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Os brasileiros e o falso dilema.

Escrito por Abdon Mar­inho

OS BRASILEIROS E O FALSO DILEMA.

Por Abdon Marinho.

TRISTE Brasil. Os números não pode­riam ser-​nos mais cruéis. Na con­tramão do mundo o país não para de acu­mu­lar estatís­ti­cas superla­ti­vas em relação às víti­mas da pan­demia.

Em meio a tudo isso o povo brasileiro, parece-​nos, divi­dido entre dois tristes per­son­agens: um que é pres­i­dente mas não quer sê-​lo e um outro, o ex-​presidiário – que ben­e­fi­ci­ado por decisões gra­ciosas e na con­tramão da Justiça e do Dire­ito –, que não é mais quer ser, e até age como se fosse.

Como piada, pul­u­lam nas mais diver­sas mídias a ideia de que o brasileiro pre­cisa ser estu­dado. Não um estudo qual­quer: mas, sim, estu­dado pela NASA, a agên­cia espa­cial norte-​americana – na visão do brasileiro, a excelên­cia em matéria de ciên­cia.

Pois bem, na ver­dade, acred­ito que o brasileiro, ape­sar de vestir-​se de malan­dragem, de viver dando “jeit­inho”, posar eter­na­mente de “Macu­naíma”, o “herói” sem nen­hum caráter, é ape­nas ingênuo.

O brasileiro pensa que é “obri­gado” a votar no Bol­sonaro ou no Lula, que não há alter­na­tiva ao país que não esteja atre­ladas a estes dois seres: um, que den­tre tan­tos males podemos dizer é o respon­sável pela insti­tu­cional­iza­ção da cor­rupção e, diga-​se tam­bém, o “pai” da outra des­graça que acomete o país na atu­al­i­dade: o bol­sonar­ismo; o outro, a con­stante insta­bil­i­dade e a incom­petên­cia que joga o país no abismo.

O brasileiro pensa que existe muita difer­ença entre o lulismo e o bol­sonar­ismo, quando, na ver­dade, trata-​se ape­nas das duas faces da mesma moeda.

O brasileiro est­ufa o peito para dizer que o Lula é inocente, quando todos no país com mais de dois neurônios sabem que o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, desafiando toda a lóg­ica do dire­ito anu­lou decisões judi­ci­ais tran­si­tadas em jul­gado, uti­lizando os mes­mos argu­men­tos já refu­ta­dos pelo mesmo tri­bunal mais de uma dezena de vezes.

O brasileiro, com orgulho, não cansa de dizer que o gov­erno Bol­sonaro é o mais hon­esto até hoje já insta­l­ado no Brasil.

E ele diz isso sem o con­strang­i­mento de teste­munhar o Walde­mar da Costa Neto recém-​saído da cadeia, con­de­nado que foi nos esque­mas do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, na primeira fila no Palá­cio do Planalto nas solenidades de nomeações dos seus indi­ca­dos para os min­istérios.

Para o brasileiro nada tem demais que o gov­erno tenha gasto mais de três bil­hões de reais no “con­venci­mento” dos par­la­mentares para que elegessem os can­didatos da prefer­ên­cia do presidente.

Tam­bém, para eles, é per­feita­mente nor­mal que o Walde­mar da Costa Neto, o Roberto Jef­fer­son, o Ciro Nogueira e todos os demais expoentes do “cen­trão” ditem as regras do gov­erno, indiquem min­istros e os mais altos exec­u­tivos do Poder Exec­u­tivo, ou os min­istros ou desem­bar­gadores dos tri­bunais superiores.

Para os brasileiros essa turma toda se regen­erou ou banhar-​se nas “águas do bol­sonar­ismo”, os rou­bos, as cor­rupções, os males havi­dos, as for­tu­nas feitas da “noite para o dia”, são ape­nas uma pál­ida lem­brança dos tem­pos do petismo.

