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Ainda bem, não é, Lula?

Escrito por Abdon Mar­inho

AINDA BEM, NÃO É, LULA?

Abdon Mar­inho.

QUANDO a pan­demia do novo coro­n­avírus ceifou a vida de cinco mil irmãos brasileiros, o pres­i­dente da República, sen­hor Bol­sonaro, inda­gado sobre o vol­ume de mor­tos, saiu-​se com a seguinte frase: “E, daí? Lamento, sou mes­sias, mas não faço mila­gres”.

Pen­sei ter ouvido a maior boçal­i­dades já dita por uma pes­soa a respeito de tan­tas vidas per­di­das – muitas delas por culpa do próprio gov­erno –, e, assis­tido ao maior exem­plo de falta de empa­tia e de respeito, não ape­nas pelos mor­tos – que já não lêem os epitá­fios das man­hãs –, como bem dizia o poeta e escritor Nauro Machado, mas por suas famílias restam sofrendo suas per­das.

Depois, claro, ainda tive­mos o con­vite para chur­rasco – sub­sti­tuído pelo pas­seio de moto aquática –, quando o número de mor­tos chegou a dez mil; e, por último, com o número de óbitos diários pas­sando dos mil e a mor­tan­dade total chegando a vinte mil, a piad­inha infame e poli­ti­zada de que “os de dire­ita tomam cloro­quina e os de esquerda, tomam tubaína”.

Isso é coisa que um pres­i­dente da República, em meio a uma tragé­dia de tamanha mag­ni­tude, faça? Alguém con­segue imag­i­nar um grande líder mundial, um estadista, que ver­dadeira­mente mereça esse título, fazer tão pouco caso com a des­graça de seus gov­er­na­dos? Com o deses­pero dos seus famil­iares ante a perda de um ente querido? Ou, mais de um, como temos visto acontecer?

Chego a dolorosa con­clusão que, talvez, o caso de sua excelên­cia, seja de internação.

Pois bem, como des­graça pouca é bobagem, no mesmo dia em o sen­hor pres­i­dente fazia a piad­inha infame, foi a vez dos seus algo­zes da esquerda engolirem o cuspe e silen­cia­rem diante de uma frase tão ou mais infamante quanto qual­quer uma já dita pelo atual pres­i­dente da República, durante essa pandemia.

No mesmo dia em que o Brasil “cravava” o triste recorde de perder mais de mil brasileiros em um único dia — acred­ito que o maior número diário para uma nação, até mesmo para os Esta­dos Unidos, com seu mais de um mil­hão de meio de infec­ta­dos –, e “beirar­mos” a assom­brosa marca de 20 mil mor­tos para a pan­demia, foi a vez do ex-​presidente Lula da Silva, em entre­vista ao jor­nal­ista Mino Carta da revista “Carta Cap­i­tal”, saudar o surg­i­mento do novo coronavírus.

A frase com­pleta do ex-​presidente, para que não digam que foi tirada do con­texto é a seguinte: “Ainda bem que a natureza, con­tra a von­tade da humanidade, criou esse mon­stro chamado coro­n­avírus. Porque esse mon­stro está per­mitindo que os cegos come­cem a enx­er­gar que ape­nas o Estado é capaz de dar solução a deter­mi­nadas crises”.

Ainda bem, “né”, Lula?

Como disse, a sociopa­tia do pres­i­dente é caso de inter­nação. Mas, o que dizer de alguém que “se vende” – e é “com­prado” por uma grande parcela da sociedade brasileira e mundial –, como um grande líder das mul­ti­dões se sai com esse tipo de coisa?

Ainda que de forma incon­sciente – dou esse desconto “inde­v­ido” por conta de sua baixa instrução –, o Lula, rev­e­lando sua total amoral­i­dade, cor­rob­ora com o dis­curso das fran­jas “bol­sonar­is­tas” de que essa maldita molés­tia, que está trazendo infortúnio a tan­tos lares no Brasil e no mundo, é uma arma política para ser usada ide­o­logi­ca­mente a favor do seu par­tido e da sua causa.

