AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

SIN­HOZ­INHO MALTA VER­SUS ZECA DIABO

Escrito por Abdon Mar­inho


SINHOZ­INHO MALTA VER­SUS ZECA DIABO.

Por Abdon Marinho.

TODOS já sabiam que não acon­te­ceria boa coisa no dia em que Sin­hoz­inho Malta encon­trasse com Zeca Diabo. Habi­tando tem­pos e espaços difer­entes – emb­ora per­sonas inter­pre­tadas por um mesmo artista –, poucos acred­i­tavam que tal encon­tro um dia viesse acon­te­cer.

Pois é, mas o impon­derável acon­te­ceu e Sin­hoz­inho Malta cru­zou com Zeca Diabo, não em Sucu­pira do Norte ou Asa Branca, mas onde ninguém esper­ava: no sertão do Ceará, em Sobral, municí­pio de pop­u­lação esti­mada em cerca de 200 mil habi­tantes.

A essa altura o leitor já deve ter perce­bido que tratarei do assunto que domi­nou as “rodas políti­cas” nos últi­mos dias: o “inci­dente” envol­vendo o senador Cid Gomes (PDT/​CE) e os poli­ci­ais mil­itares do Ceará que se encon­tram “amoti­na­dos” há alguns dias.

O leitor mais atento já deve ter bus­cado saber que os dois per­son­agens antagôni­cos que emprestam nome à pre­sente crônica fazem parte do pan­teão da dra­matur­gia brasileira, ambos inter­pre­ta­dos pelo bril­hante Lima Duarte, nas obras inesquecíveis do não menos bril­hante Dias Gomes: O Bem Amado e Roque San­teiro.

Tenho por certo que o leitor já deve ter iden­ti­fi­cado a quem cabe cada um dos papéis.

Antes de prosseguir com a crônica esclareço que esta­mos diante de uma comé­dia (ou tragé­dia) de erros na qual nen­hum dos lados tem razão. A polí­cia mil­i­tar, proibida pela Con­sti­tu­ição da República de fazer “greve” e o senador cearense que não tinha nada com a história.

Dito isso, cabe anal­isar os fatos.

A primeira per­gunta que fiz ao saber que um senador avançou com uma car­regadeira con­tra cidadãos tendo estes pronta­mente reagido a “bala” foi: o que o senador tinha com o prob­lema?

Até onde se sabe o senador está licen­ci­ado do Senado para tratar de inter­esses pes­soais – registre-​se, sem remu­ner­ação.

O senador não ocupa qual­quer cargo no gov­erno do Ceará, menos ainda, algum rela­cionado à segu­rança pública ou qual­quer outro que lhe per­mi­tisse ir tratar com os poli­ci­ais amoti­na­dos. Ainda que fosse, pelo que vimos, o senador seria a der­radeira pes­soa para tratar de qual­quer nego­ci­ação com quem quer que seja.

Alguém sabe dizer se já viu algum nego­ci­ador chegar para nego­ci­ação “armado” com uma car­regadeira e ameaçar “ir para cima” das pes­soas com quem se deseja nego­ciar? Acho que só no Ceará dos Fer­reira Gomes.

Quer me pare­cer que o senador licen­ci­ado, pela desen­voltura com que agiu, é uma espé­cie de “Sin­hoz­inho Malta” do Ceará, não é autori­dade, mas age como se fosse, saiu do cargo de gov­er­nador há mais de cinco anos, mas a “gov­er­nança” não saiu dele.

Ora, tal qual o per­son­agem do fol­hetim, parece ou se investe de mais autori­dade que o gov­er­nador do estado. Se brin­car, quando vai ao palá­cio do gov­erno cearense o gov­er­nador Camilo San­tana (PT) lhe cede a cadeira de gov­er­nador, assim como fazia o seu Flor, de Asa Branca, quando o Sin­hoz­inho Malta chegava a prefeitura.

Emb­ora pareça óbvio é de se per­gun­tar: onde já se viu um cidadão que não tem qual­quer autori­dade no assunto se inve­stir de “nego­ci­ador” e inve­stir com um tra­tor con­tra dezenas de pes­soas?

Não fosse o Brasil uma terra de ficção, era para o “usurpador” da função pública ser chamado às falas pelos dois deli­tos: a usurpação de função pública e por ten­ta­ti­vas múlti­plas de homicí­dios.