Vejam que engraçado, a mesma turma, exceto pelos petis­tas, que “apron­tou todas” no gov­erno do PT e que, em grande parte é respon­sável, pela insti­tu­ição da cor­rupção no gov­er­nos do Lula e da Dilma/​Temer, está agora no gov­erno Bol­sonaro – man­dando –, mas, mila­gre, agora são todos hon­estos.

Aliás, a pre­sença do notório Walde­mar da Costa Neto na fila de honra da última solenidade do Planalto era para pres­ti­giar a posse da dep­utada Flávia Arruda (esposa do ex-​governador de Brasília, preso no cargo por cor­rupção), do seu par­tido, no “Min­istério da Emen­das”, que dev­e­ria ser o nome da Sec­re­taria de Governo.

A min­is­tra da emen­das ficará encar­regada de admin­is­trar, com as ver­bas públi­cas, a sus­ten­tação do gov­erno.

Mas, para os brasileiros, tudo está indo muito bem, obrigado.

Os brasileiros, esses ingên­uos, não sabem que as emen­das par­la­mentares são as novas “empre­it­eiras” dos tem­pos do lulopetismo.

O brasileiro é tão ingênuo que não se deu conta que vive­mos sob o régime par­la­men­tarista de gov­erno.

Pois é, sem con­sul­tar ninguém, sem plebisc­i­tos ou con­sulta pop­u­lar, os par­la­mentares brasileiros aprovaram o par­la­men­tarismo à brasileira e, pior – mel­hor para eles –, sem qual­quer respon­s­abil­i­dade.

Deu errado? A culpa é do outro.

Temos um suposto pres­i­dente que finge man­dar, que diz pos­suir a caneta bic com tinta, mas, na ver­dade, os negó­cios do gov­erno já são deci­di­dos pelos parlamentares.

Como assis­ti­mos recen­te­mente, o par­la­mento já dis­cute dire­ta­mente com o Min­istério da Econo­mia o quanto de verba do orça­mento será des­ti­nada para a “gestão” dos dep­uta­dos e senadores.

O último con­flito foi por conta da reserva de trinta bil­hões de reais para tal final­i­dade, o que, segundo o Min­istério da Econo­mia, deixará o Poder Exec­u­tivo ape­nas com ônus de “furar” o teto de gas­tos já que verba dos par­la­mentares têm caráter impos­i­tivo.

O suposto Poder Exec­u­tivo não pos­sui mais a pre­rrog­a­tiva do plane­ja­mento, ape­nas da exe­cução orça­men­tária deter­mi­nada pelos par­la­mentares para obras des­ti­nadas às suas bases; o cumpri­mento dos repasses con­sti­tu­cionais a esta­dos e municí­pios; a admin­is­tração da dívida pública e prev­i­den­ciária, os inves­ti­men­tos con­sti­tu­cionais em Saúde, Edu­cação, Assistên­cia Social.

O brasileiro, na sua ingenuidade, pensa que o Bol­sonaro manda, que o gov­erno é hon­esto, que o

Lula é inocente, que o Supremo guarda a Con­sti­tu­ição, que o Con­gresso Nacional se regen­erou, quando, na ver­dade, tudo con­tinua numa ver­são pio­rada do que sem­pre foi.

O brasileiro, metido a esperto e que agora toma café, almoça e janta falando de política, se achando “enten­dido” no assunto, na ver­dade não perce­beu que não passa de um “peão” ou “gado” sendo manip­u­lado pelos que se jul­gam, “donos da nação”.

Na defesa de suas toscas pau­tas igno­ram o que ver­dadeira­mente é impor­tante ao país e aos brasileiros, como a defesa da vida, o cresci­mento econômico, o emprego e renda dos cidadãos, uma pre­v­idên­cia social que lhes garanta dig­nidade na vel­hice.

Quem olha para o país sem se deixar con­t­a­m­i­nar por esse ide­ol­o­gismo rasteiro percebe, clara­mente, que o Brasil voltou a está­gio que se encon­trava no final dos anos oitenta e, pior, sem a esper­ança de que um futuro mel­hor nos aguarda.

O futuro é voltar ao lulopetis­timo, de triste lem­branças? O futuro é con­tin­uar com gov­erno desas­troso e desastrado coman­dado pelo cen­trão, com uma espé­cie Maria Antoni­eta no Planalto?

