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O Escân­dalo Capital.

Escrito por Abdon Mar­inho


O ESCÂN­DALO CAPITAL.

Por Abdon Marinho.

O que é, o que é, tem cara de escân­dalo, tem cheiro de escân­dalo, tem con­tornos de escân­dalo e é escân­dalo? Pois é, o que preenche todos estes req­ui­si­tos e, ao nosso sen­tir, é um escân­dalo, é a com­pra de 1472 assi­nat­uras da Revista Carta Cap­i­tal com o “suposto”objetivo de aten­der as esco­las da Rede Estad­ual de Edu­cação do Maran­hão, ao custo de R$ 671.984,40 (seis­cen­tos e setenta e um mil, nove­cen­tos e oitenta e qua­tro reais e quarenta centavos).

O con­trato, com vigên­cia de 12 meses, foi assi­nado no dia 24 de agosto de 2020, pelo secretário adjunto de admin­is­tração, con­forme com­petên­cia del­e­gada pela por­taria nº. 1097, de 04 de julho de 2019.

A Jus­ti­fica­tiva da Sec­re­taria Adjunta de Admin­is­tração com o “autor­izo, na forma da lei”, pelo secretário de estado da edu­cação, foi:

A vivên­cia de uma sociedade democrática pres­supõe não só con­hec­i­men­tos, mas tam­bém as práti­cas e val­ores necessários para o apri­mora­mento e manutenção da mesma. Essas práti­cas e val­ores estão dire­ta­mente lig­a­dos a prop­i­ciar proces­sos for­ma­tivos que lidem com o estu­dante sem­pre em relação com a sociedade, de modo a levar o indi­viduo a se perce­ber como parte de um cole­tivo, uma comu­nidade, enten­dendo a sociedade a par­tir de bases mar­cadas por difer­enças e empatia.

É pre­ciso cul­ti­var val­ores democráti­cos como o respeito às leis, o respeito aos bens públi­cos (acima do inter­esse pri­vado), o respeito inte­gral aos dire­itos humanos, a vir­tude do amor à igual­dade na forma do recon­hec­i­mento de priv­ilé­gios e repú­dio a estes, o acata­mento da von­tade da maio­ria legí­tima sem pre­scindir do respeito aos dire­itos das mino­rias, ética na política, descon­strução fr pre­con­ceitos (soci­ais, políti­cos e em relação à própria política) e o estim­ulo a val­oriza­ção do cidadão par­tic­i­pa­tivo, que se aprox­ima da política e da democ­ra­cia por difer­entes formas.

O desen­volvi­mento dessa dimen­são val­o­rativa deve ser bené­fico não só ao estu­dante que par­tic­ipa das ativi­dades de for­mação política, como espalha-​se na sociedade a par­tir das reflexões e com­por­ta­men­tos destes frente à cole­tivi­dade, con­tribuindo para a con­strução de con­sciên­cia política mais madura e de uma viven­cia democrática que saia do papel e seja a expe­ri­en­cia de mais inten­sa­mente.

A revista a ser con­tratada con­siste em jor­nal­ismo que abrange os mais vari­a­dos aspec­tos da vida em sociedade, tais como a política, econo­mia, justiça, mundo, diver­si­dade, cul­tura e opinião, que con­tribuirá sobre­maneira para a for­mação dos estu­dantes da rede estad­ual de educação».

Fiz questão de tran­scr­ever, na inte­gra, a jus­ti­fica­tiva da inusi­tada con­tratação por dois motivos:

Primeiro, porque a mesma não fica dever, em nada os tex­tos mais inspi­ra­dos do inesquecível per­son­agem Rolando Lero, da não menos inesquecível “Escol­inha do Pro­fes­sor Raimundo”, do saudoso humorista Chico Any­sio.

Pou­cas vezes vi se uti­lizar tan­tas palavras para se dizer tão pouco.

Segundo, porque não con­segui enten­der como um exem­plar de uma “revista de polit­ica”, voltada para o público esquerdista, basi­ca­mente, vai «cul­ti­var val­ores democráti­cos como o respeito às leis, o respeito aos bens públi­cos (acima do inter­esse pri­vado), o respeito inte­gral aos dire­itos humanos, a vir­tude do amor à igual­dade na forma do recon­hec­i­mento de priv­ilé­gios e repú­dio a estes, o acata­mento da von­tade da maio­ria legí­tima sem pre­scindir do respeito aos dire­itos das mino­rias, ética na política, descon­strução de pre­con­ceitos (soci­ais, políti­cos e em relação à própria política) e o estim­ulo a val­oriza­ção do cidadão par­tic­i­pa­tivo, que se aprox­ima da política e da democ­ra­cia por difer­entes for­mas”, além de tan­tas out­ras coisas incom­preen­síveis aos comuns mor­tais.