Um cidadão comum que bebe, e dirige, se acon­tece um aci­dente de trân­sito tem-​se por certo que ele come­teu um homicí­dio qual­i­fi­cado ou uma ten­ta­tiva, se o “aci­dente” não resulta na morte.

Como qual­i­ficar, difer­ente disso, se o cidadão pega uma car­regadeira ameaça pas­sar por cima das pes­soas e avança com o veículo ao encon­tro das pes­soas só sendo parado à bala?

A ati­tude de sin­hoz­inho Malta do sertão era para ser pronta­mente reprim­ida, era para a polí­cia de ver­dade – não a amoti­nada –, tê-​lo pren­dido em fla­grante delito.

Ainda que o tivesse socor­rido (como se deve), era para tê-​lo lev­ado preso pelos crimes acima descritos.

Outra coisa, essa conta com deslo­ca­men­tos em helicóptero ou out­ros veícu­los, assim como a conta dos hos­pi­tais jamais dev­e­riam ser “espetadas” nas costas dos con­tribuintes.

O senador não estava em uma mis­são ou fazendo algo em inter­esse do país, estava come­tendo crimes.

Não faz sen­tido que o con­tribuinte que não tem nada com as “maluquices” do senador seja chamado para pagar suas contas.

Emb­ora saibamos que tudo se dará ao oposto disso, fica o reg­istro para que pense­mos sobre o assunto.

Noutra quadra, não temos como deixar “vestir” a PMCE no arquétipo de Zeca Diabo, o can­ga­ceiro e mata­dor temido pelo povo, não pelo fato, iso­lado, de haver reagido à bala diante da investida do senador – isso até é defen­sável sob a ótica da legí­tima defesa ou do estado de neces­si­dade –, mas, sim, por des­cuidar do seu papel de pro­te­tora da sociedade e fazer uma greve que é respon­sável pela a vio­lên­cia no Ceará, levando o estado a alcançar índices nunca antes exper­i­men­ta­dos, já tendo ceifado quase cerca de uma cen­tena de víti­mas (ou algo próx­imo disso).

Por mais que os gov­er­nos estad­u­ais, por irre­spon­s­abil­i­dade ou pre­con­ceitos ide­ológi­cos, ten­ham des­cuidado da val­oriza­ção das polí­cias, isso não lhes dá o dire­ito de, na defesa de inter­esses próprios – não dis­cuto se legí­ti­mos ou não –, colo­carem em risco a vida da pop­u­lação, os cidadãos comuns pagadores de impos­tos que sus­ten­tam a todos, gov­er­nantes e poli­ci­ais.

Esses cidadãos comuns, gente com os mes­mos prob­le­mas dos poli­ci­ais, são os que sofrem as con­se­quên­cias do “motim” de poli­ci­ais.

Os gov­er­nantes, as autori­dades a quem se dirigem os protestos estão todos bem guarda­dos em suas man­sões ou aparta­men­tos de alto padrão, com segu­ranças pri­va­dos e diver­sos out­ros itens que os colo­cam a salvo de qual­quer importunação.

São os cidadãos de bem, os homens comuns que estão despro­te­gi­dos e expos­tos à sanha da ban­didagem. São estas as pes­soas que pre­cisam da polí­cia. E, a estas, a polí­cia falha.

A PMCE, demonstrando-​se ingênua e sem instrução – ape­sar de gen­erosa – , tal qual o per­son­agem da ficção, defla­gra e per­siste em um movi­mento que afronta a leg­is­lação vigente, quando pode­ria, por out­ros meios, bus­car a solução para suas deman­das.

Diante do absurdo do que estão fazendo, ape­sar de não tão perto, dev­e­riam descer até o Juazeiro do Norte para pedi­rem perdão ao “Santo Padim Pade Ciço Romão Batista”, como faria, aliás, o ver­dadeiro Zeca Diabo.

Con­flito entre polí­cias e gov­er­nos, sobre­tudo, quando a reação descamba para pre­juí­zos vitais à pop­u­lação é como casa em que falta pão, todo mundo fala e ninguém tem razão.

Abdon Mar­inho é advogado.

O Papa, o pecador e o que nos diz a Bíblia sobre ladrões.

