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Um pouco de coerên­cia e decoro, por favor.

Escrito por Abdon Mar­inho

UM POUCO DE COERÊN­CIA E DECORO, POR FAVOR.

por Abdon Marinho.

DISSE AQUI mesmo – e por mais de uma vez –, que no dia que ouvir dizer que um.boi se encon­tra sobrevoando o Largo do Carmo ou a Praça D. Pedro II, não irei lá con­ferir. É bem provável que seja verdade.

Dando razão a um antigo ditado pop­u­lar, o gov­er­nador do estado despiu-​se de toda a litur­gia que o cargo requer e declarou apoio incondi­cional e irrestrito a um dos seus ex-​auxiliares que dis­putou a eleição na cap­i­tal e que, segundo a oposição, inte­graria uma espé­cie de con­sór­cio de can­didatos com o fito de dividir os votos no primeiro turno para juntá-​los no segundo e der­ro­tar o adver­sário real, que, por sinal, chegou em primeiro lugar.

Não sat­is­feito em declarar-​se o primeiro “cabo eleitoral” do estado, segundo as mais diver­sas fontes de infor­mações, teria, sua excelên­cia, deter­mi­nado que todos secretários, dire­tores, ocu­pantes de car­gos em comis­são e, até mesmo, os xerim­ba­bos menos qual­i­fi­ca­dos, de uma forma geral, tam­bém, o fizesse.

Em out­ras palavras, o gov­erno estad­ual, a máquina pública, custeada, com o seu, o meu, o nosso din­heiro, entrou em “cam­panha” a favor do can­didato favorito do gov­er­nador. É o que dizem, e, tam­bém, o que pas­samos a obser­var.

Emb­ora não se saiba o alcance do uso da “máquina” o sim­ples apoio osten­sivo do gov­erno já tem o condão de dese­qui­li­brar o pleito.

Remem­o­rando as lem­branças que tenho da história do Maran­hão, acred­ito que nem o velho Vitorino Freire, de quem, inclu­sive, falei em texto recente, ousou tanto.

Não tenho dúvida que se trata do maior aten­tado con­tra a democ­ra­cia neste século e tam­bém dos pas­sa­dos.

Nada tenho con­tra este ou aquele can­didato, favorito ou preferido de quem quer que seja, mas vis­lum­bro que esta­mos diante de um abuso, uma clara inter­venção, no que dev­e­ria ser um “duelo” justo e com pari­dade de armas.

Como, aliás, requer toda e qual­quer democ­ra­cia.

Desde a declar­ação do gov­er­nador, ainda no domingo, que fervil­ham nos meios de comu­ni­cação, blogues, redes soci­ais e etcetera, declar­ações de apoio ao can­didato “do gov­er­nador”, da parte dos seus aux­il­iares – não sei se feitas, inclu­sive, em horário de expe­di­ente e com uso dos meios e instru­men­tos públi­cos – o que não faz difer­ença. Estes servi­dores ocu­pam car­gos em tempo inte­gral e ded­i­cação exclu­siva.

Algo, que pelo exagero, parece-​me tão acin­toso que dev­e­ria chamar a atenção dos órgãos de con­t­role, sobre­tudo, do Min­istério Público Estad­ual e do Min­istério Público Eleitoral e, prin­ci­pal­mente, do Poder Judi­ciário.

Durante os dois últi­mos anos acom­panho, dia sim e no outro tam­bém, o gov­er­nador do estado recla­mar de autori­tarismo e de abu­sos que estariam sendo cometi­dos pelo pres­i­dente da República.

Como podemos clas­si­ficar o ato de um gov­erno que atenta, como esta­mos assistindo, con­tra a liber­dade de escolha dos cidadãos, usando dos meios que vem utilizando?

Neste último ano, desde que ini­ciou a pan­demia no país, tenho assis­tido, o gov­er­nador do estado recla­mar dos maus modos do pres­i­dente da República na con­dução da crise san­itária. O que faz com razão, tendo em vista que o chefe da nação opta de forma irre­spon­sável e crim­i­nosa por uma ati­tude nega­cionista, por não respeitar regras de dis­tan­ci­a­mento, recusar-​se, por diver­sas vezes a usar más­cara, e por último, até ontem, dizer que o país não pode ser um país de “mar­i­cas”, numa alusão às pes­soas que temem a doença.

