AbdonMarinho - Fracassamos. O Brasil fracassou. O Maranhão fracassou.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Fra­cas­samos. O Brasil fra­cas­sou. O Maran­hão fracassou.

FRACAS­SAMOS. O BRASIL FRA­CAS­SOU. O MARAN­HÃO FRACASSOU.

Por Abdon Marinho.

PODE pare­cer mór­bido – ainda que feito na mel­hor das intenções: orar pelos que par­ti­ram –, mas, quase todos os dias, antes de me recol­her, dou uma última con­ferida no número de infec­ta­dos e mor­tos pelo novo coronavírus.

Con­firo a situ­ação no mundo, através de um aplica­tivo de mon­i­tora­mento, olho a situ­ação nos mais vari­a­dos países, das Améri­cas, da Europa, da Ásia, da Ocea­nia; depois me dedico a situ­ação do Brasil, olhando a situ­ação de cada estado, vejo onde aumen­tou, o quanto aumen­tou, se esta­bi­li­zou – faço isso através do site G1; por fim, exam­ino os números do Maran­hão, olhando o quanto que aumen­tou, as mortes, o alas­tra­mento da pan­demia pelo inte­rior – geral­mente alguém me encam­inha o bole­tim epi­demi­ológico disponi­bi­lizado pelas 21 horas.

Uma das coisas que mais me chama a atenção nas análises, antes mesmo dos números, é a posição da curva de infec­ta­dos.

A do Brasil, com­parada com out­ros países, mesmo aque­les que têm mais casos que nós, parece-​me, assus­ta­do­ra­mente, incli­nada.

O mesmo ocorre com a curva do Maran­hão, e os números con­fir­mam isso, como já dis­se­mos aqui diver­sas vezes.

Em relação aos nos­sos viz­in­hos, que começaram a reg­is­tar casos em datas semel­hantes aos reg­istra­dos por aqui, a situ­ação só encon­tra para­lelo com o Pará.

Já o Brasil, para o des­gosto de todos, tornou-​se uma ameaça san­itária para os viz­in­hos e para o mundo, a ponto de diver­sos países, como, tam­bém, já frisamos aqui, mes­mos quando suas situ­ações eram deses­per­ado­ras, recomen­darem que seus cidadãos deix­as­sem o nosso país o quanto antes.

O fra­casso foi anun­ci­ado desde muito tempo. Fra­cas­samos. O Brasil e o Maran­hão fra­cas­saram na imple­men­tação de políti­cas de com­bate a pan­demia do novo coro­n­avírus.

Cada um a seu modo, mas com resul­ta­dos, no fim das con­tas, idênticos.

As razões do fra­casso estão aí mate­ri­al­izadas nos mil­hares de mor­tos, nas mil­hares de famílias enlutadas.

Estão aí na maior crise econômica que se tem noti­cia – desde sempre.

Estão aí nos mil­hares de empre­gos já per­di­dos e nos que ainda serão per­di­dos ao longo dos próx­i­mos anos, nos seus danos colaterais.

E não é só, a falta de con­fi­a­bil­i­dade nos agentes políti­cos brasileiros na con­dução da crise do coro­n­avírus e na reaber­tura do mer­cado, afu­gen­tará os investi­dores já ress­abi­a­dos com o avanço dos par­tidos fisi­ológi­cos sobre a política econômica do gov­erno.

Tudo isso tornará o nosso fra­casso ainda mais retumbante.

O fra­casso do Brasil no com­bate ao coro­n­avírus e aos seus efeitos deletérios futuros podemos cred­i­tar, em grande parte, à ausên­cia de governo.

A ver­dade seja dita, enquanto o mundo todo se cur­vava a ciên­cia em busca de uma solução para a pan­demia o nosso pres­i­dente fazia pouco caso, gripez­inha, vai con­t­a­m­i­nar mesmo, desaguando, por fim, no “e, daí?”, quando o número de mor­tos chegou a cinco mil, e no anún­cio de chur­rasco – depois trans­for­mado em pas­seio de moto-​aquática –, quando os mor­tos atin­gi­ram a assom­brosa casa dos dez mil.

Ape­nas para reg­istro, o número de mor­tos nesta pan­demia é muito supe­rior a todas as per­das humanas sofridas pelo país – mesmo as guer­ras –, em mais de cem anos.

Vejam, enquanto todos os chefes de Estado do mundo con­stroem con­sen­sos inter­nos para com­bater a pan­demia, o nosso pres­i­dente busca a dis­sensão, o con­flito com os demais poderes da República, com os gov­er­nos estad­u­ais, e semeia a dis­cór­dia entre os próprios inte­grantes do governo.

