AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

A dis­tân­cia entre as boas intenções e a realidade.

Escrito por Abdon Mar­inho

A DIS­TÂN­CIA ENTRE AS BOAS INTENÇÕES E A REAL­I­DADE.

Por Abdon Marinho.

CON­FIR­MANDO o que disse aqui há alguns dias (acho que duas sem­anas), o Tri­bunal de Con­tas do Estado — TCE/​MA, aten­dendo a uma “provo­cação” da Rede de Con­t­role, uma espé­cie de “força tarefa” com­posta pelo próprio Tri­bunal de Con­tas do Estado, Min­istério Público Estad­ual e Ordem dos Advo­ga­dos, abriu uma con­sulta pública a respeito de uma instrução nor­ma­tiva visando obri­gar os órgãos sob sua juris­dição a con­tratar somente através de pregão eletrônico.

A con­sulta pública, parece-​me que vai até o próx­imo dia 6 de abril, e, pelo que vi, em alguma rede social o MPMA encontra-​se em plena “cam­panha” a favor da men­cionada instrução normativa.

Con­forme assen­tei no texto ante­rior, não duvido que os autores da ideia, este­jam “calça­dos” nas mel­hores das intenções, entre­tanto, a men­cionada proposição choca-​se lit­eral­mente com as nor­mas legais e padece de vício de ini­cia­tiva.

Isso quer dizer, primeiro, que uma instrução nor­ma­tiva não pode se sobre­por a lei, inclu­sive a nova Lei de Lic­i­tações san­cionada na sem­ana pas­sada; e ninguém pode ser obri­gado a fazer ou deixar de fazer algo senão em vir­tude de lei, é o que ensina o inciso II, do artigo 5º, da Con­sti­tu­ição Fed­eral.

Segundo, não cabe o TCEMA “leg­is­lar” sobre tal matéria.

Aliás, difer­ente do que vem fazendo ao longo dos anos, não lhe cabe “leg­is­lar” sobre assunto nen­hum, ainda que use o argu­mento de que ape­nas está reg­u­la­men­tando matéria de sua esfera de competência.

Acred­ito que a Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil, Sec­cional do Maran­hão — OAB/​MA, assim como out­ros inter­es­sa­dos, irão se man­i­fes­tar con­trários à Instrução Nor­ma­tiva do TCEMA e, caso aprovada, irão “bater” às por­tas do Poder Judi­ciário arguindo sua incon­sti­tu­cional­i­dade e/​ou legalidade.

Essa é a minha opinião, caso me consultem.

O obje­tivo desse texto, entre­tanto, como o foi o ante­rior é chamar a atenção da sociedade para o quanto os órgãos de con­t­role, que por sua con­sti­tu­ição, são for­ma­dos pela “elite” da sociedade, estão “desconec­ta­dos” da real­i­dade do país e do nosso estado, em par­tic­u­lar.

O Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­tica — IBGE divul­gou recen­te­mente os dados da pop­u­lação em situ­ação de pobreza, enten­di­dos assim, aque­las que pos­suem renda per capita men­sal de até R$ 420,00 (qua­tro­cen­tos e vinte reais). Dos esta­dos do norte/​nordeste o mel­hor situ­ado é o Estado do Tocan­tins, com 32% (trinta e dois por cento) da pop­u­lação em condição de pobreza.

A taxa nacional de pes­soas em condições de pobreza é de 26,5% (vinte e seis e meio por cento) da população.

Não é só. O Maran­hão, dos 26 esta­dos do Brasil e o Dis­trito Fed­eral, é o que apre­senta a pior situ­ação, com 54% (cinquenta e qua­tro por cento) da pop­u­lação em situ­ação de pobreza. Ape­nas para reg­istro, o Piauí, que é o estado que mais se aprox­ima do Maran­hão neste que­sito, encontra-​se nove pon­tos per­centu­ais abaixo do nosso estado, com 45% (quarenta e cinco por cento) da pop­u­lação em condições de pobreza.

A pobreza do Maran­hão é tão tris­te­mente avas­sal­adora que exige um texto especí­fico para tratar de tal assunto.

