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É ensur­de­ce­dor o silên­cio que vem lá do Rangedor.

Escrito por Abdon Mar­inho

É ENSUR­DE­CE­DOR O SILÊN­CIO QUE VEM DO RANGE­DOR.

Por Abdon Mar­inho.

CERTA vez vi uma not­inha, emb­ora séria, escon­dida em uma col­una de fofoca. Insin­u­ava que um dep­utado estad­ual suposta­mente tendo ingerido bebida, medica­men­tos ou out­ras dro­gas, fora apan­hado pela polí­cia que, ao invés de levá-​lo para “des­cansar” em uma cela, fez foi servir-​lhe de motorista e conduzi-​lo até sua casa, com dire­ito a segu­rança pri­vada for­mada por bate­dores da corporação.

O nar­rador do fato, tratou-​o com incon­tido humor.

Tem­pos depois, tam­bém, de forma enviesada tomamos con­hec­i­mento que uma outra excelên­cia cul­ti­vava o hábito de pas­sar a roupa da esposa com ela dentro.

Zumbidos daqui ou dali, de certo que o par­la­men­tar acabou por ter­mi­nar o mandato sem ser impor­tu­nado.

Quem parece não ter gostado muito da história foi a pat­uleia que o reprovou nas urnas na eleição seguinte.

Não muito dis­tante deste período tomamos con­hec­i­mento de um outro fato igual­mente per­tur­bador, aquele par­la­men­tar da primeira história deste texto, envolveu-​se em idên­tica situ­ação em um estado viz­inho, que acabou detendo-​o, se não me falha a memória, por desacato e/​ou ameaças diver­sas aos agentes da lei que cumpri­ram com o seu dever.

Mais grave que a mon­u­men­tal con­fusão na qual envolveu-​se a excelên­cia, foram as palavras que teria pro­ferido, segundo diver­sos veícu­los de comu­ni­cação.

Teria dito (ou con­fes­sado) sua excelên­cia: “Vocês são polí­cia, né? A gente mata gente”. Mais: “Eu sou, eu sou mais que tu. Eu sou dep­utado, e sou rico. Vou man­dar te matar, vagabundo. Vou te pegar, eu te mato. Sou filho do ****. Per­gunta quem é ****. Eu vou te matar. Vou man­dar te matar”. E ainda: “Tá morto ele. Per­gunta quem é ****. Esse cara tá morto”, completou.

Tratei deste assunto no texto “Um bode invisível na Alema”.

Ape­sar da gravi­dade da situ­ação e, sobre­tudo, das declar­ações “dadas” por sua excelên­cia – ainda que diga que quem as pro­feriu foi o Mr. Walker, John­nie Walker –, nada lhe acon­te­ceu. Uma con­fis­são pública de que seria depen­dente químico foi o sufi­ciente para arrefe­cer, se por­ven­tura ocor­reu, qual­quer sen­ti­mento de resposta à sociedade por parte dos seus cole­gas de par­la­mento.

É fato que a dependên­cia química é uma doença que merece, e pre­cisa, ser tratada. Entre­tanto, se o par­la­men­tar, legí­timo rep­re­sen­tante do povo que­ria mesmo a expi­ação de sua culpa dev­e­ria bus­car o trata­mento clínico ade­quado.

Noutra quadra, o que disse, sobre a “tradição” de matar gente, dele e da família, não pode­ria ter pas­sado em bran­cas nuvens. Passou.

Ao invés de repri­menda ou, pelo menos inves­ti­gação, o que vimos foi o par­la­men­tar “tirar onda” com a ban­deira da pre­venção à dependên­cia química e estam­par outdoor’s e busdoor’s por toda a cidade com sua foto e suposta ini­cia­tiva. Tudo, obvi­a­mente, pagos com recur­sos dos nos­sos impos­tos.