Esse “destram­belho” do pres­i­dente, assim como a “tor­cida” para que a vacina feita em parce­ria entre o Insti­tuto Butantã e uma empresa chi­nesa, é assunto para um texto especí­fico, que, inclu­sive, seria pub­li­cado antes deste.

Por conta dos errô­neos ou crim­i­nosos atos do pres­i­dente, o gov­er­nador, valendo-​se de sua “amizade” com a “grande” imprensa, é o que mais se man­i­festa, denun­cia e cobra compostura.

Pois bem, esse mesmo gov­er­nador que cobrou – e tanto cobra –, pos­tura do pres­i­dente da República no trato da pan­demia é o mesmo que, sem tirar a camisa ou a más­cara, declarou pos­suir um can­didato “favorito” para o segundo turno das eleições munic­i­pais na cap­i­tal do estado, sendo que este mesmo can­didato foi acu­sado de, entre os dias 5 e 11 de novem­bro, ter feito cam­panha eleitoral, abraçado vel­hin­has e enfer­mos e a out­ros inte­grantes dos gru­pos de risco para a COVID-​19, sabendo-​se infec­tado.

Quer dizer que o pres­i­dente República, estando saudável, pelo sim­ples fato de sair sem más­cara, aten­tava con­tra a saúde pública da nação, mas o repub­li­cano can­didato favorito do gov­er­nador, sabendo-​se infec­tado pode­ria fazer o que fez e ainda rece­ber o prêmio de alcaide da cap­i­tal?

É isso mesmo pro­dução?

Em um texto ante­rior, onde tratei deste assunto, por con­sid­erar tão abjeto o com­por­ta­mento do can­didato, dei-​lhe o bene­fí­cio da dúvida. Não se pode acusar alguém de um crime tão grave sem que exis­tam provas con­tun­dentes do fato.

Mas, se o can­didato não come­teu o crime, que providên­cias foram ado­tadas con­tra aque­las pes­soas que teriam “armado” con­tra ele e for­jado exame médico datado do dia 5/​11, ate­s­tando a contaminação?

A polí­cia abriu inquérito para apu­rar crime tão grave con­tra a saúde pública ou con­tra o can­didato?

A declar­ação fornecida pelo Lab­o­ratório Cen­tral do Estado — LACEN MA é falsa?

Se é falsa por que até agora as autori­dades não vieram a público dizer isso?

Se é ver­dadeira porque não tomaram providên­cias para impedir a ati­tude crim­i­nosa do candidato?

Se falsa, quais providên­cias ado­taram con­tra os falsificadores?

Vejam, sem querer ser “palmatória do mundo”, por um mín­imo de coerên­cia em relação a can­tilena do gov­er­nador no plano nacional, antes de declarar a apoio a um can­didato acu­sado de con­du­tas tão graves e abje­tas, sua excelên­cia, por respeito a pop­u­lação que gov­erna e prin­ci­pal­mente da cap­i­tal, dev­e­ria ter chamado uma cole­tiva e respon­dido para pat­uleia os ques­tion­a­men­tos acima.

Sim­ples­mente isso. Êpa, doutor, volte a fita. Esclareça isso antes.

Não é coer­ente que o gov­er­nador do estado que mais cobra o respeito das autori­dades fed­erais à crise san­itária oca­sion­ada pelo novo coro­n­avírus, se vista de “cabo eleitoral” de um can­didato acu­sado do hor­rendo crime de espal­har uma doença sabendo-​se infec­tado, e, ainda, que isso ocorra pela ganân­cia desme­dida pelo poder.

Isso se ele for cul­pado, repito.

Mas se não é, o gov­er­nador do estado não dev­e­ria declarar pub­li­ca­mente que ele, o can­didato, foi vítima de uma acusação sór­dida?

Não dev­e­ria colo­car a polí­cia na “cola” dos fal­si­fi­cadores do exame do can­didato e da declar­ação do Lab­o­ratório Cen­tral do Estado — LACEN MA?

Na minha ótica tais omis­sões soam como inco­erên­cias.

Êpa, doutor, volte a fita. Esclareça isso antes, repito.

Assim como é inco­er­ente o gov­er­nador do estado e demais autori­dades investi­das de “cabos eleitorais” apontarem que o con­fronto que ocor­rerá na cap­i­tal é con­tra o can­didato do sen­hor Bol­sonaro quando é jus­ta­mente o can­didato que apoiam o “com­pan­heiro” de par­tido dos fil­hos do pres­i­dente.

