AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

O gov­erno Bol­sonaro acabou.

Escrito por Abdon Mar­inho

O GOV­ERNO BOL­SONARO ACABOU.

Por Abdon Marinho.

QUANDO se vive em um mundo binário a maior difi­cul­dade que se tem é fazer com que aque­las pes­soas que estão “fil­i­adas» numa ou outra cor­rente com­preen­dam qual­quer ver­dade, mesmo aque­las mais óbvias.

Esta­mos diante de uma delas.

Se chegou a exi­s­tir algum dia, o gov­erno do sen­hor Bol­sonaro acabou.

Já disse isso out­ras vezes, muito emb­ora as pes­soas não ten­ham dado importância.

Não estou dizendo com isso que não vá chegar a 2022 – é até pos­sível que chegue, depen­dendo do saldo nas bur­ras da viúva.

Mas não será mais o gov­erno Bol­sonaro – ou com os ideais que o elegeu –, será o gov­erno do cen­trão – se não o aban­donarem pelo meio do cam­inho, con­forme a “chapa” esquente –, ou das Forças Armadas, caso estas resolvam enveredar por mais uma aven­tura mil­i­tarista, que, segundo fontes dos quar­téis é tudo que não querem.

Mas, o certo é que o gov­erno acabou.

Não acabou por ser de dire­ita e haver uma con­spir­ação comu­nista entran­hada nas insti­tu­ições republicanas.

O gov­erno Col­lor tam­bém era “de dire­ita” e caiu.

O gov­erno da ex-​presidente Dilma Rouss­eff era “de esquerda” e, tam­bém, caiu.

Não adi­anta falar em ditadura judicial.

Não adi­anta falar em sab­o­tagem do Con­gresso Nacional;

Não diante colo­car esses “gatos pin­ga­dos” se revezando em protestos insanos todos finais de semana.

Aliás, ape­nas para reg­istro histórico, as mes­mas des­cul­pas ensa­iadas pelo atual man­datário – e seus ali­a­dos –, não diferem muito do que dizia o ex-​presidente Col­lor no longín­quo 1992 ou do que dizia a ex-​presidente Rouss­eff, ainda ontem, em 2016.

Quem não se lem­bra do que dizia Col­lor?

Quem não lem­bra do que dizia Dilma?

O atual gov­erno acabou pelo mesmo motivo que acabaram os gov­er­nos referi­dos acima: falta-​lhe capaci­dade geren­cial; falta-​lhe gov­er­nança.

O gov­erno, parece-​me, tomado por “alu­a­dos” sem a com­preen­são mín­ima do que seja o mundo atual; do que seja macro­econo­mia; do que seja política inter­na­cional; ou mesmo, pas­mem, do que seja sep­a­ração de poderes, respeito às insti­tu­ições repub­li­canas e as leis.

Outro dia um juiz deter­mi­nou que o pres­i­dente da República usasse más­cara em locais públi­cos, con­forme deter­mina um decreto do gov­erno do Dis­trito Fed­eral.

No dia que saiu a decisão uma nota da Advo­ca­cia Geral da União dizia que iria recor­rer da decisão judi­cial pois a mesma “feriria” a tal “inde­pendên­cia dos poderes”.

Ora, na cabeça dos advo­ga­dos da União – pelo menos dos respon­sáveis pela nota –, no seu “quadrado” cada um pode fazer o que quiser sem dever sat­is­fações a ninguém.

Esse é ape­nas um pequeno exem­plo do quanto anda a “moral” do pres­i­dente da República. Primeiro, ser necessário, que durante uma pan­demia, alguém entre na justiça pedindo uma medida para obri­gar o pres­i­dente a cumprir um decreto que sub­mete todos os cidadãos a cumprir nor­mas san­itárias. Segundo, que os advo­ga­dos da União, pagos com o din­heiro dos con­tribuintes, lancem uma nota estúp­ida dizendo que a imposição judi­cial fere a inde­pendên­cia dos poderes – e pior, recor­ram. Mas, pelo que soube, no recurso, usaram out­ros argumentos.

Vejam, está tudo errado.

O pres­i­dente da República dev­e­ria ser o primeiro a ter con­sciên­cia de que deve respeitar as leis e os reg­u­la­men­tos a que todos do povo devem seguir.