O Brasil pre­cisa romper com estes dois mod­e­los, que, como dito ante­ri­or­mente, são as duas faces da mesma moeda.

O mesmo mod­elo que escrav­iza a nação para garan­tir o con­forto e o lucro fácil dos donos do poder.

Não con­seguire­mos isso se con­tin­uar­mos a nos deixar levar pelos bobos meti­dos a enten­di­dos na política con­tin­uarem “dando as car­tas” para levarem a sociedade brasileira a escol­her entre as duas pro­postas que se apre­sen­tam como “prato-​feito” a ser servido à pat­uleia.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Uma oração por Henry e pela humanidade.

Escrito por Abdon Mar­inho

UMA ORAÇÃO POR HENRY E PELA HUMANIDADE.

Por Abdon Marinho.

O BRASIL, para o deses­pero das pes­soas de bem, ultra­pas­sou a triste marca de 350 mil mor­tos pela Covid-​19, são famílias, são ami­gos que sofrem a dor de suas per­das.

Enquanto isso, as autori­dades ainda não “acor­daram” para tragé­dia que acomete o país e “brigam” para saber quem tira mel­hor van­tagem do vírus e até o “escala” como “cabo eleitoral”; os poderes de chocam por conta de pedi­dos de CPI, impeach­ment ou por gor­dos nacos do orça­mento da união – as emen­das par­la­mentares impos­i­ti­vas são as empre­it­eiras de out­rora.

Em meio a todos esses acon­tec­i­men­tos e tan­tas tragé­dias, uma, em espe­cial – e que nada tem a ver com as referi­das ante­ri­or­mente –, tem ocu­pado minha mente a ponto de não con­seguir escr­ever sobre os out­ros assun­tos antes de abordá-​la.

Assim, pedindo licença aos leitores de sem­pre, no texto de hoje abor­darei a dolorosa tragé­dia que viti­mou o garot­inho Henry Borel.

Lembro-​me de já haver exper­i­men­tado igual sen­ti­mento de revolta e tris­teza por ocasião do assas­si­nato da menina Isabella Nar­doni e depois, mais ainda, com o assas­si­nato do menino Bernardo Uglione.

No caso de Bernardo, espe­cial­mente, senti-​me triste por saber que desde que perdera a mãe anos antes, vinha sofrendo maus-​tratos ante a omis­são crim­i­nosa do pai.

Estas duas tragé­dias tiveram o con­sór­cio dos pais.

No caso de Bernardo, um sofri­mento pro­lon­gado pelo tempo, pela dor do aban­dono, da omis­são do pai até cul­mi­nar com elim­i­nação física per­pe­trada pela madrasta – com o con­hec­i­mento /​consentimento do genitor.

Situ­ação um pouco difer­ente do que deu com Isabela que, ainda com a par­tic­i­pação do pai no evento sin­istro, não tomamos con­hec­i­mento de maus-​tratos ante­ri­ores.

O pai, jun­ta­mente com a madrasta, come­teram o crime, no “calor” do momento. Uma agressão e, para oculta-​la, o homicí­dio jogando a cri­ança pela janela.

Agora foi a vez de Henry. Um caso igual­mente cruel, torpe, desumano mas que se mostra dis­tinto dos dois casos ante­ri­ores.

Quando, há um mês soube-​se do crime e da ver­são dos crim­i­nosos, que a cri­ança teria mor­rido ao cair da cama – ver­são que frontal­mente se chocava com os exames peri­ci­ais –, alguém comen­tou: “está certo. A cri­ança caiu da cama, rolou 20 andares de escadas e parou jus­ta­mente em meio a uma luta de MMA”.

Essa foi ape­nas uma das frases que ouvi, pois todos já sabiam por alto o que se dera com o garoto fora um crime hor­rendo per­pe­trado por aque­les que tin­ham o dever de protegê-​lo.

Certeza que foi se cristal­izando à medida que novas infor­mações foram sendo disponibilizadas.

