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A VITÓRIA DOS ÍMPIOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

A VITÓRIA DOS ÍMPIOS.

Por Abdon Marinho

CERTA VEZ um amigo, já mais ido nos anos que eu, indagou-​me: — Abdon, viver­e­mos para teste­munhar­mos a vitória do bem sobre o mal?

Durante dias fiquei com a inda­gação na cabeça. Por diver­sas vezes encenei escr­ever sobre o tema sem no entanto alcançar toda a dra­mati­ci­dade da situ­ação, a angús­tia de um cidadão – falando não ape­nas sobre a sua ger­ação, mas, na ver­dade, de diver­sas ger­ações –, diante de um fla­grante fra­casso civilizatório.

Com o final do ano chegando – quando nos dedicamos aos bal­anços da vida –, voltei a pen­sar na inqui­etação deste amigo (que tam­bém é minha) sobre ter­mos fra­cas­sa­dos em legar para as ger­ações futuras um mundo mel­hor, ou mesmo, um país, ou um estado, melhores.

O meu amigo, pas­sando dos setenta e eu com cinquenta, já temos “um apu­rado” da vida, já sabe­mos o que fize­mos.

A morte (minha e dele) à espre­ita logo ali, já temos muito mais tempo vivido do que por viver, con­forme a ordem nat­ural das coisas e, no entanto, a sen­sação que sobra é a da der­rota. O mal venceu, não sabe­mos por quanto tempo mais estare­mos sub­ju­ga­dos pelos ímpios. Mas, sabe­mos, aque­les que dom­i­nam agora são que con­tin­uarão a dom­i­nar por muito tempo.

O nosso país é uma nação divi­dida pelo ódio, enquanto os cor­rup­tos de ambos os lados se locu­ple­tam do din­heiro público.

As provas disso estão aí, à vista de todos.

No Brasil os políti­cos (e tam­bém out­ros agentes públi­cos) enri­cam, de forma assus­ta­dora, nos mandatos para os quais foram eleitos para rep­re­sentarem e defend­erem os inter­esses do povo.

Isso não acon­tece porque econ­o­mizam os faus­tos salários (dos mais altos do mundo), mas sim, porque “pri­va­ti­zam” em proveito próprio, partes dos recur­sos da nação.

Antiga­mente os políti­cos que­riam levar uma obra estru­tu­rante para suas bases eleitorais para serem recon­heci­dos e obterem os votos daque­las comu­nas. Hoje, levam para qual­quer lugar em troca de van­tagem. Segundo dizem, até ven­dem suas “emen­das” pre­vi­a­mente para faz­erem recursos.

Mas, não estavam sat­is­feitos só em indi­carem emen­das para as obras aqui ou acolá, em bene­fí­cio próprio, aprovaram mecan­is­mos legais que as tor­nassem “impos­i­ti­vas”, qual seja, suas emen­das, obri­ga­to­ri­a­mente, pre­cisam ser liberadas.

E, foram além, na des­façatez, agora querem “man­dar” dire­ta­mente as emen­das aos gov­er­nos estad­u­ais e/​ou munic­i­pais sem qual­quer con­t­role da União.

Será que alguém, ainda a mais pura das almas, tem dúvi­das sobre o que pre­ten­dem?

Não pensem que se deram por sat­is­feitos. Leg­is­lando em causa própria, acharam que dev­e­riam criar um fundo par­tidário. Ini­cial­mente um fundo modesto, for­mado, basi­ca­mente de ver­bas ori­un­das de mul­tas e out­ras sobras orça­men­tárias. Estava pouco, resolveram “turbinar” o fundo para a casa dos bil­hões.

Como ninguém (ou quase ninguém) esboçou sinal de protesto, resolveram criar um fundo eleitoral.

Ora, nada mais nor­mal, pen­saram: se as empre­sas não podem doar e os cidadãos não estão con­ven­ci­dos dos “nos­sos” propósi­tos, que aprove­mos um fundo para “ban­car” nos­sas eleições.

E assim fiz­eram, cri­aram um fundo bil­ionário e como não haviam recur­sos sufi­cientes, acharam dev­ido que avançassem sobre os recur­sos da edu­cação e da saúde dos cidadãos, além das ver­bas para obras estruturantes.

Não é seg­redo que a edu­cação pública brasileira é caótica e a saúde dis­pensa qual­quer comen­tário. Mas, suas excelên­cias decidi­ram que devem reti­rar recur­sos que seriam des­ti­na­dos a estas áreas para ban­car suas eleições – ou sim­ples­mente desviarem, como já ficou provado.