Na visão do ex-​presidente Lula, o balu­arte da esquerda brasileira, o vírus é “bom” pois está trazendo luz ao seu dis­curso sobre a importân­cia do Estado macro.

É isso que o Lula diz com todas a letras.

E, não duvido que inter­na­mente, a despeito de tanto sofri­mento que o vírus está cau­sando, deseje que ele mate muito mais brasileiros, talvez cem, cento e cinquenta, talvez duzen­tos mil.

Aí sim, o brasileiros vão “enx­er­gar” a mar­avilha que é o estado macro, prove­dor de todas as neces­si­dades da humanidade.

Veja que o Lula, malan­dra­mente, diz que o vírus é uma “con­spir­ação” da natureza con­tra von­tade da humanidade.

Qual o propósito disso? Sim­ples, afir­mar que a natureza “pro­duziu” o vírus para que a humanidade pas­sasse a enx­er­gar que “ape­nas o Estado é capaz de dar solução a deter­mi­nadas crises”, o macro estado, o estado comu­nista é, por outro lado, afas­tar a ideia – e sus­peita de muitos –, de que o vírus seria uma arma biológ­ica cri­ada proposi­tal­mente pelo gov­erno Chinês ou mesmo que, invol­un­tari­a­mente, tal exper­i­mento, “fugiu” do con­t­role de seus laboratórios.

Essa tese de arma biológ­ica já foi descar­tada por cien­tis­tas sérios, porém ainda ali­menta os son­hos deli­rantes de cer­tas fran­jas dire­itis­tas que querem bus­car um cul­pado e de prefer­ên­cia que ele (o cul­pado) seja o inimigo ide­ológico principal.

O ex-​presidente Lula na sua frase imoral e ver­gonhosa tenta con­struir nar­ra­tiva – que não duvido seja assim­i­lada e “com­prada” por grande parte dos seus seguidores.

Mas, vendo de outro modo, se o vírus fosse uma cri­ação humana e não nat­ural, com o condão de levar a luz as pes­soas para enx­er­garem as mar­avil­has do Estado macro, ele perde­ria o sta­tus de “ainda bem”?

Acom­pan­hando a vida política brasileira há tan­tos, emb­ora fique chocado – como agora –, com as enormi­dades ditas por Lula, elas já não me causam surpresas.

O que me causa estu­por, ver­dadeira­mente, é a hipocrisia dos seus ali­a­dos.

Há pouco mais de vinte dias, quando o pres­i­dente da República, pro­feriu o infamante “e, daí?”, diante dos mil­hares de mor­tos, pági­nas e pági­nas de jor­nais, bits e bits de inter­net foram gas­tos para para repu­diar – com razão –, a sua colo­cação desastrada.

A frase do pres­i­dente da República, infame, infe­liz, debochada, escrota, e tudo mais que se possa adje­ti­var, foi dita num con­texto de situ­ação posta. Isso está feito, e, daí?

Claro, dita por alguém que tem a respon­s­abil­i­dade de diri­gir o país, o que a agrava substancialmente.

Mas, a frase do ex-​presidente Lula, que dirigiu o país por oito anos, que elegeu suces­sor e tudo mais – emb­ora não tenha ele respon­s­abil­i­dade atual pelo rumos do país –, se reveste de muito mais gravi­dade.

O Lula, assim como o Bol­sonaro, rev­ela total indifer­ença pelo sofri­mento das pes­soas, a mesma falta de empa­tia e de respeito, e com uma agra­vante, ele “saúda” o vírus como uma coisa boa, como um “lib­er­ta­dor” da cegueira coletiva.

E faz isso moti­vado pelo mais mesquinho dos inter­esses: o inter­esse politico/​eleitoral, pela guerra pelo poder, pelo inter­esse ideológico.

Para Lula, o que sig­nifica mil­hares de vidas humanas diante do ganho político e ideológico?

O Lula não é pior que seus ali­a­dos, sub­al­ter­nos ou adu­ladores.

Todos colo­cam “a causa” à frente da vida, da ética ou da humanidade.