Escrito por Abdon Mar­inho


O PAPA, O PECADOR E O QUE NOS DIZ A BÍBLIA SOBRE LADRÕES.

Por Abdon Marinho.

CON­FORME ampla­mente divul­gado, o ex-​presidente Luís Iná­cio Lula da Silva solic­i­tou – e con­seguiu –, uma audiên­cia com o Papa Fran­cisco. O encon­tro acon­te­ceu na Casa de Santa Marta, den­tro do Estado do Vat­i­cano.

Em um país polar­izado e divi­dido como o Brasil de agora, o encon­tro entre aquele que ainda é o líder mais forte da oposição e Sumo Pon­tí­fice não teria como pas­sar des­perce­bido ou ser tratado com nat­u­ral­i­dade. E não foi.

Pelo lado dos par­tidários do ex-​presidente, seu par­tido e demais adu­ladores o encon­tro segue sendo tratado como uma prova de seu prestí­gio em todos os can­tos do mundo e, até mesmo, um “ateste”, em âmbito inter­na­cional de que ele (Lula) teria sido vítima de uma armação judi­cial que já o con­de­nou a quase três décadas de cadeia, inclu­sive, em segunda e ter­ceira instân­cia – além de uma dezenas de out­ras ações civis e crim­i­nais ainda em curso.

Pelo lado dos opos­i­tores, sobram acusações, até con­tra o Papa Fran­cisco. Acusam-​no de ser “comu­nista”; de acatar como ver­dades as “nar­ra­ti­vas” esquerdis­tas de que o ex-​presidente seria inocente a ponto de acolhê-​lo no piedoso solo do Vat­i­cano; e, ainda, com tal ato ofender a dig­nidade e autono­mia da Justiça brasileira, que jul­gou e con­de­nou o indig­i­tado por crimes de cor­rupção, lavagem de din­heiro e out­ros mais do orde­na­mento penal nacional.

Os ami­gos mais próx­i­mos me inda­garam. Que­riam saber o que achava do encon­tro e das diver­sas nar­ra­ti­vas que povoam as diver­sas mídias.

Noutras cir­cun­stân­cias, caso não tivessem trans­for­mado o país no lab­o­ratório de rad­i­cal­is­mos, o tal encon­tro não teria qual­quer relevân­cia, ape­nas um encon­tro de um fiel e o líder da sua igreja – se for católico –, ou ape­nas uma reunião de um ex-​presidente e o chefe da Igreja Católica, como mil­hares de out­ros encon­tros que acon­te­cem diari­a­mente nas duas situ­ações.

Os papas ao longo dos sécu­los sem­pre tiveram reuniões com líderes políti­cos que ao tér­mino de seus gov­er­nos acabaram por prestar con­tas de seus malfeitos, out­ros tan­tos, acabaram pre­sos ou mor­tos sem que seus povos ten­ham ver­tido lágri­mas.

O inusi­tado, no pre­sente caso, talvez seja o fato do ex-​presidente sair da cadeia – ainda que por uma situ­ação atípica, à espera do trân­sito em jul­gado dos decre­tos con­de­natórios –, e ir ver o Papa.

Ainda que por exer­cí­cio de retórica, talvez sua San­ti­dade, devesse obser­var cer­tas caute­las ao rece­ber deter­mi­na­dos con­de­na­dos e evi­tar, assim, que o seu nome e o da igreja católica seja explo­rado inde­v­i­da­mente em con­tendas política.

Afora isso, não vejo motivos para cen­suras. Mesmo o crim­i­noso mais odi­ento tem o dire­ito a pedir perdão por seus peca­dos a uma autori­dade ecle­siás­tica. Mesmo aos crim­i­nosos mais vio­len­tos não se deve negar o perdão. Este é um dos sen­ti­dos do cris­tian­ismo.

O saudoso Papa João Paulo II não ape­nas rece­beu o ter­ror­ista que aten­tou con­tra a sua própria vida como o per­doou. E achamos aquele gesto nobre.

Quando me per­gun­taram o que achava do encon­tro, a primeira lem­brança que me socor­reu foi aquela que aprendi nas aulas de cate­cismo, no Evan­gelho de São Lucas.

Conta-​nos tal Evan­gelho:

E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o cru­ci­ficaram, e aos malfeitores, um à dire­ita e outro à esquerda.