Não se pode enga­nar ou humil­har o povo com esse tipo de nar­ra­tiva. É infamante. É um insulto à nossa inteligên­cia.

Querem nos insul­tar? Insul­tem. Mas, pelo menos isso, não nos tratem como estúpi­dos.

Como disse no iní­cio deste texto, no Maran­hão, não duvido nem se me dis­serem que boi “avoa”. Quem diria, por exem­plo, que um can­didato depois de ser chamado de “ban­dido”, de ter ofen­di­dos o pai, inter­nado em estado grave, o par­tido e família e de ter clas­si­fi­cado tal ato como covarde, iria, sim­ples­mente, fin­gir que nada foi dito, que ofen­sas não foram lançadas, se con­tentaria com um «cho­cho» e irônico pedido des­cul­pas, para apoiar o “can­didato do governador”?

Êpa, xin­garam meu pai, cus­pi­ram na minha mãe e o que digo é: “bola pra frente”?

Ora, me com­pre um bode.

O can­didato que disse a plenos pul­mões que não deixaria “o ban­dido” chegar a prefeitura, aceita “na boa” o apoio do “ban­dido” e dos “fichas sujas”?

Os fatos nar­ra­dos – e out­ros mais graves que todos assis­ti­mos nesta cam­panha – , não acon­te­ce­ram no século pas­sado, não, foi na “sem­ana pas­sada”, todos os cidadãos ainda têm grava­dos na memória os insul­tos. Se bem que depois do que estou vendo, nem sei se podemos con­sid­erar como insul­tos. Se ficou bem para todos, então eram “elo­gios”.

Será que igno­ram o que seja decoro? O que seja decên­cia? O que seja dig­nidade?

De repente, depois das ofen­sas mútuas, de ofend­erem até a família em situ­ação difí­cil, se abraçam e dizem que está “tudo bem”?

É assim mesmo? É essa a lição para atual e futuras ger­ações: que vale tudo pelo poder?

Será que isso é nor­mal e eu que estou com­ple­ta­mente “fora de tempo”?

Essa é a nova política?

O novo tempo para o Maranhão?

Não, meus sen­hores, mil vezes, não. Isso não pode e não está certo. Não foi isso que aprendi com meu pai, que era anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira.

Esse tipo de política é degradante. Está errada e é da conta de todos. Até dos covardes, que silen­ciam e acham nor­mal.

Um pouco de coerên­cia, um pouco de decên­cia, um pouco de decoro, por favor.

É o que fica.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A nova velha política.

Escrito por Abdon Mar­inho

A NOVA VELHA POLÍTICA.

Por Abdon Marinho.

uns trinta ou mais anos, contava-​me um vel­hos político maran­hense como era as cam­pan­has políti­cas de antiga­mente. Como sem­pre fui um apre­ci­ador “cau­sos” ficava entretido enquanto remem­o­rava anti­gas histórias.

Certa vez contou-​me que quando, nas cam­pan­has, não se tinha nada con­tra um adver­sário, colo­cavam, nas cal­adas da noite, uma carta anôn­ima infor­mando ou insin­uando que o mesmo seria corno.

— Ainda que a mis­siva nada tivesse de fun­da­mento, pelo menos o adver­sário ficaria pre­ocu­pado com outra coisa, enquanto cor­ríamos com a nossa cam­panha. Assentava.

Eram out­ros tem­pos, tem­pos da “velha política”, com oitenta ou mais anos, lá da metade do século pas­sado, nos rincões do Maran­hão.

Conto tal história para fazer um para­lelo com o atual quadro político da cap­i­tal do estado nesta reta final de campanha.

Como sabe­mos os prin­ci­pais can­didatos a ocu­par a cadeira número um, no Palá­cio La Ravardière, são jovens não tendo chegado ou não se afas­tado muito da casa dos quarenta. E por serem tão jovens até foram apel­i­da­dos de “Menudos”, como refer­ên­cia a uma banda de ado­les­centes, do século pas­sado. Todos, sem exceção, “gri­tam” que fazem parte da chamada “nova política”, novas práti­cas, novas for­mas de gov­ernar e tan­tos out­ros palavrórios que uti­lizam para con­quis­tar os incautos.

Um fato grave, muito grave, entre­tanto, os trans­portam, pelo menos, uma parte deles, para os rincões do estado, de mea­dos do século pas­sado, uma volta ao pior do pas­sado em matéria de práti­cas políti­cas.

