AbdonMarinho - A NOVA JABOTICABA BRASILEIRA: O PARTIDO MELANCIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A NOVA JABOT­I­CABA BRASILEIRA: O PAR­TIDO MELANCIA.


A NOVA JABOT­I­CABA BRASILEIRA: O PAR­TIDO MELAN­CIA.

Por Abdon Marinho.

COMEÇO por repe­tir uma história já con­tada há algum tempo neste site. Como sabem, mil­ito na área jurídica há muito tempo, mais de duas décadas e, na área política desde a infân­cia. Tam­bém por conta disso o nosso escritório sem­pre tra­bal­hou com muita ênfase nos ramos do dire­ito eleitoral, admin­is­tra­tivo e munic­i­pal.

Além de tra­balho, estes anos todos nos pos­si­bil­i­tou fazer inúmeras amizades e a con­hecer a real­i­dade e a con­jun­tura política, as vezes, mel­hor que os habi­tantes de algu­mas local­i­dades.

Aí, vem a his­tor­inha. Certa vez ao vis­i­tar um dos municí­pios, logo no iní­cio do ano pos­te­rior as eleições, pus-​me a con­ver­sar com um velho amigo sobre o pleito, inda­gando sobre a cor­re­lação de forças e sobre o posi­ciona­mento de diver­sas pes­soas. Lá pelas “tan­tas” per­gun­tei ao amigo com quem con­ver­sava: — e fulano de tal – um amigo comum, muito ativo na política local –, com quem ficou nas eleições?

O meu amigo então respon­deu: — ah, doutor, fulano de tal ficou do outro lado. Desco­b­ri­mos que ele era melancia.

—Melan­cia?!? Como assim, meu amigo velho? Indaguei.

— Ah, doutor, ele era verde por fora e ver­melho por den­tro.

Estas eram as cores dos dois gru­pos políti­cos daquele municí­pio. Ri muito da história do “amigo melan­cia” e a man­tenho viva até hoje.

Pois bem, recordo a história acima a propósito do que tenho lido e ouvido sobre estar um curso uma espé­cie de “trans­mu­tação” do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB. Pelo que li, dora­vante, já para as próx­i­mas eleições, o par­tido con­tin­uaria “comu­nista”, mas não daria ênfase a isso e, sim, a um tal “movi­mento 65” ou “movi­mento dos comuns”; o encar­nado da ban­deira do par­tido daria lugar ao verde/​amarelo do pavil­hão nacional.

Como se trata ape­nas de uma nova “roupagem”, vez que o par­tido não mudará de nome, mas ape­nas ado­tará um “nome de fan­ta­sia”, e o man­i­festo e pro­grama con­tin­uarão a defender a mudança do cap­i­tal­ismo para o social­ismo, a expro­pri­ação dos meios de pro­dução e o fim da pro­priedade pri­vada, temos que PCdoB “inau­gura” uma nova era na orga­ni­za­ção par­tidária nacional: o “par­tido melan­cia”, como bem disse meu amigo: verde por fora e ver­melho por dentro.

Ape­sar de tal pauta não pare­cer impor­tante, ela tem sua relevân­cia. Pelo que tomei con­hec­i­mento, o PCdoB já é o maior par­tido do estado, emb­ora saibamos que, mis­er­av­el­mente, pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) não saibam o que isso sig­nifica o comu­nismo e, os 5% (cinco por cento) que, suposta­mente, sabem, passem longe de querer colocá-​lo em prática na vida real.

É de se ano­tar que não tomamos con­hec­i­mento de nen­hum deles abrindo mão de seu patrimônio ou cedendo-​o ao Estado para viver con­forme suas neces­si­dades. Muito pelo con­trário, o que sabe é que apre­ciam, como poucos, os con­for­tos e exces­sos que o “vil metal” pode pro­por­cionar: os bons aparta­men­tos ou man­sões; os bons car­ros; os mel­hores recur­sos tec­nológi­cos, iPhones, iPads, iMac; as mel­hores via­gens, de prefer­ên­cia para os maiores cen­tros cap­i­tal­is­tas do mundo, nos Esta­dos Unidos da América ou para mel­hores cap­i­tais europeias – de Cara­cas, Havana ou Pyongyang, querem dis­tân­cia; os mel­hores vin­hos, etcetera.