Trata­mento às maze­las da doença que dev­e­ria com­bater, não se sabe se bus­cou, tanto que, mais uma vez, se ouve buchi­cho de que envolveu-​se em um grave episó­dio de vio­lên­cia domés­tica, tendo sido, inclu­sive, proibido de aproximar-​se da(s) vítima(s). A famosa medida pro­te­tiva pre­vista na Lei Maria da Penha.

Como disse, são “buchi­chos”, uma vez que a imprensa local, ape­sar do assunto envolver o inter­esse público, trata o assunto como algo extrema­mente pri­vado.

Não me recor­dando, sequer de ter lido ou visto em algum canal de rádio, tele­visão ou mesmo nos grandes jor­nais nada sobre assunto.

Em sendo ver­dade, alcança-​nos a exdrúx­ula situ­ação de ter­mos um par­la­men­tar que não pode “chegar perto” da esposa ou dos fil­hos, mas que pode fazer leis de inter­esse de toda a sociedade, fis­calizar os atos do Poder Exec­u­tivo e gozar de todas as benesses que lhe con­fere o con­fere o mandato par­la­men­tar.

Pois bem, faço esse breve ret­ro­specto – inclu­sive deixando de citar as out­ras infor­mações que nos chagam sobre nepo­tismo, favorec­i­mento, rachad­in­has, ven­das de emen­das par­la­mentares, agio­tagem, etcetera, porque tais “notí­cias” são “vel­has” e, parece-​me, nunca des­per­taram o inter­esse da imprensa ou mesmo dos eleitores, tanto que sem­pre ou quase sem­pre, elegem os mes­mos de sem­pre –, porque li em algum lugar que deter­mi­nado dep­utado estad­ual que dis­putou a eleição na cap­i­tal tenta uma vaga no Poder Exec­u­tivo, suposta­mente, por temer, um processo de cas­sação na Casa de Manoel Bequimão.

Em sendo ver­dade, sua excelên­cia, deve ter se dado conta, final­mente, da gravi­dade da sua con­duta, ao, suposta­mente, estando con­t­a­m­i­nado pela covid-​19, em plena ascen­são da pan­demia do novo coro­n­avírus, ter per­manecido em cam­panha por diver­sos dias, colo­cando em risco, dezenas ou cen­te­nas, quiçá, mil­hares de vidas humanas, além, claro, de ter desre­speitado decre­tos estad­u­ais que tratam dos pro­ced­i­men­tos a serem ado­ta­dos por conta da pandemia.

Parafrase­ando um antigo filme, é provável que sua excelên­cia saiba o que fez no verão pas­sado.

Pas­sa­dos quase trinta dias desde que fato foi denun­ci­ado, não me recordo de nen­hum posi­ciona­mento ofi­cial da Assem­bleia Leg­isla­tiva sobre o com­por­ta­mento do dep­utado. Nem mesmo para con­fir­mar ou negar o fato divulgado.

Como se o povo, esse con­junto de cidadãos que votam e pagam impos­tos, não tivesse o direto de saber, de fato, o que ocor­reu.

Aliás, como previne o título do texto, a Casa de Bequimão guarda um silên­cio ensur­de­ce­dor.

O que não chega a ser uma novi­dade diante de tan­tos fatos que mal fogem da penum­bra.

O para­doxo da notí­cia é a nar­ra­tiva de que o par­la­men­tar deixaria o cargo por temer a retal­i­ação dos cole­gas. Logo eles que sem­pre foram tão “com­preen­sivos” com tan­tos malfeitos.

Será que final­mente chegaram à con­clusão que passou-​se do ponto?

Em sendo ver­dade, tem-​se que o par­la­men­tar não vai servir ao Poder Exec­u­tivo para con­tribuir com alguma coisa, mas para “homiziar-​se” e fugir de uma rara – e dev­ida –, punição.