Não fiz­eram do roubo aos recur­sos públi­cos uma “causa de Estado”?

No fundo repro­duzem a velha e hor­renda frase de Stalin, para quem a morte de uma pes­soa era uma tragé­dia, mas a morte de mil­hões era uma estatística.

Daí o silên­cio obse­quioso que fazem diante desta última enormi­dade de Lula. Cadê os “tex­tões” de repulsa? Cadê os tuítes histéricos?

O silên­cio. Só restou o silêncio.

No fundo a ver­dadeira doença que infesta e mal­trata mais esse esse pais e a doença moral.

É a doença moral que faz com que não importe o que se diga, mas quem o diga.

Abdon Mar­inho é advogado.

PS. A ilus­tração é uma gen­til colab­o­ração do amigo Cordeiro Filho.

Fra­cas­samos. O Brasil fra­cas­sou. O Maran­hão fracassou.

Escrito por Abdon Mar­inho

FRACAS­SAMOS. O BRASIL FRA­CAS­SOU. O MARAN­HÃO FRACASSOU.

Por Abdon Marinho.

PODE pare­cer mór­bido – ainda que feito na mel­hor das intenções: orar pelos que par­ti­ram –, mas, quase todos os dias, antes de me recol­her, dou uma última con­ferida no número de infec­ta­dos e mor­tos pelo novo coronavírus.

Con­firo a situ­ação no mundo, através de um aplica­tivo de mon­i­tora­mento, olho a situ­ação nos mais vari­a­dos países, das Améri­cas, da Europa, da Ásia, da Ocea­nia; depois me dedico a situ­ação do Brasil, olhando a situ­ação de cada estado, vejo onde aumen­tou, o quanto aumen­tou, se esta­bi­li­zou – faço isso através do site G1; por fim, exam­ino os números do Maran­hão, olhando o quanto que aumen­tou, as mortes, o alas­tra­mento da pan­demia pelo inte­rior – geral­mente alguém me encam­inha o bole­tim epi­demi­ológico disponi­bi­lizado pelas 21 horas.

Uma das coisas que mais me chama a atenção nas análises, antes mesmo dos números, é a posição da curva de infec­ta­dos.

A do Brasil, com­parada com out­ros países, mesmo aque­les que têm mais casos que nós, parece-​me, assus­ta­do­ra­mente, incli­nada.

O mesmo ocorre com a curva do Maran­hão, e os números con­fir­mam isso, como já dis­se­mos aqui diver­sas vezes.

Em relação aos nos­sos viz­in­hos, que começaram a reg­is­tar casos em datas semel­hantes aos reg­istra­dos por aqui, a situ­ação só encon­tra para­lelo com o Pará.

Já o Brasil, para o des­gosto de todos, tornou-​se uma ameaça san­itária para os viz­in­hos e para o mundo, a ponto de diver­sos países, como, tam­bém, já frisamos aqui, mes­mos quando suas situ­ações eram deses­per­ado­ras, recomen­darem que seus cidadãos deix­as­sem o nosso país o quanto antes.

O fra­casso foi anun­ci­ado desde muito tempo. Fra­cas­samos. O Brasil e o Maran­hão fra­cas­saram na imple­men­tação de políti­cas de com­bate a pan­demia do novo coro­n­avírus.

Cada um a seu modo, mas com resul­ta­dos, no fim das con­tas, idênticos.

As razões do fra­casso estão aí mate­ri­al­izadas nos mil­hares de mor­tos, nas mil­hares de famílias enlutadas.

Estão aí na maior crise econômica que se tem noti­cia – desde sempre.

Estão aí nos mil­hares de empre­gos já per­di­dos e nos que ainda serão per­di­dos ao longo dos próx­i­mos anos, nos seus danos colaterais.

E não é só, a falta de con­fi­a­bil­i­dade nos agentes políti­cos brasileiros na con­dução da crise do coro­n­avírus e na reaber­tura do mer­cado, afu­gen­tará os investi­dores já ress­abi­a­dos com o avanço dos par­tidos fisi­ológi­cos sobre a política econômica do gov­erno.

