AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

A NOVA JABOT­I­CABA BRASILEIRA: O PAR­TIDO MELANCIA.

Escrito por Abdon Mar­inho


A NOVA JABOT­I­CABA BRASILEIRA: O PAR­TIDO MELAN­CIA.

Por Abdon Marinho.

COMEÇO por repe­tir uma história já con­tada há algum tempo neste site. Como sabem, mil­ito na área jurídica há muito tempo, mais de duas décadas e, na área política desde a infân­cia. Tam­bém por conta disso o nosso escritório sem­pre tra­bal­hou com muita ênfase nos ramos do dire­ito eleitoral, admin­is­tra­tivo e munic­i­pal.

Além de tra­balho, estes anos todos nos pos­si­bil­i­tou fazer inúmeras amizades e a con­hecer a real­i­dade e a con­jun­tura política, as vezes, mel­hor que os habi­tantes de algu­mas local­i­dades.

Aí, vem a his­tor­inha. Certa vez ao vis­i­tar um dos municí­pios, logo no iní­cio do ano pos­te­rior as eleições, pus-​me a con­ver­sar com um velho amigo sobre o pleito, inda­gando sobre a cor­re­lação de forças e sobre o posi­ciona­mento de diver­sas pes­soas. Lá pelas “tan­tas” per­gun­tei ao amigo com quem con­ver­sava: — e fulano de tal – um amigo comum, muito ativo na política local –, com quem ficou nas eleições?

O meu amigo então respon­deu: — ah, doutor, fulano de tal ficou do outro lado. Desco­b­ri­mos que ele era melancia.

—Melan­cia?!? Como assim, meu amigo velho? Indaguei.

— Ah, doutor, ele era verde por fora e ver­melho por den­tro.

Estas eram as cores dos dois gru­pos políti­cos daquele municí­pio. Ri muito da história do “amigo melan­cia” e a man­tenho viva até hoje.

Pois bem, recordo a história acima a propósito do que tenho lido e ouvido sobre estar um curso uma espé­cie de “trans­mu­tação” do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB. Pelo que li, dora­vante, já para as próx­i­mas eleições, o par­tido con­tin­uaria “comu­nista”, mas não daria ênfase a isso e, sim, a um tal “movi­mento 65” ou “movi­mento dos comuns”; o encar­nado da ban­deira do par­tido daria lugar ao verde/​amarelo do pavil­hão nacional.

Como se trata ape­nas de uma nova “roupagem”, vez que o par­tido não mudará de nome, mas ape­nas ado­tará um “nome de fan­ta­sia”, e o man­i­festo e pro­grama con­tin­uarão a defender a mudança do cap­i­tal­ismo para o social­ismo, a expro­pri­ação dos meios de pro­dução e o fim da pro­priedade pri­vada, temos que PCdoB “inau­gura” uma nova era na orga­ni­za­ção par­tidária nacional: o “par­tido melan­cia”, como bem disse meu amigo: verde por fora e ver­melho por dentro.

Ape­sar de tal pauta não pare­cer impor­tante, ela tem sua relevân­cia. Pelo que tomei con­hec­i­mento, o PCdoB já é o maior par­tido do estado, emb­ora saibamos que, mis­er­av­el­mente, pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) não saibam o que isso sig­nifica o comu­nismo e, os 5% (cinco por cento) que, suposta­mente, sabem, passem longe de querer colocá-​lo em prática na vida real.

É de se ano­tar que não tomamos con­hec­i­mento de nen­hum deles abrindo mão de seu patrimônio ou cedendo-​o ao Estado para viver con­forme suas neces­si­dades. Muito pelo con­trário, o que sabe é que apre­ciam, como poucos, os con­for­tos e exces­sos que o “vil metal” pode pro­por­cionar: os bons aparta­men­tos ou man­sões; os bons car­ros; os mel­hores recur­sos tec­nológi­cos, iPhones, iPads, iMac; as mel­hores via­gens, de prefer­ên­cia para os maiores cen­tros cap­i­tal­is­tas do mundo, nos Esta­dos Unidos da América ou para mel­hores cap­i­tais europeias – de Cara­cas, Havana ou Pyongyang, querem dis­tân­cia; os mel­hores vin­hos, etcetera.