Além deste, um blog local informa que no ano de 2019, um outro con­trato, com a mesma empresa edi­tora da Carta Cap­i­tal fora assi­nado em abril daquele ano no valor de R$ 600 mil reais e pos­te­ri­or­mente adi­ti­vado em mais R$ 150 mil reais, per­fazendo um total de mais R$ 750 mil reais, com o mesmo objeto, dis­tribuição de revis­tas nas esco­las da rede pública de ensino do estado do Maranhão.

Vamos nos ater a este último contrato.

A rede estad­ual de ensino, ainda que con­sid­er­e­mos somente o ensino médio, soma 262.700 alunos, segundo o censo esco­lar de 2019.

Ora, como 1.400 assi­nat­uras de uma revista irá con­tribuir “sobre­maneira” para a for­mação dos estu­dantes?

Ainda que se con­sidere, difer­ente do que diz a jus­ti­fica­tiva, que a revista men­sal se des­ti­nará aos pro­fes­sores e estes repas­sarão aos estu­dantes, a conta parece incon­gru­ente, pois a rede estad­ual, tam­bém, só con­siderando o ensino médio, pos­sui 14.355 docentes.

Talvez os men­tores da ideia imag­inem que os mestres irão lendo as edições e repas­sando aos demais. Ou, por der­radeiro, que a assi­natura se des­tine ape­nas para que cada escola da rede receba um exem­plar para suas bib­liote­cas — as que pos­suirem –, onde os leitores se revezarão na leitura de tão impor­tante lit­er­atura.

Até é pos­sível visu­alizarmos as filas e lis­tas de espera para lerem dire­ta­mente na fonte orig­i­nal do saber mundial. Dora­vante estare­mos no topo de todos os rank­ings de avali­ação edu­ca­cional.

A iro­nia é necessária para aquilatar o absurdo da con­tratação efe­t­u­ada com os recur­sos da edu­cação e o despropósito da justificativa.

Não sou con­tra, em abso­luto, que as sec­re­tarias de edu­cação façam assi­nat­uras de per­iódi­cos visando o des­per­tar da curiosi­dade de mestres e alunos, bem como, informá-​los sobre o que se passa no país e no mundo, mas, quisessem mesmo aju­dar a comu­nidade esco­lar, mel­hor proveito teria se fizessem assi­nat­uras de revis­tas como a Nova Escola, que custa metade do valor; Saberes da Edu­cação; Dê Ciên­cia em Foco; Jor­nal de Políti­cas Edu­ca­cionais, e tan­tas out­ras; ou, ainda, revis­tas cien­tifi­cas, como Nature, Sci­ence; e etcetera, inclu­sive, em lín­gua estrangeira, o que con­tribuiria muito mais para a for­mação do público-​alvo que se disse querer atin­gir com a con­tratação de uma assi­natura de revista politica.

Difer­ente de alguns teóri­cos da con­spir­ação, não acred­ito que a assi­natura da revista tenha por função ide­ol­o­gizar alunos e mestres. Acho tolice esse tipo de pen­sar, uma assi­natura de revista numa escola, na maio­ria das vezes, sequer sai “do plás­tico”, antes de ir para o lixo.

Noutra quadra, não tenho como dis­cor­dar dos pen­sam e dizem tratar-​se de um “apoio» do gov­erno estad­ual a uma edi­tora “amiga” que comunga com seus ideais e sem­pre abre espaço ao gov­er­nador do estado – e aos seus ali­a­dos –, o que, pelo menos em tese, car­ac­teri­zaria o inter­esse pes­soal e/​ou o desvio de final­i­dade na apli­cação do din­heiro público, ainda mais, se, como afir­mam out­ras matérias, este tipo de con­tratação não ser um fato iso­lado e alcançar out­ros con­tratos desta ou de out­ras pub­li­cações.

No caso em tela, exis­tem out­ros aspec­tos, além da descabida contratação.