É assim que os políti­cos enri­cam no curso de seus mandatos e, tam­bém, fazendo todo tipo de traficân­cia, vendendo leis e abrindo facil­i­dades aos cor­rup­tores as cus­tas dos recur­sos da nação.

A farra desen­f­reada do Con­gresso Nacional não é dis­tinta da que obser­va­mos em out­ros poderes ou insti­tu­ições (pouco)republicanas.

Recen­te­mente uma revista nacional, a Revista Veja – que outro dia o Par­tido dos Tra­bal­hadores a tinha como pan­fleto –, divul­gou o patrimônio da família Lula da Silva, que antes do ex-​presidente Lula chegar ao poder lev­ava uma vida mod­esta, classe média baixa, treze anos de PT no poder, foram sufi­cientes para fazer a todos da família mil­ionários.

A origem da for­tuna, descorti­nada por inves­ti­gações é a velha com­pan­heira dos poderosos do Brasil, a cor­rupção, a san­gria dos cofres públi­cos.

A família Lula da Silva é ape­nas um exem­plo, usado aqui para demon­strar que mesmo aque­les que tiveram como ban­deira de luta o com­bate à cor­rupção, a ela sucumbiu sem muitos pudores.

Se, em algum momento, tive­mos a esper­ança de que à cor­rupção seria com­bat­ida com afinco a par­tir dos êxi­tos da “Oper­ação Lava Jato”, na atual quadra política, sabe­mos que isso não pas­sou de um sonho.

As elites políti­cas do Exec­u­tivo, Leg­isla­tivo e Judi­ciário, tra­bal­ham em sen­tido con­trário.

Com a falsa des­culpa de que estão pro­te­gendo a sociedade fiz­eram leis e tomaram decisões no sen­tido de per­pet­uar a impunidade, con­forme já trata­mos disso, aqui mesmo, inúmeras vezes.

Como podemos ter alguma esper­ança de uma vitória do bem sobre o mal? Não, não temos.

O Brasil cam­inha para um um está­gio de coisas onde a atual elite política vai se per­pet­uar no poder, pois dom­i­nam as máquinas par­tidárias e os recur­sos públi­cos, pes­soas de bem e/​ou inde­pen­dentes não terão qual­quer chance de dis­putar com eles espaços de poder.

O Poder Judi­ciário e/​ou o Min­istério Público que têm o dever de estarem aten­tos para ado­tar medi­das em defesa da sociedade – já esta­mos cansa­dos de saber –, cam­in­ham para irrelevân­cia e a desmor­al­iza­ção.

Cada dia que passa a sociedade con­fia menos nes­tas insti­tu­ições.

E não adi­anta cul­par a sociedade por suas descon­fi­anças. Foram elas que bus­caram isso, com suas decisões ao sabor das con­veniên­cias, com o eterno com­padrio, com os maus exem­p­los. Como alguém pode achar razoável que uma decisão judi­cial deva ser anu­lada pelo fato do juiz de primeira instân­cia, seguindo a lei, não ter “adi­v­in­hado” que, no futuro, \ o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, iria criar uma regra com base em uma norma não escrita? Como alguém pode achar razoável que em um país onde uma grande parcela da pop­u­lação sobre­vive com um salário mín­imo, tenha mag­istrado que em ape­nas um mês receba mais de um mil­hão de reais, ainda que isso seja legal?

Uma piada se tornou usual nos nos­sos tem­pos, segundo ela, se você é rico, você con­trata um bom escritório de advo­ca­cia, mas se você for muito rico, muito poderoso, você con­trata o Supremo Tri­bunal Fed­eral.

É uma piada, claro, mas não deixa de ter seu fundo de ver­dade – se aplicar a out­ras esferas judi­ci­ais.

Quando “desce­mos” ao Maran­hão, a pos­si­bil­i­dade do bem vencer o mal ganha cores mais dramáti­cas.

Durante décadas (quase cinco), o “mal” foi iden­ti­fi­cado como sendo o grupo Sar­ney, uma âncora a segu­rar o estado em atraso sec­u­lar.

Depois de muita luta – de ger­ações –, alterou-​se o comando do estado e, cinco anos depois, con­stata­mos que nada – ou quase nada –, mudou, e o que mudou foi para pior.

Os atu­ais donatários do poder não ape­nas con­tin­uaram com as vel­has práti­cas, como ado­taram out­ras bem mais nefas­tas a qual­quer ideia do que seja democ­ra­cia.

Basta dizer que não temos mais debate político, o par­la­mento é uma espé­cie de “chance­laria” do Poder Exec­u­tivo, servindo para dizer “sim, sen­hor” na hora, e como, o gov­er­nante quer.