Mas se dizem comu­nistas. Comu­nismo para os out­ros. Aliás, a notí­cia que se tem é que os “nos­sos” comu­nistas gostam tanto do “vil metal” que certa vez a revista Época lançou uma edição com a capa chamando o par­tido de “PCdoBolso”.

Outro aspecto que torna a dis­cussão rel­e­vante é que o par­tido “insinua-​se” como pos­tu­lante ao lança­mento de uma can­di­datura própria à presidên­cia da República, no caso, a do sen­hor Flávio Dino que dorme e acorda pen­sando nisso, já tendo “se lançado”, prati­ca­mente, no mesmo dia que assumiu o segundo mandato de gov­er­nador do estado – rel­e­gado sua gestão frente ao gov­erno para um segundo plano.

Assim, essa “trans­mu­tação” par­tidária não vis­aria, ape­nas, “enga­belar” os incau­tos na eleição munic­i­pal deste ano, mas, sobre­tudo, focal­iza as eleições gerais (pres­i­den­ci­ais) de 2022.

Trata-​se de uma estraté­gia política de ocu­pação de espaços fazendo pare­cer aquilo que não é para con­quis­tar o poder. Uma espé­cie de este­lion­ato eleitoral de grande magnitude.

O comu­nismo é uma dout­rina econômica, polit­ica e social baseada no sis­tema de pro­priedade cole­tiva e na dis­tribuição de renda con­forme as neces­si­dades indi­vid­u­ais. Essa é uma definição dicionar­izada. Não é dizer que vem de comum; que vem de cole­tivo. Isso é engodo.

Respeito o dire­ito de cada um defender aquilo que acred­ita. O que não é admis­sível é igno­rar mais de duzen­tos anos de história para ten­tar enga­nar o povo.

Outro dia não con­tive o espanto ao saber que o PCdoB, estava con­sti­tuindo “núcleos evangéli­cos”.

Ora, um dos pilares do comu­nismo é o mate­ri­al­ismo dialético inspi­rado na dout­rina de Karl Marx (18181883) e Friedrich Engels (18201895), tam­bém por isso, mas não ape­nas – há de se con­sid­erar toda a história do comu­nismo ao redor do mundo –, o comu­nismo é uma dout­rina incom­patível com o cris­tian­ismo.

São frases de Marx e Lenin: “O primeiro req­ui­sito da feli­ci­dade dos povos é a abolição da religião”, “ A religião é o ópio do povo”, Marx; “O comu­nismo se esta­b­elece onde começa o ateísmo”, “Todo culto a uma divin­dade é uma necro­filia”, Lenin.

Quando ouvirem essas bobagens de que o comu­nismo é Cristão e que Jesus era comu­nista, este­jam cer­tos que estão querendo lhes enga­nar. Existe Encíclica (acred­ito que mais de uma) desmisti­f­i­cando tal argumentação.

Não é sem razão que todas as nações que ado­taram o comu­nismo lançaram medi­das para impedir a pop­u­lação de pro­fes­sar sua fé. Essa decisão tem como razão de ser os dog­mas do ideário comu­nista.

Uma das primeiras medi­das de Stálin, ao assumir o poder na União Soviética, foi demolir o sím­bolo máx­imo do cris­tian­ismo naquele país, a Igreja do Cristo Sal­vador, uma joia da arquite­tura, para, no seu lugar, erguer um sím­bolo do comu­nismo com uma está­tua de Lenin no topo. Ao invés de Cristo seria aquele líder a ser ado­rado pelo povo.

Quem se opôs à bar­bárie, foi exi­lado ou morto.

A cat­e­dral mais pre­ciosa do povo russo só foi recon­struída após a queda do régime comu­nista, no iní­cio dos anos noventa.

Quando vi a história de núcleos evangéli­cos den­tro de um par­tido comu­nista formei aquela con­clusão: “das duas, duas”. Ou estes evangéli­cos não são cristãos ou estes comu­nistas não são evangéli­cos ou ambos não são nen­huma coisa nem outra.

Aqui não faço qual­quer juízo de valor, tam­pouco sou eu que quero assim. É a história que já provou, mais de uma vez, que assim é.

