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Um exem­plo a ser seguido.

Escrito por Abdon Mar­inho


UM EXEM­PLO A SER SEGUIDO.

Por Abdon Marinho.

PAS­SA­DOS mais de trinta dias desde a posse dos novos prefeitos Maran­hão e Brasil a fora, reg­istro o que para mim – respei­tando as inúmeras ini­cia­ti­vas de começo de mandato dos novos gestores –, foi a mais tocante.

Falo da opor­tuna e necessária medida ado­tada pelo prefeito de Arame, na região cen­tral do estado, Pedro Fer­nan­des, do PTB, de deter­mi­nar o recol­hi­mento de cen­te­nas de ani­mais que se encon­travam soltos pelas vias do municí­pio, prin­ci­pal­mente na MA 006, provo­cando aci­dentes e sofrendo infini­tos maus-​tratos.

Muito além de res­guardar as vidas que são per­di­das nos aci­dentes de trân­sito, a ini­cia­tiva do alcaide ara­mense, pro­tégé esses ani­mais, na sua imensa maio­ria, aban­don­a­dos pelos seus pro­pri­etários depois de se servirem deles por anos.

Acho que dev­e­riam sofrer alguma punição por isso.

Aban­don­a­dos, estes ani­mais vagam pelas sendas das estradas em busca de comida e/​ou água, sendo mal­trata­dos, vio­len­ta­dos, aqui e ali, atro­pela­dos e por vezes mor­tos nos aci­dentes que provo­cam e em que são as suas maiores víti­mas.

Os humanos, se aci­den­ta­dos, somos socor­ri­dos, lev­a­dos a um hos­pi­tal, trata­dos.

Os ani­mais, na imensa maio­ria das vezes, são esque­ci­dos nos locais dos aci­dentes, deix­a­dos para mor­rer com intensa dor, ou seguem pelas vias com alguma de suas patas que­bradas – e em pro­fundo sofri­mento para mor­rerem lenta­mente.

Com mais de 30 mil habi­tantes e o IDH lá embaixo, cer­ta­mente o Municí­pio de Arame tem infini­tas out­ras urgên­cias, na saúde, na edu­cação, na assistên­cia social, na agri­cul­tura, na infraestru­tura, etc., o prefeito sabe disso e deve bus­car soluções para tais desafios e ao ini­ciar suas gestão, já nos primeiros dias, cuidando da pro­teção aos ani­mais, já prova que pre­tende ir bem além da mesmice.

Quando recebi, através de aplica­tivos de celu­lar, os vídeos, fotografias e a infor­mação sobre a ini­cia­tiva, fiquei muito feliz e sen­si­bi­lizado. Acho que no mesmo dia, ou dias antes, comen­tava com um amigo que se fosse o prefeito minha primeira medida seria fazer algo pelos ani­mais que vagueiam pelas estradas.

O sofri­mento destes ani­mais aban­don­a­dos é algo que teste­munho e que me inco­moda há muitos anos, seja nas via­gens que faço rotineira­mente pelo inte­rior do estado, seja nos meus deslo­ca­men­tos diários a cam­inho do tra­balho ou de casa.

Todos os dias per­corro um tra­jeto de cerca de 60 km entre minha casa e meu tra­balho e vejo diari­a­mente o pade­cer dos animais.

Sem­pre me inco­modou e con­tinua a me inco­modar o “pouco caso” das autori­dades fed­erais, estad­u­ais e munic­i­pais com a quan­ti­dade de ani­mais que vagueiam aban­don­a­dos pelas vias, cau­sando e sofrendo aci­dentes. Não tomam a ini­cia­tiva nem de lhes ofer­e­cer uma morte digna, deixando-​os sofrer, de aci­dentes em aci­dentes, até que a morte deles se apie­dem.

Daí ter ficado tão feliz com a ini­cia­tiva do prefeito de Arame.

Quem sabe out­ros gestores sabendo do seu gesto não saiam da indifer­ença e tam­bém façam algo.

A respon­s­abil­i­dade é de todos, inclu­sive, da sociedade civil, que deve cobrar uma solução para estes pobres ani­mais que sofrem como se car­regassem os peca­dos do mundo.