Merece relevo infor­mar que os dados divul­ga­dos pelo IBGE se ref­erem à situ­ação no ano de 2019, ou seja, são ante­ri­ores a essa ter­rível pan­demia, ao esface­la­mento da econo­mia mundial, e da brasileira, em par­tic­u­lar; ao aumento cres­cente da inflação; e a rev­e­lação do pro­fundo des­gov­erno que esta­mos vivendo.

Isso para dizer que ao final de tudo, con­forme já esta­mos teste­munhando na prática, o empo­brec­i­mento da pop­u­lação brasileira e, prin­ci­pal­mente, a pop­u­lação do Maran­hão, que já era, em 2019, a mais pobre, será ainda maior.

Há doze anos que escrevo, há doze anos que digo que só saire­mos desta situ­ação de pobreza com aporte de recur­sos (muitos recur­sos) exter­nos.

A econo­mia do Maran­hão, assim como out­ras, do norte/​nordeste não serão capazes, por si, de debe­larem as pro­fun­das desigual­dades soci­ais exis­tentes nestes estados.

O caso do Maran­hão é a prova cabal do que venho dizendo estes anos todos.

O Maran­hão vem empo­bre­cendo cada vez mais e estará indizivel­mente mais pobre ao tér­mino desta pandemia.

Sabedor das difi­cul­dades do estado desde bem antes desta pan­demia, saudei com muito entu­si­asmo a ideia do Zona de Expor­tação do Maran­hão; a pos­si­bil­i­dade do uso com­er­cial da Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara; a ampli­ação do Porto do Itaqui; a con­clusão da fer­rovia norte-​sul, etc.

São estes inves­ti­men­tos e tan­tos out­ros que poderão impul­sionar o desen­volvi­mento do estado e mino­rar as condições de pobreza do nosso povo.

O Estado/​nação deve ser o prin­ci­pal indu­tor do desen­volvi­mento do país. E quando falo “país”, estou falando, dos esta­dos e prin­ci­pal­mente, dos municí­pios.

Desde quando come­cei a advogar para os municí­pios do Maran­hão, há mais de vinte anos, que afirmo que o Estado, entenda-​se por Estado, o con­junto de esta­dos e municí­pios, não existe para “dá lucro”, o seu obje­tivo é a pro­moção do desen­volvi­mento; a redução das desigual­dades soci­ais.

E isso, nada mais é do que esta­b­elece a Con­sti­tu­ição Fed­eral, ao afir­mar:

Art. 3º Con­stituem obje­tivos fun­da­men­tais da República Fed­er­a­tiva do Brasil:

I — con­struir uma sociedade livre, justa e solidária;

II — garan­tir o desen­volvi­mento nacional;

III — erradicar a pobreza e a mar­gin­al­iza­ção e reduzir as desigual­dades soci­ais e regionais;

IV — pro­mover o bem de todos, sem pre­con­ceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais­quer out­ras for­mas de discriminação.

Ora, como vamos erradicar a pobreza e a mar­gin­al­iza­ção e reduzir as desigual­dades soci­ais e region­ais se a invés de bus­car­mos mais recur­sos e inves­ti­men­tos para os paupér­ri­mos municí­pios maran­henses, esta­mos é, ao con­trário, incen­ti­vando que os poucos recur­sos públi­cos que aqui chegam, ao invés de gerar emprego e renda para os maran­henses, gerem noutros esta­dos, sobre­tudo, nos mais desen­volvi­dos?

Dizia Rui Bar­bosa que uma das for­mas de se per­pet­uar as desigual­dades era tratar de modo igual os desiguais.

Com todo respeito ao TCE, a Rede Con­t­role, ao Min­istério Público, e tan­tos out­ros que “inven­taram” essa ideia de obri­garem os municí­pios maran­henses a só con­tratarem medi­ante a modal­i­dade de pregão eletrônico aberto nacional­mente, estão bus­cando trata­mento igual aos desiguais.

Como as empre­sas dos municí­pios do Maran­hão terão condições de com­pe­tir, em condições de igual­dade, com empre­sas do sul do país, se a grande maio­ria dos municí­pios não tem nem inter­net que preste? Se as empre­sas não estão preparadas para uti­liza­ção destas tec­nolo­gias? Se o atraso social, edu­ca­cional e econômico é abissal?