Tudo isso tornará o nosso fra­casso ainda mais retumbante.

O fra­casso do Brasil no com­bate ao coro­n­avírus e aos seus efeitos deletérios futuros podemos cred­i­tar, em grande parte, à ausên­cia de governo.

A ver­dade seja dita, enquanto o mundo todo se cur­vava a ciên­cia em busca de uma solução para a pan­demia o nosso pres­i­dente fazia pouco caso, gripez­inha, vai con­t­a­m­i­nar mesmo, desaguando, por fim, no “e, daí?”, quando o número de mor­tos chegou a cinco mil, e no anún­cio de chur­rasco – depois trans­for­mado em pas­seio de moto-​aquática –, quando os mor­tos atin­gi­ram a assom­brosa casa dos dez mil.

Ape­nas para reg­istro, o número de mor­tos nesta pan­demia é muito supe­rior a todas as per­das humanas sofridas pelo país – mesmo as guer­ras –, em mais de cem anos.

Vejam, enquanto todos os chefes de Estado do mundo con­stroem con­sen­sos inter­nos para com­bater a pan­demia, o nosso pres­i­dente busca a dis­sensão, o con­flito com os demais poderes da República, com os gov­er­nos estad­u­ais, e semeia a dis­cór­dia entre os próprios inte­grantes do governo.

Quem pode­ria imag­i­nar que um pres­i­dente da República pode­ria demi­tir seu min­istro da saúde, em plena pan­demia, só para provar que man­dava?

O novo min­istro, com quase um mês no cargo, não vez nada de difer­ente do ante­rior, e, além de ali­men­tar a indús­tria de “memes”, não disse a que veio.

Uma sem­ana depois foi a vez de demi­tir o min­istro da justiça e um dos pilares do gov­erno.

Detalhe, ambos os min­istros foram demi­ti­dos jus­ta­mente por estarem fazendo um tra­balho, recon­heci­da­mente, bem feito.

Mas não é só, além de não assumir o comando da nação em momento de tamanha gravi­dade, bem difer­ente do que fez a chanceler alemã, os primeiros-​ministros, inglês e espan­hol, os pres­i­dentes de Por­tu­gal, da França e até dos Esta­dos Unidos, o nosso pres­i­dente se empen­hou em sab­o­tar as medi­das de restrições impostas pelos gov­er­nos estad­u­ais e munic­i­pais, suposta­mente, em nome da causa maior da “economia”.

O resul­tado é desas­troso para o país – para a saúde da pop­u­lação e para a econo­mia.

Enquanto a maio­ria dos países que tomaram as medi­das, a tempo e modo cer­tos, para diminuir o con­tá­gio, depois de 60 dias começam a sair, ainda que cautelosa­mente, do con­fi­na­mento e a retomar as ativi­dades econômi­cas, o Brasil está parado pelo mesmo tempo, mas não sabe quando poderá retomar – ou retomar com segu­rança a ativi­dade econômica do país, sob pena de muitas mortes, porque à falta de gov­erno, operou um iso­la­mento par­cial e a curva de con­tá­gio ainda está ascendente.

Esta, tam­bém, uma das razões pelas quais os investi­dores querem tomar dis­tân­cia do nosso país – sem con­tar a grave situ­ação de ter­mos nos tor­nado uma espé­cie de pária global, que ninguém con­fia.

Qual a jus­ti­fica­tiva ou moti­vação o Brasil deu para desafiar o con­senso global quanto a pan­demia? Nen­hum.

Assim como não tem qual­quer plano para o retorno das ativi­dades econômi­cas, ali­a­dos a isso, a pro­funda insta­bil­i­dade política cau­sada pelo gov­erno.

Com declar­ações e medi­das erráti­cas, suposta­mente para pro­te­ger a econo­mia, o gov­erno, que se tornou uma usina de crise, aumen­tou o nosso caos econômico.

A econo­mia do país é glob­al­izada. Você não con­segue protegê-​la sem a con­fi­ança dos demais países.

Essa mer­cado­ria, con­fi­ança, é tudo que não temos mais.

