­ni­fica­tiva respon­s­abil­i­dade no atraso em que vive­mos desde que chegou ao poder em 1965, dizendo-​se oposição ao régime de vio­lên­cia e opressão coman­dado por Vitorino Freire e, final­mente, o que se pre­tende o din­ismo, que gan­hou a eleição no “cansaço” ao sarneísmo, prom­e­tendo a rup­tura “defin­i­tiva” com o “antigo régime”, o com­pro­misso com a democ­ra­cia, o fim da opressão, a “procla­mação da república no Maran­hão”. Eleito, sai pelo Brasil “se vendendo” como o “novo” que der­ro­tou o último coro­nel do Nordeste brasileiro, o pal­adino da democ­ra­cia e todas as demais babo­seiras da autopromoção.

Ape­nas para ficar­mos nestes três exem­p­los, como dito, todos estes “líderes” fora das fron­teiras do estado pre­gavam e pregam uma coisa bem dis­tante da real­i­dade do nosso povo. Como se o próprio período de domínio ref­er­en­ci­ado com o próprio nome já não fosse prova sufi­ciente de atraso.

Algo bem assemel­hado ao dito pop­u­lar que ouvi­mos desde nos­sos avós: “por fora, bela viola; por den­tro, pão bolorento”.

O próprio Jesus, exem­plo maior de tol­erân­cia e inclusão, já ates­tava tal com­por­ta­mento e repreen­dia aos hipócritas que pro­fanavam o tem­plo, os que cul­ti­vavam o cos­tume de “um peso, duas medi­das” ou aquilo que mod­er­na­mente se chama de “duas caras”.

Quem não chegou a ler o texto ou nunca exper­i­men­tou na pele o sig­nifi­cado de um gov­erno opres­sor, pode ter uma vaga ideia do que isso seja assistindo aos vídeos ou lendo tex­tos da mídia inde­pen­dente sobre o trata­mento dis­pen­sado pelo gov­erno estad­ual a Comu­nidade do Cajueiro.

Ainda que se diga que o ato de demolição de diver­sas casas naquela comu­nidade deu-​se em cumpri­mento a uma decisão judi­cial legí­tima – por mais que ten­ham se exce­dido –, o ato de repressão a um protesto legí­timo real­izado pela tropa de choque da polí­cia estad­ual, coman­dada naquele ato pelo próprio secretário de segu­rança pública, altas horas da noite e sob as vis­tas do gov­er­nador do estado, foi algo do qual não temos lem­brança e de uma vio­lên­cia a causar revolta em todo e qual­quer cidadão de bem.

Alguém tem notí­cia da dis­per­são de uma man­i­fes­tação pací­fica, na madru­gada, com uso abu­sivo da força que não seja o poder estatal servindo aos ricos em detri­mento dos mais pobres?

A lem­brança mais pare­cida que tenho é a do Mas­sacre da Praça da Paz Celes­tial, de Pequim, ocor­rido em 1989, no século pas­sado, quando o gov­erno comu­nista da China reprimiu vio­len­ta­mente uma man­i­fes­tação pací­fica de jovens que pedia por democ­ra­cia.

É claro que é uma coin­cidên­cia o fato de ambas as repressões terem ocor­ri­dos sob gov­er­nos comu­nistas – sem con­tar que o fato ocor­rido na China foi infini­ta­mente mais grave –, ape­sar, de até hoje não ter­mos infor­mações seguras sobre a quan­ti­dade de víti­mas. Lá, naquela época, não tín­hamos uma imprensa livre acom­pan­hando o desen­ro­lar dos fatos. Aqui, infe­liz­mente, temos uma imprensa de tal sorte com­pro­metida com os des­man­dos, que só falta dizer que as víti­mas “bat­eram” na tropa de choque e lançaram as bom­bas de efeito moral sobre famílias, homens, mul­heres e cri­anças.

Espal­har men­ti­ras, desa­cred­i­tar pes­soas para jus­ti­ficar abu­sos per­pe­trado con­tra cidadãos na cal­ada da noite é uma vio­lên­cia adi­cional.

Segundo li, mesmo inte­grantes de enti­dades de defe­sas de dire­itos humanos e advo­ga­dos foram impe­di­dos de se aprox­i­mar dos man­i­fes­tantes pelos cordões de iso­la­mento enquanto ocor­ria a repressão injus­ti­fi­cada.

Não se pode protes­tar, mesmo que paci­fi­ca­mente, em frente o palá­cio do gov­erno, do gov­erno que prom­e­teu jus­ta­mente liber­dade? Tolhe-​se jus­ta­mente a liber­dade de protes­tar? Esta­mos na China na China? Esta­mos na Rússia?

Desde que cheguei à ilha de São Luís, em mea­dos dos anos oitenta, acom­panho a história de con­fli­tos na área do Cajueiro. Em 1998 o gov­erno estad­ual, influ­en­ci­ado pelos comu­nistas que inte­gravam o gov­erno Roseana Sar­ney e querendo fazer pros­elit­ismo político – ape­nas mais uma coin­cidên­cia –, anun­ciou com todas as pom­pas e cir­cun­stân­cias o fim do con­flito na região do Cajueiro e que estaria emitindo escrit­ura defin­i­tiva da área aos ocu­pantes.