Mas se dizem comu­nistas. Comu­nismo para os out­ros. Aliás, a notí­cia que se tem é que os “nos­sos” comu­nistas gostam tanto do “vil metal” que certa vez a revista Época lançou uma edição com a capa chamando o par­tido de “PCdoBolso”.

Outro aspecto que torna a dis­cussão rel­e­vante é que o par­tido “insinua-​se” como pos­tu­lante ao lança­mento de uma can­di­datura própria à presidên­cia da República, no caso, a do sen­hor Flávio Dino que dorme e acorda pen­sando nisso, já tendo “se lançado”, prati­ca­mente, no mesmo dia que assumiu o segundo mandato de gov­er­nador do estado – rel­e­gado sua gestão frente ao gov­erno para um segundo plano.

Assim, essa “trans­mu­tação” par­tidária não vis­aria, ape­nas, “enga­belar” os incau­tos na eleição munic­i­pal deste ano, mas, sobre­tudo, focal­iza as eleições gerais (pres­i­den­ci­ais) de 2022.

Trata-​se de uma estraté­gia política de ocu­pação de espaços fazendo pare­cer aquilo que não é para con­quis­tar o poder. Uma espé­cie de este­lion­ato eleitoral de grande magnitude.

O comu­nismo é uma dout­rina econômica, polit­ica e social baseada no sis­tema de pro­priedade cole­tiva e na dis­tribuição de renda con­forme as neces­si­dades indi­vid­u­ais. Essa é uma definição dicionar­izada. Não é dizer que vem de comum; que vem de cole­tivo. Isso é engodo.

Respeito o dire­ito de cada um defender aquilo que acred­ita. O que não é admis­sível é igno­rar mais de duzen­tos anos de história para ten­tar enga­nar o povo.

Outro dia não con­tive o espanto ao saber que o PCdoB, estava con­sti­tuindo “núcleos evangéli­cos”.

Ora, um dos pilares do comu­nismo é o mate­ri­al­ismo dialético inspi­rado na dout­rina de Karl Marx (18181883) e Friedrich Engels (18201895), tam­bém por isso, mas não ape­nas – há de se con­sid­erar toda a história do comu­nismo ao redor do mundo –, o comu­nismo é uma dout­rina incom­patível com o cris­tian­ismo.

São frases de Marx e Lenin: “O primeiro req­ui­sito da feli­ci­dade dos povos é a abolição da religião”, “ A religião é o ópio do povo”, Marx; “O comu­nismo se esta­b­elece onde começa o ateísmo”, “Todo culto a uma divin­dade é uma necro­filia”, Lenin.

Quando ouvirem essas bobagens de que o comu­nismo é Cristão e que Jesus era comu­nista, este­jam cer­tos que estão querendo lhes enga­nar. Existe Encíclica (acred­ito que mais de uma) desmisti­f­i­cando tal argumentação.

Não é sem razão que todas as nações que ado­taram o comu­nismo lançaram medi­das para impedir a pop­u­lação de pro­fes­sar sua fé. Essa decisão tem como razão de ser os dog­mas do ideário comu­nista.

Uma das primeiras medi­das de Stálin, ao assumir o poder na União Soviética, foi demolir o sím­bolo máx­imo do cris­tian­ismo naquele país, a Igreja do Cristo Sal­vador, uma joia da arquite­tura, para, no seu lugar, erguer um sím­bolo do comu­nismo com uma está­tua de Lenin no topo. Ao invés de Cristo seria aquele líder a ser ado­rado pelo povo.

Quem se opôs à bar­bárie, foi exi­lado ou morto.

A cat­e­dral mais pre­ciosa do povo russo só foi recon­struída após a queda do régime comu­nista, no iní­cio dos anos noventa.

Quando vi a história de núcleos evangéli­cos den­tro de um par­tido comu­nista formei aquela con­clusão: “das duas, duas”. Ou estes evangéli­cos não são cristãos ou estes comu­nistas não são evangéli­cos ou ambos não são nen­huma coisa nem outra.

Aqui não faço qual­quer juízo de valor, tam­pouco sou eu que quero assim. É a história que já provou, mais de uma vez, que assim é.