Quem pode­ria imag­i­nar que um pres­i­dente da República pode­ria demi­tir seu min­istro da saúde, em plena pan­demia, só para provar que man­dava?

O novo min­istro, com quase um mês no cargo, não vez nada de difer­ente do ante­rior, e, além de ali­men­tar a indús­tria de “memes”, não disse a que veio.

Uma sem­ana depois foi a vez de demi­tir o min­istro da justiça e um dos pilares do gov­erno.

Detalhe, ambos os min­istros foram demi­ti­dos jus­ta­mente por estarem fazendo um tra­balho, recon­heci­da­mente, bem feito.

Mas não é só, além de não assumir o comando da nação em momento de tamanha gravi­dade, bem difer­ente do que fez a chanceler alemã, os primeiros-​ministros, inglês e espan­hol, os pres­i­dentes de Por­tu­gal, da França e até dos Esta­dos Unidos, o nosso pres­i­dente se empen­hou em sab­o­tar as medi­das de restrições impostas pelos gov­er­nos estad­u­ais e munic­i­pais, suposta­mente, em nome da causa maior da “economia”.

O resul­tado é desas­troso para o país – para a saúde da pop­u­lação e para a econo­mia.

Enquanto a maio­ria dos países que tomaram as medi­das, a tempo e modo cer­tos, para diminuir o con­tá­gio, depois de 60 dias começam a sair, ainda que cautelosa­mente, do con­fi­na­mento e a retomar as ativi­dades econômi­cas, o Brasil está parado pelo mesmo tempo, mas não sabe quando poderá retomar – ou retomar com segu­rança a ativi­dade econômica do país, sob pena de muitas mortes, porque à falta de gov­erno, operou um iso­la­mento par­cial e a curva de con­tá­gio ainda está ascendente.

Esta, tam­bém, uma das razões pelas quais os investi­dores querem tomar dis­tân­cia do nosso país – sem con­tar a grave situ­ação de ter­mos nos tor­nado uma espé­cie de pária global, que ninguém con­fia.

Qual a jus­ti­fica­tiva ou moti­vação o Brasil deu para desafiar o con­senso global quanto a pan­demia? Nen­hum.

Assim como não tem qual­quer plano para o retorno das ativi­dades econômi­cas, ali­a­dos a isso, a pro­funda insta­bil­i­dade política cau­sada pelo gov­erno.

Com declar­ações e medi­das erráti­cas, suposta­mente para pro­te­ger a econo­mia, o gov­erno, que se tornou uma usina de crise, aumen­tou o nosso caos econômico.

A econo­mia do país é glob­al­izada. Você não con­segue protegê-​la sem a con­fi­ança dos demais países.

Essa mer­cado­ria, con­fi­ança, é tudo que não temos mais.

Nem mesmo os Esta­dos Unidos – para quem o atual gov­erno fez juras de amor eterno e submeteu-​se a tudo –, está do lado do Brasil.

O pres­i­dente amer­i­cano quase todos os dias crit­ica – com razão –, os rumos ado­ta­dos pelo nosso pais.

Mesmo os Esta­dos Unidos, com mais de um mil­hão de infec­ta­dos e mais de 80 mil óbitos, dizem que o Brasil não fez o “dever de casa” cor­re­ta­mente.

Na defesa do pres­i­dente suas fran­jas saem com o dis­curso: “a culpa é dos esta­dos, o gov­erno man­dou o din­heiro para com­bater a pandemia”.

Sem desprezar a importân­cia dos recur­sos, muitas vezes mais impor­tante do que o din­heiro em si, é a pre­sença do gov­erno, é dis­curso uni­forme, são medi­das coer­entes. Sem isso, o que fize­mos foi “jogar fora” bil­hões e bil­hões de reais.

Estou certo que uma parte salvou vidas, mas a maior parte dos recur­sos, fru­tos do sac­ri­fí­cio que esta­mos pas­sando e pelos quais pas­sarão as ger­ações futuras, foi e está sendo jogado fora, no lixo. Tudo pela falta de governo.

O Brasil fra­cassa mis­er­av­el­mente no com­bate à pan­demia e na recu­per­ação da economia.

Quando exam­ino os dados do Brasil, por estado, me per­gunto a razão do Maran­hão, ao invés de se espel­har no que vem sendo feito no Piauí, se inspi­rar no que acon­tece no Pará.

O Maran­hão, decerto, não é o pior – pelos últi­mos dados ocu­pava o sétimo –, mas, não pode­ria estar melhor?