As provas disso estão aí para quem quiser con­ferir. Já vimos o par­la­mento aprovar medi­das quase que por una­n­im­i­dade e depois, quando a matéria é vetada, o mes­mos par­la­mentares man­terem o veto sem qual­quer ques­tion­a­mento.

Não faz muito tempo, aten­dendo a solic­i­tação do Poder Exec­u­tivo, a Assem­bleia Leg­isla­tiva aprovou mudanças na con­tribuição prev­i­den­ciária dos servi­dores.

Aten­dia a um comando da Emenda Con­sti­tu­cional nº. 103, de 12 de novem­bro de 2019. Quanto a isso não se dis­cute, o que mere­ceu atenção foi o fato dos par­la­mentares terem aprovado o pro­jeto de lei sem qual­quer dis­cussão, em menos de 24 horas, e, assim mesmo, porque par­la­mentares da oposição pedi­ram vis­tas do pro­jeto, senão a aprovação teria se dado em questão de horas.

A alternân­cia no poder que prom­e­teu desen­volvi­mento e democ­ra­cia, temos-​a tra­bal­hando em sen­tido inverso.

O debate político foi total­mente inter­di­tado no par­la­mento e nas ruas; a imprensa local se encon­tra total­mente dom­i­nada, e, com os poucos que teimam em escr­ever algo dis­so­nante do poder, sendo proces­sa­dos pelas as autori­dades e, pas­mem, pelo próprio estado.

Essa é a democ­ra­cia prometida?

Outro dia um fato me chamou atenção. Um amigo me man­dou o artigo de um juiz de dire­ito que fazia refer­ên­cia a um texto que havia escrito jus­ta­mente sobre a forma de aprovação do pro­jeto de lei sobre as mudanças nas alíquo­tas prev­i­den­ciárias.

Quando cliquei no link da matéria desco­bri que a mesma tinha “sum­ido” do blogue que a pub­li­cou. Só depois pude ler o texto é assim mesmo porque me man­daram por What­sApp.

O texto nunca mais voltou ao blogue. Até hoje não sei se a “cen­sura” se deu por ini­cia­tiva do jor­nal­ista, aten­dendo sabe se lá o quê, ou, por ini­cia­tiva do próprio mag­istrado.

O certo é que um texto que não tinha nada demais, nada ofen­sivo, sofreu uma bru­tal censura.

Como acred­i­tar em democ­ra­cia, liber­dade, tri­unfo do bem diante de tais coisas?

O poder exec­u­tivo dom­ina total­mente o leg­isla­tivo, os meios de comu­ni­cação, as enti­dades de classe e, dizem, o judi­ciário local, inclu­sive, com inter­venções inde­v­i­das na escolha dos diri­gentes daquele poder.

A real­i­dade do Maran­hão é de “semi-​ditadura”, onde um poder cen­tral dom­ina todos os demais e as insti­tu­ições, e, a despeito disso não apre­senta os resul­ta­dos esperados.

Nos últi­mos cinco anos não reduzi­ram a mísera – pelo con­trário, a aumen­taram –, não mel­ho­ram nen­hum dos indi­cadores africanos do estado, que con­tinua na “rabeira” de tudo, que­braram a pre­v­idên­cia dos servi­dores e fes­te­jam por con­seguirem (ainda) pagar os salários e pen­sões dos servidores.

Fal­tou din­heiro? Não, fal­tou com­petên­cia. Se com­para­r­mos as receitas ori­un­das da arrecadação própria e dos repasses con­sti­tu­cionais, ver­e­mos que, ape­sar da crise que assola o país, no Maran­hão, elas mel­ho­ram em cerca de 50% (cinquenta por cento), con­forme lev­an­ta­mento de um jor­nal local.

Refletindo sobre a angús­tia do meu amigo, que me trouxe até aqui, tenho por certo que o Maran­hão piorou, e, pior, não tem per­spec­tiva de mel­hora. É só olhar para o que nos reserva o futuro.

O mal venceu e con­tin­uará a man­dar nos cidadãos de bem.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

SERIA O MARAN­HÃO A GRANJA DO SOLAR?

Escrito por Abdon Mar­inho

SERIA O MARAN­HÃO A GRANJA DO SOLAR?

Por Abdon Marinho.