Com a “noti­cia» na rua há quase uma sem­ana até agora, pesquisando no site do Min­istério Público estad­ual, que em relação aos municí­pios, exam­ina até se as vír­gu­las de seus con­tratos estão no lugar certo, não encon­trei uma linha sobre o assunto.

Uma noti­ci­az­inha de que vão cobrar expli­cações, que vão instau­rar algum pro­ced­i­mento visando a apu­ração dos fatos; a respon­s­abi­liza­ção dos impli­ca­dos, a devolução dos recur­sos aos cofres do estado.

Aliás, em relação a respon­s­abi­liza­ção, uma coisa me chama atenção já há muito tempo no estado, o fato dos agentes políti­cos, gov­er­nador e secretários pas­sarem a respon­s­abil­i­dade pela orde­nação deste tipo de despesa para os “subs» e para os “adjun­tos”.

Emb­ora a del­e­gação seja legal, ao val­oroso MPMA nunca socor­reu a ideia de se trata de um ardil para fugirem às suas respon­s­abil­i­dades quando os “malfeitos” veem a público.

A mesma “indiferença«por tais temas parece ter “con­t­a­m­i­nado” o Tri­bunal de Con­tas do Estado — TCE/​MA, que, com a noti­cia cir­cu­lando por todos os meios, não demon­stra – e se demon­stra não avisa a pat­uleia – pre­ocu­pação com estes assuntos.

Pois é, se os órgãos que têm a mis­são de fis­calizar demon­stram – pelo menos para o público externo –, pouco inter­esse por assun­tos de tamanha gravi­dade, com reper­cussão inclu­sive na imprensa nacional, os gov­er­nantes não se sen­tem no dever de prestar quais­quer expli­cações aos con­tribuintes nas costas de quem são espetadas estas e tan­tas out­ras contas.

Será que o MPMA acha jus­ti­ficável que recur­sos da edu­cação se prestem para esse tipo coisa? O TCE/​MA acha nor­mal que se assine uma revista política – é sem­pre bom frisar –, para dis­tribuição na rede de ensino estadual?

Tomarão alguma ini­cia­tiva para ces­sar o abuso e para resti­tuirem os val­ores despendi­dos aos cofres públicos?

Qual o inter­esse da edu­cação maran­hense – que amarga os piores indi­cadores do país e do mundo –, com a aquisição de revis­tas com o con­teúdo da edi­tora contratada?

Será que os órgãos de con­t­role, o gov­er­nador, o secretário têm a resposta para essa per­gunta tão sin­gela que não seja aquele papo tor­tu­oso de “Rolando Lero”, que serviu de jus­ti­fica­tiva para a contratação?

Suas excelên­cias, com a palavra.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

As fake news e a democ­ra­cia – O ovo da serpente.

Escrito por Abdon Mar­inho

AS FAKE NEWS E A DEMOC­RA­CIA – O OVO DA SERPENTE.

Por Abdon Marinho.

ATÉ ONDE as lem­branças alcançam sem­pre fui um con­tes­ta­dor, sem­pre me inco­modou enx­er­gar algo errado e, por con­veniên­cia ou como­di­dade, ficar cal­ado, não dizer o que penso. Uma fidel­i­dade extremada a um ditado do meu saudoso pai de que: “o que está errado é da conta de todo mundo”.

O excesso de sin­ceri­dade quase sem­pre causa muitas incom­preen­sões, como a de que “Abdon é de oposição”. Tenho alguns ami­gos que dizem ser de pouca valia min­has posições políti­cas em apoiar este ou aquele grupo, vez que, vito­riosos e insta­l­a­dos no poder, não demora muito, viro “do con­tra”, como se a mim coubesse, como uma luva, o velho dito que guiou os espíri­tos lib­ertários: “hay gob­ierno? Soy con­tra”.

Existe um pouco de exagero em tais asserti­vas, mas, o certo é que sem­pre me inco­modou – e inco­moda –, o “efeito man­ada” que os gov­er­nos provoca nas pes­soas, tornando-​as inca­pazes de ado­tar um com­por­ta­mento crítico em relação a eles, sobre­tudo, quando calça­dos em apoio pop­u­lar.

Ainda me recordo das críti­cas que rece­bia ao con­tes­tar o gov­erno do ex-​presidente Lula, quando este alcançava índices de pop­u­lar­i­dade acima dos oitenta por cento.