Ainda no campo das suposições – como tudo neste texto, já que as infor­mações são sone­gadas, sus­sur­radas –, em sendo com­pro­vado, após reg­u­lar pro­ced­i­mento, que o par­la­men­tar come­teu o delito que lhe é imputado, o mel­hor lugar para fugir de suas respon­s­abil­i­dades e sair ileso é a sinecura per­ante o Poder Exec­u­tivo? A ausên­cia atre­v­ida per­mi­tiria que suas excelên­cias “esque­cessem” o delito praticado?

E, noutra quadra, como o Poder Exec­u­tivo iria (ou irá) fazer para jus­ti­ficar a guar­ida ao infrator? Não foi ele que impôs todo tipo de restrições para impedir que a pan­demia se espal­hasse no Maran­hão? Quan­tos micro e peque­nas empre­sas que­braram por conta das restrições? Quan­tos perderam seus empregos?

Aí, não mais que de repente, um “pro­te­gido” é acu­sado de aten­tar con­tra a saúde da pop­u­lação em plena pan­demia e o mesmo gov­erno que impôs aos cidadãos todas as restrições já lis­tadas, para que o mesmo não seja punido por seus próprios pares, o que faz é premiá-​lo com um cargo de secretário de estado ou algo equiv­a­lente?

E têm cor­agem de nos olhar na cara depois de ter, inclu­sive, colo­cado a polí­cia nas ruas para impedir que saísse­mos de casa sem um motivo justificado?

Vejam onde amar­ramos a nossa égua, não bas­tasse o silên­cio crônico das excelên­cias em relação a tudo, quando há uma pál­ida notí­cia de que alguma coisa final­mente será feita, e por algo efe­ti­va­mente grave e indeco­roso – muito emb­ora todos os out­ros fatos nar­ra­dos sejam de gravi­dade ímpar –, partem para uma “oper­ação” de sal­va­mento do mandato e pre­mi­ação do infrator.

Emb­ora nada mais me sur­preenda, causa-​me estu­por que autori­dades sejam capazes de tais ati­tudes.

É como se nada de grave tivesse ocor­rido, como se tudo fosse nor­mal, como se o respeito ao cidadão fosse algo secundário.

Quem parece ter sido “con­t­a­m­i­nado” pelo silên­cio tam­bém é o nosso val­oroso Min­istério Público. Sobre todos os fatos que rap­i­da­mente nar­rei neste texto e sobre os quais dev­e­ria dizer ou ado­tar alguma providên­cia, ainda que para tran­quil­izar a pat­uleia insana, se disse ou se fez algo é seg­redo tão bem guardado quanto cabelo de freira.

É assim. Que siga o cortejo fúne­bre da ética e da decên­cia, com silên­cio cor­tado pelo rangido das rodas das car­roças.

Abdon Mar­inho é advogado.

A democ­ra­cia venceu. A der­rota tem dono.

Escrito por Abdon Mar­inho

A DEMOC­RA­CIA VENCEU. A DER­ROTA TEM DONO.

Por Abdon Marinho.

DIZEM os mais sábios que eu que se aprende mais com os reveses e difi­cul­dades do que com as vitórias e facil­i­dades. Um outro dito, bem comum, é aquele que diz que mares tran­qui­los não fazem bons mar­in­heiros.

Encer­radas as apu­rações das eleições na cap­i­tal do estado, consagrou-​se a democ­ra­cia, a von­tade livre e sober­ana da pop­u­lação da cidade. Entre­tanto, muito mais do que isso, mostrou aos donos do poder, os novos “dinotários” desta cap­i­ta­nia, que, ainda que pos­sam muito, não podem mais que o povo.

Essa é a lição que, se tiverem sabedo­ria e humil­dade, espero que ten­ham apren­dido.

Na Roma antiga de tan­tas glórias e tan­tos césares, o Senado impôs uma regra aos des­files em se fes­te­javam os tri­un­fos das suas cam­pan­has ao redor do mundo: ao lado do gov­er­nante, enquanto esse saia a “saborear” seus feitos, um cidadão repetia ao seu ouvido, à exaustão “tu és mor­tal” ou “tu és ape­nas um homem”.