DIZEM que a vida imita a arte – ou seria o con­trário: a arte que imita a vida –, seja como for, ao exam­i­nar a atual quadra da história maran­hense tenho por mim que esta é inspi­rada no clás­sico da lit­er­atura inglesa “A Rev­olução dos Bichos”, de George Orwell. O livro que teve sua primeira edição lançada em 1945 trazia o sub­tí­tulo “Um conto de fadas”, emb­ora, ape­sar de nar­rar a tomada do poder na granja solar pelos bichos, todos soubessem tratar-​se de uma clara alusão à Rev­olução Russa, de 1917, que levou os comu­nistas ao poder – e seus des­do­bra­men­tos. O que teríamos a arte a imi­tar a vida.

Aqui, por sua vez, todos somos sabedores, que não fiz­eram um “roteiro” de gov­er­nança inspi­rado na obra referida – é até provável nunca ten­ham lido tal obra, muitos até duvi­dam que saibam ler –, entre­tanto, em quase tudo, é como se a vida imi­tasse a arte.

Claro, tudo muito car­i­cat­ural e, como toda car­i­catura, sobressaindo-​se mais os defeitos que as supostas e invisíveis qual­i­dades.

Se tomásse­mos o Maran­hão pela Granja do Solar, veríamos os anti­gos donos da “granja” foram apea­dos do poder pelos comu­nistas que tais como os ani­mais do conto de fadas, se auto­de­nom­i­nam de “cama­radas”.

Tal como no conto, as promes­sas foram se esvaindo a ponto de os bichos já não perce­berem a difer­ença na admin­is­tração da “granja”, entre os humanos, a família Jones e os seus cama­radas que agora estavam no poder.

Muitas coisas para o con­junto dos bichos até pio­raram.

No poder os novos líderes da granja retomaram muitas das vel­has práti­cas ori­un­das da antiga admin­is­tração, e, dizem, “elegeram” alguns pro­te­gi­dos, com direto a rece­berem reg­u­lar­mente os favores da admin­is­tração da granja em detri­mento de outros.

Con­sta do livro a repressão a todos aque­les que “ousassem” dizer qual­quer coisa con­tra o que se pas­sava. De uma só vez diver­sos bichos foram sac­ri­fi­ca­dos ou expul­sos da granja.

Por fim, restaram na granja ape­nas aque­les que con­cor­davam com tudo que o líder dizia e aque­les que não tin­ham cor­agem de dizer nada em con­trário.

A con­cordân­cia pela con­veniên­cia e/​ou pelo medo.

No livro con­sta que cir­cu­laram boatos de uma aliança entre os bichos que estavam na admin­is­tração da granja e os anti­gos pro­pri­etários, a família Jones. Alguma verossimilhança?

Ape­sar de come­ter uma indel­i­cadeza devo dizer que a obra encerra com a granja sendo chamada pelo antigo nome e alguns bichos enquanto olham pelas frestas da casa grande onde acon­te­cia uma festa dos líderes já não enx­er­gavam mais como aque­les que os lid­er­aram no iní­cio da tomada do poder dos humanos.

O livro “A Rev­olução dos Bichos” é incon­tornável para enten­der­mos, a par­tir de uma visão crítica, o que passa ao nosso redor. Lem­bro de tê-​lo lido pela primeira vez em mea­dos dos anos oitenta, quarenta anos depois de lançado, e, desde então, mais algu­mas vezes.

Noutras ocasiões – e, tam­bém, me referindo a atual quadra política no estado –, já o tinha citado.

Nos últi­mos dias alguns acon­tec­i­men­tos – entre tan­tos –, me fiz­eram recor­dar o velho livro.

O primeiro, aprovação pela assem­bleia leg­isla­tiva do pro­jeto de lei que alterou a alíquo­tas de con­tribuição dos servi­dores.

Os sen­hores dep­uta­dos quase que aprovam a matéria pou­cas horas depois da chegada ao par­la­mento. Só não o fiz­eram em razão de algum par­la­men­tar haver pedido vis­tas, o que levou a aprovação “vapt-​vupt” para o dia seguinte.

Não se ouviu um protesto. Nem mesmo dos “valentes” rep­re­sen­tantes das cat­e­go­rias.

Como disse em um texto sobre o assunto, ainda que a matéria fosse impor­tante e se estivesse ape­nas repli­cando uma norma con­sti­tu­cional aprovada pelo Con­gresso Nacional, a inter­dição ao debate democrático é con­trária a qual­quer sen­ti­mento do que seja democ­ra­cia.

Mesmo aque­les pas­sam os dias crit­i­cando o gov­erno fed­eral – e o pres­i­dente –, acusando-​o de dita­dor, tru­cu­lento, e tan­tos out­ros xinga­men­tos de baixo calão, emude­ce­ram. Calaram-​se, diante da forma como o gov­er­nador do Maran­hão aprovou a matéria que “gar­fou” parte dos rendi­men­tos dos servi­dores públi­cos. Ainda que todos saibam que foi o atual gov­erno que que­brou a previdência.