E dizia Jesus: Pai, perdoa-​lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes.

E o povo estava olhando. E tam­bém os príncipes zom­bavam dele, dizendo: Aos out­ros salvou, salve-​se a si mesmo, se este é o Cristo, o escol­hido de Deus.

E tam­bém os sol­da­dos o escarne­ciam, chegando-​se a ele, e apresentando-​lhe vinagre.

E dizendo: Se tu és o Rei dos Judeus, salva-​te a ti mesmo.

E tam­bém por cima dele, estava um título, escrito em letras gre­gas, romanas, e hebraicas: ESTE É O REI DOS JUDEUS.

E um dos malfeitores que estavam pen­dura­dos blas­fe­mava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-​te a ti mesmo, e a nós.

Respon­dendo, porém, o outro, repreendia-​o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?

E nós, na ver­dade, com justiça, porque recebe­mos o que os nos­sos feitos mere­ciam; mas este nen­hum mal fez.

E disse a Jesus: Sen­hor, lembra-​te de mim, quando entrares no teu reino.

E disse-​lhe Jesus: Em ver­dade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.

E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona, escurecendo-​se o sol;

E rasgou-​se ao meio o véu do templo.

E, cla­mando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isto, expirou.” Lucas 23:3346.

O ladrão a quem Jesus Cristo per­doou os peca­dos era Dimas, que a Igreja Católica fez Santo.

São Dimas fez-​se santo por ter recon­hecido os seus peca­dos, suas fal­has, e o arrependi­mento ver­dadeiro fez Jesus per­doar os seus peca­dos e a levá-​lo con­sigo ao paraíso, pouco antes de expirar.

O outro ladrão, o que não se arrepen­deu e ainda escarneceu do sofri­mento de Jesus, não se sabe onde foi parar.

O ex-​presidente Lula, como o ladrão que escarneceu de Jesus, pedindo que sal­vasse a si mesmo e a ele tam­bém, ao menos pub­li­ca­mente, nunca recon­heceu seus peca­dos ou fal­has, pelo con­trário, diz-​se a alma mais pura “deste país”.

Terá recon­hecido ao Papa Fran­cisco e pedido perdão?

É de São Tiago o ensi­na­mento: “Por­tanto, con­fessem os seus peca­dos uns aos out­ros e façam oração uns pelos out­ros, para que vocês sejam cura­dos”. Tiago 5:16.

O padre Antônio Vieira, no seu ‘Ser­mão do Bom Ladrão” trata com pré­cisão da sal­vação do ladrão Dimas ao traçar um para­lelo à promessa de sal­vação feita a Zaqueu, diz-​no o sábio pároco: “Assim como Cristo, Sen­hor nosso, disse a Dimas: Hodie mecum eris in Par­adiso: Hoje serás comigo no Paraíso — assim disse a Zaqueu: Hodie salus domui huic facta est (Lc. 19,9): Hoje entrou a sal­vação nesta tua casa. — Mas o que muito se deve notar é que a Dimas prometeu-​lhe o Sen­hor a sal­vação logo, e a Zaqueu não logo, senão muito depois. E por que, se ambos eram ladrões, e ambos con­ver­tidos? Porque Dimas era ladrão pobre, e não tinha com que resti­tuir o que roubara; Zaqueu era ladrão rico, e tinha muito com que resti­tuir: Zacheus prin­ceps erat pub­li­cano­rum, et ipse dives, diz o evan­ge­lista (2). E ainda que ele o não dis­sera, o estado de um e outro ladrão o declar­ava assaz. Por quê? Porque Dimas era ladrão con­de­nado, e se ele fora rico, claro está que não havia de chegar à forca; porém Zaqueu era ladrão tol­er­ado, e a sua mesma riqueza era a imu­nidade que tinha para roubar sem cas­tigo, e ainda sem culpa. E como Dimas era ladrão pobre, e não tinha com que resti­tuir, tam­bém não tinha imped­i­mento a sua sal­vação, e por isso Cristo lha con­cedeu no mesmo momento. Pelo con­trário, Zaqueu, como era ladrão rico, e tinha muito com que resti­tuir, não lhe podia Cristo segu­rar a sal­vação antes que resti­tuísse, e por isso lhe dila­tou a promessa. A mesma nar­ração do Evan­gelho é a mel­hor prova desta diferença”.