A frieza de ambos, o esforço do padrasto para impedir a perí­cia médica, a pressa para enter­rar a cri­ança – segundo ele “virar a página” –, os depoi­men­tos de teste­munhas, notada­mente, de ex-​companheiras apon­tando inúmeros exem­p­los de vio­lên­cia, sobre­tudo, con­tra os fil­hos das mes­mas, etc., etcetera.

Mas, como dizia antes, o crime que viti­mou o menino Henry teve car­ac­terís­ti­cas dis­tin­tas dos dois casos cita­dos (Isabela e Bernardo), muito emb­ora todos iguais nos que­si­tos cru­el­dade e hor­ror.

A dis­tinção é jus­ta­mente a par­tic­i­pação da mãe.

No caso de Isabela a mãe foi uma vítima indi­reta do que ocor­reu à filha.

No caso de Bernardo a mãe já havia mor­rido há alguns anos.

No caso de Henry a mãe teve par­tic­i­pação ativa por ação ou omis­são.

As provas rev­e­laram que um mês antes da tragé­dia uma sessão de tor­tura con­tra a vítima inde­fesa, pior, seu filho, lhe foi nar­rada “ao vivo” sem que ela nada fizesse.

Não procurou a polí­cia, não procurou o con­selho tute­lar, não con­fron­tou o com­pan­heiro. Não fez nada. Abso­lu­ta­mente nada.

Depois, em con­ver­sas com o ex-​marido, pai da cri­ança, agiu como se não soubesse os motivos do filho não querer voltar para ela, chorar, vom­i­tar, etc.

O com­por­ta­mento da mãe do garoto Henry, não é o padrão nem mesmo na natureza sel­vagem.

O que vemos no mundo ani­mal é o instinto pro­te­tor da mãe aos seus fil­hos. É assim com as leoas, com as ele­fan­tas, com as girafas. E não é assim ape­nas com os mamíferos. Exper­i­mente aproximar-​se de uma nin­hada de pás­saros ou mesmo de gal­in­has, gan­sos, patas…

O instinto pro­te­tor da mãe sem­pre está pre­sente na defesa de suas crias.

Esse instinto pro­te­tor da mãe se estende às fêmeas em geral.

Quan­tas vezes não assis­ti­mos um fil­hote que perdeu a mãe ser acol­hido por outra mãe e até mesmo por outra fêmea de outra espé­cie?

No caso de Henry o que salta aos olhos é essa falta de instinto pro­te­tor da mãe.

Ela, uma pro­fes­sora de for­mação, a quem out­ras mães confiavam-​lhe os fil­hos, mesmo sabendo que o com­pan­heiro era um con­tu­maz tor­tu­rador de cri­anças, foi inca­paz de defender o próprio filho. Mesmo tendo tomado con­hec­i­mento de uma “tor­tura” que seu filho estava sofrendo em “tempo real”, nada fez no momento, antes do fato – pois pelo diál­ogo presume-​se que ela já sabia o que o com­pan­heiro estava fazendo com o seu filho de ape­nas qua­tro anos –, ou depois do fato, com a cri­ança man­cando e com esco­ri­ações, pedindo a babá que não lhe lavasse a cabeça porque doía muito.

Que tipo de mãe é esse que nada faz para pro­te­ger um filho de qua­tro anos que estava sendo “bar­barizado” pelo com­pan­heiro?

E, muito emb­ora a respon­s­abil­i­dade primeira seja da mãe, a mesma per­gunta cabe ser feita à babá.

Que tipo de ser humano pode ficar inerte diante dos maus-​tratos sofri­dos por uma cri­ança?

A mãe e a babá foram teste­munhas – acho mel­hor dizer, cúm­plices –, do que vinha ocor­rendo com a cri­ança.

E, des­graçada­mente, se omi­ti­ram – ou con­sen­ti­ram, com os maus-​tratos, a tor­tura per­pe­trada pelo vereador/​médico/​psicopata.

São menos psi­co­patas que ele?