O propósito de tal recomen­dação era evi­tar que o gov­er­nante vito­rioso, saudado como um Deus pelo povo, assim se achasse.

Se, no pleito que se encerra, tive­mos a democ­ra­cia como a grande vito­riosa, temos, por outro lado, que a der­rota não está órfã e, mais, que a der­rota tem um dono que é o atual ocu­pante do gabi­nete prin­ci­pal do Palá­cio dos Leões.

O can­didato que ofi­cial­mente con­sta como “não eleito”, no mapa de apu­ração do Tri­bunal Supe­rior Eleitoral — TSE, para onde chegou, pode até se con­sid­erar vito­rioso pois a der­rota não é dele.

Todos que assis­ti­mos e acom­pan­hamos de perto esses últi­mos 15 dias, somos sabedores que houve uma “troca de can­didatos”, o can­didato Duarte Júnior, que ficou em segundo lugar e pas­sou para a etapa seguinte, cedeu lugar ao gov­er­nador Flávio Dino, que assumiu a can­di­datura como se fosse sua e se expôs além do dev­ido.

Desde a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, que per­mi­tiu as eleições nas cap­i­tais a par­tir de 1985, que acom­panho as eleições em São Luís, e não me recordo de uma inter­fer­ên­cia maior da parte do gov­erno estad­ual na eleição da cap­i­tal do que nesta. Nem mesmo naquela primeira eleição, em que o gov­erno estad­ual teve um can­didato cujo slo­gan era “Força Total”.

Naquela eleição, ocor­rida há trinta e cinco anos, “fez-​se de tudo”, mas, ainda assim, chegou foi longe de alcançar o que foi feito nesta e que rogo a Deus, nunca mais se repita.

Se me per­mitem uma ale­go­ria sobre estas eleições, seria como aquela em que temos dois meni­nos brig­ando no recreio da escola e um irmão, bem maior e mais forte, assume lugar daquele que está apanhando.

O gov­er­nador do estado, esse irmão maior, parece ter dito: se afasta que agora é comigo.

Pois é, e apan­hou feio.

Como dizíamos, fazendo um para­lelo com as eleições de 1985, o gov­erno estad­ual ten­tou – e inter­feriu –, no pleito, mas ficou foi longe de colo­car todos os secretários na cam­panha do can­didato, ameaçando, chan­tage­ando, con­strangendo servi­dores públi­cos a aderirem e a fazer cam­panha e, muito menos, que o vice-​governador chamasse os que não estavam na cam­panha de “deser­tores”, que na acepção comum da palavra é “aquele que aban­dona uma causa, um par­tido, uma luta qual­quer do qual era par­tidário ou um dever ou com­pro­misso a que estava afeito ou vin­cu­lado”, e que o próprio gov­er­nador fosse para a “linha de frente” da cam­panha, como se aquela fosse a sua própria eleição.

Sim, vive­mos no Maran­hão, no atual pleito eleitoral, uma situ­ação inédita na nossa história.

Desde que o atual gov­erno se instalou que me per­gunto quem são os con­sel­heiros do gov­er­nador – em diver­sos tex­tos já falei disso –, pois causa-​me espé­cie que ninguém tenha a cor­agem de lhe chamar a atenção para as lou­curas que comete.

O saudoso amigo Wal­ter Rodrigues dizia: — Abdon, lou­curas só são admis­síveis quando feitas por amor, pois o amor tem razões que a própria razão descon­hece. Dizia isso, e caia na gar­gal­hada.

A exceção dos amantes e dos loucos, por serem inim­putáveis, deve­mos agir com racional­i­dade.