Em todo o ser­mão de Vieira resta claro que ele não trata de ladrões pobres aque­les que come­tem pequenos deli­tos para saciar a fome ou mesmo de pequenos salteadores, mas, sim aque­les poderosos, aque­les que roubam sem qual­quer con­strang­i­mento ou receio de serem alcança­dos pela lei. Ou aque­les a quem são investi­dos nas admin­is­trações das cidades ou países, a estes, restará a promessa de sal­vação se resti­tuírem o rou­bado, não bas­tando se diz­erem arrepen­di­dos.

Logo, ao sen­hor Lula, não se aplica a situ­ação de Dimas, que por ser pobre foi preso e con­de­nado, mas sim, a situ­ação de Zaqueu, que por ser rico era tol­er­ado e ficava longe do alcance da Justiça.

Assim é o sen­hor Lula, já con­de­nado em dois proces­sos, em quase todas as instân­cias da justiça, per­manece fora do alcance da punição dev­ida, talvez a extinção nat­ural chegue antes de cumprir a pena por seus malfeitos e sem ter resti­tuído o pro­duto do roubo. E, assim, se acred­i­tar na Palavra, não alcançará a sal­vação, difer­ente de Dimas “não será com Ele no Paraíso”.

Como dito ante­ri­or­mente, não vejo nada demais no fato do papa rece­ber o sen­hor Lula, pelo con­trário, rogo que ele tenha aproveitado a defer­ên­cia de sua San­ti­dade para pedir perdão por seus peca­dos.

E, se Papa Fran­cisco, tiver se inspi­rado nos ensi­na­men­tos de Jesus Cristo, ao pecador deve ter dito que a sal­vação só virá com expi­ação dos peca­dos e a resti­tu­ição dos rou­bos prat­i­ca­dos.

Não deixare­mos de ser Cristãos por isso ou ser católi­cos – os que são –, por conta disso. Política e fé não se misturam.

O bom cristão deve se colo­car equidis­tante de questiún­cu­las políti­cas e obser­var o exem­plo do Cristo vivo, daquele que per­doou Dimas, o ladrão pobre, que arrependeu-​se de seus peca­dos e que con­hecera na Cruz; daquele que a Zaqueu condi­cio­nou a sal­vação.

Os homens e suas mis­érias pas­sam. A fé per­manece.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

NAR­RA­TI­VAS EM VERTIGEM.

Escrito por Abdon Mar­inho


NARRA­TI­VAS EM VER­TIGEM.

Por Abdon Marinho.

O BRASIL dos dias atu­ais vive uma guerra de nar­ra­ti­vas. O cidadão que dese­jar acom­pan­har todas elas não pode pis­car – sob pena de perder o próx­imo “lance”.

Outro dia um mili­ciano foi morto – segundo a ver­são ofi­cial –, em um con­fronto com o polí­cia. Horas depois as redes soci­ais estavam “entul­hadas” de vídeos, áudios e/​ou tex­tos, dizendo que se tratava de uma “queima de arquivo”, que o min­istro da justiça e segu­rança pública seria o respon­sável por tal des­do­bra­mento para ben­e­fi­ciar o pres­i­dente da República e seus familiares.

Nos dias seguintes as nar­ra­ti­vas não arrefe­ce­ram e, pior, não vin­ham ape­nas de pes­soas comuns ou enga­ja­dos “mil­i­tantes”.

Entre seus propa­gadores dire­tos ou respon­sáveis por insin­u­ações mali­ciosas acu­sando o min­istro da justiça e o pres­i­dente con­stavam autori­dades, como gov­er­nador de estado, dep­utado fed­eral, ex-​governador, etc., todos dizendo que a respon­s­abil­i­dade pela extinção do “mili­ciano” era do min­istro e do pres­i­dente.

A ninguém ocor­ria uma análise cuida­dosa dos fatos. Ora, o tal do mili­ciano mor­reu em uma oper­ação poli­cial em um estado coman­dado há mais de uma década pelo prin­ci­pal par­tido de oposição ao atual gov­erno; a oper­ação poli­cial foi super­vi­sion­ada pelo próprio secretário de segu­rança daquele estado, que atestou terem as forças de segu­rança por ele coman­dadas agido den­tro dos protocolos.