Minha mãe era devota de São Fran­cisco de Assis, o santo pro­te­tor dos ani­mais, e nas suas aflições a ele sem­pre bus­cava. Em hom­e­nagem ao santo, um dos meus irmãos chama-​se Fran­cisco, o único que não foi nomeado por ela com nomes ini­ci­a­dos pela letra “A”.

Foi uma promessa por alguma graça alcançada ou pela saúde de algum dos fil­hos.

Desta devoção materna pelo santo, além dos hábitos fran­cis­canos que éramos chama­dos a usar dev­ido a alguma promessa, her­damos o amor pelos ani­mais.

Desde cri­ança que não suporto ver o sofri­mento dos ani­mais ou alguém os mal­tratando. Mesmo a notí­cia destes maus-​tratos me causa revolta e indig­nação.

É o mesmo sen­ti­mento que exper­i­mento ao saber de maus-​tratos a cri­anças, idosos, defi­cientes ou qual­quer outro que não tenha condições de se defender.

Os ani­mais, ao meu sen­tir, estão nesta cat­e­go­ria. Eles não con­seguem se defender ou, por si, darem uma solução para suas dores ou sofri­men­tos.

Os humanos que dev­e­riam fazer isso por eles. Não fazem. E, muitas das vezes – quase sem­pre –, são os cau­sadores do seu sofri­mento.

Ape­sar de tan­tos avanços cien­tí­fi­cos e tec­nológi­cos, não evoluí­mos o sufi­ciente para nos con­do­er­mos com o sofri­mento dos ani­mais que nos cercam.

A omis­são da sociedade, acred­ito que seja a prin­ci­pal respon­sável pelo descaso das autori­dades em relação ao sofri­mento que pade­cem estes ani­mais aban­don­a­dos.

Não me recordo de ter visto nen­hum can­didato a prefeito, ou, mesmo, a vereador se com­pro­m­e­ter com uma solução para o prob­lema. Mesmo na cap­i­tal e na região met­ro­pol­i­tana, não pre­cisamos andar muito para teste­munhar a “pro­cis­são” de ani­mais vagando sem des­tino em busca de comida, de um pouco de água, machu­ca­dos, muti­la­dos, etc.

A nossa indifer­ença tem parte nisso.

Que o bom Deus ilu­mine nos­sos corações e de out­ros gestores para que se inspirem no bom exem­plo do prefeito Arame, Pedro Fer­nan­des, e façamos alguma coisa para acol­her os ani­mais que estão sofrendo tanto diante dos nos­sos olhos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

O petismo é o pasto que ali­menta o bolsonarismo.

Escrito por Abdon Mar­inho

O PETISMO É O PASTO QUE ALI­MENTA O BOL­SONAR­ISMO.

Por Abdon Marinho.

BUSQUEI out­ros temas para o nosso texto hoje – de prefer­ên­cia que pas­sasse longe da nossa tóx­ica pauta política –, entre­tanto, a sem­ana política no Brasil acabou por se impor sobre todas as out­ras.

Exceto para os tan­sos, o Brasil viveu/​vive uma sem­ana histórica para o seu futuro político e que pode ser deter­mi­nante para as futuras engen­harias políti­cas e as eleições de 2022.

A sem­ana histórica teve iní­cio no domingo, 17, com a aprovação pela Anvisa, das vaci­nas do con­sór­cio Butantan/​Sinovac e do con­sór­cio Oxford/​AstraZeneca/​Fiocruz, e ter­mina com dezenas de man­i­fes­tações, sobre­tudo, car­reatas con­tra o gov­erno em diver­sas cap­i­tais do país.

No episó­dio da vacina tudo que o gov­erno fed­eral se propôs a fazer con­tra si saiu, mel­hor do que a encomenda.

Nega­cionista desde o iní­cio da pan­demia, não acred­i­tou que ela fosse cei­far tan­tas vidas; com os mor­tos se acu­mu­lando min­i­mi­zou ou “con­solou” os famil­iares e víti­mas: — todos vão mor­rer um dia; enquanto o mundo inteiro apos­tava e inves­tia no desen­volvi­mento de vaci­nas e se prepar­ava para quando ela estivesse pronta, o gov­erno brasileiro apos­tou em ape­nas uma: a da parce­ria Oxford/​AstraZeneca/​Fiocruz.