Agora mesmo, no Paraná, onde o gov­erno local levou a Assem­bléia Leg­isla­tiva matéria semel­hante, tive­mos protestos vio­len­tos por parte dos servi­dores.

O segundo, foi o episó­dio em que um aux­il­iar do gov­erno estad­ual foi com­pelido a desculpar-​se por falar a ver­dade. Nunca tinha visto algo semel­hante. Talvez no tempo do can­gaço, em que, nos bailes, os cidadãos de bem pediam des­cul­pas aos can­ga­ceiros quando tin­ham a infe­li­ci­dade de ter os pés pisa­dos por eles.

Pois bem, o aux­il­iar do gov­erno, arti­c­ulista de um jor­nal local, escreveu, com base em dados téc­ni­cos, uma crítica à edu­cação munic­i­pal. No texto, tendo o cuidado de não “ofender” ninguém lançou a respon­s­abil­i­dade pelo desas­tre da edu­cação munic­i­pal a uma enti­dade abstrata.

Pra quê?! Os cama­radas comu­nistas par­ti­ram para cima do homem “com tudo”, por pouco não dis­seram que a edu­cação munic­i­pal é mod­elo para o Brasil – a mesma patranha que dizem em relação a edu­cação estad­ual.

Menos de quarenta e oito horas depois de pub­li­cado o texto, lá estava o aux­il­iar gov­er­na­men­tal pedindo des­cul­pas por “dizer a ver­dade”.

Ficou a dúvida se ele men­tiu ao escr­ever o texto ou ao pedir des­cul­pas por tê-​lo escrito.

O arti­c­ulista tra­balha com edu­cação e aux­ilia o gov­erno jus­ta­mente nisso. Aí você vê que essa pes­soa não pode dizer aquilo que pensa, fun­dado em dados téc­ni­cos inques­tionáveis, sem sofrer uma repri­menda dos diri­gentes par­tidários do gov­erno.

Onde esta­mos? Na União das Repúbli­cas Social­is­tas Soviética — URSS, stalinista?

Vejam, a edu­cação pública munic­i­pal é uma ver­gonha.

Ainda hoje se tra­balha com “escol­in­has” comu­nitárias e, se os números apre­sen­ta­dos pelo aux­il­iar do gov­erno estad­ual cor­re­spon­derem à ver­dade, a edu­cação pública munic­i­pal é, tam­bém, crim­i­nosa, por pri­var um grande número de cri­anças do acesso a edu­cação pública de qualidade.

Querem saber mais? A edu­cação pública estad­ual é tam­bém uma des­graça.

As autori­dades estad­u­ais ten­tam, por todas as for­mas, apare­cer bem na fita, mas a real­i­dade é que os estu­dantes sabem cada vez menos, os pro­fes­sores não podem cobrar ou reprovar aque­les que não sabem o mín­imo para pas­sar de ano e, para com­ple­tar o tragé­dia, a rede estad­ual, em detri­mento do cur­rículo básico, está “treinando” os alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio — ENEM, ao invés de educá-​los verdadeiramente.

Querem saber mais? A edu­cação brasileira é uma coisa hor­renda.

Os dados do PISA/​OCDE divul­ga­dos recen­te­mente ates­tam que o Brasil con­tinua na “rabeira” em tudo: lín­guas; ciên­cias e matemática.

A tragé­dia é pior. Os dados com­pro­vam que esse mod­elo edu­ca­cional “errado” estag­nou a apren­diza­gem no país na última década.

Os gov­er­nos brasileiros, sobre­tudo, munic­i­pais e estad­u­ais, “roubaram” uma década de edu­cação das nos­sas crianças.

Os “nos­sos” gov­er­nantes vão man­dar calar o PISA/​OCDE? Vão exi­gir que se desculpem?

Vejam, é ver­dade que o alcaide munic­i­pal não é o único respon­sável pela “tragé­dia” da edu­cação munic­i­pal, mas ele tem, sim, parcela de culpa. Ele está no poder há sete anos, o gov­er­nador há cinco anos, esse é tempo mais que sufi­ciente, senão para resolver um prob­lema que vem de décadas, pelo menos apre­sen­tar encaminhamentos.

O que fiz­eram? Nada ou quase nada?

Nos últi­mos sete anos, a notí­cia que se tem é que o Municí­pio de São Luís “perdeu” diver­sas creches e esco­las no padrão MEC, porque não foram capazes de exe­cu­tar os pro­je­tos, de con­seguir os ter­renos ou por out­ras coisas mais pro­saicas.