Exis­tem doc­u­men­tos ofi­ci­ais do PCdoB apoiando as ditaduras san­guinárias de Cuba, Cam­boja, Vietnã, Cor­eia do Norte. Neste último, a sim­ples posse de uma Bíblia pode levar o cidadão a prisão por anos. No pas­sado, não muito dis­tante, o par­tido apoiou o stal­in­ismo, na antiga União Soviética – e seus satélites –, o maoísmo, na China, o cas­trismo, em Cuba, o “hox­hoísmo”, na Albâ­nia, e por aí vai. Todos regimes total­itários e de repressão às liber­dades, sobre­tudo, à liber­dade reli­giosa e de expressão. Todos estes regimes com mil­hões de mor­tos nos prontuários.

Até hoje o PCdoB nunca fez uma autocrítica, nunca mudou um milímetro seu modo de pen­sar e con­tinua a apoiar as ditaduras mais asquerosas ainda exis­tentes. E, pior, defend­endo, pro­gra­mati­ca­mente, os mes­mos ideários.

Dizer que o comu­nismo é com­patível com a fé cristã e que é abso­lu­ta­mente nat­ural a existên­cia de núcleos evangéli­cos den­tro do par­tido ou núcleos do par­tido comu­nista den­tro das igre­jas é um despautério ímpar.

Não é que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Não! Esta­mos falando de coisas antagôni­cas, que não admitem qual­quer rel­a­tivismo, nem mesmo os morais.

Aliás, se puxar­mos pela memória, ire­mos ver­i­ficar que quando o sen­hor Dino ensaiou sua can­di­datura ao gov­erno, em 2014, alertei para as difi­cul­dades por conta da escolha par­tidária. Um par­tido com histórico (e pre­sente) de apoio às ditaduras; com incom­pat­i­bil­i­dades insolúveis com o ideário e a fé da maio­ria dos maran­henses; sem con­tar o excesso de prag­ma­tismo, vez que apoiou o grupo Sar­ney por cerca de uma década.

O sen­hor Dino deu sorte e venceu aque­las eleições porque o adver­sário era exces­si­va­mente fraco e sem cred­i­bil­i­dade, a ponto de osten­tar um numeral depois do prenome. Por isso que gan­hou e pode levar a cabo um pro­jeto hegemônico para a política estad­ual e se reelegeu, tam­bém, pela falta de opção política.

Mas, como a história já ensi­nou – que o diga a ex-​governadora Roseana Sar­ney, que ensaiou uma can­di­datura pres­i­den­cial em 2002, abatida logo que alçou voo –, o Brasil é não é o Maran­hão. Não dar para fingir-​se de esperto e “gan­har” no grito.

O ex-​presidente Lula, uma espé­cie de “padrasto” das esquer­das brasileira – que de besta não tem nada, tanto que ape­sar de con­de­nado duas vezes em segunda instân­cia e respon­der a quase uma dezenas de out­ros pro­ced­i­men­tos crim­i­nais, prin­ci­pal­mente por cor­rupção, ainda arrebanha mil­hões de seguidores –, percebendo a estraté­gia dos “cama­radas” comu­nistas já tra­tou de des­en­co­ra­jar o pro­jeto ale­gando jus­ta­mente partes do que pontuei há mais de seis anos.

O ex-​presidente Lula não quer ninguém fazendo som­bra ao seu pro­jeto de retornar ao poder, se não dire­ta­mente – por conta dos imped­i­men­tos legais –, por inter­mé­dio de algum “poste” a ser escol­hido den­tro do seu par­tido, o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, na undécima hora a pre­ceder o prazo final para os reg­istros de can­di­dat­uras. Para ele, o PCdoB, quando muito, daria um coad­ju­vante, numa eleição para perder.

Como podemos perce­ber, ao PCdoB será necessário muito mais que a adoção de um “nome de fan­ta­sia” ou a uti­liza­ção da ban­deira nacional ou invés do estandarte ver­melho, será necessário vencer resistên­cias, primeiro, dos par­ceiros inter­nos e, depois, da própria sociedade, que rejeita os ideários total­itários que apoia e defende.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A ESTÉTICA NAZISTA E OUT­ROS MALES.

Escrito por Abdon Mar­inho


A ESTÉTICA NAZISTA E OUT­ROS MALES.