Sou ten­tado a acred­i­tar que a mãe “vendeu” o filho em troca de uma vida luxo, sta­tus, poder …

Diante do desen­ro­lar dos fatos, da crim­i­nosa omis­são da mãe – con­siderando a hipótese que ela não tenha par­tic­i­pado de nen­huma das sessões de tor­turas con­tra o filho –, imag­ino que o vereador/​médico/​psicopata deve ter pro­posto a ela que garan­tiria o luxo, o din­heiro, o con­forto e sta­tus – isso tudo às cus­tas do idiota do eleitor do Rio de Janeiro, que nos últi­mos tem­pos tem se esmer­ado em eleger a escória –, em troca de poder usar o filho como seu “saco de pan­cadas” pes­soal.

Vejam que mesmo depois do assas­si­nato do filho – que sabe como ocor­reu –, ela man­tém as ver­sões fal­sas do fato, ten­tando pro­te­ger o com­pan­heiro – ou a si mesma.

Não vemos qual­quer sen­ti­mento, só indifer­ença.

Indifer­ença, aliás, já demon­strada ante­ri­or­mente, quando a babá lhe trans­mi­tiu “ao vivo” a sessão de tor­tura sofrida pelo filho; quando saiu do enterro “dire­ta­mente” para o salão de beleza; quando tirava “selfie” e postava enquanto aguar­dava o depoi­mento sobre a morte do filho. O seu filho, uma cri­ança de qua­tro anos.

A cri­ança tinha mais instinto pro­te­tor e amor pela mãe que ela. Uma das partes mais tocantes é o diál­ogo da babá con­tando que a cri­ança lhe teria dito que o vereador/​médico/​monstro lhe disse que não podia falar senão a mãe sofre­ria as con­se­quên­cias.

E a mãe sabia de tudo isso.

Que tipo de humano é capaz de tor­tu­rar uma cri­ança?

Que tipo de humano é capaz de ficar indifer­ente à tor­tura de um ser inde­feso?

As cri­anças, Henry, Bernardo, Isabela pre­cisam de orações … a humanidade pre­cisa muito mais.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Falta juízo a República.

Escrito por Abdon Mar­inho


FALTA JUÍZO A REPÚBLICA.

Por Abdon Marinho.

UM ANO e trezen­tos mil mor­tos depois o pres­i­dente da República chamou uma reunião entre as autori­dades dos três poderes, alguns gov­er­nadores e out­ras autori­dades.

A ideia seria, ao menos em tese, criar um comitê cen­tral visando acom­pan­har a evolução da pan­demia, cen­tralizar as dis­cussões sobre o tema e apre­sen­tar soluções à mais grave crise san­itária pela qual passa a humanidade em séculos.

Os otimis­tas saudaram com júbilo a ini­cia­tiva. Pensou-​se: final­mente o bom Deus restau­rou o juízo nas cabeças das autoridades.

Era engano, Deus, provavel­mente, tem coisas mais impor­tantes para acom­pan­har ou já chegou à con­clusão de que as autori­dades brasileiras são um caso per­dido.

Poucos dias depois e mais trinta mil cadáveres à conta da des­graça, já assistiu-​se de tudo, menos que ter­e­mos autori­dades pre­ocu­padas com sorte (azar) dos cidadãos.

Já no dia da primeira reunião do tal comitê, enquanto, alguns dos seus mem­bros recomen­davam o uso de más­caras e o dis­tan­ci­a­mento social e out­ras medi­das, viu-​se o suposto pres­i­dente da República que, em tese, dev­e­ria ser o primeiro a procu­rar seguir as recomen­dações do comitê por ele cri­ado, bradar con­tra tais recomendações.

Muito além das palavras e exem­p­los sab­o­ta­dores da saúde da nação par­ti­ram para atos con­cre­tos: a Advocacia-​Geral da União — AGU, que dev­e­ria se ocu­par dos inter­esses da nação, foi bater às por­tas do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, para pedir a “lib­er­ação” de cul­tos e mis­sas pres­en­ci­ais.