Uma eleição na cap­i­tal é uma eleição impor­tante, é fato, mas não tanto assim. Hoje, o eleitorado de São Luís, rep­re­senta menos de 15% (quinze por cento) do eleitorado do estado. Ou seja, não faz nen­hum sen­tido, se pen­sar­mos com racional­i­dade, que o gov­er­nador e, mais grave, o gov­erno, se exponha como se expôs, na dis­puta, a ponto da autori­dade máx­ima estad­ual “chamar para a briga” nas redes soci­ais, o can­didato adver­sário.

Não dev­e­ria ter se envolvido no primeiro turno e, muito menos agora, ter “assum­ido” a cam­panha munic­i­pal no segundo.

Tudo errado desde o começo. E não teve ninguém para dizer que o gov­er­nador do estado se exce­dia.

Tão errado que o gov­er­nador só con­seguiu “levar para apoiar o seu can­didato” os seus depen­dentes, mel­hor dizendo, os secretários “din­ode­pen­dentes”.

Nem mesmo os políti­cos expres­sivos do seu próprio par­tido aten­deram ao chamado; o mesmo acon­te­cendo com os par­tidos da sua base de sus­ten­tação.

Vejam que do tal con­sór­cio, só lem­bro de ter visto aten­dendo a “ordem” do gov­er­nador para apoiar o can­didato “chapa branca”, o can­didato do Par­tido Comu­nista do Brasil — PC do B, e, assim mesmo, um apoio tão esquisito, tendo em vista tudo que o “apoiado” disse dele e da família dele, que acred­ito que o apoio, teve mais efeito con­trário que a favor.

Os demais, aque­les que não se enga­jaram na cam­panha adver­sária, preferi­ram a neu­tral­i­dade.

É ver­dade que o can­didato do gov­er­nador “semeou” estes ven­tos. Mas, mesmo assim, sua excelên­cia, tendo tal des­culpa para “ficar na sua”, fez foi o con­trário, per­doou todos os “malfeitos” do can­didato, e “caiu de cabeça” na cam­panha. Ignorou, até mesmo, a gravís­sima infor­mação de que o can­didato pas­sara, pelo menos, cinco dias fazendo cam­panha quando se sabia con­t­a­m­i­nado pela COVID-​19.

Segundo li, mesmo ami­gos pes­soais, de lon­gas datas, do gov­er­nador, acharam “lamen­tável” a escolha ou pos­tura do gov­er­nante.

Muitos movi­dos pelos próprios inter­esses e out­ros por dever cívico, enten­deram que não podiam aten­der o chamado do gov­er­nador nesta estraté­gia de “tudo ou nada” que ado­tou no segundo turno destas eleições.

Como disse, desde a primeira eleição de cap­i­tal, após a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, em 1985, não tín­hamos notí­cias de um grau tão grande de “inter­venção” do gov­erno estad­ual no pleito.

Esse sen­ti­mento, a com­preen­são de que a ati­tude do gov­er­nador em relação ao pleito era exces­siva e rep­re­sen­tava um retro­cesso às con­quis­tas democráti­cas do país, levou diver­sas pes­soas, inclu­sive, muitas que nunca tiveram qual­quer apreço pelo can­didato que sagrou-​se vito­rioso nas urnas, a lhe hipote­car apoio e sol­i­dariedade.

Uns fiz­eram isso pub­li­ca­mente, out­ros, entre os seus ami­gos e con­heci­dos e, out­ros, sim­ples­mente, votando nele.

Se os exces­sos públi­cos causaram repulsa das pes­soas de bem, criando o efeito “Davi ver­sus Golias”, as infor­mações – que jamais serão provadas –, de que ultra­pas­saram todos os lim­ites para alterar a von­tade do povo, pode ter sido respon­sável pela difer­ença de votos não ter sido mais expres­siva.

Ao agir de forma tão impen­sada – ou por razões que descon­hece­mos –, arrisco dizer que o gov­er­nador “frag­ili­zou” sua posição como lid­er­ança política capaz de alçar voos mais alto, ameaçando, até mesmo, a condição de vir­tual senador eleito, em 2022.

