TESTANDO GOEBBELS OU A CELEBRAÇÃO DO FRACASSO.
Por Abdon Marinho.
PARA o ministro da propaganda nazista (1933 — 1945), Joseph Goebbels (1897−1945), uma mentira contada mil vezes torna-se verdade. Algo semelhante.
Desde que se instalou no estado, em janeiro de 2015, o governo comunista do senhor Flávio Dino vem pondo a prova tal ensinamento, tentando – e conseguindo –, vender como sucesso aquilo que para qualquer pessoa minimamente esclarecida não passa de retumbante fracasso.
Fazem isso porque não existe no estado uma oposição consistente e uma imprensa – com poucas e honradas exceções –, independente. Tal qual, como era, na primeira metade do século passado, a Alemanha nazista.
Faço tais considerações por ter assistido a uma propaganda institucional do governo estadual celebrando o fracasso da educação no estado como se fosse algo positivo.
A tal peça “inunda” todos veículos de comunicação, inclusive nos horários nobres e caros da televisão brasileira, como durante os intervalos do Jornal Nacional, da Rede Globo.
Acredito que milhões sejam gastos com tais mídias. E, para quê? Para convencer os incautos que o governo estadual é um sucesso nas mais variadas áreas.
A peça de publicidade que chamou minha atenção, pelo caráter “nazista” foi essa que vem sendo veiculada sobre a divulgação do resultado do Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico — IDEB, relativo ao ano de 2019, ocorrido recentemente.
Ora, em que pese o reconhecimento de que existe uma relativa melhora nos índices do IDEB, me parece um pouco despropositado que o governo estadual gaste milhões em propaganda para festejar o índice de 3,7 obtido e, em descumprimento da meta estabelecida para o ano de 2019.
Tratar-se-ia de um escárnio à opinião pública?
Soa-me como a celebração do fracasso ou como um teste à tese de Goebbels de que as pessoas podem ser convencidas de qualquer coisa pelos governantes, ambas hipóteses um desastre para o que entendemos que deva ser a sociedade ou o respeito aos seres humanos.
A nota do IDEB, como as notas que obtínhamos quando estudávamos no ensino fundamental, varia de 0,00 (zero) a 10,00 (dez).
O ensino médio no Brasil anda tão ruim que o estado mais bem colocado, o Espírito Santo, obteve a nota 4,8, inferior, portanto, à meta estabelecida para o IDEB/2019, que foi de 5,3.
O Maranhão aparece no ranking dos estados da federação na vigésima posição, atrás de dezenove outros estados, tais como, Alagoas, Roraima, Acre, Paraíba, Piauí, Tocantins, Rondônia, e tantos outros.
Citei estes para dimensionar o despropósito de se celebrar a nota obtida quando estamos atrás destes estados, que longe, não têm a riqueza da nossa história de intelectualidade.
Temos motivos para comemorar?
O Brasil e, muito menos o Maranhão, nada têm a festejar em relação a nota do IDEB obtida, pelo contrário, só o fato de apenas dois estados haverem alcançado a meta estabelecida – que são modestíssimas –, comprova que não estamos indo para lugar nenhum.
O Brasil está ficando para trás e o Maranhão para muito mais para trás.
Devo lembrar que mesmo os municípios que atingiram a meta estabelecida para o IDEB/2019, estão longe de possuírem uma educação de qualidade, quanto mais aqueles que não a atingiram.
Uma outra coisa que não devemos perder de vista é que a nota obtida pelos estados e municípios é o resultado das médias entre as redes públicas e privadas, sendo que estas últimas possuem uma nota bem melhor que as da rede pública.
Em outras palavras, nem mesmo a nota 3,7 obtida pelo Estado do Maranhão pode ser “creditada”, na sua totalidade, à “eficiência” das políticas públicas empreendidas pelo governo estadual.
Fazem um comercial indevido, uma verdadeira ode ao fracasso, e mesmo este, não é totalmente “mérito” seu.