Vou além, ainda a existên­cia de lei neste sen­tido, favorece ao des­cumpri­mento do que sejam os obje­tivos fun­da­men­tais da República Fed­er­a­tiva do Brasil.

E dirão, mais sem o pregão eletrônico os gestores “vão roubar” os recur­sos públi­cos.

É bem pos­sível. Como já dizia famoso crim­i­nal­ista “o crime persegue o homem como a sua própria som­bra”.

Para evi­tar que os gestores des­on­estos roubem o din­heiro público “mar­quem colado”, fiscalizem.

O que não acho certo é que em nome da como­di­dade, do menor tra­balho, criem condições de per­pet­u­ação da pobreza.

Repito o que venho dizendo há anos: pre­cisamos de leis que obriguem os gestores a gastarem os recur­sos públi­cos den­tro dos seus municí­pios, den­tro das suas regiões, quando muito, den­tro dos estados.

Estes recur­sos públi­cos são essen­ci­ais para o desen­volvi­mento dos municí­pios, para ger­ação de empre­gos e renda e devem ficar nos municí­pios e no estado.

Essa é a forma de reti­rar­mos o Maran­hão da vex­atória situ­ação de pobreza em que se encon­tra sua pop­u­lação.

Agora mesmo, por conta da pan­demia, o pres­i­dente norte-​americano Joe Biden, nego­cia um pacote finan­ceiro (só um pacote) no valor de US$ 2,25 tril­hões de dólares para incen­ti­var a econo­mia amer­i­cana.

Ape­nas para se ter uma ideia, esse pacote é mais de duas vezes o valor de todo o orça­mento do Brasil para o ano de 2021.

São recur­sos que serão uti­liza­dos em obras públi­cas, incen­tivos e diver­sas out­ras políti­cas ten­dentes a faz­erem a roda da econo­mia girar e gerar empre­gos e renda para os amer­i­canos.

Como disse ante­ri­or­mente, esse é o papel do Estado: ser indu­tor do desen­volvi­mento.

Em situ­ações de crises, os gov­er­nos têm a obri­gação de bus­car alter­na­ti­vas para mino­rar o sofri­mento dos cidadãos.

O mundo enfrenta a maior crise desde a Segunda Guerra Mundial, as expec­ta­ti­vas mais otimis­tas, apon­tam que os efeitos do que esta­mos vivendo hoje, durem anos.

Se para as nações ricas já será tra­bal­hoso superar tal crise, imag­inemos como será difí­cil para os países pobres. Basta dizer na última década o Brasil já desceu seis posições no rank­ing das econo­mias globais, da sexta para décima segunda posição. A tendên­cia é que ainda caia mais com a desval­oriza­ção da moeda, a volta da inflação e as difi­cul­dades com a crise san­itária que as autori­dades “batem cabeça” para resolver.

Os efeitos de tudo isso para o Maran­hão, que já pos­sui a maior pop­u­lação em condições de pobreza, serão extrema­mente graves.

Daí a neces­si­dade das autori­dades locais se “conectarem” à real­i­dade e bus­carem recur­sos para o estado ao invés quer­erem inven­tar “moda”, como já dizia meu saudoso pai com a sabedo­ria dos anal­fa­betos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A per­ver­são da democracia.

Escrito por Abdon Mar­inho

A per­ver­são da democ­ra­cia.

Por Abdon Mar­inho.

A CON­STI­TU­IÇÃO FED­ERAL, no seu artigo 37, esta­b­elece: “Art. 37. A admin­is­tração pública direta e indi­reta de qual­quer dos Poderes da União, dos Esta­dos, do Dis­trito Fed­eral e dos Municí­pios obe­de­cerá aos princí­pios de legal­i­dade, impes­soal­i­dade, moral­i­dade, pub­li­ci­dade e efi­ciên­cia e, tam­bém, ao seguinte:”.

Por sua vez, o pará­grafo primeiro do mesmo dis­pos­i­tivo, com­ple­menta: “§ 1º A pub­li­ci­dade dos atos, pro­gra­mas, obras, serviços e cam­pan­has dos órgãos públi­cos dev­erá ter caráter educa­tivo, infor­ma­tivo ou de ori­en­tação social, dela não podendo con­star nomes, sím­bo­los ou ima­gens que car­ac­ter­izem pro­moção pes­soal de autori­dades ou servi­dores públicos”.