Ao tomar con­hec­i­mento da ação a primeira coisa que me veio à cabeça foi: o que “dia­bos” o gov­erno tem a ver com esse assunto? As igre­jas, caso se sin­tam prej­u­di­cadas, não pode­riam elas próprias, “baterem” às por­tas do STF? Como Deus é onipo­tente, oni­sciente e onipresente, pre­cis­aria dos tem­p­los aber­tos e aglom­er­a­dos para ouvir o clamor do povo? O que o gov­erno tem a ver com díz­imo arrecadado pelas igre­jas já que sobre eles não recaem qual­quer tributação?

O Papa que, segundo dizem, con­versa dire­ta­mente com Ele, tem feito todas suas cel­e­brações da Pás­coa, no Estado do Vat­i­cano, onde é a autori­dade máx­ima, com os tem­p­los vazios. E, é provável que Deus não tenha se “zan­gado” com isso.

Se o Papa pode fazer assim, por qual motivo o pas­tor ou o padre da minha paróquia não pode fazer do mesmo jeito?

Mal me recu­per­ara do susto de teste­munhar o gov­erno ir ao Supremo defender uma causa que nem a Deus deve inter­es­sar – pois aprendi que Deus é amor e bon­dade –, foi a vez de assi­s­tir, escan­dal­izado, o Procurador-​geral da República, emi­tir pare­cer assentindo com a pre­ten­são do gov­erno.

Na comunhão de inter­esses tão sub­al­ter­nos ao que defende o pres­i­dente da República, talvez não exista uma causa cristã, mais sim, a vaidade que talvez os leve ao inferno: a próx­ima vaga de min­istro do Supremo a vagar em 5 de junho, com a aposen­ta­do­ria do min­istro decano Marco Aurélio Mello.

Na mesma sem­ana em que se falou tanto em união e soma de esforços para vencer a pan­demia e superar a crise dela advinda, vimos o Con­gresso Nacional, aprovar um orça­mento anual, que onze de dez econ­o­mis­tas dizem tratar-​se de uma peça de ficção, feito sob medida para preser­var as famosas emen­das dos par­la­mentares que, indifer­entes às con­tas públi­cas e aos inter­esses do povo, querem é um pedaço do orça­mento para “chamar de seu”.

Vimos, tam­bém, “com­erem” o orça­mento do IBGE e que tinha como des­tino o censo dece­nal, o prin­ci­pal instru­mento de plane­ja­mento do país.

Assim, em plena crise, não vemos ninguém pre­ocu­pado com o país, mas sim, em “tirar um pedaço” para si – indifer­ente do sofri­mento do povo.

E a sem­ana que dev­e­ria ser Santa, acaba com o mais novo min­istro do Supremo, nomeado pelo atual pre­sente, coin­ci­den­te­mente, con­ver­gir no inter­esse do gov­erno, através da sua AGU, da PGE e do próprio pres­i­dente, para deferir uma lim­i­nar autor­izando o fun­ciona­mento dos tem­p­los e igre­jas, con­trar­iando decisão do pleno do STF, que decidiu pela com­petên­cia dos esta­dos e municí­pios em fixarem tais nor­mas no inter­esse de debe­lar a crise san­itária.

A decisão do min­istro Nunes Mar­ques ocorre nos autos de uma ação de Arguição de Des­cumpri­mento de Pre­ceito Fun­da­men­tal, pro­posto por uma Asso­ci­ação Nacional de Juris­tas Evangéli­cos.

O assunto pare­ceu tão urgente e rel­e­vante que a lim­i­nar foi con­ce­dida entre a Sexta-​feira Santa e o Sábado de Aleluia.

Não teria sido tão ráp­ida se fosse um pedido para impedir a cru­ci­fi­cação de Cristo.

Aliás, trami­tação mais ráp­ida só aquela em que Pilatos usou para con­denar Jesus.

Como dito ante­ri­or­mente não são ini­cia­ti­vas movi­das pela fé ou pelo zelo das coisas de Deus. Têm sim, a moti­vação dos inter­esses pes­soais e a sabu­jice de quem se sente deve­dor de algo ao nomeador.