Mas não com­preende isso.

Aí, se sub­mete ao vex­ame de uma decisão judi­cial obrigá-​lo a fazer aquilo que dev­e­ria fazer como um exem­plo para os demais cidadãos.

Já tinha sido assim na história dos exames médi­cos.

Fez tanta con­fusão, gastou-​se tanta ener­gia para depois a justiça deter­mi­nar, e ter que entre­gar os tais exames que, ape­nas com­pro­vava que estava saudável.

Per­gunto: em plena pan­demia have­ria neces­si­dade de se arran­jar con­fusão por tão pouco?

O pres­i­dente tem um mérito: ele con­seguiu unir os poderes e insti­tu­ições con­tra ele.

Quando, ao invés de, sob o seu comando, unir o país con­tra a pan­demia do novo coro­n­avírus e sair “por cima”, como muitos out­ros chefes de gov­erno ao redor do mundo fiz­eram, ele uniu o “mundo” con­tra ele.

Vimos, aliás, ainda esta­mos vendo, muitos líderes mundi­ais, que estavam enfraque­ci­dos, e no, enfrenta­mento da pan­demia, saíram-​se – ou estão se saindo –, for­t­ale­ci­dos per­ante os seus gov­er­na­dos, são can­didatos imbat­íveis nas próx­i­mas eleições.

O sen­hor Bol­sonaro, aos olhos do mundo, e mesmo de maior parte da pop­u­lação brasileira, vai sair muito menor do que entrou.

E ele não pre­cis­aria fazer nada, abso­lu­ta­mente nada, para ter um resul­tado difer­ente e col­her os “louros” da vitória.

Bas­tava ficar cal­ado e dizer que todos os brasileiros dev­e­riam seguir as ori­en­tações do “seu” Min­istério da Saúde e das demais autori­dades san­itárias. Só isso.

Imaturo, ficou com “ciúmes” dos sub­or­di­na­dos e pas­sou a “sab­o­tar” pub­li­ca­mente seu próprio gov­erno no com­bate à pan­demia.

Tanto fez que forçou a demis­são de um min­istro que con­tava com a aprovação de setenta por cento da população.

Não sat­is­feito forçou a demis­são do segundo min­istro da saúde, um téc­nico, que não aguen­tou nem um mês as sandices do mandatário.

E, por fim, instalou um gen­eral como interino no comando da pasta com a mis­são de “obe­de­cer” as suas ordens sobre como com­bater o vírus.

O resul­tado é o que esta­mos vendo: o Brasil virou o epi­cen­tro da pan­demia, já conta com mais 56 mil mor­tos; mais de um mil­hão e duzen­tos mil infec­ta­dos; os cidadãos brasileiros, e out­ros que por aqui pas­sar, não podem entrar, em prati­ca­mente, metade do mundo.

Agora mesmo a União Europeia anun­ciou que cidadãos brasileiros não poderão, a par­tir de 1º de julho, ingres­sar em nen­hum dos países do bloco.

O ocaso do gov­erno não se dev­erá, ape­nas, ao pouco caso com que tem tratado pan­demia – muito emb­ora esse fato diga muito –, mas, tam­bém, pelos mais vari­a­dos atri­tos em diver­sas out­ras áreas.

A gestão ambi­en­tal é um assunto que assusta o mundo e que o gov­erno brasileiro tem se mostrado inca­paz de enfrentar.

Desde o iní­cio do gov­erno, em 2019, que as ima­gens de flo­restas em chamas rodam o mundo sem­pre numa cres­cente, atraindo críti­cas do mundo inteiro.

A isso, deve­mos somar a flex­i­bi­liza­ção da explo­ração das ter­ras indí­ge­nas; o avanço dos garim­pos em áreas de pro­teção e mesmo o desprezo dos inte­grantes do gov­erno pelos povos indí­ge­nas.

No mundo atual estes são temas caros.

Não faz muito tempo gru­pos de investi­dores ameaçaram tirar todos inves­ti­men­tos do país; muitos gov­er­nos, pelo mesmo motivo, já fiz­eram isso.