Assim, nos últi­mos trinta anos, tendo os princí­pios e as regras quanto à pub­li­ci­dade como bús­sola, as gestões públi­cas têm, sob o olhar vig­i­lante do Min­istério Público e do Poder Judi­ciário, procu­rado seguir a Constituição.

O longo processo de adap­tação às nor­mas não tem sido fácil e, aqui e ali, encon­tramos pub­li­ci­dade estatal, ainda que indi­re­ta­mente, servido para a pro­moção pes­soal dos gov­er­nantes ou para poten­cializar o pouco que fazem – muitas vezes, o custo da pro­pa­ganda é bem maior que aquilo que feito para a comu­nidade.

Os órgãos de con­t­role, sobre­tudo o Min­istério Público, tem “deix­ado pas­sar” ou fin­gem que não viram quando os desac­er­tos têm como pro­tag­o­nistas o gov­erno estad­ual ou uma grande prefeitura.

Situ­ação bem dis­tinta quando se trata de pequenos municí­pios, quando até a divul­gação da comem­o­ração do aniver­sário da cidade enseja ações de impro­bidade, se da peça, ao juízo do MPE, se vis­lum­bra qual­quer cono­tação de pro­moção pes­soal – ainda que não tenha sido, ainda que o gestor tenha sido sur­preen­dido com a pub­li­ci­dade ou dela, sequer tenha tomado con­hec­i­mento antes da veic­u­lação.

Con­heci – e con­heço –, diver­sos casos em que o MPE movi­men­tou (e movi­menta) a máquina do Poder Judi­ciário pleit­e­ando con­de­nações de prefeitos e ex-​prefeitos porque alguém de sua asses­so­ria teria pub­li­cado em algum jor­nal local notí­cia ou mesmo pub­li­ci­dade paga dando conta do aniver­sário da cidade.

Por anos a fio cor­rem proces­sos de tal natureza com cus­tos para o Estado, sobre­car­regando o Judi­ciário com proces­sos sem quais­quer sen­tido.

Con­heço um ex-​gestor que há mais de dez anos responde a uma ação dessa natureza porque, no dia do aniver­sário da cidade, tiraram uma foto dele cor­tando o bolo, pub­licaram no jor­nal e, por des­cuido, a tesouraria pagou a divul­gação do evento.

O valor gasto com tal pub­li­ci­dade – que, estava longe de car­ac­teri­zar pro­moção pes­soal –, não foi 2 mil reais. O MPE enten­deu que era pro­moção pes­soal e o cidadão ainda hoje responde pela con­duta, gas­tando com advo­ga­dos, o Poder Judi­ciário gas­tando tempo e pes­soal com um processo que pode­ria ter sido resolvido com um acordo ou, sequer, exis­tido.

Como resul­tado disso esse ex-​gestor disse-​me certa vez que quando escuta alguém can­tar “parabéns pra você”, sai cor­rendo; de bolo, nunca mais quis saber.

Pois bem, faço essa breve digressão para, den­tro do tema, em com­para­ção ao trata­mento dis­pen­sado aos gestores munic­i­pais, con­frontar o “silên­cio” dos órgãos de con­t­role, sobre­tudo, do Min­istério Público (fed­eral e estad­ual) a uma per­ver­são da democ­ra­cia que vem ocor­rendo no nosso país e no nosso estado.

Já tratei aqui – em tex­tos ante­ri­ores –, dos riscos que corre a democ­ra­cia brasileira ao tornar desigual as dis­putas eleitorais.

Como sabe­mos, além dos recur­sos públi­cos repas­sa­dos aos par­tidos: fundo par­tidário e fundo de cam­panha — quase todo uti­lizado nas cam­pan­has eleitorais dos que já são deten­tores de mandatos, que na ver­dade são os “donos” dos par­tidos, os par­la­mentares brasileiros dis­põem, ainda, de uma outra van­tagem em relação aos demais cidadãos: são execu­tores do orça­mento do país.