Nem mesmo os Esta­dos Unidos – para quem o atual gov­erno fez juras de amor eterno e submeteu-​se a tudo –, está do lado do Brasil.

O pres­i­dente amer­i­cano quase todos os dias crit­ica – com razão –, os rumos ado­ta­dos pelo nosso pais.

Mesmo os Esta­dos Unidos, com mais de um mil­hão de infec­ta­dos e mais de 80 mil óbitos, dizem que o Brasil não fez o “dever de casa” cor­re­ta­mente.

Na defesa do pres­i­dente suas fran­jas saem com o dis­curso: “a culpa é dos esta­dos, o gov­erno man­dou o din­heiro para com­bater a pandemia”.

Sem desprezar a importân­cia dos recur­sos, muitas vezes mais impor­tante do que o din­heiro em si, é a pre­sença do gov­erno, é dis­curso uni­forme, são medi­das coer­entes. Sem isso, o que fize­mos foi “jogar fora” bil­hões e bil­hões de reais.

Estou certo que uma parte salvou vidas, mas a maior parte dos recur­sos, fru­tos do sac­ri­fí­cio que esta­mos pas­sando e pelos quais pas­sarão as ger­ações futuras, foi e está sendo jogado fora, no lixo. Tudo pela falta de governo.

O Brasil fra­cassa mis­er­av­el­mente no com­bate à pan­demia e na recu­per­ação da economia.

Quando exam­ino os dados do Brasil, por estado, me per­gunto a razão do Maran­hão, ao invés de se espel­har no que vem sendo feito no Piauí, se inspi­rar no que acon­tece no Pará.

O Maran­hão, decerto, não é o pior – pelos últi­mos dados ocu­pava o sétimo –, mas, não pode­ria estar melhor?

O Piauí, aqui do lado, faz uma polit­ica de enfrenta­mento a pan­demia de forma mais efi­ciente; o Tocan­tins, ape­sar de suas pecu­liari­dades, a mesma coisa; Minas Gerais, a despeito de uma pop­u­lação três vezes maior que nossa, tam­bém; assim como diver­sos out­ros esta­dos já cita­dos em tex­tos anteriores.

Claro que parte do insucesso pode ser atribuído aos desac­er­tos do con­texto nacional. Mas por que afe­tou mais ao Maran­hão que aos demais esta­dos cita­dos anteriormente?

Acred­ito – ainda que sem qual­quer amparo –, que as causas do nosso fra­casso no com­bate à pan­demia são dev­i­das a poli­ti­za­ção da doença.

Nos­sos gov­er­nantes ao invés de estarem foca­dos no com­bate à pan­demia (tam­bém) estavam na “rinha” do enfrenta­mento ide­ológico com o pres­i­dente da República.

Enquanto em out­ros esta­dos os gov­er­nadores não “estavam nem aí” para o que dizia (ou diz) a Maria Antoni­eta do planalto, “nosso líder”, até quando não tinha nada para dizer ia atrás de quizilas.

Durante essa crise pouco temos ouvido falar nos gov­er­nadores e prefeitos que apre­sen­tam mel­hores resul­ta­dos no com­bate a pandemia.

Já os out­ros todos os dias estão na “mídia”.

É o caso do Maran­hão.

Desde o começo percebe-​se que o gov­erno estad­ual não tem um roteiro bem definido (talvez roteiro algum) para com­bater a pan­demia.

Ape­sar do gov­er­nador dizer que iria seguir rig­orosa­mente as ori­en­tações da ciên­cia, não con­hece­mos a equipe de cien­tis­tas que este­jam ori­en­tando o gov­erno na tomada de decisões.

E muito pior que isso, a maio­ria das decisões são ques­tion­adas pelos cidadãos.

Não é ape­nas a imprensa ou o Min­istério Público que ques­tionam a ausên­cia de transparên­cia das autori­dades locais, mesmo para o cidadão comum elas são incom­preen­síveis e sem lógica.