Como leitor já deve ter perce­bido, falo da polêmica envol­vendo um dos Menudos do con­sór­cio gov­ernista, suposta­mente, diag­nos­ti­cado com o novo coro­n­avírus, o COVID-​19.

O can­didato, suposta­mente, enfermo, anun­ciou que estaria com os sin­tomas com­patíveis com a COVID no iní­cio da tarde do dia 11/​11, fal­tando qua­tro dias para as eleições, anun­ciando a sus­pen­são das ativi­dades de cam­panha de rua, con­forme recomen­dação médica.

Pois bem, tudo estaria per­feito se não fosse a divul­gação, por uma emis­sora de tele­visão, de que o can­didato já estaria con­t­a­m­i­nado desde, pelo menos, o dia 05/​11, exibindo como prova um exame suposta­mente real­izado pelo Lab­o­ratório Cen­tral de Saúde Pública do Maran­hão — LACEN MA, vin­cu­lado à Sec­re­taria de Saúde do estado.

Eis que temos um caso de política se trans­for­mando em caso de polí­cia com diver­sas var­iáveis e diver­sos pos­síveis crimes em curso ou já cometi­dos.

Em sendo ver­dade que o can­didato foi diag­nos­ti­cado desde o dia 0511 e, ainda que ass­in­tomático, prosseguiu com a cam­panha, colo­cando em risco a vida de dezenas, cen­te­nas ou mil­hares de pes­soas, temos como certo que o can­didato come­teu um ou mais crimes, sem con­tar, um com­por­ta­mento infamante e indigno para alguém que pre­tende ser prefeito da capital.

O can­didato, por sua vez, nega. Afirma que jamais fez exame no lab­o­ratório público ou teve recol­hido mate­r­ial para que o tal exame fosse feito, não pas­sando de uma grotesca fraude o exame divul­gado pela emis­sora de tele­visão e por diver­sos veícu­los de imprensa.

Vejam, se seria grave, além de imoral e abjeto que um can­didato, sabendo-​se con­t­a­m­i­nado, pelo vírus que levou o mundo a uma pan­demia global, saísse por aí fazendo cam­panha como se nada tivesse acon­te­cido, con­t­a­m­i­nando e colo­cando em risco a vida out­ras pes­soas, não seria menos grave que uma emis­sora de tele­visão e diver­sos veícu­los divul­gassem um exame médico falso com a final­i­dade especí­fica de prej­u­dicar o can­didato.

Se o exame é falso, quem o fal­si­fi­cou e o “vazou” para a imprensa?

Se o exame é ver­dadeiro quem vio­lou o sig­ilo médico/​paciente e o tornou público?

Em nota, emi­tida no dia 12/​11, a Sec­re­taria de Saúde infor­mou que lhe cabe zelar pelo dire­ito à pri­vaci­dade dos cidadãos, asse­gu­rado pela Con­sti­tu­ição Fed­eral e que caberia ao próprio can­didato prestar as infor­mações que enten­der cabíveis.

O can­didato diz que nunca fez tal exame no LACEN MA. Se isso é ver­dade a SES não estaria violando sua pri­vaci­dade se dissesse que a afir­mação do can­didato é ver­dadeira ou falsa.

Afi­nal, que pri­vaci­dade estaria sendo vio­lada com a infor­mação de que o exame foi feito ou não pelo LACEN MA, desde que não infor­mado o conteúdo?

Por outro lado, se a SES diz zelar pela pri­vaci­dade dos cidadãos, como o exame, caso seja ver­dadeiro, vazou?

A SES não pode se eximir de esclare­cer este assunto, inclu­sive quando à omis­são, caso ver­dadeiro o exame, de o can­didato estava fazendo cam­panha quando dev­e­ria cumprir quar­entena obrigatória.

Acho que o Min­istério Público Eleitoral ou mesmo o Estad­ual pre­cisam bus­car esclarec­i­men­tos sobre os fatos.

Se o can­didato fez o exame no LACEN MA e sabendo pos­i­tivo con­tin­uou a cam­panha igno­rando dire­itos bási­cos essen­ci­ais dos cidadãos, ele pre­cisa respon­der pelos atos, não ape­nas na esfera penal, mas, tam­bém, per­ante a Assem­bleia Leg­isla­tiva, por falta de decoro.

O can­didato nega. Soube que o lab­o­ratório confirma.