Em diver­sas out­ras áreas da admin­is­tração se deu a mesma coisa.

O que se diz do atual gestor é que somente agora, na reta final do sétimo ano de mandato, é que ele ressurgiu com algu­mas obras, nos sete anos para trás ninguém sabe onde estava.

Ora, temos que, para os atu­ais donatários do poder, dizer a ver­dade, expor a real­i­dade com dados é mais grave do que a situ­ação em si.

O ter­ceiro episó­dio – que já trata­mos aqui, mais de uma vez –, nos foi exposto por um jor­nal­ista em redes soci­ais. Den­tre tan­tos out­ros, narra-​nos que tem sofrido proces­sos judi­ci­ais do gov­erno estad­ual.

Não se trata de uma exe­cução de dívida inscrita na fazenda pública, ou coisa que o valha.

O “estado” sente-​se “ofen­dido” por algo que o jor­nal­ista escreveu, chama um dos seus procu­radores, pago pelo con­tribuinte, para proces­sar … o con­tribuinte.

Ape­sar da situ­ação dev­eras grave, pois não con­cebo que o estado processe cidadãos por, suposta­mente, se sen­tir “ofen­dido” – ato para o qual o Min­istério Público ainda não enx­er­gou impro­bidade admin­is­tra­tiva –, causa-​me per­plex­i­dade que não haja um protesto vee­mente de enti­dades jor­nalís­ti­cas; das de defesa da liber­dade de imprensa; das de garan­tias indi­vid­u­ais e da cidada­nia.

Além dos proces­sos que os jor­nal­is­tas já sofrem por parte das autori­dades, gov­er­nador, secretários e servi­dores diver­sos, não me parece razoável que o estado processe cidadãos pelo fato destes expres­sarem o que pen­sam sobre o estado.

Pelo con­trário, é papel do estado garan­tir que isso ocorra.

A prática do estado reprimir a liber­dade de expressão é incom­patível com a democ­ra­cia, sendo comum, ape­nas, nas ditaduras mais san­guinárias ou na Granja do Solar sob o comando dos cama­radas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A TEO­RIA DA POBREZA DIVINA.

Escrito por Abdon Mar­inho


A TEO­RIA DA POBREZA DIVINA.

Por Abdon Marinho.

DURANTE todos estes anos em que me entendo por gente sem­pre me inqui­etou a questão da pobreza no nosso estado, no nosso país.

Outro dia, lendo a col­una sem­anal do ex-​presidente Sar­ney minha dúvida se dis­sipou: somos pobres por obra e graça de Deus.

Pois é, o ex-​presidente, ao tratar da van­tagem estratég­ica do Porto do Itaqui, na col­una do dia 23/​11/​2019, assen­tou, que o Cri­ador não foi muito gen­eroso com o nosso estado, a começar pela errada avali­ação que nos­sas ter­ras eram exce­lentes quando na ver­dade são ter­ras paupér­ri­mas – exceto por uma faixa de ter­ras nas ime­di­ações dos municí­pios de Gra­jaú e For­t­aleza dos Nogueiras. Ape­nas uma man­cha, de resto ter­ras áci­das e arenosas.

Outra culpa do Cri­ador, foi não ter nos legado um minério, eco­nomi­ca­mente expres­sivo.

Estas segundo o ex-​presidente, as razões da nossa pobreza, a moti­vação para ter­mos mais de 54% (cinquenta e qua­tro por cento) da nossa pop­u­lação vivendo abaixo da linha da pobreza, e, destes, um expres­sivo con­tin­gente, sobrevindo na mis­éria absoluta.

Nos dias que se seguiram ao diag­nós­tico do ex-​presidente sobre as razões para a mis­éria do Maran­hão, esperei, esperei, esperei … e nada. Nem na Assem­bleia Leg­isla­tiva, nem na Câmara dos Dep­uta­dos, nem no Senado da República, nem no Palá­cio do gov­erno, ninguém tinha uma man­i­fes­tação, ou uma opinião sobre o que disse o velho moru­bix­aba.

Não leram? Não deram importân­cia? Con­cor­daram com o que disse?

Em quais­quer das hipóte­ses, antes de cul­par­mos o Altís­simo, talvez devêsse­mos olhar aqui mesmo para os lados e enx­erg­amos o ver­dadeiro cul­pado da des­graça que acom­panha os maran­henses desde sem­pre: a classe política, os rep­re­sen­tantes do povo, eleitos para bem representá-​los e apre­sen­tar o mel­hor cam­inho a seguir. Ao invés disso, parece que temos uma classe política que não sabe o seu papel, e, que no lugar de ret­ribuir a con­fi­ança rece­bida, trata de se dar bem e per­pet­uar a mis­éria.

