AH, CONTA OUTRA…
HÁ alguns anos escrevi sobre a solidão do governador no poder. Não falava da solidão pela ausência de pessoas, certamente não é o caso, o poder atrai muito e o governador que se vende de inteligente atrai muito mais. Logo, sua excelência está cercada de pessoas, mas das pessoas “erradas”, os fãs, os aduladores e dos oportunistas.
Dizia que Faltava – e continua faltando –, amigos verdadeiros, que não fossem fãs, aduladores ou oportunistas. Pessoas solidárias e com a capacidade de lhe apontar os erros, os excessos, as infantilidades.
O texto foi intitulado de “O menino só”. E por ele recebi diversos elogios de pessoas comuns que comungavam (ou comungam) com o meu pensamento.
Apesar de haver retornado ao assunto outras vezes e até mandado algumas cartas abertas, nada mudou comportamento de sua excelência
Com o passar do tempo sua excelência, sucumbiu de vez aos encantos das luzes e ao projeto pessoal de galgar espaços maiores no cenário da política nacional.
Como se fosse o mais fiel e dileto discípulo de Goebbels passou a cultivar a indiferença à informação correta e inquestionável, aquela a que ninguém poderá dizer um “mas” – que é bem diferente de defender “que uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”.
Ora, ao meu sentir não sentido que qualquer pessoa viva “dentro” do brocado “falem mal, mas fale de mim”, como parece ser o caso de sua excelência.
Tem sido esta a realidade. E tanto fez – e faz –, principalmente depois que resolveu antagonizar-se com presidente Bolsonaro que, hoje, ao homem de bem, é difícil distinguir quem é o espelho de quem.
Veja, sobretudo, agora que forçou a entrada aos holofotes da mídia nacional, sua excelência, precisaria de alguém que lhe recomendasse comedimento.
Fica feio um governador ser questionado por tudo que escreve. Fica feio aquela série de acusações de faltar com a verdade, ser chamado de Pinóquio (ou Dinóquio), a cada publicação que faz nas redes sociais.
E são muitas as vezes a que se submete a isso. E, se antes, os questionamentos sobre o que diz ou escreve não tinha grande repercussão, agora que resolveu dizer-se candidato, estes questionamentos são expostos ao país inteiro.
Outro dia, sua excelência, foi as redes sociais anunciar um tal de “piso remuneratório” para os professores acima de 6 mil reais.
A informação “carecia” de uma série de “adendos”, primeiro que não era “piso”; segundo, que o aumento concedido pelo governo estadual, em apenas uma faixa salarial – e assim mesmo para garantir o piso nacional –, foi superior ao aumento concedido pelo governo federal para o piso salarial do magistério, a chamada Lei do Piso, todas as demais ficou abaixo e na grande maioria, quase a totalidade, não chegou à metade, cerca de 5% (cinco por cento) quando o governo federal concedeu uma aumento superior a doze por cento; terceiro, o governo estadual descumpriu de forma acintosa o Estatuto do Magistério, vez que esta lei proíbe a concessão de aumentos inferiores aos estabelecidos na política nacional.
Com a cumplicidade de quase todos os deputados da base governista na Assembleia Legislativa e até do sindicato da categoria aprovaram o “aumento rabo de cavalo” e, não satisfeitos, ainda foram comemorar nas redes sociais e nas demais mídias subsidiadas pelo governo.
Foi curioso pois enquanto os aliados do governador votavam o “aumento” os professores que conseguiram chegar e entrar nas galerias da assembleia protestavam de forma veemente contra o mesmo. Os professores, decerto, devem ser uns “sabotadores” do governo ou, simplesmente, sabem fazer contas.
Os professores do Maranhão, se comparados a outras categorias e até mesmo aos colegas de outros estados, estão numa situação melhor. Entretanto, essa situação é fruto das conquistas da categoria. O atual governo e mesmo seus aliados do sindicato, pouco ou quase nada tiveram com elas. São conquistas do Estatuto do Magistério, quase trintenário, as leis do FUNDEF e do FUNDEB, da Lei do Piso, etc.