O Piauí, aqui do lado, faz uma polit­ica de enfrenta­mento a pan­demia de forma mais efi­ciente; o Tocan­tins, ape­sar de suas pecu­liari­dades, a mesma coisa; Minas Gerais, a despeito de uma pop­u­lação três vezes maior que nossa, tam­bém; assim como diver­sos out­ros esta­dos já cita­dos em tex­tos anteriores.

Claro que parte do insucesso pode ser atribuído aos desac­er­tos do con­texto nacional. Mas por que afe­tou mais ao Maran­hão que aos demais esta­dos cita­dos anteriormente?

Acred­ito – ainda que sem qual­quer amparo –, que as causas do nosso fra­casso no com­bate à pan­demia são dev­i­das a poli­ti­za­ção da doença.

Nos­sos gov­er­nantes ao invés de estarem foca­dos no com­bate à pan­demia (tam­bém) estavam na “rinha” do enfrenta­mento ide­ológico com o pres­i­dente da República.

Enquanto em out­ros esta­dos os gov­er­nadores não “estavam nem aí” para o que dizia (ou diz) a Maria Antoni­eta do planalto, “nosso líder”, até quando não tinha nada para dizer ia atrás de quizilas.

Durante essa crise pouco temos ouvido falar nos gov­er­nadores e prefeitos que apre­sen­tam mel­hores resul­ta­dos no com­bate a pandemia.

Já os out­ros todos os dias estão na “mídia”.

É o caso do Maran­hão.

Desde o começo percebe-​se que o gov­erno estad­ual não tem um roteiro bem definido (talvez roteiro algum) para com­bater a pan­demia.

Ape­sar do gov­er­nador dizer que iria seguir rig­orosa­mente as ori­en­tações da ciên­cia, não con­hece­mos a equipe de cien­tis­tas que este­jam ori­en­tando o gov­erno na tomada de decisões.

E muito pior que isso, a maio­ria das decisões são ques­tion­adas pelos cidadãos.

Não é ape­nas a imprensa ou o Min­istério Público que ques­tionam a ausên­cia de transparên­cia das autori­dades locais, mesmo para o cidadão comum elas são incom­preen­síveis e sem lógica.

Vejam um exem­plo, uma sem­ana depois de anun­ciar a medida extrema de iso­la­mento, o tal do lock­down, leio que sua excelên­cia infor­mou o retorno das ativi­dades econômi­cas já para o dia 21 de maio.

Ora, se o estado já estava cam­in­hando para o retomar a nor­mal­i­dade porque o gov­erno aceitou a imposição judi­cial do lock­down – e ainda deter­mi­nou um rodízio de veícu­los na cap­i­tal e nos municí­pios vizinhos?

Se, por outro lado, necessárias as medi­das, como falar em retorno das ativi­dades econômicas?

Agora dizem que fiz­eram um acordo judi­cial para levar o lock­down até o dia 17 de maio.

Quer dizer que saire­mos do iso­la­mento extremo para o retorno das ativi­dades econômi­cas a “todo vapor”?

Quem coloca a cabeça para pen­sar – mesmo que só um pouquinho –, fica com a impressão de que as autori­dades maran­henses, o gov­er­nador à frente, não sabem nada do que dizem.

Uma espé­cie de “Bol­sonaro” com o sinal tro­cado.

Os últi­mos dados cole­ta­dos apon­tavam para um com­pro­me­ti­mento de 97% (noventa e sete por cento) dos leitos de UTI; o gov­erno baix­ava decreto para se socor­rer dos leitos da rede pri­vada; as pes­soas já agon­i­zavam nas recepções da UPAS – e mor­riam – enquanto aguardam por uma vaga.

Isso tudo acon­te­cendo sem que a demanda dos pacientes do inte­rior – para onde a pan­demia começa a se alas­trar –, se torne mais intensa.

Já são mil­hares de infec­ta­dos no inte­rior. Mesmo os menores municí­pios já apre­sen­tam casos de trans­mis­são comu­nitária.

É quase certo que exista um número sig­ni­fica­tivo de sub­no­ti­fi­cações.

A rede de saúde do inte­rior do estado é muito precária, muitos municí­pios não pos­suem condições de faz­erem um atendi­mento básico.

Se não encon­trar­mos uma forma de trata­mento efi­caz logo, o que vai acon­te­cer quando a “pro­cis­são de ambulân­cias”, de todos os can­tos do estado, começarem a se diri­gir para a cap­i­tal em busca de tratamento?

Faço estas reflexões da minha quar­entena de quase 60 dias, chegando a duas con­clusões: a primeira, é que o fra­casso do Brasil e do Maran­hão está ai, à vista de todos; a segunda, é que a ignorân­cia ide­ol­o­gizada mata. A pan­demia está provando isso.

Abdon Mar­inho é advogado.