Nas palavras do ex-​presidente, temos a com­pro­vação disso. Ele atribui a Deus a respon­s­abil­i­dade pela mis­éria do estado ao não nos deixar solos férteis ou ricos minérios.

Mas, ele fez o quê? Ao menos rezou?

Vejam, o ex-​presidente Sar­ney é, de longe, o político mais bem suce­dido do estado e, quiçá, do Brasil. Foi dep­utado, gov­er­nador, senador de 1970 a 1985, pres­i­dente da República, senador nova­mente, pelo Amapá de 1991 a 2015. Como senador, teve a honra, e o mérito, de pre­sidir o Senado por qua­tro vezes. Na sua car­reira política, tanto no par­la­mento quanto no poder exec­u­tivo, teve a chance de dialogar e tro­car exper­iên­cias com as maiores lid­er­anças do mundo. Ele mesmo faz questão de dizer isso.

Difi­cil­mente encon­traremos na história da República car­reira política tão proem­i­nente. E, ape­sar de tudo isso, já chegando aos noventa anos de idade e exper­iên­cia acu­mu­lada, o ex-​presidente cred­ita a Deus a respon­s­abil­i­dade pelo fato do Maran­hão, estado onde man­dou por quase cinco décadas, ser pobre, mis­erável, e encontrar-​se na rabeira de tudo que é indi­cador social e de desenvolvimento.

Pior, ninguém da classe política parece se impor­tar ou ter alguma ideia para mudar tal situ­ação. Pelo con­trário, pare­cem achar nat­ural que o Maran­hão seja pobre. Ou, talvez, con­cor­dem que a pobreza é uma graça Div­ina. Afi­nal, agora somos todos Sarney.

O próprio ex-​presidente conta que pelos anos sessenta, num dos mil­hares fóruns inter­na­cionais que par­ticipou, travou diál­ogo com Golda Meir, uma das desta­cadas lid­er­anças de Israel naque­les tumul­tua­dos dias em que ele se fir­mava. Pode­ria ter aproveitado para inda­gar como o minús­culo e árido ter­ritório estava pro­duzindo ali­men­tos, saber dos êxi­tos dos kibutz.

Pode­ria ter feito o mesmo, com diver­sos out­ros países ou mesmo esta­dos, que a despeito de pos­suírem situ­ações geográ­fi­cas des­fa­voráveis despon­tavam – e despon­tam –, como mod­e­los de desen­volvi­mento, seja na agri­cul­tura, pecuária, ou mesmo no ramo das tec­nolo­gias.

Israel é um exem­plo, o Japão é outro. E, assim, são tan­tos bons exem­p­los que poderíamos ter segui­dos para desen­volver o Maran­hão. Ainda que con­tando, ape­nas de 1966 para cá.

O Maran­hão pos­sui uma área ter­ri­to­r­ial de 331.936,95 km2 e 7 mil­hões de habi­tantes, o segundo maior estado em exten­são ter­ri­to­r­ial, ficando atrás, ape­nas, da Bahia, que pos­sui área de 564.732,45 km2 e pop­u­lação de 15.344.447 habi­tantes; é cerca de cinquenta por cento maior que o Piauí, que pos­sui área de 251.611,93 km2, onde aco­moda 3.219.257 habi­tantes; mais que o dobro da área do Ceará, que pos­sui área de 148.887,93 km2 onde aco­moda mais de 9 mil­hões de habi­tantes; e, mais que três vezes a área do estado de Per­nam­buco que pos­sui 98.076,02 km2 e pop­u­lação de 9.473.266 habi­tantes. Fique­mos ape­nas nestes na região Nordeste.

Pois bem, o valor bruto da pro­dução agropecuária maran­hense nos val­ores em reais para o ano de 2019, segundo o Min­istério da Agri­cul­tura é R$ 7.398.548.495; já o do Piauí é de R$ 4.774.627.241; o do Ceará é R$ 3.230.531.698; e o de Per­nam­buco de 5.666.115.343.

Em que pese o Maran­hão fig­u­rar na frente destes esta­dos, sabe­mos que, até pelas condições climáti­cas destes, o valor bruto da nossa pro­dução e pífio.