Os “deser­tores” de hoje – que no fri­gir dos ovos, pos­suem mais rep­re­sen­ta­tivi­dade, inclu­sive eleitoral –, pen­sarão duas vezes antes de embar­car numa suposta “can­di­datura nata”, de sua excelên­cia ao senado, vaga que poderá acabar “sobrando” para o atual prefeito da cap­i­tal, que sai do pleito “bem na fita” e sem nen­hum arran­hão.

A iro­nia do dia da eleição ficou por conta de uma postagem de sua excelên­cia dizendo que votou “com muita gratidão aos que enfrentaram e der­ro­taram a ditadura mil­i­tar, devolvendo-​nos o dire­ito de escol­her os nos­sos governantes”.

Acred­ito que os ludovi­censes ao votarem con­tra sua excelên­cia e o seu can­didato estiveram imbuí­dos do mesmo sen­ti­mento das mem­o­ráveis lutas dos anos oitenta con­tra a ditadura.

A democ­ra­cia venceu. A ditadura perdeu nova­mente.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A democ­ra­cia do tacape.

Escrito por Abdon Mar­inho

A DEMOC­RA­CIA DO TACAPE.

Por Abdon Marinho.

ALGUÉM chega me conta uma coisa a propósito do quadro político neste segundo turno; e mais um e mais outro.

Depois me per­gun­tam o que acho.

Con­fesso que resisto em acred­i­tar na maio­ria das coisas que me con­tam.

As mais ele­vadas autori­dades do estado, seguindo ori­en­tação expressa do gov­er­nador, escol­heram um dos can­didatos e o gov­erno estad­ual inteiro virou uma exten­são da cam­panha. Não posso acred­i­tar.

Secretário de estado ameaçando com o inferno de Dante aque­les que não seguirem a ori­en­tação do gov­er­nador e apoiar o seu can­didato. Um absurdo!

Dis­tribuição de cen­te­nas de mil­hares de ces­tas bási­cas nas esco­las da rede estad­ual ou na per­ife­ria da cidade, com o propósito de cap­tar votos. Um crime!

Ameaças e chan­ta­gens aos servi­dores ocu­pantes de car­gos comis­sion­a­dos, de chefia ou con­trata­dos, caso estes não plotem seus car­ros ou declarem voto no can­didato chapa-​branca. Inaceitável!

Reuniões e mais reuniões, com ver­i­fi­cação de fre­quên­cia dos servi­dores, em lou­vação ao can­didato. Uma vergonha!

Paga­mento dos servi­dores públi­cos coin­cidindo com a véspera das eleições municipais;

O gov­er­nador do estado, em pes­soa, passe­ando e posando “sen­tad­inho” no banco da praça com o can­didato ofi­cial. Nojento!

O gov­er­nador “investido” no papel de “cabo eleitoral” arreg­i­men­tando apoios e nego­ciando vare­jos as expen­sas do cargo e do gov­erno com vereadores e ex-​candidatos der­ro­ta­dos no primeiro turno em apoio ao “seu” can­didato. Degradante!

O vice-​governador, tam­bém investido no papel de cabo eleitoral, ameaçando pub­li­ca­mente lid­er­anças polit­i­cas do estado e as chamando de “deser­tores”. Viva Vitorino!

O próprio can­didato em áudio que não sei recente – mas que con­traria o dis­curso da nova política –, pedindo que se desco­brisse de quem seria a indi­cação do ter­ce­i­rizado que vigia a repar­tição pública ou do zelador do pré­dio para poder “cobrar” depois. Asqueroso!

O próprio can­didato, segundo denún­cias, teria feito cam­panha sabendo-​se con­t­a­m­i­nado pelo vírus da covid-​19, por 05 (cinco) dias, con­t­a­m­i­nando ou colo­cando em risco de con­t­a­m­i­nação dezenas, cen­te­nas ou mil­hares de pes­soas, isso em plena pan­demia. Hediondo!