Não bas­tasse isso, o fato de dis­porem de mil­hões em recur­sos finan­ceiros para dis­tribuírem nas suas “bases eleitorais”, as excelên­cias, diante do silên­cio obse­quioso dos órgãos de con­t­role, Min­istério Público à frente, têm abu­sado das van­ta­gens e vio­lado sis­tem­ati­ca­mente a Con­sti­tu­ição Fed­eral.

O amigo leitor – eleitor –, já deve ter visto em out­door, bus­door e por diver­sas mídias senadores, dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais faz­erem pro­moção pes­soal alarde­ando que “man­daram” tan­tos mil ou mil­hões para isso ou aquilo, para este ou aquele município.

Outro dia, para o meu espanto, vi foi na tele­visão, em horário nobre, um senador apare­cendo em um com­er­cial de quase um min­uto, na prin­ci­pal rede de tele­visão do estado, mostrando que um emenda sua estava sendo uti­lizada para a reforma de um pré­dio público.

Como assisto pouco tele­visão e quando assisto é mais para ver um filme ou noti­ciário, não posso pre­cisar se o referido com­er­cial foi exibido noutros canais de tele­visão ou noutros horários.

Outra coisa que tam­bém não sei é se o custo destas pro­pa­gan­das em jor­nais, rádios, tele­visões, out­door, bus­door, inter­net, estão sendo custeadas com ver­bas públi­cas, muito emb­ora saibamos que de uma forma ou de outra, no final, quem paga a conta sou eu, é você, somos nós.

Em todo caso, muito emb­ora seja provável que o custo de tais pro­moções este­jam saindo dos cofres públi­cos, dire­ta­mente, o prin­ci­pal é o uso do recurso público, para a pro­moção pes­soal do par­la­men­tar.

O dep­utado ou senador não tirou o din­heiro do bolso dele para real­iza­ção de uma obra, com­pra de um equipa­mento, fazer uma estrada, uma quadra, escola ou mesmo com­prar ces­tas bási­cas para dis­tribuir, estes recur­sos de emen­das par­la­mentares, são recur­sos públi­cos.

Não podem as excelên­cias usarem tais recur­sos para se pro­moverem politi­ca­mente, grace­jar a sim­pa­tia dos eleitores.

Veja que absurdo, os gov­er­nos estad­u­ais e munic­i­pais, devem fazer sua pub­li­ci­dade em obe­diên­cia ao artigo 37 e §1°, da Con­sti­tu­ição Fed­eral, ou seja, sem dela con­star sím­bo­los, ima­gens ou qual­quer outra coisa que possa car­ac­teri­zar pro­moção pes­soal, mas os par­la­mentares podem apare­cer em em todas as mídias, inclu­sive, na tele­visão “estre­lando” com­er­cial divul­gando que man­dou tal emenda para isso ou aquilo e até mostrar o can­teiro de obras, ficar por meses com a cara estam­pada nos out­door, bus­door, blogues, mídias soci­ais, dizendo que fiz­eram isso ou aquilo com a sua cota de emen­das.

Muito emb­ora só agora tenha aten­tado para uso de tele­visão e rádio – que são con­cessões públi­cas –, para esse tipo de absurdo.

Bem ver­dade que usavam, acred­ito que as suas expen­sas, para dese­jarem feliz natal ou ano novo.

Todas as out­ras modal­i­dades de pro­moção pes­soal, ferindo a Con­sti­tu­ição, vêm de longe.

Até aqui, não tive notí­cias de ações de impro­bidade admin­is­tra­tiva pro­postas pelo sem­pre vig­i­lante Min­istério Público.

Se exis­tem, desde já me pen­i­ten­cio, mas tal notí­cia não é de con­hec­i­mento da pat­uleia.

Já as ações con­tra os “prefeit­in­hos” que, por des­cuido, deixaram que jor­nal divul­gassem uma fotografia sua cor­tando o bolo de aniver­sário da cidade, exis­tem no quilo; ações porque não pub­licaram uma lic­i­tação ou con­trato como o MPE entende que deva ser feito, é só o que tem.

O que vem ocor­rendo no Brasil – não é ape­nas no Maran­hão –, é uma grave vio­lação aos princí­pios democráti­cos, ouso dizer, que um “aten­tado” à própria democracia.

Per­vert­eram à democ­ra­cia brasileira a tal ponto que não podemos mais falar em igual­dade no processo eleitoral.