Por Abdon Marinho.

HAVIA reser­vado a manhã de sábado para escr­ever – como, aliás, faço quase sem­pre. Diver­sos assun­tos já con­stavam da pauta, além da cos­tumeira cobrança de alguns ami­gos para manifestar-​me sobre out­ros. Mais eis que surgiu a polêmica envol­vendo o secretário nacional de cul­tura, Ricardo Alvim, e o seu famoso vídeo de estética clara­mente nazista, tor­nando o assunto incon­tornável e, por­tanto, pas­sando à frente das demais pau­tas. Paciência!

Qual­quer pes­soa desde que com um mín­imo de dis­cern­i­mento e isenção recon­hece que o gov­erno do sen­hor Bol­sonaro está repleto de bons quadros, talvez os mel­hores do país, em algu­mas áreas – se não fosse assim não teríamos os bons resul­ta­dos que vem apre­sen­tando até aqui, a despeito de toda a tor­cida con­trária e da sab­o­tagem interna que sofrem –, ao lado destes, em maior número e com amplo espaço de manobra, estão os famosos “sem noção”, a começar pelo próprio pres­i­dente, que dia sim e no outro tam­bém, emite declar­ações tolas, muitas das vezes ofen­si­vas, que só encon­tram apoio de out­ros “sem noção”, de den­tro ou de fora do governo.

A polêmica envol­vendo o ex-​secretário nacional de cul­tura tem as dig­i­tais das patas destes últi­mos.

Pouco depois de par­tic­i­par da tradi­cional “live” do pres­i­dente, na qual foi elo­giado pelo próprio que o apre­sen­tou como a solução para a cul­tura brasileira, o secretário dirigiu-​se ao órgão que con­duzia há dez sem­anas e pro­duziu o vídeo que o der­rubou menos de 12 horas depois, na esteira das pressões feitas por enti­dades da sociedade civil, autori­dades e, até mesmo, de gov­erno estrangeiro, no caso, o de Israel.

Os primeiros ques­tion­a­men­tos que fiz, ao tomar con­hec­i­mento da história, foi se o ex-​secretário tinha ideia do estava fazendo o tal vídeo; se foi uma ação pen­sada e delib­er­ada a repro­dução da “estética nazista” em uma peça sobre a pro­posta do gov­erno; Ou se foi ape­nas mais uma ati­tude “sem noção” de uma parte da ala do gov­erno, entre as tan­tas com as quais já brindaram à patuleia.

Fiz ainda as seguintes per­gun­tas: Fez para chocar a sociedade? Tinha noção do sig­nifi­cado do estava fazendo?

Ora, ficou bem claro para qual­quer um com con­hec­i­mento mín­imo de história que houve uma repro­dução da chamada “estética nazista”. Não foi ape­nas o estilo engo­mad­inho; a câmera a meio plano”; o ambi­ente assép­tico; a música de Wag­ner; ou, mesmo, o plá­gio (lit­eral em alguns tre­chos) do dis­curso de Goebbels, foi o con­junto da obra.

Pode­ria ter feito o dis­curso todo engo­mad­inho, com uma camada de gel na cabeça e com câmera a meio plano. Sem a trilha sonora e o plá­gio ninguém iria fazer alusão ao nazismo; pode­ria até fazer o plá­gio que sem os demais ele­men­tos não iriam perce­ber ou, percebendo, não iria escan­dalizar tanto.

Já a trilha sonora de Richard Wag­ner, soz­inha, tam­bém, pouco ou nada sig­nifi­caria, além do que é: boa música.

O alemão Wag­ner nasceu em 1813, em Leipzig, Ale­manha e mor­reu em 1883, em Veneza, Itália, ou seja, muito antes da ascen­são e queda do Nazismo. Sua obra é vasta – não ape­nas no campo da música –, e, dizem abriu cam­in­hos para a música mod­erna. Vinculá-​la ao Nazismo, pelo fato de Hitler ter sido seu fã ou pelo fato da mesma ter sido exe­cu­tada em Cam­pos de Con­cen­tração não passa de des­on­esti­dade int­elec­tual.

O pobre Wag­ner, a despeito de sua grande con­tribuição para a cul­tura uni­ver­sal, mor­reu na mis­éria e exi­lado, fug­indo dos cre­dores.