O secretário de estado da saúde e o próprio gov­er­nador que deter­mi­nou o “con­fi­na­mento” de toda a pop­u­lação por meses, omis­sos diante de tal crime con­tra a saude pública e, pior, apoiando e pedindo votos para quem foi capaz de um crime tão hediondo. Inacreditável!

Ainda em plena pan­demia e quando a mesma volta a gan­har força, o próprio gov­er­nador se reju­bi­lando com as aglom­er­ações pro­movi­das pelo “seu” can­didato. Inaceitável!

Infor­mação de con­tratação de cem mil “bocas de urnas” para atuar no dia pleito – um dis­farce para a com­pra de votos explicita. Chamem a poli­cia!

A minha resistên­cia em acred­i­tar neste tipo de coisa – e nisso reside minha ingenuidade –, é que não me recordo de ter visto aque­les a quem com­bat­e­mos politi­ca­mente durante tan­tos anos serem capazes de gestos tão tor­pes e em tamanho vol­ume quanto aos que somos apre­sen­ta­dos agora.

E, lá atrás, lembro-​me muito bem, dizíamos que queríamos uma mudança de com­por­ta­mento das autori­dades.

O que gan­hamos foi isso? Foi para isso que ficamos, por quase cinquenta anos com­bat­endo o sarneísmo? Para ter­mos um gov­erno com práti­cas mais arcaicas ainda?

Até agora não con­segui assim­i­lar, por exem­plo, como o gov­er­nador e seus aux­il­iares dire­tos, prin­ci­pal­mente da área da saúde – que pas­saram os últi­mos meses na can­tilena do “fique em casa”, «man­tenha dis­tan­ci­a­mento”, “não faça aglom­er­ação”, etcetera –, saú­dem as aglom­er­ações do seu can­didato e, pior, apoiem um can­didato acu­sado de haver, sabendo-​se, infec­tado, man­tido uma cam­panha por dias segui­dos, igno­rando a saúde dos cidadãos.

Será que estas autori­dades não dev­e­riam explicar essa situ­ação dire­it­inho? Inclu­sive se acon­te­ceu ou não, ape­sar das provas abundantes.

Calam-​se por ver­gonha ou por indifer­ença aos que con­fi­aram nas autoridades?

Como é que fica isso? Nada têm a dizer a pop­u­lação que se tran­cou em casa? Aos empresários que perderam seu patrimônio – e con­tin­uam per­dendo –, por conta da pandemia?

Como com­preen­der que autori­dades, gov­er­nador, vice-​governador, secretários e tan­tas out­ras, ameacem e chan­tageiem cidadãos livres por estes não aceitarem a votar em um can­didato que não reúné as condições mín­i­mas para o exer­cí­cio de qual­quer cargo, porque este foi imposto pelo capri­cho pes­soal de ape­nas uma pessoa?

Como que estes apoiadores nada dizem diante de áudios e vídeos em que rev­e­lam o can­didato exter­nando, em lin­gua­jar chulo, toda sorte de pre­con­ceitos e indigên­cia moral?

Uma outra infor­mação de extrema gravi­dade é a que narra a pos­sível con­tratação de 100 mil “bocas de urnas”, ou no lin­gua­jar comum, com­pra explícita de votos.

Acred­ito que as autori­dades lig­adas à Justiça Eleitoral, ao Min­istério Público Fed­eral e a Polí­cia Fed­eral, devem ficar aten­tas e apu­rarem se tal infor­mação é ver­dadeira ou não.

Trata-​se de algo muito grave e com poten­cial para dese­qui­li­brar o pleito.

Mais grave ainda, por sug­erir a par­tic­i­pação de ele­vadas autori­dades públi­cas do estado no delito.

E esse é ape­nas um pos­sível abuso, diante de out­ros que já estão em curso.