Não é aceitável ou ético que ao mesmo tempo que achata os salários e nega conquistas históricas, o governo estadual, ainda queira tirar “casquinha”.
Mal encerrada a patranha do “aumento fake” aos professores, sua excelência correu para a tribuna das redes sociais com uma ideia curiosa.
Comunicou a patuleia que solicitara uma audiência ao presidente da República para tratar das péssimas condições das rodovias federais no estado e oferecer ajuda do governo estadual para a recuperação das mesmas.
Há mais de vinte anos que percorro as rodovias que cortam o estado, tanto as federais quanto as estaduais. Quase uma dezena de vezes contei a história do deficiente visual que pede esmolas em Fortaleza (CE) e em Belém (PA), para dizer que ele sabe com uma précisão todas vezes que entra e que sai do estado. Não precisa ninguém dizer onde começa ou onde termina uma via que corta o estado. Ele sabe.
Pois bem, é verdade que as rodovias federais que cortam o estado estão ruins, na verdade sempre foram assim, muitos maranhenses próximos à fronteira com o Piauí prefere se deslocar pelas vias daquele estado, acontecendo o mesmo em relação aos que estão próximos ao Tocantins e ao Pará.
Por outro lado também é verdade que as rodovias estaduais são bem piores.
O nosso não possui rodovias – não sei nem o porquê de levarem este nome –, e sim “estradinhas”, mal feitas, com asfalto fino (as que possui), roídas nas bordas e sem um palmo de acostamento. Se alguém precisar parar por qualquer motivo ou para fazer qualquer coisa, até mesmo verter água tem que parar no meio da pista, por sua conta e risco.
As recuperações de tão malfeitas, antes de receber a sinalização já estão esburacadas e precisando de novos reparos.
A exceção da rodovia MA 101 (a estrada de Ribamar), no trecho que vai da Forquilha ao Maiobão e do prolongamento da Avenida dos Holandeses, MA 103 (estrada da Raposa, em obras) não tem uma que seja duplicada, que possua um acostamento, e outras qualificações que as tornem seguras ou dignas de serem chamadas rodovias.
Exceto pelas estradinhas que acabam de ser inauguradas e enfeitam as propagandas governamentais as demais estão em “petição de miséria”, mesmo aquelas importantíssimas para o desenvolvimento do estado como a que liga o Cujupe, em Alcântara a Governador Nunes Freire.
Outro dia, no programa Globo Rural, mostrou os produtores do sul do estado fazendo, por conta própria, a recuperação de uma importante via estadual para o escoamento da produção.
Ainda na campanha, em 2014, sua excelência, prometeu fazer da MA 006, a rodovia redentora do Maranhão. Ligando Alto Parnaíba a Apicum-Açu, seria a espinha dorsal do nosso desenvolvimento. Já indo pelo sexto ano de mandato, quantos quilômetros (ou palmos) foram feitos?
Dito isso, como levar a sério a proposta de sua excelência de oferecer ajuda ao governo federal para recuperar as rodovias federais? Pareceu piada. Piada de péssimo gosto.
A menos que ajuda proposta seja “oferecendo” os empresários que cuidam de muitas rodovias estaduais e que vez ou outra se tornam hóspedes do Estado.
Como podemos perceber, é muito difícil para o governador do estado sustentar determinadas “narrativas” ainda mais quando tem por meta uma candidatura presidencial.
Outro dia, tanto sua excelência, quanto seus aliados de “primeira hora” ficaram “sentidos” a ponto de reclamarem publicamente – e com direito a marcação nos textos, nas redes sociais –, do site The Intercept Brasil por conta de uma reportagem sobre o conflito do Cajueiro.
O governador – e os seus aliados –, tenta vender a narrativa de que nada tem a ver com o problema. Grosso modo, dizem se tratar de decisão judicial e de um conflito entre terceiros.