Foi além e fez pior. Como se uma vacina fosse a causa e não a solução, “danou-​se” a falar mal da vacina do con­sór­cio Butantan/​Sinovac, de “que­bra”, o próprio pres­i­dente, seus famil­iares e seu gov­erno, pas­sou a fusti­gar a China, que, diga-​se de pas­sagem, é o prin­ci­pal par­ceiro com­er­cial do Brasil e de onde vem a grande maio­ria dos insumos para se pro­duzir vaci­nas e… quase tudo.

Como a vacina do con­sór­cio Butantan/​Sinovac estava sendo “ban­cada” pelo gov­erno de São Paulo, dirigido por seu prin­ci­pal adver­sário político, além de torcer pelo seu insucesso, vibrar diante de qual­quer inter­cor­rên­cia, além de falar mal, de manhã, de tarde e de noite, lá atrás, aten­dendo – ou respon­dendo –, a um “con­sel­heiro” de uma de suas redes soci­ais, de ape­nas 17 anos, proibiu e desautor­i­zou o seu min­istro da saúde – que um dia antes anun­ciara, em reunião com todos os gov­er­nadores do país, a intenção de adquirir a dita vacina –, de efe­t­uar o negó­cio.

O Brasil tem dessas coisas que só viven­ciando para se acred­i­tar, essa foi uma delas: um gen­eral de exército de qua­tro estre­las foi desautor­izado pela inter­venção de um fedelho de 17 anos.

O pres­i­dente disse tex­tual­mente que o pres­i­dente era ele e que não iriam com­prar a p* da vacina chi­nesa do gov­er­nador das calças aper­tadas. Ele que procurasse outro.

O gen­eral, na defesa de sua honra, diante do escu­la­cho, saiu-​se com essa: “é sim­ples, um manda, outro obe­dece”.

Enquanto o tempo pas­sava o gov­erno de São Paulo ia recebendo as doses da vacina do seu con­sór­cio e pro­duzindo out­ras tan­tas, ficando só na dependên­cia da autor­iza­ção da Anvisa para ini­ciar a vaci­nação.

Com a faca e o queijo na mão, digo a vacina, o gov­er­nador de São Paulo mar­cou uma data para ini­ciar a vaci­nação de seus cidadãos: 25 de janeiro, ele­vando a pressão sobre o gov­erno fed­eral, que não tinha/​tem plano, nem vacina.

Somente quando encur­ral­ado pela real­i­dade: mais de cinquenta países já tendo ini­ci­ado a imu­niza­ção de seus cidadãos e o Brasil sem nem pre­visão, foi que o gov­erno cor­reu para ten­tar des­dizer tudo que havia dito e feito.

A “vachina” chi­nesa do Dória, com 50% por cento de eficá­cia e que pode­ria fazer as pes­soas que a tomassem virar “jacaré” pas­saria a ser a vacina do Brasil e Min­istério da Saúde que­ria todo o estoque imediatamente.

Registre-​se que o gov­erno fed­eral ainda ten­tou uma “Oper­ação Taba­jara” para bus­car dois mil­hões de doses de vaci­nas do con­sór­cio Oxford/​AstraZeneca, que vamos com­bi­nar é uma “amostra grátis”, com­parado a nossa neces­si­dade, para ini­ciar a vaci­nação dos cidadãos por ela, com pres­i­dente levando os louros.

Não deu certo. Só essa sem­ana os dois mil­hões de doses chegaram da Índia. Pior, a Fiocruz anun­ciou que ter­e­mos pro­dução de vaci­nas desta parce­ria no Brasil, lá por março.

O certo é que no dia 17/​01, pouco depois da Anvisa lib­erar o uso das duas vaci­nas, o gov­er­nador de São Paulo, tirava sua “casquinha política” ao ini­ciar a vaci­nação dos cidadãos do seu estado con­tra a COVID.