Como um cidadão comum vai pleit­ear um mandato pop­u­lar con­tra um deten­tor de mandato que na maio­ria das vezes é o “dono” de um par­tido? Que recebe mil­hões de recur­sos públi­cos para custear suas cam­pan­has? Que dis­põe de out­ros tan­tos mil­hões em emen­das par­la­mentares obri­gatórias? Que dis­põe de recur­sos públi­cos para pro­moção pes­soal e que, diante do silên­cio dos órgãos de con­t­role, se pro­movem através das mais vari­adas mídias, divul­gando a apli­cação dos recur­sos?

E, nem fale­mos do “caixa” pes­soal que o atual for­mato da política brasileira tem pos­si­bil­i­tado.

Como um cidadão comum, sem vin­cu­lação a qual­quer esquema político, pode dis­putar com os atu­ais deten­tores de mandatos?

Como fica a tal igual­dade entre os brasileiros ou dire­ito que tem qual­quer cidadão de pleit­ear um mandato pop­u­lar?

O cidadão comum não tem condições de dis­putar. O cidadão comum está ali­jado do dire­ito de tomar parte nos negó­cios do Estado que garante a Con­sti­tu­ição Federal.

A democ­ra­cia brasileira agon­iza à vista de todos.

A democ­ra­cia brasileira é quase um cadáver insepulto.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Tragé­dia e crime: Autori­dades unem-​se a vírus para matarem brasileiros.

Escrito por Abdon Mar­inho

TRAGÉ­DIA E CRIME: AUTORI­DADES UNEM-​SE A VÍRUS PARA MATAREM BRASILEIROS.

Por Abdon Marinho.

UMA das frases mais infamantes da história da humanidade é atribuída a Josef Stálin (18781953) e diz: “uma única morte é uma tragé­dia. Um mil­hão de mortes é uma estatís­tica”.

O dita­dor, se não cun­hou tal frase, pode­ria tê-​la feito – e prat­i­cado –, diante dos mil­hões de mortes, que, por ação ou omis­são, provo­cou nas pop­u­lações sob sua influên­cia.

Uma das maiores matanças de Stálin foi a per­pe­trada con­tra o povo ucra­ni­ano con­hecida como Holodomor que é a palavra ucra­ni­ana para “deixar mor­rer de fome” ou “de inanição” e serve para des­ig­nar o ocor­rido entre os anos de 1931 e 1933 naquele país.

Emb­ora pouco fal­ado, o mas­sacre do povo ucra­ni­ano por Stálin, além de ser o resul­tado direto da política econômica por ele imple­men­tada na URSS, foi, tam­bém, uma decisão ide­ológ­ica, e tam­bém por isso, car­ac­ter­i­zada como genocídio.

Desde que instalou-​se no Brasil a pan­demia que aler­ta­mos as autori­dades para os riscos de ori­en­tações des­en­con­tradas para a con­tenção da doença e para tragé­dia anun­ci­ada que seria a poli­ti­za­ção e a ide­ol­o­gismo numa questão de saúde pública e san­itária.

Não ouvi­ram a mim – que não sou ninguém –, nem tan­tos out­ros mil­hares de aler­tas sobre a gravi­dade do que vinha ocor­rendo no país, facil­mente iden­ti­ficável por qual­quer um que não enx­er­gasse o que passá­va­mos com o viés do inter­esse político ou ide­ológico.

Lem­bro que até o ex-​presidente Don­ald Trump – que não é con­hecido por ser arguto –, chamava a atenção para o agrava­mento da situ­ação no Brasil. E fazia isso quando a situ­ação no país pre­si­dido por ele – e por sua respon­s­abil­i­dade –, batia todos os recordes no número de con­tá­gios e de mor­tos diários.

Em 14 de junho do ano pas­sado escrevi um texto com um título provoca­tivo: “Quem ‘her­dará’ os mor­tos da pan­demia?”.

Naquela época o número de mor­tos pela pan­demia já pas­sava dos 40 mil e as autori­dades se atri­tavam sobre o for­mato de divul­gação do número de mor­tos; sobre, se os hos­pi­tais estavam cheios; se as pes­soas estavam mor­rendo – houve até quem pro­pusesse um censo dos mor­tos, achei irônico porque jus­ta­mente no ano pas­sado não con­seguimos fazer o censo dece­nal “dos vivos” –; se have­ria iso­la­mento social; e tan­tos out­ros assun­tos lat­erais, muitos de cunho mera­mente ide­ológico, enquanto as pes­soas estavam mor­rendo.