Conforme expliquei – e demonstrei –, em diversos textos sobre o assunto, especialmente no texto “Quem é grileiro das terras do Cajueiro?”, o governo estadual atual tem total responsabilidade sobre o assunto.
Está tudo lá, o assentamento pelo governo estadual em 1998, a escrituração do imóvel para as famílias; a desapropriação em 2014; o cancelamento da desapropriação pelo atual governador logo no início do mandato e, por fim, a nova desapropriação “meia-boca” feita por ele.
Como sustentar a narrativa de não tem nada com a história?
Claro que o site The Intercept Brasil – que até outro dia era o “queridinho” do governador, do seu partido e aliados, defendido até diante de pesadas acusações –, não fez reportagem motivado por interesse público ou por preocupação com aqueles desalojados.
Embora chorosos o governador e sua troupe já identificaram as digitais do PT e do PSol no assunto.
A leitura é muito simples: se Lula preso dava uma bandeira e unia todos, Lula solto, só desagrega a esquerda e põe a escanteio o sonho do comunista maranhense – que tenta se viabilizar com acenos ao centro e a direita.
Inicialmente Lula disse que o povo brasileiro não aceita um candidato comunista; depois, diante da contra informação de que teria convidado o maranhense para ingressar no PT, publicamente, desmentiu.
A reportagem/denúncia é fruto do “racha” da esquerda que não aceita a ascensão do governador do Maranhão e que, conforme as conveniências, vai expor suas falhas.
E não são poucas. Não se trata apenas deste discurso de “pós verdade” adotado desde o início do governo, de “vender” qualquer coisa que o favoreça e, se ninguém dizer nada, ficar como verdade, e, se dizerem, fingir que não ouviram, são atos concretos.
Veja, é difícil de engolir uma “frente ampla” comandada por comunistas. Como é possível democratas cerrarem fileiras juntos com um partido que desde seu nascedouro tem viés autoritário? Que nos seus documentos internos apoiou e apoia os regimes mais sangrentos?
A verve do autoritarismo se faz presente no atual governo do Maranhão e seus dirigentes. Basta dizer que nunca na história do estado tantos jornalistas, os poucos que teimaram em ser jornalistas, foram tão perseguidos.
O próprio governador, em data recente, se pronunciou contra uma cláusula pétrea da Constituição: a que permite a livre manifestação dos cidadãos porque convocada por pessoas ou movimentos de apoio ao governo federal. Insinuou conteúdo “nazista” da manifestação.
Ora, existe muita diferença entre nazismo e comunismo? Recentemente uma lei da Ucrânia, que experimentou a barbáries dos dois regimes, os equiparou.
As dificuldades do partido em ser este “catalisador” de um movimento contra o governo federal é uma das razões pela qual o partido tenta criar uma espécie de “fake” para representá-lo nas eleições, um tal movimento seguido do número da legenda.
Tem-se, com isso, um partido que se recusa a ser chamado pelo próprio nome é assumir o seu passado e presente.
Mais um fake, entre tantos.
Isso sem contar as situações mais prementes provocadas pelo próprio governo.
Como pessoas sérias poderão cerrar fileiras ao lado um governante que a despeito de ter sido o governante que mais aumentou a carga tributária, apresenta uma gestão tão ruim?
Muito além do fraco por tentar “burilar” a verdade, os indicadores são terríveis contra as pretensões do governador.
O IBGE no dia 28 de fevereiro, por imposição legal, divulgou os dados da Pnad/contínua mostrando que a renda per capita dos maranhenses é a mais baixa do país, pouco mais da metade do salário mínimo do ano anterior.
O governador que prometeu tanto, já no sexto ano de gestão, nos apresenta um estado que fica atrás de todos os estados da federação quando se trata de renda.
Um estado tão rico, com tantas potencialidades passar por este tipo de constrangimento é um atestado que os governantes, passado e do presente, erraram e erram feio.
Como pretendem ser uma opção a ser considerada para país?
Ah, conta outra…
Abdon Marinho é advogado.