Já naquela época todos sabiam das ban­dal­has dos petis­tas e ali­a­dos no gov­erno, o escân­dalo do “men­salão” tinha sido rev­e­lado anos antes, em 2005, e, ape­sar disso, o gov­erno tinha tais índices de popularidade.

O Lula – que depois ficou-​se sabendo era o “chefe” do esquema –, não foi incluído no processo do “men­salão”, acred­ito, por força de tal pop­u­lar­i­dade.

Um pouco mais de inves­ti­gação – e esforço da Polí­cia Fed­eral, do Min­istério Público e do Poder Judi­ciário –, o teria colo­cado no topo daquele escân­dalo.

Deu-​se con­trário, ainda com todos no seu entorno envolvi­dos no escân­dalo, o ex-​presidente Lula con­seguiu vender a can­tilena pro­ferida em agosto de 2005: «Eu me sinto traído por práti­cas ina­ceitáveis. Indig­nado pelas rev­e­lações que chocam o país e sobre as quais eu não tinha qual­quer con­hec­i­mento. Não tenho nen­huma ver­gonha de dizer que nós temos de pedir des­cul­pas. O PT tem de pedir des­cul­pas. O gov­erno, onde errou, pre­cisa pedir desculpas».

As des­cul­pas nunca vieram de ver­dade e os “malfeitos” con­tin­uaram como se nada tivesse acon­te­cido e se ampliando cada vez mais

O sem­blante com­pungido e a voz trê­mula era ape­nas “con­versa para boi dormir”, e vou além, se o Lula não tivesse come­dido o “erro estratégico”, chamado Dilma Rouss­eff (e o come­teu pen­sando que ela devolve­ria o gov­erno qua­tro anos depois), e tivesse “peitado o mundo” teria con­seguido aprovar uma emenda con­sti­tu­cional per­mitindo a reeleição per­ma­nente, ou algo que o valha, como fez o Chávez, como o fez o Putin, e tan­tos out­ros.

Em 2009 e 2010 haviam diver­sos movi­men­tos pre­gando isso.

O Con­gresso Nacional e até o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, se calar­iam.

No máx­imo teríamos os protestos de uma meia dúzia de homens públi­cos com dig­nidade.

Por incrível que pareça, o que nos livrou da ditadura pop­u­lar do petista foi um dos Sete Peca­dos Cap­i­tais: a soberba.

O ex-​presidente tinha plena con­fi­ança na devolução do poder qua­tro anos depois e, tam­bém, por vaidade, não que­ria ser tachado nos setores do esquerdismo int­elec­tual mundial como autoritário.

O dis­curso dos defen­sores da tese do ter­ceiro mandato – e de lá para o infinito –, usavam como exem­plo o fato de, até, o ex-​presidente Franklin D. Roo­sevelt, ter sido eleito nos Esta­dos Unidos três vezes e gov­er­nado aquele país de 1933 até sua morte em 1945.

Ora, se até os Esta­dos Unidos já tivera a exper­iên­cia de um ex-​presidente ser eleito três vezes, por que não o Brasil? Se o ex-​presidente FHC con­seguiu alterar a Con­sti­tu­ição para per­mi­tir a sua reeleição em 1997, o que tinha “demais” que o Lula fizesse o mesmo para per­mi­tir sua re-​reeleição em 2010?

Faço tais con­sid­er­ações ape­nas para mostrar o quão frágil ainda é a nossa democ­ra­cia, a ponto, de, há pouco mais de dez anos os debates terem sido toma­dos por dis­cussão sobre a alter­ação da Con­sti­tu­ição Fed­eral para per­mi­tir que um ex-​presidente pop­u­lar pudesse ser eleito três vezes – ou mais –, como se o inter­esse pes­soal ou de um grupo político pudesse se sobre­por às regras insti­tu­cionais rígidas.

Pior que isso, nos dias atu­ais, não faz muito tempo, assis­ti­mos autori­dades da República sus­ci­tar a uti­liza­ção das Forças Armadas con­tra os poderes do país; vimos mais de uma vez o pres­i­dente e seus min­istros ameaçarem min­istros do STF, diz­erem impróprios con­tra estes e, tam­bém, con­tra par­la­mentares; assis­ti­mos o pres­i­dente apoiar osten­si­va­mente atos em seu favor que pediam o fechamento dos demais poderes; vimos pres­i­dente de par­tido difamar pub­li­ca­mente os min­istros do STF sem que isso tivesse qual­quer con­se­quên­cia.