Emb­ora tenha sido uma escrit­ura con­do­minial e com cláusula res­o­lu­tiva aque­les condômi­nos se tornaram pro­pri­etários daque­las ter­ras. Tanto assim que em 2014, no último dia útil do ano e do gov­erno, foi edi­tado um decreto para desapro­pri­ação da área – sem con­duto cumprir a obri­gação con­sti­tu­cional da prévia e justa ind­eniza­ção em din­heiro –. declarando-​a de util­i­dade pública em favor da WPR Gestão de Por­tos e Ter­mi­nais Ltda.

A situ­ação pare­ceu de tamanha gravi­dade que o gov­er­nador Flávio Dino, nos primeiros dias do seu mandato revo­gava o decreto nº. 30.610÷2014, tornando-​o sem efeito, con­forme infor­mou e explorou cansativa­mente na imprensa, nota da Sec­re­taria de Estado de Comu­ni­cação do dia 12 de janeiro de 2015.

A par­tir da revo­gação do decreto de desapro­pri­ação a área, ao meu sen­tir, retornou àque­les pro­pri­etários recon­heci­dos por escrit­ura do gov­erno estadual,

Descon­heço como, neste ínterim, a WPR Gestão de Por­tos e Ter­mi­nais Ltda, “virou” pro­pri­etária das ter­ras e como o gov­erno estad­ual, que no iní­cio mostrou-​se, suposta­mente, pre­ocu­pado com os con­fli­tos na área pas­sou a omitir-​se na solução da solução do mesmo. Pior, vindo com a falsa des­culpa que a ele, gov­erno, caberia tão somente o cumpri­mento das decisões judiciais.

Ora, qual­quer um no Maran­hão está cansado de saber o gov­erno estad­ual, desde que assum­ido pelos atu­ais donatários, se recusa ou reluta a não mais poder em cumprir ordens judi­ci­ais de rein­te­grações de posse. Soube até que denún­cias con­tra esse com­por­ta­mento já foram feitas diver­sas vezes em vários organ­is­mos.

Eu próprio, con­forme con­tei noutra opor­tu­nidade, falei, certa vez, com um mag­istrado pedindo-​lhe que deter­mi­nasse uma rein­te­gração posse cristalina e den­tro de todos os parâmet­ros legais e ele com muita sin­ceri­dade me disse: — doutor, eu recon­heço que o sen­hor tem razão. Mas não vou deter­mi­nar a rein­te­gração porque o gov­erno estad­ual não as estão cumprindo e eu não vou emi­tir uma ordem para ficar no vazio.

No caso do Cajueiro alega jus­ta­mente o oposto. Mas, sin­ce­ra­mente gostaria de saber, como pro­pri­etários, recon­heci­dos pelo estado, desde 1998, vinte anos depois, viraram inva­sores.

Até o dia 30 de dezem­bro de 2014 eram os legí­ti­mos pro­pri­etários, inclu­sive, com escrit­ura, e depois viraram inva­sores com a Justiça e o gov­erno estad­ual dando guar­ida aos inter­esses da empresa, que suposta­mente teria adquirido a área em transação neb­u­losa, de pes­soas que não eram os legí­ti­mos pro­pri­etários recon­heci­dos pelo Estado do Maran­hão, que lhes con­cedeu a escrit­ura defin­i­tiva da área.

O gov­erno desapro­priou a área? Ind­eni­zou os pro­pri­etários? Os pro­pri­etários venderam a área a empresa? Não! Nada disso, mas para o gov­erno quem tem razão é a empresa.

Em novem­bro de 2018, a con­vite de um colega advo­gado que defende o dire­ito de pro­priedade de um cidadão que adquiriu uma gleba de ter­ras ainda nos anos oitenta e que figura na escrit­ura do con­domínio, fui a comu­nidade do Cajueiro. Uma equipe de tele­visão estava a cam­inho jus­ta­mente para falar com este cidadão que a despeito de ser pro­pri­etário da terra teve a mesma “esbul­hada” pela empresa que destruiu a humilde casa e todas as árvores da mesma.

Esse episó­dio de 2018 con­trasta com a infor­mação dis­sem­i­nada pelo gov­erno de que as pes­soas que estão sendo desa­lo­jadas são inva­sores que chegaram a área a par­tir de 2016.

Quando cheguei no acesso à comu­nidade a primeira coisa que me sur­preen­deu foi que o dire­ito de “ir e vir” da pop­u­lação estava sendo restringido pela empresa que mon­tou can­ce­las impedindo a livre cir­cu­lação de pes­soas. Achei vex­atório e ver­gonhoso.

A segunda impressão foi da beleza do lugar, da vista para mar, do arvoredo into­cado na área não des­matada, com diver­sas fruteiras.

Na con­versa com aque­les moradores – e com a imprensa que me entre­vis­tou –, o que disse que não have­ria como bar­rar a con­strução de Porto, sobre­tudo, quando o mesmo é de inter­esse do estado, entre­tanto, o que não se podia con­sen­tir era que aque­las pes­soas, muitas delas morando na área há quase cem anos, pro­pri­etários do imóveis, fos­sem expul­sos sem uma justa e prévia ind­eniza­ção, diante de um pro­jeto tão grande.

O gov­erno estad­ual deve expli­cações à sociedade sobre o que vem ocor­rendo na comu­nidade do Cajueiro, não sendo aceitável que de forma desumana, com ind­eniza­ções pífias ou com “uma mão na frente e outra atrás” os coloque em uma diás­pora.

Os abu­sos cometi­dos pre­cisam ser denun­ci­a­dos nos fóruns nacionais e inter­na­cionais.

Por onde passo vejo os pés de cajueiros car­rega­dos de cajus. É tempo de caju, é tempo de Cajueiro.

Abdon Mar­inho é advo­gado.