O fato de Hitler ter sido pro­fundo admi­rador de sua obra não a torna cúm­plice das mon­stru­osi­dades que ele e os seus adu­ladores – entre os quais Joseph Goebbels –, praticaram con­tra a humanidade e con­tra os judeus, em particular.

É ver­dade que durante muitos anos a obra de Wag­ner foi proibida de ser exe­cu­tada no estado de Israel, mas mesmo esse tabu caiu há alguns anos.

Ah, para aque­les que não sabem, a mar­cha nup­cial (bridal cho­rus) exe­cu­tada em, prati­ca­mente, cem por cento dos casa­men­tos ao redor do mundo é de auto­ria jus­ta­mente de Richard Wag­ner, isso não torna os nubentes ou mesmo os sim­ples apre­ci­adores dela e de tan­tas out­ras obras, nazis­tas, não mesmo.

Como disse ante­ri­or­mente o que des­graçou a per­fo­mance do ex-​secretário nacional de cul­tura foi a con­junção dos ele­men­tos com­pondo a estética nazista. Se fez para “copiar” Goebbels ou sim­ples­mente como “sem noção”, já pagou o preço com a exon­er­ação do cargo.

O pres­i­dente Bol­sonaro, o sem noção-​mor da República, pelo que li, ainda relutou, teria se dado por sat­is­feito com o pedido de des­cul­pas e com a atribuição de culpa ao anôn­imo asses­sor, mas, foi ven­cido pela pressão das ruas. Fez bem em ceder rápido e evi­tar que o assunto se pro­lon­gasse por mais tempo.

O episó­dio, entre­tanto, dev­e­ria servir para inspi­rar as forças de políti­cas de oposição, prin­ci­pal­mente as de ori­en­tação marxista/​leninista.

Estas fiz­eram o maior escar­céu con­tra o ex-​secretário e con­tra o próprio pres­i­dente – com razão –, mas é inca­paz de olhar os mil­hões de cadáveres das ditaduras comu­nistas do pas­sado e do pre­sente; bem como, diver­sos out­ros regimes total­itários que apoiam. Muito pelo con­trário, ainda hoje “pagam pau” para os anti­gos dita­dores da União Soviética, da China, do Cam­boja, de Cuba, da Cor­eia do Norte, da Albâ­nia, etcetera.

Dev­e­ria inspi­rar, tam­bém, tan­tos quan­tos são estes que fusti­garam e pedi­ram a “cabeça” do ex-​secretário por uma per­for­mance de inegável mau gosto e de inspi­ração nazista – cujo o hor­ror e fla­gelo ceifou mil­hões de vidas há mais de setenta anos –, a faz­erem o mesmo em relação aque­les políti­cos nacionais que ainda hoje defen­dem, como dout­rina política, os mod­e­los total­itários que tam­bém cei­faram e ainda hoje ceifam mil­hões de vidas ao redor do mundo.

Os exem­p­los estão aí à vista de todos. Outro dia um vereador do PSOL do Rio de Janeiro apre­sen­tou uma moção de lou­vor ao dita­dor da Cor­eia do Norte Kim Jong-​Un. Acredita-​se que ninguém, muito menos os esclare­ci­dos que protes­taram con­tra a “estética nazista” do ex-​secretário de cul­tura, ignorem o que passa naquele país, onde a posse de uma Bíblia é motivo de prisão; onde mil­hões de cidadãos e suas famílias amargam pela eternidade em cam­pos de con­cen­tração até piores que os nazis­tas; onde as penas pas­sam das pes­soas dos supos­tos infratores alcançando sua ascendên­cia, descendên­cia e colat­erais. Não esta­mos falando de fatos pas­sa­dos, mas sim, que estão acon­te­cendo neste momento.

Pois é, não se ouviu nen­hum protesto e o vereador con­tinua no seu cargo.

É o mesmo silên­cio cúm­plice que se observa em relação ao que acon­tece em Cuba, na China, no Cam­boja e na Venezuela. Mod­e­los políti­cos do pre­sente recon­heci­dos pela opressão política aos opos­i­tores, as divergên­cias, e pelas vio­lações dos dire­itos humanos.