Em meio a tudo isso, o próprio pres­i­dente ameaça com uma rup­tura insti­tu­cional, par­tic­i­pando osten­si­va­mente de atos que pedem inter­venção mil­i­tar e o fechamento do Con­gresso Nacional e do Supremo Tri­bunal Fed­eral.

O gov­erno Bol­sonaro não con­segue enten­der que vive­mos outro momento histórico.

Difer­ente dos anos sessenta, em que havia uma certa tol­erân­cia – e algu­mas potên­cias até estim­ulavam golpes de estado –, hoje o mundo inteiro “foge” disso.

Não há mais espaço para ditaduras, tanto assim que aque­las que ainda “teimam” exi­s­tir, estão agonizando.

Não tem qual­quer cabi­mento o Brasil está deba­tendo, em pleno século XXI, o papel das Forças Armadas.

Esse debate é dos anos sessenta, quando muito dos anos oitenta, quando saiamos de uma ditadura.

Foi naquela época, em mea­dos dos anos oitenta, por ocasião da Assem­bleia Nacional Con­sti­tu­inte, que inseri­ram o artigo 142 no texto con­sti­tu­cional, como forma de “acal­mar” os mil­itares que temiam uma espé­cie de “revan­chismo” do gov­erno civil.

Causa-​me per­plex­i­dade assi­s­tir juris­tas dis­cu­tirem, a sério, a pos­si­bil­i­dade de inter­venção mil­i­tar sem uma rup­tura insti­tu­cional, invo­cando o artigo 142 da Con­sti­tu­ição.

Parece que a estu­pidez toma conta do país.

Quando digo que o gov­erno Bol­sonaro acabou é porque cheg­amos ao ponto de dis­cu­tir esse tipo de coisa como algo nor­mal.

Vejo o min­istro das relações exte­ri­ores do Brasil falar em enfrenta­mento do Comu­nismo como se estivésse­mos nos anos cinquenta.

E, faz muito pior que isso, ori­enta de forma tão equiv­o­cada a política externa do Brasil com base no “fan­tasma comu­nista”, que recen­te­mente quase todos ex-​chanceleres, de todas as cor­rentes políti­cas, protes­taram con­tra a atual con­dução da política externa do país.

A nossa política externa que desde os anos quarenta tem servido de mod­elo passa por estes con­strag­i­men­tos.

O Brasil que desde a cri­ação da Orga­ni­za­ção das Nações Unidas — ONU, tem o lugar de destaque, a ponto de ser a primeira nação a falar em suas sessões anu­ais, agora fala, sem pudor, em enfraque­cer a orga­ni­za­ção mundial, em sair da Orga­ni­za­ção Mundial da Saúde — OMS e de out­ros organ­is­mos mul­ti­lat­erais.

Enquanto o atual gov­erno “tra­balha” com afinco para nos tornar um pária aos olhos do mundo e nos iso­lar, no cenário interno tenta escapar de seu próprio inferno.

Agora mesmo um amigo incô­modo é local­izado pela polí­cia homiziado na casa do advo­gado “anjo” da família pres­i­den­cial.

Como explicar isso? Como jus­ti­ficar que o agora “ex-​anjo” fez tudo por sua conta? E se o tal Queiroz, como já chegaram anun­ciar, resolver “abrir a boca”?

Con­forme seja, estes fatos, além do resul­tado das diver­sas out­ras inves­ti­gações em curso, ape­nas podem pre­cip­i­tar algum acon­tec­i­mento mais extremo.

O fim do gov­erno é dev­ido ao con­junto da obra.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

As omis­sões injus­ti­fi­cadas e o Queiroz.

Escrito por Abdon Mar­inho

AS OMIS­SÕES INJUS­TI­FI­CADAS E O QUEIROZ.

Por Abdon Marinho.

OS ASSUN­TOS mais comen­ta­dos no estado nesta sem­ana que finda foram o assas­si­nato do jovem pub­lic­itário Diogo Costa, sobrinho-​neto do ex-​presidente da República José Sar­ney e a acusação, prisão e soltura do jovem apon­tado como respon­sável pelo crime, após com­pro­vação de que fora injus­ta­mente acu­sado – como bem diria o saudoso amigo João Dam­a­s­ceno Mor­eira –, de um crime impos­sível.

Uma tragé­dia den­tro de outra tragé­dia.