O VBPA do Ceará é quase metade do nosso e sabe­mos que o outro nome de seca e aridez do solo atende pelo nome de Ceará; já o Piauí, que sem­pre foi sinôn­imo de pobreza apre­senta um VBPA sig­ni­fica­tivo em relação ao nosso, mais de dois terços e o que dizer de Per­nam­buco que com uma área três vezes menor que o nosso estado quase nos alcança?

A situ­ação torna-​se ainda mais vex­atória quando com­para­mos com a Bahia, que não rep­re­senta em área ter­ri­to­r­ial dois esta­dos do Maran­hão mas que pos­sui um Valor Bruto de Pro­dução Agropecuário mais de qua­tro vezes supe­rior ao nosso, com R$ 29.126.130.583.

Se com­para­r­mos com out­ros esta­dos fora da região nordeste a situ­ação do nosso estado tam­bém não é boa.

Vejamos o estado de Rondô­nia que pos­sui uma área ter­ri­to­r­ial de cerca de dois terço do nosso ter­ritório com 237.765,29 km2 e pouco menos de 2 mil­hões de habi­tantes. O Valor Bruto da Pro­dução Agropecuária alcançou para este ano o mon­tante de R$ 10.018.082.461.

Vejamos outro estado, Santa Cata­rina, cujo ter­ritório é mais de três vezes menor que o nosso, o VBPA para este ano é de R$ 21.040.499.354;

Se com­para­r­mos com o Paraná que pos­sui ape­nas 199.307,94 km2, aí que a nossa situ­ação fica com­pli­cada. Para este ano aquele estado apre­senta como VBPA o mon­tante de R$ 72.561.183.299, ou seja, dez vezes o valor da pro­dução maran­hense, com menos de dois terços do nosso ter­ritório.

No mesmo estudo, merece destaque que a soja con­tribui com R$ 3.268.495.594; o milho com R$1.024.379.805; e, a cul­tura bov­ina com R$1.690.928.797. Estas as prin­ci­pais cul­turas do estado na com­posição do VBPA. As duas primeiras, como sabe­mos, pro­duzi­das na região sul do estado e, já no médio Par­naíba, sobre­tudo por agricul­tores vin­dos de out­ras regiões do país que acred­i­taram nas poten­cial­i­dades do estado para estas cul­turas e desafi­aram o estigma de que a nossa terra é pobre.

Se fos­sem acred­i­tar na teo­ria de que nosso solo, com exceção da “man­cha” entre os municí­pios de Gra­jaú e For­t­aleza dos Nogueiras, cer­ta­mente, estaríamos apre­sen­tando um resul­tado ainda mais pífio.

Quero dizer – como, aliás, já disse noutros tex­tos –, que o Maran­hão pode se desen­volver a par­tir da situ­ação van­ta­josa do seu posi­ciona­mento geográ­fico, pelo fato de pos­suir por­tos com situ­ações espe­ci­ais, que poderão e dev­erão, ser ampli­a­dos, pelo con­strução de novos por­tos, rodovias e fer­rovias, além, claro, da explo­ração do Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara — CLA, mas, difer­ente do entendi­mento do ex-​presidente, existe muito espaço para o cresci­mento do estado, tam­bém no setor primário, na pro­dução de arroz, milho, soja, algo­dão, assim como na pro­dução de bovi­nos, suínos, capri­nos, ovi­nos, etc.

A pro­dução agropecuária inde­pen­dente de ter­ras férteis, com espaço tudo se resolve. Poderíamos ser uma das maiores potên­cias do mundo com cul­turas no sis­tema hidropônico, por exem­plo.

O Maran­hão pos­sui um vasto ter­ritório – que alguns tolos ou mal inten­ciona­dos querem desmem­brar –, e, ainda, muitos recur­sos hídri­cos (que pre­cisamos zelar e con­ser­var), um litoral rico, um clima estável, sem con­tar as diver­sas out­ras riquezas.

Difer­ente do que pensa o ex-​presidente, o Cri­ador foi muito gen­eroso com o nosso estado, se fal­hou, não por sua culpa, mas pela nossa, foi quanto aos homens que con­duzem os nos­sos des­ti­nos, estes sim, desprovi­dos de quais­quer con­hec­i­men­tos e capaci­dades. Essa é a nossa única des­graça.

Gov­er­nantes do pas­sado, do pre­sente – e já temo pelo futuro –, nunca foram capazes de traçar um pro­jeto de desen­volvi­mento para o estado. A prova disso é a mis­éria que grassa os lares e que só tem aumen­tado a despeito dos dis­cur­sos tor­tos; a prova disso é ter­mos a maior lid­er­ança política do estado e país, dizendo que nossa pobreza se deve à falta de gen­erosi­dade de Deus.

Abdon Mar­inho é advogado.