Mesmo com tais esclarec­i­men­tos, dep­uta­dos do próprio par­tido do gov­er­nador da Bahia e seus ali­a­dos con­tin­u­avam a insi­s­tir na tese con­spir­atória de que o min­istro da justiça e o pres­i­dente seriam os respon­sáveis pela tal “queima de arquivo”. Tem vídeos dis­sem­i­nando tais coisas, chamou minha atenção um do dep­utado Paulo Pimenta (PT/​RS), sus­ten­tando a patranha.

Ora, pelo raciocínio destas pes­soas e seus “seguidores”, o min­istro da justiça ou o próprio pres­i­dente da República teriam “com­bi­nado” com secretário de segu­rança da Bahia, ou talvez, com o próprio gov­er­nador (de um par­tido arquir­rival) para darem cabo ao mili­ciano e queimarem o suposto arquivo do pres­i­dente e famil­iares; estes – secretário ou gov­er­nador – teriam pas­sado aos inte­grantes da mis­são tal deter­mi­nação.

Quando vi tais nar­ra­ti­vas comentei: — agora las­cou, o PT se tornou o “queimador” de arquivos dos Bolsonaro.

É impres­sio­n­ante como coisas “sem pé nem cabeça” são dis­sem­i­nadas, inclu­sive, por “autori­dades”.

Faz algum sen­tido o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, que comanda o Estado da Bahia há tanto tempo fazer esse tipo de serviço sujo em bene­fí­cio de adver­sários políti­cos?

Mas as nar­ra­ti­vas não ligam para a lóg­ica, o que importa é “mitar”.

Ainda na intenção de “mitar” – e no mesmo assunto –, um dep­utado da oposição rad­i­cal ao gov­erno ata­cou o min­istro da justiça em uma audiên­cia pública da Câmara dos Dep­uta­dos com acusações de que o min­istro seria “capanga de milí­cias” e “capanga da família Bol­sonaro”.

O min­istro ape­nas respon­deu que o dep­utado era um desqual­i­fi­cado.

No dia seguinte, pelas redes soci­ais, o min­istro lem­brou que o par­tido do dep­utado que o ata­cou fora con­tra diver­sas medi­das do pacote anti­crime, de sua auto­ria, que endure­cia o jogo con­tra o crime orga­ni­zado, con­tra as milí­cias, inclu­sive.

Parece que não há no país a intenção de esclare­cer os fatos e de se tra­bal­har com a ver­dade ou de se con­struir um futuro mel­hor para todos.

Vejam, no episó­dio da suposta queima de arquivo, se a oper­ação poli­cial tivesse ocor­rido em algum estado ali­ado ao pres­i­dente da República ou mesmo sim­pático a ele – se é que existe algum –, a nar­ra­tiva pas­saria a ser a ver­dade inques­tionável. Para sociedade ficaria a infor­mação (certeza) que o pres­i­dente e o min­istro, em con­luio com o gov­erno estad­ual, teriam elim­i­nado uma pes­soa que pode­ria ter “seg­re­dos” com­pro­m­ete­dores. Se, com um fato ocor­rido em um estado gov­er­nado pela oposição, com o secretário de segu­rança pública asse­gu­rando a reg­u­lar­i­dade da oper­ação, as “nar­ra­ti­vas” gan­haram tanto espaço, inclu­sive, em veícu­los de comu­ni­cação social ditos sérios, imag­inem se fosse em um estado “ali­ado” do gov­erno federal.

O que se con­stata é a men­tira, difer­ente do que apren­demos, não tem per­nas tão curta

Des­mas­carada a nar­ra­tiva, quem pas­sou a explorá-​la, em sen­tido con­trário e de forma, para dizer o mín­imo, irre­spon­sável, foi o próprio pres­i­dente da República, acu­sando a polí­cia baiana – e até mesmo o gov­er­nador –, pelo fato da oper­ação ter cul­mi­nado na morte do miliciano.

O país parece girar em torno de insanidades.

Vejam outra “his­tor­inha”. Por estes dias saiu uma “pesquisa” no Jor­nal El País, dando conta que o gov­er­nador do Maran­hão estaria em ter­ceiro lugar na prefer­ên­cia do eleitorado brasileiro, com treze por cento dos votos, algo em torno de 20 mil­hões de eleitores.