Vejam um exem­plo, uma sem­ana depois de anun­ciar a medida extrema de iso­la­mento, o tal do lock­down, leio que sua excelên­cia infor­mou o retorno das ativi­dades econômi­cas já para o dia 21 de maio.

Ora, se o estado já estava cam­in­hando para o retomar a nor­mal­i­dade porque o gov­erno aceitou a imposição judi­cial do lock­down – e ainda deter­mi­nou um rodízio de veícu­los na cap­i­tal e nos municí­pios vizinhos?

Se, por outro lado, necessárias as medi­das, como falar em retorno das ativi­dades econômicas?

Agora dizem que fiz­eram um acordo judi­cial para levar o lock­down até o dia 17 de maio.

Quer dizer que saire­mos do iso­la­mento extremo para o retorno das ativi­dades econômi­cas a “todo vapor”?

Quem coloca a cabeça para pen­sar – mesmo que só um pouquinho –, fica com a impressão de que as autori­dades maran­henses, o gov­er­nador à frente, não sabem nada do que dizem.

Uma espé­cie de “Bol­sonaro” com o sinal tro­cado.

Os últi­mos dados cole­ta­dos apon­tavam para um com­pro­me­ti­mento de 97% (noventa e sete por cento) dos leitos de UTI; o gov­erno baix­ava decreto para se socor­rer dos leitos da rede pri­vada; as pes­soas já agon­i­zavam nas recepções da UPAS – e mor­riam – enquanto aguardam por uma vaga.

Isso tudo acon­te­cendo sem que a demanda dos pacientes do inte­rior – para onde a pan­demia começa a se alas­trar –, se torne mais intensa.

Já são mil­hares de infec­ta­dos no inte­rior. Mesmo os menores municí­pios já apre­sen­tam casos de trans­mis­são comu­nitária.

É quase certo que exista um número sig­ni­fica­tivo de sub­no­ti­fi­cações.

A rede de saúde do inte­rior do estado é muito precária, muitos municí­pios não pos­suem condições de faz­erem um atendi­mento básico.

Se não encon­trar­mos uma forma de trata­mento efi­caz logo, o que vai acon­te­cer quando a “pro­cis­são de ambulân­cias”, de todos os can­tos do estado, começarem a se diri­gir para a cap­i­tal em busca de tratamento?

Faço estas reflexões da minha quar­entena de quase 60 dias, chegando a duas con­clusões: a primeira, é que o fra­casso do Brasil e do Maran­hão está ai, à vista de todos; a segunda, é que a ignorân­cia ide­ol­o­gizada mata. A pan­demia está provando isso.

Abdon Mar­inho é advogado.

Pan­demia ideológica.

Escrito por Abdon Mar­inho

PAN­DEMIA IDEOLÓGICA.

Por Abdon Marinho.

UM AMIGO me manda uma fotomon­tagem com um quadro com­par­a­tivo da situ­ação da pan­demia no Maran­hão e em Minas Gerais. Indaga-​me o que acho das infor­mações ali contidas.

Em con­tra­posição, um outro amigo, por sua vez, manda idên­tica fotomon­tagem, mostrando, desta feita, o quadro com­par­a­tivo da pan­demia no Brasil e na Índia.

As duas, por assim dizer, são “provo­cações” sobre a mel­hor forma de tratar a pan­demia do coro­n­avírus que se espalha pelo mundo e que, no Brasil, virou instru­mento de uma guerra ide­ológ­ica nunca vista ou imag­i­nada em qual­quer tempo da história – é essa, a guerra política e ide­ológ­ica, ao nosso sen­tir, uma das causas de estarem ocor­rendo tan­tas mortes no Brasil.

Começando pela segunda peça que com­para a situ­ação do Brasil e a da Índia diz que aquele país, a despeito de pos­suir uma pop­u­lação de 1 bil­hão e 300 mil­hões de pes­soas, reg­is­tra números de infec­ta­dos e de mor­tos bem infe­ri­ores aos números do nosso país para ambos os que­si­tos.

Cred­i­tando isso à rígida política de iso­la­mento social ado­tada por lá, o que difere, em muito, do que defende o gov­erno fed­eral do Brasil.