O debate ainda incluía inda­gações sobre a morte das pes­soas: de COVID? Com COVID? Por COVID? Como se o prin­ci­pal não fosse a morte em si e sim o “for­mato” da morte.

Naquela época, já está­va­mos na décima segunda ou décima ter­ceira sem­ana de pan­demia e muitos países, com seus erros e acer­tos já tin­ham mais ou menos um roteiro a seguir, já desen­volviam imu­nizante ou se pro­gra­mavam para comprá-​los enquanto que por aqui o que se via – e con­tin­u­amos a ver –, era a briga sem trégua pelo poder.

Mesmo a vaci­nação em massa – que é um con­senso entre os espe­cial­is­tas para pro­te­ger a pop­u­lação –, aqui foi motivo de guerra política e ide­ológ­ica.

Enquanto os out­ros países cor­riam para adquirirem o máx­imo de imu­nizante para a pop­u­lação e pro­moviam iso­la­mento social, aqui, o gov­erno tratava o assunto com des­dém, fazia cam­panha con­tra, “tor­cia” para o insucesso da vacina e sab­o­tava tudo que era rela­cionado ao iso­la­mento.

Ape­sar da gravi­dade da situ­ação nos Esta­dos Unidos, Trump tinha razão em manifestar-​se pre­ocu­pado com Brasil.

Essa sem­ana reg­is­tramos a trág­ica marca de 300 mil mor­tos.

No dia que isso acon­te­ceu – final­mente –, as excelên­cias que coman­dam o país acharam que era a hora de se reunirem para tratar de um comitê para acom­pan­har a pan­demia. Assim mesmo, sem ninguém saber como será, deixando de fora os gov­er­nos estad­u­ais e municipais.

Em resumo: con­tin­uam no propósito eleitor­eiro enquanto as famílias são diz­imadas.

O Brasil já é o epi­cen­tro da crise san­itária. Já somos os campeões em número de mortes diárias e em número de con­t­a­m­i­na­dos. Daqui a pouco será a vez de superar os Esta­dos Unidos no número de mor­tos nom­i­nais.

Em quase todos os demais países, graças a ação dos gov­er­nos, já é pos­sível ver­mos uma mel­hora no quadro de com­bate à pan­demia, ape­nas no Brasil a curva de con­tá­gios e mortes con­tinua apon­tada para cima em um ângulo de quase noventa graus, tendo céu como lim­ite.

Os EUA, que antes rival­izava com Brasil no critério descon­t­role da pan­demia, hoje reg­is­tra menos da metade do número de mor­tos que reg­is­tramos aqui; já aplicaram mais de 100 mil­hões de doses de vaci­nas – enquanto por aqui não cheg­amos a 15 mil­hões –, e agora, o pres­i­dente amer­i­cano, Joe Biden, resolveu dobrar a meta: aplicar 200 mil­hões de doses até 30 de abril, quando com­ple­tará 100 dias de gov­erno.

O Brasil assiste a isso como cachorro em porta de gale­te­ria: com água na boca.

Enquanto os irmãos amer­i­canos têm o dobro de vaci­nas sufi­cientes para vacinarem toda a sua pop­u­lação, as vaci­nas, por aqui, estão a conta-​gota, com o maior Sis­tema Único de Saúde do mundo, o nosso SUS, vaci­nando bem aquém de sua real capaci­dade …porque fal­tam vaci­nas.

Aqui e ali, fala-​se em roubo de vaci­nas, con­tra­bando de vaci­nas, desvios de vaci­nas para alguns priv­i­le­gia­dos, fura-​filas.

Pas­saram a crim­i­nalizar algu­mas destas con­du­tas quando, na ver­dade, dev­e­riam ter por crim­i­noso o gov­erno que não se pre­ocupou no tempo certo de prover vaci­nas para os brasileiros.

Era para o gov­erno brasileiro está “cor­rendo” atrás dos cidadãos para vaciná-​los e não cor­rendo atrás do cidadão que desviou ou con­tra­ban­deou uma vacina para ten­tar sal­var sua vida.