Essa onda de desprezo insti­tu­cional pela democ­ra­cia – que não é um fenô­meno uni­ca­mente brasileiro –, coloca o mundo em um estranho suspense.

Mesmo os Esta­dos Unidos, sem­pre tidos como o exem­plo a ser seguido quando se trata de democ­ra­cia, vem enfrentando tal fenô­meno, a ponto do atual pres­i­dente, numa ati­tude inédita, ques­tionar a lisura do pleito que ocor­rerá em novem­bro – como a tirar uma carta de seguro caso o resul­tado das eleições não lhe seja favorável.

O difer­en­cial entre os Esta­dos Unidos e o Brasil é que por lá as insti­tu­ições são bem mais con­sol­i­dadas do que as nos­sas.

Em tal con­texto é que deve­mos nos per­gun­tar como enfrentare­mos o riscos à nossa democ­ra­cia rep­re­sen­ta­dos pelas chamadas fake news.

Nos­sas insti­tu­ições estão preparadas para o enfrenta­mento das fake news? Con­seguire­mos sair ile­sos a elas ou esta­mos a cam­inho de uma ditadura?

Enganam-​se aque­les pen­sam que dita­dores são for­ja­dos no obscu­ran­tismo das caser­nas.

Esta con­cepção errada decorre do fato de como se deu o golpe mil­i­tar de 1964 e que per­durou, por 21 anos, até 1985, quando os presidentes-​generais eram escol­hi­dos de “den­tro para fora do régime”.

As ver­dadeiras ditaduras são sed­i­men­tadas no seio da sociedade, com o apoio pop­u­lar a líderes autoritários.

O roteiro histórico encontra-​se à dis­posição de quem quiser estudá-​los.

Alguém pensa que o Fas­cismo, o Nazismo e o Comu­nismo, nasce­ria e flo­resce­riam sem amplo apoio pop­u­lar? Acred­ito que não.

A par­tir do apoio pop­u­lar, através das mais vari­adas cam­pan­has, ten­tam – e con­seguem –, o enfraque­c­i­mento das insti­tu­ições repub­li­canas, sobre­tudo, o Poder Judi­ciário e o Con­gresso Nacional.

Antes ou simul­tane­a­mente a isso, pro­movem a aniquilação da imprensa inde­pen­dente ou tradi­cional, só tendo como sérios e váli­dos seus próprios órgãos de comu­ni­cação. Alguém lema]bar do Gramma, de Cuba, do Pravda, da URSS?

Já vimos isso acon­te­cer em diver­sos países: na Itália, na Espanha; na Rús­sia; e o exem­plo mais elo­quente de todos rep­re­sen­tado pela República de Weimar que foi o gene para o surg­i­mento do nazismo na Ale­manha a par­tir de 1933.

Outro exem­plo, bem vivo, até porque pre­sente nos dias atu­ais, é o que vem da Venezuela.

Ao chegar no poder, em 1999, Hugo Chávez, ini­ciou o plano de dom­i­nação das insti­tu­ições e dos veícu­los de comu­ni­cação social que não “rezavam” a sua car­tilha.

Não deixo de lem­brar que quando fechou o prin­ci­pal canal de tele­visão daquele país teve quem fes­te­jasse e até pedisse que se fizesse o mesmo por aqui – e por diver­sas vezes até tentaram.

Hoje todos somos teste­munhas do acon­te­ceu –e do que ainda acon­tece –, na Venezuela.

Hugo Chávez nunca prom­e­teu ditadura. Muito pelo con­trário, como todo dita­dor que se preza, o dis­curso sem­pre foi con­trário disso: lib­er­tar o povo; acabar com a explo­ração; ampla e total liber­dade para o povo venezue­lano. Para tanto, até bati­zou seu movi­mento como “boli­var­i­ano”, em hom­e­nagem ao lib­er­ta­dor das Améri­cas, Simón Bolí­var.

A sociedade brasileira – assim como todas as demais –, pre­cisam com­preen­der os sinais de surg­i­mento de regimes total­itários e fazer o con­traponto com o for­t­alec­i­mento das insti­tu­ições. Quando os gov­er­nantes se tor­nam mais fortes que elas é porque já esta­mos a meio cam­inho dos regimes de exceção.