Por outro lado, caso se trate de uma “fake news”, crime tip­i­fi­cado no artigo 326-​A, do Código Eleitoral, com pena de reclusão que vai de 2 a 8 anos, é necessário iden­ti­ficar o ou os crim­i­nosos. E, caso deten­tores de mandatos, que tam­bém respon­dam per­ante os seus pares.

Se o exame médico exibido pelos veícu­los de comu­ni­cação é falso, quem o fal­si­fi­cou e com qual intenção? Quem encomen­dou o crime e quem são os seus autores? Qual o papel dos veícu­los de comu­ni­cação na even­tu­al­i­dade de se tratar de uma fraude?

Entor­peci­dos pelo calor da dis­puta eleitoral, parece-​me que poucos aten­tam para a gravi­dade do fato ocor­rido: que o can­didato pode ter dis­sem­i­nado inten­cional­mente o vírus da pan­demia ou que seus adver­sários ten­ham for­jado, de forma sór­dida, doc­u­men­tos para incriminá-​lo e deixá-​lo mal per­ante seus eleitores e a comu­nidade de forma geral.

Em ambos os casos, trata-​se de algo de gravi­dade extrema a recla­mar das autori­dades uma resposta clara, defin­i­tiva e tran­quil­izadora, com a punição exem­plar de quem come­teu crimes. Seja do can­didato, caso tenha colo­cado em risco de con­tá­gio as pes­soas, seja daque­les que pos­sam ter “armado” para ele, na even­tu­al­i­dade de não serem ver­dadeiros o exame e a declar­ação do LACEN.

Ao meu sen­tir a situ­ação é de tal modo grave que não desprezo o bene­fí­cio da dúvida, tanto em relação ao que possa ter feito o can­didato quanto à pos­si­bil­i­dade dele ser uma vítima de um ardil da parte dos seus adver­sários.

Em qual­quer dos casos, jazem esten­di­das no chão: a tão son­hada e propal­ada “nova polit­ica” e bem pouco usada que ficou con­hecida como “ética”.

Abdon Mar­inho é advogado.

Como no tempo dos coronéis.

Escrito por Abdon Mar­inho

COMO NO TEMPO DOS CORONÉIS.

Por Abdon Marinho.

EXIS­TIU um tempo no Maran­hão em que os “coro­néis” eram os donos dos votos. Eram eles quem deci­dam, nas suas ter­ras e mesmo municí­pios. as pes­soas que seriam ou não votadas e/​ou eleitas.

Certa vez até con­tei em um dos tex­tos a história de um destes coro­néis durante deter­mi­nada eleição.

O “coro­nel”, escrupu­losa­mente, ia preenchendo as cédu­las e entre­gando uma a uma dev­i­da­mente dobrada para que os “eleitores” da fregue­sia as deposi­tassem na urna que lhe estava à vista dos olhos.

Deter­mi­nado “eleitor” tendo rece­bido a cédula fez menção de abri-​la quando o “coro­nel” o admoestou: — o que você pensa que está fazendo, cabo­clo?

Ao que este respon­deu: — ah, seu “coro­nel”, estou vendo em quem votei.

O coro­nel então retru­cou de pronto: — e você não sabe que o voto é secreto?

Por estes dias deparei-​me com uma situ­ação inusi­tada e semel­hante àquela dos coro­néis «donos dos votos” de outrora.

Tendo rece­bido uma noti­fi­cação para que um dos can­didatos a quem presto asses­so­ria removesse uma pro­pa­ganda irreg­u­lar, con­tactei a direção da cam­panha para que cumprisse a deter­mi­nação do juízo e nos encam­in­hasse a fotografia do ato.

Expi­rando o prazo voltei a ques­tionar a direção da cam­panha de que, até aquele momento, a fotografia com a remoção da pro­pa­ganda não tinha me sido encaminhada.

Foi aí que me foi con­fes­sado o motivo.

Relatou-​me o coor­de­nador da cam­panha que algum eleitor desav­isado colo­cara a pro­pa­ganda e que a direção da cam­panha não tinha como ir lá removê-​la por se tratar de área de domínio de uma facção crim­i­nosa e que esta não estava per­mitindo que alguém fosse lá reti­rar a pro­pa­ganda.