Se o pres­i­dente não estava lendo gibi ou tro­cando impressões sobre a macro­econo­mia global com seus coleguin­has de 17 anos das suas redes soci­ais, assis­tiu a tudo pela tele­visão. Assis­tiu, inclu­sive, seu min­istro da saúde men­tir em rede nacional ao dizer que as vaci­nas foram custeadas com recur­sos do SUS para ser des­men­tido na mesma hora pelo gov­er­nador de São Paulo que, tam­bém, con­ce­dia uma entre­vista cole­tiva.

Na mesma sem­ana o gov­erno fed­eral teve que assi­s­tir, para suprema ver­gonha, a ditadura venezue­lana, que está matando seus cidadãos de fome, enviar cam­in­hões com supri­men­tos de oxigênio para socor­rer a pop­u­lação do Ama­zonas que estava – e ainda está –, per­dendo vidas por falta de oxigênio.

Pois é, uma ditadura ver­gonhosa e mis­erável teve que socor­rer nos­sos cidadãos porque o gov­erno brasileiro que dias antes fora avisado do prob­lema “não ligou” ou não se mostrou capaz de resolver. Par­tiu foi para a ter­ce­i­riza­ção da respon­s­abil­i­dade. Ah, o cul­pado é o gov­er­nador; ah, o cul­pado é o prefeito; ah, o cul­pado é o dire­tor do hos­pi­tal; ah, o cul­pado é a vítima – afi­nal, quem man­dou pre­cisar de oxigênio.

Na ver­dade só quem não tem culpa é vítima. Todos demais têm culpa e respon­s­abil­i­dades, inclu­sive, o gov­erno fed­eral.

O nosso sis­tema de saúde, uma das mel­hores coisas implan­tadas pela Carta de 1988 e dis­ci­plinado pela Lei 8080, é único e hier­ar­quizado, com cada esfera de poder assu­mindo suas respon­s­abil­i­dades.

Ainda que o Min­istério da Saúde, que na esfera fed­eral é quem coman­dava sis­tema todo, não tivesse “nada” com o prob­lema de escassez de oxigênio, ele tinha a obri­gação de ado­tar as medi­das cabíveis para que isso não ocor­resse.

E ele, o Min­istério, foi avisado com ante­cedên­cia do prob­lema.

E por diver­sas fontes.

A respon­s­abil­i­dade parece tão patente que até o procurador-​geral da República, que tem uma preguiça mór­bida para “procu­rar” algo que envolva o gov­erno fed­eral, pediu ao Supremo que abrisse um inquérito para inves­ti­gar e apu­rar as cir­cun­stân­cias do mor­ticínio ocor­rido em Man­aus, Amazonas.

O gov­erno do sen­hor Bol­sonaro vive um mau momento, tanto que ele já cor­reu para des­dizer diver­sas coisas que disse ao longo dos últi­mos anos e parte para fazer mais con­cessões ao grupo que lhe dá sus­ten­tação no Con­gresso Nacional, o famoso “cen­trão” – pois já são insis­tentes os pedi­dos de impeach­ment, o que impli­caria, com ou sem êxito, no fim do gov­erno –, enquanto acena para as Forças Armadas, ten­tando seduzi-​las para um golpe.

No dia seguinte ao iní­cio da vaci­nação, enquanto todo mundo estava falando disso, do nada, saiu com a declar­ação torta de que só existe democ­ra­cia porque as Forças Armadas querem, mais para frente, almoço no clube mil­i­tar.

Toda vez que o gov­erno é con­frontado com a real­i­dade, o pres­i­dente corre para trás de uma farda. E olha que ele não se cansa de humil­har os mil­itares, que o diga o gen­eral Paz­zuelo.

Como dito ante­ri­or­mente o gov­erno do sen­hor Bol­sonaro se encon­tra em um pés­simo momento. As últi­mas pesquisas já rev­e­lam isso.

A rejeição ao gov­erno já é bem supe­rior a aprovação e existe uma tendên­cia de piora com o fim do auxílio emer­gen­cial e o aumento da pobreza decor­rente disso.

Com isso, o pro­jeto de reeleição “subiu no tel­hado”.

Emb­ora propague – de forma cal­cu­lada –, que foi eleito no primeiro turno, o sen­hor Bol­sonaro é sabedor que a sua eleição, mas do que qual­quer outra coisa, foi um rechaço ao petismo.