Não pensem que não existe espaço no mundo atual para implan­tação de regimes autoritários. Muito pelo con­trário, os regimes estão aí se for­t­ale­cendo.

Quem vai pro­te­ger o povo não é a pop­u­lação com armas nas mãos, são as insti­tu­ições for­t­ale­ci­das agindo como paci­fi­cado­ras soci­ais, garan­ti­ndo a esta­bil­i­dade e o régime democrático.

Na quadra política atual são as fake News as prin­ci­pais fer­ra­men­tas para a ges­tação do “ovo da ser­pente”.

Recen­te­mente assisti um filme na Net­flix que bem retrata essa relevân­cia, chama-​se Rede do Ódio, que recomendo aos leitores.

Nos próx­i­mos tex­tos con­tin­uare­mos a tratar da questão das fake News e o risco que as mes­mas rep­re­sen­tam para a democ­ra­cia.

E lembrem-​se, tudo que os dita­dores mais negam é que sejam dita­dores.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

O ABRIGO DA DISCÓRDIA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O ABRIGO DA DISCÓRDIA.

Por Abdon Marinho.

A CAP­I­TAL do Maran­hão, São Luís, vive um momento de raro esplen­dor. Desde o final da década de oitenta, com a implan­tação do Pro­jeto Reviver, pelo saudoso gov­er­nador Epitá­cio Cafeteira, não víamos tan­tas obras de revi­tal­iza­ção do cen­tro histórico.

Já tratei deste assunto lá atrás, por ocasião da entrega do Com­plexo Deodoro, no texto de “Cafeteira a Kátia Bogéa”, elo­giando o que fora feito pelo então gov­er­nador Cafeteira, há mais de três décadas, e o que estava ocor­rendo no momento, com a revi­tal­iza­ção de diver­sos logradouros, primeiro, o com­plexo da praça Deodoro; depois Rua Grande; agora Praça João Lis­boa, Largo do Carmo, ruas do Sol, da Paz, Mer­cado das Tul­has e tan­tos out­ros logradouros impor­tantes his­tori­ca­mente para a cap­i­tal do estado e para a memória do nosso povo.

O atual alcaide à frente desta impor­tante revi­tal­iza­ção – sem deixar de recon­hecer o esforços de tan­tas out­ras pes­soas que muito fiz­eram, desde o gov­erno da ex-​presidente Dilma Rouss­eff, e talvez antes, para con­seguir os recur­sos para tais obras –, sai, assim como foi com Cafeteira, for­t­ale­cido e recon­hecido por todos os maran­henses que amam a nossa cap­i­tal e só querem o seu bem.

O prefeito Edvaldo Holanda Júnior – e tam­bém a cidade, e tam­bém o estado –, talvez por sua fé, tan­tas vezes demon­strada, rece­beu essa graça.

A graça de, na sua gestão, a nossa cap­i­tal rece­ber como pre­sentes estas obras de revi­tal­iza­ção.

O prefeito que já rece­beu essa benção pode­ria aproveitar e fazer o “serviço com­pleto”, devol­vendo à Praça João Lisboa/​Largo do Carmo seu aspecto orig­i­nal do começo do século pas­sado. Deter­mi­nando, como fez Cafeteira, que os espaços urbanos voltassem ao seu aspecto orig­i­nal, antes das “des­fig­u­rações” de que foram víti­mas por décadas de admin­is­trações descom­pro­meti­das.

Quando Cafeteira implan­tou o Pro­jeto Reviver, deter­mi­nou que fos­sem devolvi­das àque­les espaços, pré­dios e mon­u­men­tos históri­cos, as suas car­ac­terís­ti­cas orig­i­nais.

Para isso não mediu esforços, até tel­has man­dou impor­tar de out­ros lugares para que os pré­dios voltassem a ser o que eram.

Por isso mesmo o nome do pro­jeto: Reviver. Para que os espaços os pré­dios revivessem seus mel­hores tem­pos, seus tem­pos áureos.

No livro que lançou sobre o Pro­jeto Reviver con­sta uma relação com os nomes dos vários pesquisadores, his­to­ri­adores e profis­sion­ais diver­sas áreas que con­cor­reram com aquele inesquecível pro­jeto.