Exis­tem doc­u­men­tos ofi­ci­ais do PCdoB apoiando as ditaduras san­guinárias de Cuba, Cam­boja, Vietnã, Cor­eia do Norte. Neste último, a sim­ples posse de uma Bíblia pode levar o cidadão a prisão por anos. No pas­sado, não muito dis­tante, o par­tido apoiou o stal­in­ismo, na antiga União Soviética – e seus satélites –, o maoísmo, na China, o cas­trismo, em Cuba, o “hox­hoísmo”, na Albâ­nia, e por aí vai. Todos regimes total­itários e de repressão às liber­dades, sobre­tudo, à liber­dade reli­giosa e de expressão. Todos estes regimes com mil­hões de mor­tos nos prontuários.

Até hoje o PCdoB nunca fez uma autocrítica, nunca mudou um milímetro seu modo de pen­sar e con­tinua a apoiar as ditaduras mais asquerosas ainda exis­tentes. E, pior, defend­endo, pro­gra­mati­ca­mente, os mes­mos ideários.

Dizer que o comu­nismo é com­patível com a fé cristã e que é abso­lu­ta­mente nat­ural a existên­cia de núcleos evangéli­cos den­tro do par­tido ou núcleos do par­tido comu­nista den­tro das igre­jas é um despautério ímpar.

Não é que “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Não! Esta­mos falando de coisas antagôni­cas, que não admitem qual­quer rel­a­tivismo, nem mesmo os morais.

Aliás, se puxar­mos pela memória, ire­mos ver­i­ficar que quando o sen­hor Dino ensaiou sua can­di­datura ao gov­erno, em 2014, alertei para as difi­cul­dades por conta da escolha par­tidária. Um par­tido com histórico (e pre­sente) de apoio às ditaduras; com incom­pat­i­bil­i­dades insolúveis com o ideário e a fé da maio­ria dos maran­henses; sem con­tar o excesso de prag­ma­tismo, vez que apoiou o grupo Sar­ney por cerca de uma década.

O sen­hor Dino deu sorte e venceu aque­las eleições porque o adver­sário era exces­si­va­mente fraco e sem cred­i­bil­i­dade, a ponto de osten­tar um numeral depois do prenome. Por isso que gan­hou e pode levar a cabo um pro­jeto hegemônico para a política estad­ual e se reelegeu, tam­bém, pela falta de opção política.

Mas, como a história já ensi­nou – que o diga a ex-​governadora Roseana Sar­ney, que ensaiou uma can­di­datura pres­i­den­cial em 2002, abatida logo que alçou voo –, o Brasil é não é o Maran­hão. Não dar para fingir-​se de esperto e “gan­har” no grito.

O ex-​presidente Lula, uma espé­cie de “padrasto” das esquer­das brasileira – que de besta não tem nada, tanto que ape­sar de con­de­nado duas vezes em segunda instân­cia e respon­der a quase uma dezenas de out­ros pro­ced­i­men­tos crim­i­nais, prin­ci­pal­mente por cor­rupção, ainda arrebanha mil­hões de seguidores –, percebendo a estraté­gia dos “cama­radas” comu­nistas já tra­tou de des­en­co­ra­jar o pro­jeto ale­gando jus­ta­mente partes do que pontuei há mais de seis anos.

O ex-​presidente Lula não quer ninguém fazendo som­bra ao seu pro­jeto de retornar ao poder, se não dire­ta­mente – por conta dos imped­i­men­tos legais –, por inter­mé­dio de algum “poste” a ser escol­hido den­tro do seu par­tido, o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, na undécima hora a pre­ceder o prazo final para os reg­istros de can­di­dat­uras. Para ele, o PCdoB, quando muito, daria um coad­ju­vante, numa eleição para perder.

Como podemos perce­ber, ao PCdoB será necessário muito mais que a adoção de um “nome de fan­ta­sia” ou a uti­liza­ção da ban­deira nacional ou invés do estandarte ver­melho, será necessário vencer resistên­cias, primeiro, dos par­ceiros inter­nos e, depois, da própria sociedade, que rejeita os ideários total­itários que apoia e defende.

Abdon Mar­inho é advo­gado.