Não sei em que está­gio se encon­tra a pen­e­tração do coro­n­avírus no ter­ritório indi­ano, de qual­quer modo há de se recon­hecer que só o fato de reg­is­trar, em qual­quer está­gio, os números que reg­is­tram, con­siderando as condições extrema­mente precária em que vive a maio­ria da sua imensa pop­u­lação, é digno de elo­gios.

Não há como negar, tam­bém, que todos os países que min­i­mizaram per­das humanas nesta primeira onda da doença foram aque­les que ado­taram medi­das rig­orosas de restrições e que tra­bal­haram com a testagem da pop­u­lação.

Foi assim com Ale­manha, a Aus­trália, a Nova Zelân­dia, Por­tu­gal, e mesmo a Argentina.

Por outro lado, aque­les que demor­aram a ado­tar medi­das ou apos­taram na chamada “imu­nidade de rebanho”, enfrentaram per­das humanas sig­ni­fica­ti­vas, é o caso da Itália, da França, da Espanha, do Reino Unido e dos Esta­dos Unidos.

No chamado mundo oci­den­tal ape­nas a Sué­cia não impôs restrições à cir­cu­lação de pes­soas – apo­s­tando na imu­nidade de rebanho –, e reg­is­tra um número muito alto de víti­mas se com­para­dos aos países viz­in­hos, Noruega, Fin­lân­dia e Dina­marca.

Diante disso, até aqui, pelo menos, temos por certo que o con­senso cien­tí­fico em torno do tema tem se mostrado correto.

Com relação ao primeiro quadro com­par­a­tivo referido, o que com­para a real­i­dade do Maran­hão à de Minas Gerais, entendo caberem algu­mas considerações.

A primeira delas é que difer­ente do que aponta o quadro, Minas Gerais não apre­senta um resul­tado mel­hor no com­bate ao vírus por “man­ter flex­i­bi­lizado o comér­cio”, como coloca o quadro, em con­tra­posição ao Maran­hão que man­teve (e man­tém) “restrições ao comér­cio”, e agora até implan­tou, por deter­mi­nação da justiça, o chamado lock­down, nos municí­pios de São Luís, São José de Riba­mar, Paço do Lumiar e Raposa, onde se encon­tra o maior número de casos.

Emb­ora a pre­missa no quadro com­par­a­tivo seja falsa, não foi a flex­i­bi­liza­ção no comér­cio que “impediu” a expan­são do vírus em Minas Gerais ou restrição do comér­cio a “respon­sável” pela expan­são do vírus no Maran­hão, é certo que alguém fez mel­hor o “dever de casa” do que out­ros.

Os números falam por si e não mentem.

A Orga­ni­za­ção Mundial da Saúde — OMS, declarou situ­ação de pan­demia global no dia 14 de março, já nos dias seguintes começaram as restrições no estado, aulas sus­pen­sas, ativi­dades não essen­ci­ais par­al­isadas.

Resta saber o que as autori­dades do Maran­hão deixaram de fazer – ou não fiz­eram à con­tento –, para reg­is­trar números tão des­fa­voráveis, não ape­nas em relação ao Estado de Minas Gerais, que pos­sui uma pop­u­lação três vezes supe­rior à nossa, mas, tam­bém, em relação a out­ros esta­dos da fed­er­ação, como o Rio Grande do Sul, que tem pouco mais de um terço, em relação aos casos de con­tá­gios reg­istra­dos por aqui e nem um terço dos óbitos, se com­para­dos aos nos­sos; Mato Grosso, com pouco mais de qua­tro­cen­tos casos, e pouco mais de uma dezena de mor­tos; Mato Grosso do Sul, com cerca de trezen­tos casos de con­tá­gio e uma dezena de mor­tos; ou mesmo o viz­inho estado do Piauí, que pos­sui pouco mais de mil casos de con­tá­gio e pouco mais de trinta óbitos, dez vezes menos que o reg­istrado aqui.

Além destes esta­dos, ainda merece destaque o Tocan­tins, com pouco mais de qua­tro­cen­tos casos de con­tá­gio e menos de dez mortos.