Ambas com dores e sofri­men­tos a famil­iares e amigos.

Imag­inem um jovem boa praça, querido por todos, com pouco mais quarenta anos, com família, ami­gos, num dia qual­quer ao sair para resolver algum assunto, ser assas­si­nato prati­ca­mente na porta de casa por conta de um triv­ial aci­dente de trân­sito.

De repente você está vivo, apre­ciando dia de sol, pen­sando em encon­trar os ami­gos logo mais, levar o cachorro para passear, resolver um assunto de tra­balho, abraçar um famil­iar e, num pis­car de olhos, você jaz morto, esten­dido no asfalto quente, coberto por um papelão ou um pedaço de pano que alguma alma cari­dosa colo­cou para evi­tar a exposição a alguma câmera ou olhares indiscretos.

Imag­inem um “quase” ado­les­cente, com pouco mais de vinte anos, igual­mente boa praça, igual­mente querido por todos, que nunca se envolveu em con­fusão, com família, ami­gos, tra­balho e tudo mais, ser acu­sado de haver cometido um crime bár­baro.

De repente você está em casa, des­cansando do almoço ou de um dia de tra­balho, batendo um papo com a família ou com algum amigo e chega a polí­cia e o arrebata do seio da família; pouco depois está diante de um del­e­gado que lhe imputa o crime que acabara de acon­te­cer con­tra um “fig­urão”; pouco depois você está sendo fotografado com far­da­mento do presí­dio; sua imagem, seu nome sendo “vaza­dos” para a imprensa; daí a pouco, seu nome, imagem, fil­i­ação – como um trav­es­seiro de penas que se ras­gou –, voam pelo mundo enquanto você é lev­ado ao cárcere ao encon­tro de pes­soas estranhas.

De nada lhe vale que jure inocên­cia, que seus pais, par­entes e/​ou ami­gos digam que não foi você, a con­vicção da autori­dade é que você come­teu o crime bárbaro.

Mesmo para quem está “fora” da situ­ação, que não con­hece nen­hum dos envolvi­dos, desde que con­siga sen­tir empa­tia pelo próx­imo, não tem como ficar indifer­ente a situ­ações de tamanha gravidade.

A morte, claro, é a tragé­dia maior, mas o que acon­te­ceu a esse quase ado­les­cente, acu­sado injus­ta­mente por um crime que não come­teu, vem logo atrás. Não vem muito dis­tante da morte.

É o ver­dadeiro pesadelo kafkiano.

Um amigo meu, advo­gado expe­ri­ente na área crim­i­nal, cos­tu­mava dizer que em inter­ro­gatórios os crim­i­nosos cale­ja­dos pela vida de crimes, saiam-​se mel­hores do que aque­les cidadãos de bem, que acabara de come­ter seu primeiro delito ou que nunca come­teram nen­hum e estavam sendo acu­sa­dos injustamente.

Pois bem, a tragé­dia que viti­mou o pub­lic­itário ocor­reu pouco antes do meio dia de terça-​feira, pelo que fiquei sabendo ao acom­pan­har a notí­cia dos blogues, pouco depois das 19 horas, pelos mes­mos canais, já éramos infor­ma­dos que o crime havia sido solu­cionado e até o final do dia, o suposto crim­i­noso já estava no cárcere.

Ponto para a polí­cia! Prego batido, a ponta virada.

Na veloci­dade em que cor­riam as notí­cias, com base nas infor­mações poli­ci­ais, já expondo a fotografia do sus­peito preso pre­ven­ti­va­mente pelo hor­rendo crime, divulgou-​se até que o rapaz havia con­fes­sado o crime, dizendo que o tiro não era para matar.

No dia seguinte, graças ao esforço da família e ao tra­balho de seus advo­ga­dos, começou-​se a ques­tionar a elu­ci­dação do crime, vídeos sur­gi­ram mostrando que o carro per­ten­cente ao pai do sus­peito estaria esta­cionado no local de tra­balho de onde saiu com o pai e o sus­peito pouco depois do homicí­dio.

A polí­cia, con­forme noti­ciou a imprensa, con­testou a argu­men­tação da defesa, mas, con­frontada pelo exame feito pelo Insti­tuto de Crim­i­nalís­tica, que apon­tou ser outro o mod­elo de carro e não o do pai do sus­peito, quedou-​se à real­i­dade dos fatos.