Para estes – e para os crimes con­tra a humanidade que estão sendo prat­i­ca­dos neste momento –, os nos­sos políti­cos dis­pen­sam aplau­sos e moções e não se ouve de enti­dades da sociedade e dos seus adu­ladores, um lamento ou protesto.

Por último, na falta do que fazer ou pela falta de ver­gonha na cara, estes mes­mos políti­cos estavam defend­endo a ditadura teocrática do Irã, outro régime recon­hecido pelos mas­sacres con­tra a pop­u­lação que ouse protes­tar e pelos assas­si­natos das pes­soas que não vivem con­forme a “car­tilha” do régime ou mesmo por pos­suírem uma ori­en­tação sex­ual difer­ente. Descon­hecem a exe­cução pública de homos­sex­u­ais no Irã e tan­tas out­ras vio­lações con­tra mul­heres e/​ou minorias?

Custo a com­preen­der como uma tosca apolo­gia a um mod­elo, já exe­crado no pas­sado, cause mais protestos que as apolo­gias a mod­e­los pre­sentes tão ou mais crim­i­nosos que aque­les.

Defin­i­ti­va­mente, vive­mos tem­pos estranhos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

E O MARAN­HÃO FICOU PARA TRÁS.

Escrito por Abdon Mar­inho

E O MARAN­HÃO FICOU PARA TRÁS.

Por Abdon Marinho.

CON­STA da lenda famil­iar que, certa vez, meu irmão Armando, o quarto mais velho dos fil­hos de Van­der­lino e Neuza, lá pelos princí­pios dos anos setenta, chegou para o nosso pai e disse: — papai não quero mais saber de estu­dar. Vou ficar aqui com o senhor.

Ape­sar de não ser­mos ricos, nosso pai con­seguia man­ter uma cas­inha humilde na Rua do Sossego, Gov­er­nador Archer, onde os mais vel­hos estudavam.

Nosso pai virou-​se para ele e disse: — Está bem, meu filho.

No dia seguinte, já pelas qua­tro ou cinco horas, lá estava papai sacud­indo o punho da rede do meu irmão: — vamos meu filho, está na hora. Assim foi no primeiro para roça com uma “trin­cha” limpar a plan­tação. Noutro dia com um “sacho” plan­tar alguma coisa. Antes de cuidar da roça tin­ham que “tirar o leite” das vacas, levá-​las para quin­tas para se ali­men­tar; depois o dia inteiro sobre o sol inclemente do sertão, com um inter­valo de pouco tempo para almoçar ou beber água que lev­avam numas cabaças.

Para encur­tar a con­versa, depois de uma ou duas sem­anas, meu irmão já tinha refeito os planos e voltado aos estudos.

Meu avô era reti­rante nordes­tino e veio para o Maran­hão fug­indo da sequidão do sertão do Rio Grande do Norte.

Um dia cansado de tanta seca incumbiu o meu tio Pedro Cal­heiro de vir ao estado em busca de um local onde pode­riam tra­bal­har e criar suas famílias. Tio Pedro veio e escol­heu a região do médio Mearim, entre os hoje municí­pios de Gov­er­nador Archer e Gonçalves Dias. Tem­pos depois de “assen­ta­dos” uma parte da família migrou para o municí­pio polo da região e um dos mais desen­volvi­dos do estado: Pedreiras.

O Maran­hão era a “terra prometida”, a esper­ança de tan­tos e tan­tos nordes­ti­nos cansa­dos do fla­gelo da seca.

Escol­hido o local de assen­ta­mento, pouco depois a família do meu avô, ele com esposa, dez fil­hos, esposas, gen­rose já alguns netos –, e mais alguns viz­in­hos, orga­ni­zaram a diás­pora e desce­ram para o Maran­hão, onde havia ter­ras boas e far­tas e estariam longe do suplí­cio da seca.

Conta a lenda que vieram em car­a­vana, uns em lom­bos de ani­mais, out­ros a pé mesmo. Acam­pavam ao longo do tra­jeto e comiam toucinho de porco, far­inha seca e rapadura. Out­ros fiz­eram o tra­jeto em “pau de arara”.

Todos traziam a certeza que encon­trariam uma vida mel­hor para si e para os seus.