Hoje, como dito ante­ri­or­mente, revive­mos alguma coisa de semel­hante ao vivido há três décadas.

Em meio a esse momento de rara feli­ci­dade para a nossa cidade, para o nosso estado, o prefeito per­mite uma polêmica que não teria qual­quer razão de existir.

Falo da polêmica em torno do tris­te­mente famoso “abrigo da João Lis­boa”.

Há algu­mas sem­anas tenho acom­pan­hado, sobre­tudo, nas redes soci­ais, essa falsa polêmica.

Por que digo falsa polêmica?

Sim­ples­mente porque não have­ria qual­quer motivo para exi­s­tir a par­tir da con­cepção do pro­jeto de revi­tal­iza­ção do men­cionado logradouro.

Ora, qual é a ideia para revi­tal­iza­ção do “com­plexo” João Lis­boa? É devolvê-​lo ao seu aspecto orig­i­nal do começo do século pas­sado?

Caso seja essa a ideia, não há que se falar em manutenção do “abrigo”, passa o tra­tor e devolve a praça o aspecto que tinha naquele momento.

Se, ao con­trário disso, a ideia é só devolver o espaço as car­ac­terís­ti­cas dos anos cinquenta do século pas­sado, deixa-​se o abrigo, recupera-​se o mesmo.

Ao meu sen­tir, entre­tanto, filiando-​me à cor­rente dos his­to­ri­adores de “raiz”, não existe qual­quer sen­tido para per­der­mos a opor­tu­nidade de devolver­mos à cidade o aspecto que a mesma tinha no começo do século pas­sado.

Seria, na ver­dade, de impe­riosa importân­cia para o tur­ismo que fizésse­mos isso.

Qual a razão para per­der­mos tal opor­tu­nidade se já esta­mos fazendo a revi­tal­iza­ção da área?

O abrigo, com ape­nas 68 anos não faz parte daquele lugar.

A única ser­ven­tia que tem é servir de mic­tório para os cidadãos que vivem nas ruas, para abri­gar o comér­cio de dro­gas, favore­cer a vio­lên­cia e out­ras coisas mais que só depõe con­tra a cidade.

Até onde sabe­mos, todos os anti­gos tra­bal­hadores que ocu­pavam seus boxes já não estão por lá, todos retornaram aos seus bair­ros. E, se tivessem, nada impediria que fos­sem alo­ca­dos em um ou dois dos diver­sos pré­dios históri­cos do seu entorno.

Seria muito mel­hor, inclu­sive, finan­ceira­mente pois o Largo, com seu aspecto orig­i­nal do começo do século pas­sado, atrairia a fre­quên­cia de tur­is­tas e mesmo dos cidadãos locais.

Noutro giro, tam­bém, até onde sabe­mos, o “abrigo”, com seus mais sessenta anos, encontra-​se com a sua estru­tura com­ple­ta­mente com­pro­metida. Ou seja, a munic­i­pal­i­dade, caso faça a opção errada pela sua manutenção, terá que reconstruí-​lo. Incor­rendo no mesmo equívoco dos gestores dos anos cinquenta.

As dezenas de fotos que exam­inei nos últi­mos dias mostrando com­plexo João Lis­boa, antes e depois do “abrigo”, mostram clara­mente que o momento ante­rior é muito mais belo, muito mais aprazível.

O apelo que se faz ao prefeito – que, parece-​me, ser o único empecilho ao pro­jeto que revi­tal­iza a área de colocá-​la no mesmo pata­mar do Pro­jeto Reviver –, é que dê uma opor­tu­nidade ao bom senso.

Con­forme dito ante­ri­or­mente não faz qual­quer sen­tido, repito, não aproveitar essa opor­tu­nidade de devolver à cidade o seu aspecto orig­i­nal do começo do século pas­sado e ao invés disso fazer uma revi­tal­iza­ção “meia-​boca” e onerosa com a recon­strução do tal “abrigo”, que “não cabe” naquele logradouro, man­tendo as mes­mas maze­las que sem­pre se quis extir­par.

— Sen­hor prefeito, não perca essa opor­tu­nidade. Inclua o “com­plexo João Lis­boa” no nosso Pro­jeto Reviver. Não existe um motivo real para que não faça isso. Coloque seu nome na história da cidade.

Abdon Mar­inho é advo­gado.