Muitos eleitores não foram votar em Bol­sonaro, foram votar con­tra o PT, que desde 2005 sabe dos seus desac­er­tos e até hoje não fez uma autocrítica ou pediu des­cul­pas ao povo brasileiro.

Na próx­ima eleição, Bol­sonaro será o PT. As pes­soas irão às urnas, sem olhar para o outro lado, porque querem derrotá-​lo.

O pres­i­dente Bol­sonaro e os poucos no seu entorno que pen­sam, sabem disso. Ele próprio sabe disso, tanto assim que essa sem­ana histórica, enquanto via sua aceitação ruir, numa de suas falas, disse esperar que o seu suces­sor não seja uma volta ao pas­sado.

Aliás, toda vez que alguém crit­ica o gov­erno ou o próprio Bol­sonaro diante de um bol­sonar­ista, não se ouve uma defesa do gov­erno ou do pres­i­dente. O que se ouve em ambas as defe­sas é: — e o PT? E o Lula? Ou, o supremo sar­casmo: — bom mesmo era com o PT.

Na ver­dade, tudo que ele e os bol­sonar­is­tas querem é uma nova dis­puta com um can­didato petista, para tentarem gal­va­nizar todo o sen­ti­mento anti­cor­rupção que pavi­men­tou sua vitória em 2018 – muito emb­ora seja ele, hoje, o “fiador” de todos os cor­rup­tos que se far­taram nos gov­er­nos petis­tas.

Sabem muito bem que a via­bi­liza­ção de alguém com­pet­i­tivo fora do espec­tro petista – e seus satélites –, pelas razões já ditas, não será tão fácil de ser derrotado.

Noutra palavras, como assen­tei no título, o petismo é o pasto que ali­menta o bolsonarismo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Uma vacina para o caráter.

Escrito por Abdon Mar­inho

UMA VACINA PARA O CARÁTER.

Por Abdon Mar­inho.

CON­TRAI a poliomielite nos meus primeiros anos de vida no iní­cio dos anos setenta, final dos sessenta, quando a molés­tia começava a se expandir pelo país. Desde então, por mais de cinquenta anos ela tem sido a minha mais cruel e fiel com­pan­heira.

O Brasil reg­istrou 26 mil casos de poliomielite de 1968 a 1989 – sou um na estatís­tica –, tendo errad­i­cado a doença medi­ante cam­pan­has sis­temáti­cas e efi­cazes de vaci­nação em massa de cri­anças, não reg­is­trando mais casos há trinta anos.

Não era assim no final dos anos sessenta e iní­cio dos setenta.

No inte­rior, iso­la­dos e sem con­hec­i­mento, meus pais sequer sabiam o que era a minha doença, ten­tado fazer mel­ho­rar com remé­dios caseiros. Somente quando perce­beram que nada fazia efeito foi que, em penosa viagem, levaram-​me à Teresina, em uma viagem, parte em lombo de burro, parte em “pau de arara”.

O Maran­hão não pos­suía estradas que prestassem e a viagem do povoado onde morá­va­mos, no inte­rior do Municí­pio de Gov­er­nador Archer à Teresina, no Piauí, demor­ava uma eternidade, ainda mais no trans­porte da época.

Ape­nas lá sou­beram o diag­nós­tico da doença e que a par­al­isia das per­nas era irre­ver­sível. Tive que apren­der, nova­mente, a andar e a con­viver com as lim­i­tações impostas pela poliomielite e suas sequelas.

Pas­sa­dos mais de cinquenta anos não con­segui enten­der como o vírus da pólio me achou tão longe. Mas, o certo é que achou.

Emb­ora a poliomielite tenha atingido min­has duas per­nas, com mais inten­si­dade, na dire­ita. Isso não me impediu de levar uma vida prati­ca­mente nor­mal, estu­dar, me for­mar, exercer minha profis­são. De uns tem­pos para cá tenho sen­tido um enfraque­c­i­mento nas per­nas e um aumento sig­ni­fica­tivo na difi­cul­dade para me loco­mover, mas faz parte e vamos enfrentar mais essa batalha.