Como aceitar como nor­mal que o gov­erno estad­ual use as forças de segu­rança do estado para fazer dis­tribuição, a rodo, de ces­tas bási­cas para as pes­soas car­entes até na véspera do pleito eleitoral, em ato que car­ac­ter­iza de forma cristalina, o abuso de poder, a com­pra de votos, e prin­ci­pal­mente, a falta de lim­ites dos donatários do poder, enquanto, às escân­caras, pedem votos?

Vejam, ainda que digam que se trata de pro­grama reg­u­lar, não é ver­dade.

Estão dis­tribuindo mil­hares ces­tas bási­cas, explo­rando a mis­éria do povo, para coop­tar a sim­pa­tia do povo para o gov­erno e, por exten­são, ao can­didato oficial.

Uma ver­gonha que usem, inclu­sive, a ali­men­tação esco­lar das cri­anças car­entes.

A escala de serviços da cor­po­ração esta­b­elece como datas para a dis­tribuição das ces­tas bási­cas os dias 25, 26 e 27 de novem­bro.

Qual a razão de não terem dis­tribuído antes?

Qual o motivo para não deixarem para dis­tribuir depois do pleito?

A mesma dis­tribuição está ocor­rendo noutros municí­pios inclu­sive naque­les onde a mis­éria, infe­liz­mente, é mais premente?

A explo­ração da mis­éria como bar­ganha polit­ica é uma ver­gonha, é uma ignomí­nia, dev­e­ria ser algo para aque­les que a prati­cam se enver­gonharem de se olharem no espelho.

Entre­tanto, isso parece não enver­gonhar as autori­dades suposta­mente envolvi­das, e, pelo con­trário, parece ser motivo de orgulho.

As pes­soas de bem não podem – e não devem –, aceitar esse tipo de coisa, não foi pelo que esta­mos viven­ciando que entreg­amos os mel­hores anos de nos­sas vidas.

Ouvi um áudio em que o can­didato “ofi­cial” do gov­erno procura saber de quem é a indi­cação de um ter­ce­i­rizado da segu­rança ou da zelado­ria para “cobrar depois” e fico imag­i­nando se esse tipo de coisa que ocor­ria ou ocorre em um órgão de ter­ceiro ou quarto escalão, não acon­tece nos demais órgãos ou sec­re­tarias de gov­erno.

De um gov­erno que quando assumiu, frise-​se, tinha como com­pro­misso primeiro a não uti­liza­ção do apar­elho estatal para perseguir os mais fra­cos e os menos favore­ci­dos.

Foi isso que o gov­er­nador prom­e­teu no seu dis­curso de posse.

Esse áudio e tan­tos out­ros, até onde sei nunca foram des­men­ti­dos e ainda assim, nunca ouvi­mos do gov­er­nador ou de out­ras autori­dades, se aquele tipo de cobrança e pro­ced­i­mento era “padrão” do gov­erno que tinha como mote a liber­dade pre­gada no dis­curso de posse.

Acred­ito que ao dizer aque­las tão belas palavras – que con­trasta com tudo que esta­mos assistindo –, sua excelên­cia, as pro­feriu ao vento, para serem lev­adas e sem qual­quer ser­ven­tia.

As palavras, assim como o gov­erno, nada mais eram do que uma triste car­i­catura da ver­dade real, o retrato final de Dorian Gray, que o gênio de Oscar Wilde tão bem exprimiu.

Não deve­mos desan­i­mar, a liber­dade ainda não chegou ao Maran­hão, nosso povo con­tinua escrav­izado por capri­chos pes­soais e sendo humil­ha­dos, mas, cer­ta­mente, algum dia ela vai chegar. Tudo chega.

O cam­inho para isso é o repú­dio vee­mente aos abu­sos, aos crimes e ao vale-​tudo eleitoral.

É diz­er­mos que não aceita­mos e que esta­mos cansa­dos de manip­u­lação, men­ti­ras e engodos.

Abdon Mar­inho é advogado.