Por incrível que pareça aqui na ilha do Maran­hão e mesmo na cap­i­tal do estado, temos áreas em que o “poder para­lelo” dos traf­i­cantes e facções crim­i­nosas se tornaram “donas” do pedaço dom­i­nando a vida das pes­soas e até mesmo as prefer­ên­cias sobre em quem votar ou não votar, quem pode e quem não pode fazer pro­pa­ganda. Tal qual os coro­néis de antiga­mente.

Mas não pensem os sen­hores que os traf­i­cantes e/​ou fac­ciona­dos estão soz­in­hos neste intento aten­tatório à democ­ra­cia brasileira nes­tas eleições.

O gov­erno estad­ual que se ausenta de tais rincões e per­mite que o crime se instale deixando a pop­u­lação ao aban­dono e aos traf­i­cantes e ou fac­ciona­dos se igualam quando ten­tam por todos os meios, mod­i­ficar ou manip­u­lar a von­tade do eleitorado.

À vista de todos e sem con­strang­i­men­tos, usando o apar­elho do estado, temos os atu­ais gov­er­nantes “tra­bal­hando”, usando, lit­eral­mente, a máquina pública para ben­e­fi­ciar os seus ali­a­dos, em detri­mento das regras bási­cas da democracia.

O que digo, por óbvio, não é uma novi­dade. Já nas eleições de 2016, as primeiras depois do atual gov­erno ser insta­l­ado, tive­mos notí­cias – e denun­ci­amos –, toda sorte de abu­sos prat­i­ca­dos con­tra os adver­sários.

Abu­sos que foram desde a exe­cução de obras eleitor­eiras em diver­sos municí­pios, como asfal­ta­mento, dis­tribuição de títu­los de pro­priedade e tan­tos out­ros, até a pre­sença física e intim­i­datória da força poli­cial con­tra os adversários.

Já nas eleições de 2018, além do “cardá­pio” da eleição ante­rior, revelou-​se à pat­uleia, supos­tos lev­an­ta­men­tos de inteligên­cia sobre a situ­ação política de cada municí­pio com a iden­ti­fi­cação dos “pos­síveis” adver­sários do can­didato à reeleição ao gov­erno e aos demais mem­bros de sua “facção política”.

Até onde se sabe os respon­sáveis ainda não foram dev­i­da­mente punidos.

Mas não pensem que as denún­cias ou repri­men­das éti­cas afe­taram estes novos «coro­néis» na intenção de manip­u­larem a von­tade dos eleitores aos seus interesses.

Se é ver­dade que as dis­putas em grande parte dos inte­ri­ores ocor­rem entre cor­re­li­gionários das facções que apoiam o atual gov­erno e por isso a ação estatal dire­cionada con­tra este ou aquele can­didato torna-​se menos osten­siva o mesmo não ocorre em relação à dis­puta eleitoral na capital.

Na cap­i­tal – uma espé­cie de jóia da coroa –, o gov­erno estad­ual até aqui­esceu com a for­mação de um con­sór­cio de can­didatos entre as várias facções políti­cas uma vez que os inte­grantes do tal con­sór­cio foram ou pos­suem lig­ações com o gov­er­nante e para os quais não pou­cas vezes derramaram-​se elo­gios, que no pleitos fazem questão de expor.

Com­preen­sível que o gov­er­nante, emb­ora fil­i­ado a um par­tido não tenha, desde o iní­cio, vestido a camisa de um can­didato especí­fico, muito emb­ora tenha autor­izado ou lib­er­ado o sec­re­tari­ado para que o fizesse.

Um secretário, inclu­sive, disse com todas as letras e vír­gu­las que nada do que estava fazendo era fato oculto do man­datário.

É assim que temos secretários de estado inau­gu­rando obras em bene­fí­cios de can­didatos, par­tic­i­pando de comí­cios e até ameaçando de prisão os adversários.

Mas não prom­e­teram, lá atrás, que iriam lib­er­tar o Maran­hão dos quase cinquenta anos de atraso?

Outro dia assisti, estar­recido, a divul­gação de uma reunião de secretários de estado – que dev­e­riam se darem ao respeito –, em apoio a um dos can­didatos do con­sór­cio governista.

Assisti, em plena pan­demia, secretários de estado par­tic­i­parem de comí­cios de can­didatos nas quais se aglom­er­avam mil­hares de pes­soas, na maior naturalidade.

Assisti a um secretário de segu­rança dizer em pleno palanque que «pren­de­ria” os adver­sários caso alguma anor­mal­i­dade ocor­resse con­tra o seu can­didato.