Ape­sar de haver “ven­cido”, e coloco entre mil aspas o “ven­cido”, as difi­cul­dades impostas pela par­al­isia infan­til, o nome pop­u­lar da poliomielite, decerto que prefe­ria que ela não tivesse me “achado”.

Acho muito bonito e moti­vador os exem­p­los de super­ação de quem con­vive com as seque­las da poliomielite e de tan­tas out­ras molés­tias – muitas até mais debil­i­tantes que a minha –, mas, cada um sabe das suas dores e o quanto lhes custa con­viver com elas.

Acred­ito que ninguém escol­he­ria isso se tivesse a opção de escolha.

Tenho plena con­sciên­cia que os meus pais não tiveram qual­quer respon­s­abil­i­dade pelo que acon­te­ceu comigo – moravam iso­la­dos no inte­rior, sem con­hec­i­mento, infor­mação e anal­fa­betos por parte da pai, mãe e parteira –, assim como tenho plena con­vicção de que o Estado brasileiro fal­hou comigo. Comigo e com out­ros 26 mil brasileiros que foram acometi­dos pela poliomielite.

Uma cam­panha de vaci­nação em massa, um tra­balho efi­ciente teria evi­tado que eu e tan­tos out­ros brasileiros tivésse­mos que con­viver com os efeitos da poliomielite pelo resto de nos­sas vidas, muitas das vezes sentindo o agrava­mento do nosso quadro com o pas­sar dos anos.

Uma vacina, uma got­inha de vacina teria evi­tado tudo isso.

Pois bem, não faço essa breve digressão moti­va­dos por qual­quer sen­ti­mento de auto­comis­er­ação, longe disso, sou duro, como as árvores retor­ci­das do sertão.

A digressão que faço é ape­nas para externar o meu sen­ti­mento de pro­funda revolta con­tra deter­mi­nadas autori­dades – seus ali­a­dos e adu­ladores –, que teimam, insis­tem, de forma despu­do­rada, em plena pan­demia, de não levarem a sério uma molés­tia que já tirou mil­hões de vidas em um espaço de um ano e, pior que teimam em faz­erem cam­panha con­tra a vaci­nação dos brasileiros con­tra a covid e/​ou tratarem uma questão de saúde pública gravís­sima através de um prisma ou viés ide­ológico.

Que tipo de humano é capaz de ser con­tra uma vacina ou ser con­tra a vaci­nação dos cidadãos diante de uma pan­demia? Ou de qual­quer outra doença?

O desre­speito de diver­sas autori­dades pela vida dos brasileiros neste momento de tamanha aflição para aque­les que estão esperando algum con­forto ante a iminên­cia de serem a próx­ima vítima ou aque­les que pran­teiam seus mor­tos é algo de fazer inveja aos mel­hores roter­is­tas de filmes de terror.

O mundo ultra­pas­sou a triste marca de dois mil­hões de mortes por esta pan­demia, deste total, mais de 200 mil só no Brasil; ou seja, o Brasil, com menos de qua­tro por cento da pop­u­lação do plan­eta responde por dez por cento dos óbitos da pan­demia, só per­dendo em números abso­lu­tos de víti­mas para os Esta­dos Unidos, que ultra­pas­sou as 400 mil vidas per­di­das.

Enquanto assis­ti­mos o mundo inteiro se unir para vaci­nar seus cidadãos – a começar pelos mais vul­neráveis, e já são mais de trinta mil­hões vaci­na­dos –, no Brasil, assis­ti­mos, repito, uma guerra política sem prece­dentes, como se a vida das pes­soas nada mais fosse que um número nas estatís­ti­cas dos seus cál­cu­los eleitorais.

Assis­ti­mos autori­dades, seus ali­a­dos, seguidores e adu­ladores a faz­erem cam­pan­has, desmere­cer ou “torcerem” con­tra uma vacina por ter sido “patroci­nada” por um adver­sário político.

Chega a ser patético o com­por­ta­mento do gov­erno fed­eral em relação à vacina fruto da parce­ria entre o Insti­tuto Butan­tan e a empresa chi­nesa Sino­vac.

Tão patético – e grave –, que o pres­i­dente da República chegou ao júbilo, lá atrás, quando um cidadão que se vol­un­tar­iou para testes e, depois veio a óbito de outra causa sem relação com a vacina; ou quando ironi­zou o grau de eficá­cia da vacina, em torno de cinquenta por cento.

