Os brasileiros e o falso dilema.
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- Criado: Domingo, 18 Abril 2021 14:02
- Escrito por Abdon Marinho
OS BRASILEIROS E O FALSO DILEMA.
Por Abdon Marinho.
TRISTE Brasil. Os números não poderiam ser-nos mais cruéis. Na contramão do mundo o país não para de acumular estatísticas superlativas em relação às vítimas da pandemia.
Em meio a tudo isso o povo brasileiro, parece-nos, dividido entre dois tristes personagens: um que é presidente mas não quer sê-lo e um outro, o ex-presidiário – que beneficiado por decisões graciosas e na contramão da Justiça e do Direito –, que não é mais quer ser, e até age como se fosse.
Como piada, pululam nas mais diversas mídias a ideia de que o brasileiro precisa ser estudado. Não um estudo qualquer: mas, sim, estudado pela NASA, a agência espacial norte-americana – na visão do brasileiro, a excelência em matéria de ciência.
Pois bem, na verdade, acredito que o brasileiro, apesar de vestir-se de malandragem, de viver dando “jeitinho”, posar eternamente de “Macunaíma”, o “herói” sem nenhum caráter, é apenas ingênuo.
O brasileiro pensa que é “obrigado” a votar no Bolsonaro ou no Lula, que não há alternativa ao país que não esteja atreladas a estes dois seres: um, que dentre tantos males podemos dizer é o responsável pela institucionalização da corrupção e, diga-se também, o “pai” da outra desgraça que acomete o país na atualidade: o bolsonarismo; o outro, a constante instabilidade e a incompetência que joga o país no abismo.
O brasileiro pensa que existe muita diferença entre o lulismo e o bolsonarismo, quando, na verdade, trata-se apenas das duas faces da mesma moeda.
O brasileiro estufa o peito para dizer que o Lula é inocente, quando todos no país com mais de dois neurônios sabem que o Supremo Tribunal Federal — STF, desafiando toda a lógica do direito anulou decisões judiciais transitadas em julgado, utilizando os mesmos argumentos já refutados pelo mesmo tribunal mais de uma dezena de vezes.
O brasileiro, com orgulho, não cansa de dizer que o governo Bolsonaro é o mais honesto até hoje já instalado no Brasil.
E ele diz isso sem o constrangimento de testemunhar o Waldemar da Costa Neto recém-saído da cadeia, condenado que foi nos esquemas do Partido dos Trabalhadores – PT, na primeira fila no Palácio do Planalto nas solenidades de nomeações dos seus indicados para os ministérios.
Para o brasileiro nada tem demais que o governo tenha gasto mais de três bilhões de reais no “convencimento” dos parlamentares para que elegessem os candidatos da preferência do presidente.
Também, para eles, é perfeitamente normal que o Waldemar da Costa Neto, o Roberto Jefferson, o Ciro Nogueira e todos os demais expoentes do “centrão” ditem as regras do governo, indiquem ministros e os mais altos executivos do Poder Executivo, ou os ministros ou desembargadores dos tribunais superiores.
Para os brasileiros essa turma toda se regenerou ou banhar-se nas “águas do bolsonarismo”, os roubos, as corrupções, os males havidos, as fortunas feitas da “noite para o dia”, são apenas uma pálida lembrança dos tempos do petismo.
Vejam que engraçado, a mesma turma, exceto pelos petistas, que “aprontou todas” no governo do PT e que, em grande parte é responsável, pela instituição da corrupção no governos do Lula e da Dilma/Temer, está agora no governo Bolsonaro – mandando –, mas, milagre, agora são todos honestos.
Aliás, a presença do notório Waldemar da Costa Neto na fila de honra da última solenidade do Planalto era para prestigiar a posse da deputada Flávia Arruda (esposa do ex-governador de Brasília, preso no cargo por corrupção), do seu partido, no “Ministério da Emendas”, que deveria ser o nome da Secretaria de Governo.
A ministra da emendas ficará encarregada de administrar, com as verbas públicas, a sustentação do governo.
Mas, para os brasileiros, tudo está indo muito bem, obrigado.
Os brasileiros, esses ingênuos, não sabem que as emendas parlamentares são as novas “empreiteiras” dos tempos do lulopetismo.
O brasileiro é tão ingênuo que não se deu conta que vivemos sob o régime parlamentarista de governo.
Pois é, sem consultar ninguém, sem plebiscitos ou consulta popular, os parlamentares brasileiros aprovaram o parlamentarismo à brasileira e, pior – melhor para eles –, sem qualquer responsabilidade.
Deu errado? A culpa é do outro.
Temos um suposto presidente que finge mandar, que diz possuir a caneta bic com tinta, mas, na verdade, os negócios do governo já são decididos pelos parlamentares.
Como assistimos recentemente, o parlamento já discute diretamente com o Ministério da Economia o quanto de verba do orçamento será destinada para a “gestão” dos deputados e senadores.
O último conflito foi por conta da reserva de trinta bilhões de reais para tal finalidade, o que, segundo o Ministério da Economia, deixará o Poder Executivo apenas com ônus de “furar” o teto de gastos já que verba dos parlamentares têm caráter impositivo.
O suposto Poder Executivo não possui mais a prerrogativa do planejamento, apenas da execução orçamentária determinada pelos parlamentares para obras destinadas às suas bases; o cumprimento dos repasses constitucionais a estados e municípios; a administração da dívida pública e previdenciária, os investimentos constitucionais em Saúde, Educação, Assistência Social.
O brasileiro, na sua ingenuidade, pensa que o Bolsonaro manda, que o governo é honesto, que o
Lula é inocente, que o Supremo guarda a Constituição, que o Congresso Nacional se regenerou, quando, na verdade, tudo continua numa versão piorada do que sempre foi.
O brasileiro, metido a esperto e que agora toma café, almoça e janta falando de política, se achando “entendido” no assunto, na verdade não percebeu que não passa de um “peão” ou “gado” sendo manipulado pelos que se julgam, “donos da nação”.
Na defesa de suas toscas pautas ignoram o que verdadeiramente é importante ao país e aos brasileiros, como a defesa da vida, o crescimento econômico, o emprego e renda dos cidadãos, uma previdência social que lhes garanta dignidade na velhice.
Quem olha para o país sem se deixar contaminar por esse ideologismo rasteiro percebe, claramente, que o Brasil voltou a estágio que se encontrava no final dos anos oitenta e, pior, sem a esperança de que um futuro melhor nos aguarda.
O futuro é voltar ao lulopetistimo, de triste lembranças? O futuro é continuar com governo desastroso e desastrado comandado pelo centrão, com uma espécie Maria Antonieta no Planalto?
O Brasil precisa romper com estes dois modelos, que, como dito anteriormente, são as duas faces da mesma moeda.
O mesmo modelo que escraviza a nação para garantir o conforto e o lucro fácil dos donos do poder.
Não conseguiremos isso se continuarmos a nos deixar levar pelos bobos metidos a entendidos na política continuarem “dando as cartas” para levarem a sociedade brasileira a escolher entre as duas propostas que se apresentam como “prato-feito” a ser servido à patuleia.
Abdon Marinho é advogado.
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