Emb­ora se possa dizer que os secretários de estado não estavam em horário de expe­di­ente e, por­tanto, legí­tima a sua par­tic­i­pação política, trata-​se de man­i­fes­tações em que levam a força e o pode­rio estatal para dese­qui­li­brar o pleito eleitoral.

O mais grave, entre­tanto, é ver que o próprio gov­er­nador, eleito com a promessa de mudar os vel­hos cos­tumes, não ape­nas faz pior que os seus ante­ces­sores – e aí nem me refiro ao grupo Sar­ney, que diante do que vejo, comportavam-​se como lordes –, como ressus­cita o velho coro­nelismo dos tem­pos de Vitorino Freire, o tris­te­mente famoso vitorin­ismo.

Os atu­ais gov­er­nantes do estado, pelo que vejo, perderam a noção de lim­ites – e aqui não me refiro ape­nas aos lim­ites entre o que podem ou não fazer –, mas, tam­bém, a com­preen­são do que seja um com­por­ta­mento ético numa cam­panha eleitoral, uma evolução moral tanto pre­gada como dese­jada pelos homens de bem.

O mau exem­plo vem “de cima”. O gov­er­nador não sat­is­feito «ape­nas” em gravar vídeos a favor de seus “preferi­dos” ou per­mi­tir que façam uso de sua imagem, nos últi­mos dias retirou a “más­cara” da impar­cial­i­dade para atacar aque­les que con­sid­era seus adver­sários.

Mal­ograda a estraté­gia do con­sór­cio de can­didatos, vez que os ataques dos seus inte­grantes ao «adver­sário comum” não foram sufi­cientes para retirá-​lo da dis­puta, pas­saram a se atacarem mutu­a­mente, cada um pleit­e­ando a pos­si­bil­i­dade de ir ao segundo turno com ele.

Ao lado disso, escol­heram uma cabo eleitoral de “peso” para ajudá-​los: o próprio gov­er­nador.

A des­culpa de sua excelên­cia para reti­rar a “más­cara” de democ­rata e vestir-​se nos tra­jes de Vitorino Freire, foram supos­tos ataques que seu gov­erno teria rece­bido na gestão da CAEMA, a Com­pan­hia de Águas e Sanea­mento, da parte do can­didato adversário.

Ora, pelo que tenho acom­pan­hado, o que o assim nomeado «inimigo número um”, o I-​Jucá Pirama, do atual gov­erno, fez, foi tão somente, defender-​se dos ataques dos inte­grantes do con­sór­cio gov­ernista, que, desde o iní­cio da cam­panha, elegeram como ponto de ataque, a sua gestão frente a CAEMA, fato ocor­rido há 15 anos.

Na defesa, o can­didato pon­tuou isso, além de autoelogiar-​se, como é de se esperar, e mostrou que os prob­le­mas daquela empresa, pas­sa­dos tan­tos anos, na atual gestão, con­tin­uam maiores do que naquela época.

Qual é a inver­dade disso?

As lín­guas negras avançam para o mar em quase toda exten­são da orla; os rios da ilha tonara-​se esgo­tos a céu aberto; o atendi­mento à pop­u­lação, prin­ci­pal­mente a de baixa renda, con­tinua precário.

O can­didato não disse, mas pode­ria dizê-​lo, sem medo de errar, que o atual gov­erno estad­ual piorou quase todos os indi­cadores soci­ais do Maran­hão, inclu­sive o do aumento da pobreza extrema, que já eram sofríveis.

A situ­ação do Maran­hão é de retro­cesso abso­luto, inclu­sive, nas práti­cas polit­i­cas em que os gov­er­nantes se esmeram em copiar práti­cas de mais de cinquenta anos atrás, ombreando-​se com os mili­cianos e traf­i­cantes na estraté­gia de dom­inarem ter­ritórios.

Se aque­les, os mili­cianos e traf­i­cantes, fazem uso das armas para impedi­rem o acesso das pes­soas as suas áreas de influên­cia e as manip­u­larem, o gov­erno estad­ual, utiliza-​se de um exército de incon­táveis “jagunços”digitais, todos de alguma forma, a soldo dos cofres públi­cos, para destruir a honra e a história dos seus adver­sários – ou inimi­gos, que é a forma como os tratam.

O legado do atual gov­erno para o futuro é como um verso de Cazuza: “vejo o futuro repe­tir o pas­sado, vejo um museu de grandes novidades”.

Abdon Mar­inho é advogado.