Não, não estou defend­endo que se roubem vaci­nas, que furem filas, que façam con­tra­bando. Mas, antes de irem atrás destas pes­soas, dev­e­riam ir atrás dos gov­er­nantes que não “fiz­eram o dever de casa”.

Dizia há quase um ano – e posso con­tin­uar a dizê-​lo –, os gov­er­nantes brasileiros erraram em tudo e além do que podiam errar.

O resul­tado da polit­i­calha rasteira é o sofri­mento de mil­hares de pes­soas, são as mais de 300 mil vidas per­di­das – número que sabe­mos, emb­ora queiramos nos enga­nar, ainda vai crescer muito mais –, são os danos psi­cológi­cos e a exaustão dos profis­sion­ais de saúde que tra­bal­ham sem des­canso todo esse tempo, é o colapso do sis­tema de saúde, público e pri­vado, é angús­tia de toda uma pop­u­lação, que sabe quem será o próx­imo escol­hido nesta roleta-​russa da morte.

É certo que o vírus matou mil­hares de brasileiros, mas out­ros mil­hares foram – e estão sendo –, mor­tos pelas as autori­dades. Por suas ações ou omis­sões.

E algum dia pre­cisamos fazer o ajuste de con­tas com estes respon­sáveis.

Chega a ser ultra­jante que ape­nas um ano após o iní­cio da pan­demia, com a conta dos cidadãos que perderam a vida pas­sado de trezen­tos mil, as autori­dades falem em criar um comitê de crise. Este sim­ples ato diz muito sobre o senso de urgên­cia destas pes­soas.

Onde estava o pres­i­dente da República? Onde estava o Con­gresso Nacional? Onde estava o Poder Judi­ciário?

Lá atrás, quando até o Trump dizia temer pelo o nosso futuro, no iní­cio da pan­demia, não pode­riam ter se reunido? Cri­ado o tal comitê de acom­pan­hamento de crise? Terem feito algo, além de tratarem dos próprios inter­esses, enquanto vidas eram ceifadas?

Desde março do ano pas­sado mor­reram mais de 300 mil brasileiros. Os primeiros 100 mil em 148 dias; os segun­dos 100 mil em 152 dias; os out­ros 100 mil em ape­nas 75 dias. Jus­ta­mente agora, quando as autori­dades – até assistindo o exem­plo de out­ros países –, dev­e­riam saber como pro­ceder, avoluma-​se o número de mor­tos no país, prova cabal de que não apren­deram nada e que são inca­pazes de lidarem com os desafios de gov­ernar.

Quan­tas mil­hares de famílias a mais terão que pran­tearem seus entes queri­dos até que con­sig­amos superar essa pan­demia?

Em um cál­culo matemático sim­ples, con­siderando mil­hões de brasileiros temos que vaci­nar; quan­tas doses de vaci­nas dis­po­mos e o tempo pro­gra­mado para aplicá-​las e a con­dução da pan­demia pelas autori­dades, cheg­amos a con­clusão que ainda temos um longo e doloroso calvário pela frente.

Quando Stálin mor­reu, em 1953, e seus crimes pas­saram a ser rev­e­la­dos, tomamos con­hec­i­mento de todo o hor­ror que foi per­pe­trado con­tra mil­hões de rus­sos, ucra­ni­anos e tan­tos out­ros povos e por isso é figura de destaque na gale­ria dos geno­ci­das mundi­ais, muito emb­ora só tenha sido jul­gado pela história.

O Brasil não pre­cisa aguardar o jul­ga­mento da história para iden­ti­ficar e punir os respon­sáveis pela tragé­dia que vive­mos atual­mente. Tragé­dia que, registre-​se, não tem ape­nas um único cul­pado – assim como não foi Stálin, soz­inho, o respon­sável pela morte de tan­tos seres humanos –, mas diver­sos, por suas ações e omis­sões.

Quem são os cul­pa­dos pela tragé­dia que acomete o Brasil? Quem são os seus cúmplices?

Pre­cisamos criar um nome para especí­fico para “deixar mor­rer por falta de vacinas”.

Abdon Mar­inho é advo­gado.