Os Esta­dos cita­dos como exem­p­los não estão aguardando o pico de con­tá­gio chegar por lá, pelo que vi na mídia, já estão, sim, ten­tando retornar à vida nor­mal – que torce­mos, seja feita com todas as caute­las necessárias para que não se tenha um recrude­sci­mento de con­tá­gio.

Emb­ora não me caiba jul­gar – ainda mais estando de fora –, talvez seja hora das autori­dades do estado avaliarem o que fiz­eram, até aqui, de errado – ou não tão certo –, a ponto de provo­car números tão des­fa­voráveis e que, infe­liz­mente, con­tin­uam subindo, enquanto vemos out­ros esta­dos já flex­i­bi­lizando as medi­das de restrições.

Com tris­teza reg­istro que ao serem com­peli­dos, pela justiça, para adotarem medi­das mais duras, como lock­down, autori­dades “fes­te­jem” por estarem na “van­guarda”.

Talvez na van­guarda do atraso.

Não vejo os mineiros, os mato-​grossenses, sul-​mato-​grossenses, ou mesmo os piauienses cobiçando nossa “vanguarda”.

Não sei se por conta da pan­demia ide­ológ­ica, chegam-​nos áudios e/​ou men­sagens de texto acu­sando o gov­erno local de não uti­lizarem (ou uti­lizarem menos do que dev­e­riam) os testes repas­sa­dos pelo gov­erno fed­eral; ou de não ado­tar (ou retar­dar) o uso da hidrox­i­cloro­quina no trata­mento dos enfer­mos, suposta­mente, para não darem razão ao pres­i­dente da República, que recomen­dou o trata­mento – ainda que sem qual­quer embasa­mento cien­tifico –, desde o inicio.

Não sabe­mos se existe qual­quer amparo para as acusações, mas por outro lado, em que pese ter­mos um sig­ni­fica­tivo número de recu­per­a­dos e a curva de con­tá­gio não seja tão ascen­dente como no Ama­zonas, Amapá, Ceará ou Per­nam­buco – só para citar os exem­p­los mais próx­i­mos –, o número de infec­ta­dos cresce assus­ta­do­ra­mente, inclu­sive no inte­rior, e os óbitos já se con­tam nas cen­te­nas.

Há bem pouco tempo – pouco mais de um mês –, quando a pan­demia começava a reg­is­trar seus óbitos no Brasil, lem­bro que quando atingiu a fatídica marca de 300 mor­tos, o gov­er­nador do estado escreveu um tuíte, dizendo que aman­hecera aquela quan­ti­dade de mor­tos na porta do pres­i­dente, sendo admoes­tado, por sua insen­si­bil­i­dade, pelo gen­eral Augusto Heleno.

Hoje, para o nosso pesar, só o Maran­hão ultra­passa essa marca. Em respeito às víti­mas e seus famil­iares jamais se dev­erá dizer que os mor­tos aman­hece­ram na porta dos Leões.

O que não fize­mos dire­ito, já que sabíamos criticar? Por que seguimos o exem­plo dos esta­dos onde os números da tragé­dia estão nas alturas ou invés de seguirmos aque­les esta­dos de forma silen­ciosa e sem alarde con­seguiram ou estão con­seguindo apre­sen­tar mel­hores resultados?

Como disse desde o iní­cio não é com pirotec­nia, excesso de pro­pa­ganda ou pros­elit­ismo politico que ire­mos com­bater a pan­demia e poupar vidas, mas, sim, com o tra­balho sério, dis­creto, trans­par­ente e sem ide­ol­o­gismo, como aquele real­izado pelos esta­dos que, até aqui, apre­sen­tam os mel­hores resul­ta­dos que os nos­sos.

As autori­dades e, prin­ci­pal­mente, a pop­u­lação talvez devesse refle­tir sobre isso.

Abdon Mar­inho é advogado.

* Os números que apare­cem nas ima­gens, como de se esperar, estão defasa­dos, rep­re­sen­tava a situ­ação naquele momento.