A infor­mação, prin­ci­pal­mente no Maran­hão, foi explo­rada à exaustão. Diziam: “o gov­er­nador já está com treze por cento”, como a dizer, logo , logo, ultra­passa os demais e se torna o favorito; talvez ganhe a eleição de 2022 logo no primeiro turno. Coisa de maluco.

Recebi com incredul­i­dade a notí­cia. E tinha razões para isso. Dias antes saíra uma pesquisa de um insti­tuto nacional recon­hecido por seus acer­tos, pro­je­tando cenários para as eleições de 2022, onde o tal gov­er­nador nem apare­cia.

Como é pos­sível que poucos dias depois, sem que nada de extra­ordinário tivesse acon­te­cido, o mesmo cidadão não só apareça numa pesquisa, mas que apareça com um vol­ume de votos tão expres­sivos? Ao meu sen­tir não fazia qual­quer sen­tido.

Mas a infor­mação do “El País” com a tal pesquisa gan­hou o mundo.

Entre­tanto, um ou dois dias depois uma nova pesquisa, desta vez da Veja/​FSB, con­fir­mou os números ante­ri­ores e os trezes pon­tos que o gov­er­nador do estado “tin­ham” viraram pó, desapareceram.

Não é crível ou aceitável que entre três pesquisas de opiniões, uma apre­sente um dado tão dis­crepante em relação às out­ras duas. Como já se dizia lá no sertão “jabuti em cima de árvore, ou foi enchente ou mão de gente”.

Alguém dev­e­ria per­gun­tar como duas pesquisas fiz­eram para “sumir” com 20 mil­hões de eleitores em questão de dois ou três dias ou, como a pesquisa divul­gada pelo Jor­nal El País fez para que tais eleitores “apare­cerem” onde – antes e depois –, havia um traço.

Nem a Segunda Guerra Mundial “sumiu” com tanta gente. Não em tão pouco tempo.

Bem sei que uma pesquisa pode lhe dá a resposta que se queira, desde que feita a per­gunta certa.

Por outro lado, acred­ito que seria inter­es­sante que as autori­dades bus­cassem saber o que – e/​ou quanto –, se oculta por trás de infor­mações tão des­en­con­tradas e/​ou manip­u­ladas.

Uma outra nar­ra­tiva que envolveu (e ainda envolve) o Maran­hão e suas autori­dades, foi o “aumento fake” con­ce­dido aos pro­fes­sores estad­u­ais e “ven­dido” pelo próprio gov­er­nador como uma coisa extra­ordinária.

No “fri­gir dos ovos” o tal aumento não rep­re­sen­tava nem a metade do rea­juste con­ferido pelo gov­erno fed­eral para o piso salar­ial do mag­istério, a chamada Lei do Piso. O gov­erno fed­eral con­cedeu quase 13% (treze por cento) enquanto que aqui as faixas salari­ais que tiveram aumento supe­rior a isso foi ape­nas para alcançar o valor do piso nacional. Todas as demais faixas salari­ais ficaram com um aumento per­centual em torno de 5% (cinco por cento), menos da metade do con­ce­dido pelo gov­erno federal.

Quer dizer, se o valor bruto pas­sou dos 6 mil reais isso se deve a con­quis­tas históri­cas da cat­e­go­ria que o gov­erno atual não teve qual­quer ingerên­cia ou par­tic­i­pação.

O que fez, na ver­dade, foi des­cumprir a leg­is­lação (o Estatuto do Mag­istério) que asse­gura aos mestres locais o mesmo per­centual de aumento con­ce­dido pelo gov­erno federal.

Durante a votação do pro­jeto de lei que con­cedeu o “aumento” testemunhou-​se uma situ­ação inusi­tada, enquanto os gov­ernistas votavam enver­gonhados os pro­fes­sores protes­tavam das gale­rias da “casa do povo”.

Os protestos dos pro­fes­sores não foram maiores porque muitos tiveram negado o acesso às gale­rias e a porque a rep­re­sen­tação da cat­e­go­ria virou “linha aux­il­iar” do gov­erno, negando aquilo que é uma con­quista e que con­sta da lei.

Assim cam­inha o país e o estado, ao sabor das narrativas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.