Acon­tece que foi essa a vacina que nos restou – até o momento.

Em grande parte por culpa do gov­erno fed­eral, que não foi atrás de parce­rias com out­ras empre­sas e gov­erno, com exceção da vacina de Oxford/​Fundação Osvaldo Cruz, tam­bém, em fase de aprovação pela Anvisa, mas sem pro­dução, no país, sufi­ciente para ini­ciar a vaci­nação dos brasileiros.

A falta de com­preen­são do prob­lema e da urgên­cia da solução, faz o pres­i­dente dizer coisas do tipo: “os lab­o­ratórios que nos pro­curem, caso queiram vender para o nosso vasto mer­cado con­sum­i­dor”.

Caso a Anvisa aprove a vacina da parce­ria Butantan/​Sinovac – e tudo indica que vai aprovar e que a vacina é segura –, será com ela que con­tare­mos para não ficar­mos tão atrás na cor­rida pela imu­niza­ção, tendo em vista que mais de cinquenta países já ini­cia­ram a vaci­nação enquanto por aqui ainda não sabe­mos o dia D e a hora H.

O grau de inter­esse político é tamanho em torno disso que o gov­erno brasileiro “mendiga” – sem sucesso –, umas doses de vacina junto ao gov­erno indi­ano para não ter que começar a vaci­nação com a satanizada “vachina” chi­nesa, como a chamam, na intenção de desmerecê-​la.

Isso tudo acon­te­cendo enquanto uma segunda onda do vírus aumenta a inten­si­dade de con­tá­gio e o número de víti­mas.

As cenas de Man­aus, no Ama­zonas, que cor­reram o mundo, sem­ana pas­sada, não pode­riam ser mais emblemáti­cas: no coração da flo­resta amazônica, con­sid­er­ada o pul­mão do mundo, as pes­soas mor­rendo em casa e nos hos­pi­tais por falta de oxigênio.

Uma ver­gonha triste e lamen­tável.

Mais triste e lamen­tável ainda é ver­mos a “guerra” que as mais ele­vadas autori­dades da República travam em torno de uma vacina que poderá min­i­mizar tanta dor e sofri­mento.

Este, ainda, não é o momento, mas algum dia ter­e­mos que ajus­tar as con­tas com a história.

Os respon­sáveis por toda essa tragé­dia que acomete o Brasil pre­cisam ser respon­s­abi­liza­dos, nas urnas, na justiça, e pagarem por tudo que têm feito – ou que deixaram de fazer.

Não podemos esperar que respon­dam ape­nas per­ante o tri­bunal do Altís­simo.

Os cul­pa­dos – e os omis­sos –, terão que respon­der por tan­tas vidas per­di­das.

Enquanto isso não ocorre, apela-​se as pes­soas de bom senso que não se deixem con­t­a­m­i­nar pelo vírus da ignorân­cia e da falta de caráter, e enten­dam que vaci­nar a pop­u­lação é a única alter­na­tiva cor­reta para vencer­mos mais esse desafio.

Foi com a ciên­cia, tra­bal­hando a favor da humanidade, pro­duzindo medica­men­tos e vaci­nas, que nos fez escapar até aqui, que fez com que mais que dobrásse­mos a expec­ta­tiva de vida e gan­hásse­mos mais qual­i­dade de vida.

Os políti­cos geno­ci­das e igno­rantes nos legaram – e con­tin­uam legando –, as guer­ras, as mortes, a fome e a destru­ição.

Assim, tão logo as agên­cias de con­t­role atestarem que as vaci­nas são seguras e aptas para sal­varem vidas, vamos nos vaci­nar.

Não vamos ouvir ou dá atenção para as teo­rias da con­spir­ação ou dis­cur­sos fru­tos de mesquin­hos inter­esses pes­soais.

Infe­liz­mente, con­tra a ignorân­cia não existe uma vacina efi­caz.

Encerro dizendo que pre­cisamos nos vaci­nar con­tra os maus-​carácteres. Con­tra estes, se políti­cos, a mel­hor vacina é o voto.

Abdon Mar­inho é advo­gado.