Lem­brei destas “pas­sagens” – a do meu irmão e, depois, de como minha família chegou por estas par­a­gens e a esper­ança que nutriam em futuro de pros­peri­dade numa terra que se prome­tia con­de­nada ao desen­volvi­mento –, enquanto assis­tia ao pro­grama Globo Rural, da Rede Globo, alu­sivo aos seus quarenta anos de lança­mento.

O pro­grama – muito bom e que recomendo –, mostra a evolução da agri­cul­tura brasileira nos últi­mos quarenta anos. Bas­taria dizer que saltou de 40 mil­hões de toneladas de grãos em 1980 para mais 243 mil­hões de toneladas de grãos na safra 2019/​2020, sem que se tenha ele­vado a área plan­tada significativamente.

Mas não é só isso. O que encanta é o quanto de tec­nolo­gia foi inserida no campo brasileiro. Hoje pos­suí­mos uma agri­cul­tura – assim como a pecuária –, de altís­sima pré­cisão.

No campo já se sabe o mel­hor momento para plan­tar, o que plan­tar, como será clima ao longo do ano; através do mon­i­tora­mento por drones ou satélites, se sabe qual­quer alter­ação na lavoura ou se existe alguma infes­tação de praga, podendo se fazer o com­bate ime­di­ato; o maquinário desen­volvido é um capí­tulo à parte, tra­bal­hando prati­ca­mente soz­in­hos e com uma capaci­dade infini­ta­mente supe­ri­ores aos ante­ri­ores. E já se encon­tra em testes tra­tores que dis­pensa a oper­ação humana.

Assim com a agri­cul­tura, a pecuária não deixou a dese­jar, evoluindo do mesmo modo, com as fazen­das pro­duzindo as mel­hores carnes e os reban­hos sendo con­tro­la­dos quase que inte­ri­or­mente pelos com­puta­dores, da ali­men­tação do boi, quando, através de um chip se con­trola o quanto comeu, peso, altura, etc., à ordenha das vacas, feita, tam­bém de forma mecan­izada.

Diria que hoje, só falta, mesmo, o boi ir soz­inho para o abate, pois para a ordenha as vacas já vão soz­in­has.

Noutras palavras, o Brasil vive um momento espetac­u­lar no campo, habilitando-​se, como apren­demos no primário, a ser o celeiro do mundo a não dever nada aos grandes pro­du­tores mundi­ais, inclu­sive, na pro­dução de cul­turas que vão além das “com­modi­ties” de grãos. Os vin­hos, os quei­jos, o choco­late, o azeite, sem con­tar uma vocação nacional: o café fino. Todos estes pro­du­tos, repito, sem dever em qual­i­dade, já fazem bonito nas mel­hores mesas do país e do exte­rior.

Tudo isso somente foi pos­sível graças à visão extra­ordinária de pesquisadores e pro­du­tores, que enx­er­garam no campo um motor para o cresci­mento da nação. Con­taram ainda, aque­les que se desen­volveram, com o apoio dos gov­er­nos, fed­eral e estad­u­ais.

Pois bem, lembrei-​me da lenda famil­iar envol­vendo o meu irmão, referida no iní­cio do texto, porque na reportagem ouvi um jovem dizer que hoje em dia se você quiser “ir para roça” tem é que estu­dar muito, tal o nível de con­hec­i­mento que se pre­cisa ter para lidar com essa nova real­i­dade do campo.

Noutra quadra, a refer­ên­cia à “diás­pora” da minha família para o Maran­hão é para dizer que, a despeito do estado ter sido, em mea­dos dos anos cinquenta e sessenta, a grande esper­ança para os demais nordes­ti­nos reti­rantes da seca, o mesmo, não ape­nas ficou para trás, con­forme já mostramos em um texto ante­rior, como até mesmo retrocedeu.

O estado. ape­sar de ser um dos mais ricos em recur­sos hídri­cos e de pos­suir estações climáti­cas bem definidas – o que é uma benção para a pro­dução agrí­cola –, não desen­volveu sua vocação. Se hoje ocupa a décima posição na pro­dução de grãos, isso se deve aos núcleos agrí­co­las insta­l­a­dos, sobre­tudo, na região sul, a par­tir da “col­o­niza­ção” por parte de agricul­tores vin­dos do sul do país.