Hoje, sei que as coisas estão mudadas, pelo que ouvi dizer tornou-se “proibido” reprovar estudante – e até tenho dúvidas se pela qualidade do ensino ofertado as escolas públicas têm “moral” para reprovar alguém –, mas quando estudava, “filho de uma égua” algum passava de ano com a média de aproveitamento de 3,7 de nota. Jamais a professora Margarida deixaria que o indigitado que tivesse essa média mudasse de ano, era no mínimo 7,5 ou 8 e sem direito a reclamação.
Como alguém pode festejar ou mesmo sugerir que o Estado do Maranhão, com média IDEB/2019 de 3,7 está muito bem, obrigado?
Como alguém pode achar que a capital do estado com nota de 5,1, nas séries iniciais, na vigésima segunda posição; e nota de 3,9, nos anos finais, na décima nona posição, no ranking das capitais, está muito bem, obrigado?
Fico me perguntando o que se passa na cabeça das autoridades responsáveis pela fiscalização e controle das atividades estatais quando são confrontados com este tipo de comerciais do governo estadual “festejando” a extraordinária nota de 3,7 obtida no IDEB/2019 e tantos outros que mais parecem peças de propaganda “nazista” e que estão longe de cumprir o seu papel constitucional.
Será que lembram que o contribuinte está sendo “sangrado” duas vezes: primeiro, porque está recebendo uma educação de péssima qualidade, incapaz, até, de cumprir o\uma meta modesta e, segundo, por estar pagando milhões para mídia para ser “convencido” de que tudo corre às mil maravilhas?
Será que Tribunal de Contas do Estado –TCE, Ministério Público estadual e federal, Controladoria Geral da União — CGU, Tribunal de Contas da União– TCU, e outros órgãos, se dão conta da situação absurda que estamos vivendo no Maranhão, com o dinheiro público sendo utilizado para festejar o fracasso?
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas — IBGE, nestes mesmos dias em que o governo estadual gasta fortunas testando Goebbels e celebrando o fracasso da nossa educação, que o Maranhão é o campeão nacional no ranking de pessoas na condição de miséria absoluta, de pessoas passando fome, dos vinte sete estados existentes, estamos na vigésima sétima posição, se tivesse mais algum outro estado, certamente estaríamos atrás dele também e o governo estadual usa o dinheiro público para enganar o contribuinte com esse tipo de mídia.
E ninguém diz nada?
Todos, pelo silêncio, pela omissão ou pela cumplicidade, pura e simples, acabam entrando na onda e festejando junto.
Como disse no começo do texto, em grande parte, esse tipo de descalabro que vivenciamos é devido à ausência de uma imprensa independente, assertiva e questionadora.
A implantação do governo comunista no estado nos tirou isso também – ou piorou o que já era péssimo.
A nossa miséria – atestada em números pelo IBGE –, faz com que toda a economia seja dependente do estado e com isso, todos os seguimentos se tornam dependentes do governo, a ponto de fazerem “vista grossa” ou fingirem não enxergar o que vem se passando.
É certo, também, que muitos nunca quiseram ou tiveram compromissos com a independência, pelo contrário, estavam “loucos” para serem chamados ao “diálogo”. A característica de todo governo autoritário é o controle da informação para, assim, manipular os povos.
Vivemos isso por aqui, com um governo que administra a maior população de famintos, gastando os recursos públicos para “vender” o sucesso que é uma nota 3,7 no IDEB.
E a contagem regressiva para que isso piore já começou.
Encerro com uma crítica à imprensa estadual e nacional, que se acovarda é negligente e/ou que perdeu o senso crítico, faço isso utilizando as palavras do juiz Hugo Black (1886−1971), da Suprema Corte a americana que assentou: “Na Primeira Emenda, os pais fundadores proporcionaram à liberdade de imprensa a proteção que ela necessitava para cumprir seu papel essencial em nossa democracia. A imprensa era para servir os governados, e não os governantes […] somente uma imprensa livre e sem restrições é capaz de efetivamente demonstrar os equívocos do governo”.
A assertiva do magistrado foi no caso New York Times Co. v United States, julgado em 1971, também conhecido por The Pentagon Papers. Sobre este caso encontra-se em cartaz no streaming Netflix o filme The Post, uma referência ao outro polo do processo, o jornal The Washington Post.
Talvez seja oportuno refletirmos sobre tudo isso nesta atual quadra.
Abdon Marinho é advogado.