Para agradar ao chefe, se esse os pedisse para deixar de res­pi­rar, cer­ta­mente deixariam, ainda que isso lhes cus­tassem a vida.

Desac­er­tos, incom­petên­cia e crimes têm pon­tu­ado a atu­ação das autori­dades da República na con­dução da pandemia.

Estes “desac­er­tos” se reflete no número de vidas per­di­das, de famílias enlu­tadas e no sofri­mento dos brasileiros.

Na quarta-​feira, dia 31 de março, uma sem­ana após à reunião de cri­ação do suposto comitê, o Brasil, soz­inho, reg­istrou 30% (trinta por cento) dos mor­tos pela pan­demia no mundo. O Brasil, que responde por ape­nas 2,7% (dois vír­gula sete por cento) da pop­u­lação mundial.

Já são mais 330 mil vidas per­di­das e os estu­diosos pro­je­tam que no ritmo em que as coisas estão indo por aqui, só no mês de abril, perder­e­mos mais 100 mil vidas, para acu­mu­la­rmos 430 mil vidas per­di­das ao tér­mino de um mês.

Quan­tos brasileiros mais terão que mor­rer até as autori­dades da República assumam as suas respon­s­abil­i­dades e passem a diri­gir o país? Quin­hen­tos mil? Um mil­hão de vidas per­di­das? Vão con­tin­uar agindo como fiz­eram até aqui? Será que não perce­beram que há muito essa baderna deixou de ser somente política, guerra ide­ológ­ica e que o que estão fazendo é um crime con­tra a humanidade?

Exis­tem alguns números que dizem muito sobre o que acon­tece no Brasil e sobre o desserviço que nos­sas autori­dades vêm pre­stando à patuleia.

Numa escala de pro­porção, se a Aus­trália fosse dirigida pelo gov­erno brasileiro, eles estariam com aprox­i­mada­mente 25 mil mor­tos, lá mor­reram 906 durante um ano; se a Nova Zelân­dia fosse gov­er­nada pelo gov­erno brasileiro, eles estariam com cerca de 5 mil mor­tos, lá mor­reram, em um ano de pan­demia, 26 pes­soas e a vida já está voltando ao “nor­mal”; se a Índia fosse gov­er­nada pelos diri­gentes do Brasil, estariam chorando a perda de 2 mil­hões de indi­anos, por lá mor­reram, até aqui, menos da metade dos que mor­reram no nosso país.

A Índia, uma nação super­povoada, com mais de um bil­hão e trezen­tos mil­hões de pes­soas, com condições san­itárias de todos con­heci­dos ao redor do mundo, com mil­hões de pes­soas vivendo na extrema pobreza, apre­senta uma per­fo­mance mel­hor do que a nossa na con­dução e com­bate à pan­demia.

Com todas as suas difi­cul­dades não é a Índia ou as nações africanas, com sua pobreza mile­nar, o cen­tro das pre­ocu­pações do mundo, é o Brasil.

O nosso país fez tudo que podia fazer de errado – e con­tinua fazendo.

Um ano depois de ini­ci­ada a pan­demia, reg­is­trando mais 330 mil vidas per­di­das, a maior tragé­dia da nossa história e as autori­dades mais voltadas em fazer política, em se pre­ocu­par com as eleições do ano que vem, com a vacân­cia das vagas no Supremo, em adu­lar o atual pres­i­dente da República.

Vemos advogado-​geral da União, procurador-​geral da República, min­istro do Supremo, pre­ocu­pa­dos em aten­der o desejo do pres­i­dente da República para que não minguem seus votos nas eleições pres­i­den­ci­ais do ano que vem.

Vemos par­la­mentares que dev­e­riam se asso­cia­rem aos esforços da nação para enfrentar a pan­demia e depois em recu­perar a econo­mia do país, mais pre­ocu­pa­dos em garan­tir suas emen­das, em faz­erem “caixa” para suas eleições.

Tudo isso enquanto o país mer­gulha em difi­cul­dades de todos os tipos.

Falta juízo e respon­s­abil­i­dade a República.

Abdon Mar­inho é advogado.