Na ver­dade a agri­cul­tura maran­hense foi sendo, aos poucos, “destruída” nos últi­mos sessenta anos, prin­ci­pal­mente, dev­ido à falta de incen­tivos do gov­erno estad­ual. Hoje, descon­tada a pro­dução ori­unda do agronegó­cio, não “sobra” quase nada. E o que sobra, ainda hoje é pro­duzido através de méto­dos atrasa­dos que remon­tam aos princí­pios da civ­i­liza­ção. É a roça do toco, a limpeza do solo através da queimadas, o plan­tio feito no sacho, etc. Uma pro­dução insu­fi­ciente para a sub­sistên­cia das famílias.

Não é sem razão que ao per­cor­rermos as estradas do Maran­hão, seja o dia que for, seja a que for, encon­tramos mul­ti­dões de cidadãos nas por­tas, embaixo de árvores, sem pro­duzirem nada, muitas das vezes se entre­gando ao alcoolismo e out­ros vícios, enquanto aguardam a esmola men­sal dos pro­gra­mas de trans­fer­ên­cia de renda, seja o bolsa família; seja as fal­sas aposen­ta­do­rias como tra­bal­hadores rurais; seja através dos seguros des­ti­na­dos a pescadores.

Não é sem razão que mais da metade da pop­u­lação maran­hense vive abaixo da linha da mis­éria, e destes, uma parte sub­stan­cial, na condição de mis­éria absoluta.

São mil­hões de cidadãos maran­henses que foram – e que con­tin­uam –, aban­don­a­dos pelo poder público que os escrav­izam através da explo­ração de sua mis­éria e falta de instrução e qual­i­fi­cação.

Fazem isso de propósito, para man­terem um exército de eleitores “acríti­cos”, pron­tos para elegerem aque­les que pos­sam aten­der suas neces­si­dades mais ime­di­atas.

Enquanto noutros esta­dos os agricul­tores podem acionar os téc­ni­cos da EMATER através de um aplica­tivo de celu­lar, por aqui, até este impor­tante órgão foi extinto.

Os gov­er­nantes do estado duvi­daram – e con­tin­uam a duvi­dar –, do imenso poten­cial do nosso estado para a agri­cul­tura, pecuária e sua cadeia pro­du­tiva, por isso foi con­de­nado a mis­éria per­pé­tua por Deus que não nos dotou de um solo fér­til – a exceção de uma faixa de ter­ras entre Gra­jaú e For­t­aleza dos Nogueiras –, con­forme assen­tou o ex-​presidente Sar­ney, em um dos seus arti­gos e que refutei de pronto em um texto ante­rior sobre o assunto.

Como sus­ten­tar que o Maran­hão não pro­duz porque tem solo “pobre” quando vemos o Estado de Israel, com 65% (sessenta e cinco por cento) de seu ter­ritório como deserto e cer­cado de inimi­gos, pro­duzir grande parte dos ali­men­tos con­sum­i­dos por seu povo?

Como aceitar que o nosso estado, o segundo do Nordeste, com tan­tos recur­sos, não con­siga pro­duzir nem o sufi­ciente para ali­men­tar sua pop­u­lação, tendo que impor­tar quase tudo que con­some de out­ros esta­dos, inclu­sive dos esta­dos que sofrem muito mais com a seca que o nosso?

O MARAN­HÃO perdeu o bonde da história e ficou para trás.

Que, pode sim, se desen­volver a par­tir de grandes pro­je­tos em curso, mas que pode­ria ser o próprio propul­sor do seu desen­volvi­mento, se tivesse tido a sorte de pos­suir gov­er­nantes com visão, nos últi­mos cinquenta ou sessenta anos.

Difer­ente do que foi exposto pelo ex-​presidente Sar­ney, nosso estado não pobre porque o nosso solo não é rico e não temos recur­sos min­erais de monta. O estado pobre porque não tive­mos, até aqui, políti­cos com capaci­dade de pen­sar além dos próprios inter­esses.

Depois de tudo de bom que Deus no deu Ele nos legou políti­cos ruins e inca­pazes. Essa é a razão do nosso atraso cul­tural, pro­du­tivo e da mis­éria do nosso povo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.