A quinta-​feira ini­ciou com a notí­cia de que o crime bár­baro ocor­rido numa área nobre da cidade, repleta de vig­ilân­cia, não estava solu­cionado; que havia um inocente preso e um carro rou­bado, com placa falsa cir­cu­lando pela cidade.

No final do dia (quinta-​feira) o já ex-​suspeito era posto em liber­dade e retor­nava à sua casa onde foi rece­bido, com muita emoção, pelos famil­iares, viz­in­hos e amigos.

Em meus vagares fico angus­ti­ado pelo “e se”. E se o rapaz não tivesse um álibi forte? E se seus pais, ami­gos, par­entes e advo­ga­dos não tivessem movido céus e terra na busca da ver­dade? E se o vídeo das ime­di­ações do local de tra­balho do pai do rapaz não exis­tisse?

É angus­tiante pen­sar que o rapaz, um quase ado­les­cente, ainda estivesse preso; seria denun­ci­ado, con­de­nado e pas­saria muitos anos no cárcere por um crime que não cometeu.

O assas­sino restaria solto; o homicí­dio do jovem pub­lic­itário, querido por todos, impune.

E se você com você? Com alguém de sua família? Ter­rível pen­sar nisso, não é?

Aqui que entra o Queiroz.

O leitor que teve a gen­til paciên­cia de ler o texto até aqui deve se per­gun­tar: o que dia­bos tem o Queiroz com o texto?

Pois é, não dev­e­ria ter, mas tem.

Na quinta-​feira, no ápice de uma sem­ana trág­ica, com os fatos nar­ra­dos acima tomando conta do noti­ciário local, o gov­er­nador do estado não ocupou suas redes soci­ais para falar fatos de tamanha gravi­dade envol­vendo seus admin­istra­dos, mas ocupou para falar da prisão do cidadão Fab­rí­cio Queiroz, amigo do pres­i­dente da República, ex-​assessor de seu filho Flávio Bol­sonaro.

Foram diver­sos tuítes, retuítes do gov­er­nador tratando da prisão do Queiroz, do fato do mesmo ter sido encon­trado homiziado na casa do advo­gado da família Bol­sonaro, etc., mas não dis­pen­sou um min­uto para falar de dois fatos graves sobre os quais tem respon­s­abil­i­dade direta: a segu­rança dos cidadãos e o tra­balho da polícia.

Não dis­cordo que a prisão do sen­hor Queiroz é rel­e­vante – tratarei dela, inclu­sive, no próx­imo tex­tão –, mas, sua excelên­cia tratar deste assunto e igno­rar com­ple­ta­mente o que ocorre “sob suas bar­bas”, no seu gov­erno é um despropósito, uma falta de senso, sol­i­dariedade e empa­tia para com os maran­henses.

Vejam, mesmo o Bol­sonaro, que descon­heço quem o asses­sora, tra­tou – de forma equiv­o­cada, ao meu sen­tir –, da prisão do Queiroz, mas, para o gov­er­nador do Maran­hão e seu gov­erno, tudo que acon­te­ceu essa sem­ana no estado é como se não tivesse qual­quer gravi­dade.

Duas famílias sofr­eram hor­rores, a segunda, dire­ta­mente por uma ação do polí­cia que comanda e é como se nada tivesse acon­te­cido, é como se nada estivesse acon­te­cendo.

O impor­tante, para sua excelên­cia, é a prisão do Queiroz.

Eu entendo que a polí­cia possa come­ter erros – são humanos –, ainda que alguns me pareçam primários, como parece ser o que ocor­reu nesta última semana.

O que não com­preendo e não entendo é a razão – diante de um erro cometido –, que as autori­dades não peçam des­cul­pas, às víti­mas, aos famil­iares, aos ami­gos das víti­mas e à sociedade.

Em out­ros lugares do mundo – e mesmo no Brasil –, é comum as autori­dades pedi­rem des­cul­pas pub­li­ca­mente quando elas próprias ou seus sub­or­di­na­dos come­tem erros, aqui, não.

É como se nada devessem à pat­uleia ignara.

Emb­ora menos grave – pelo resul­tado final –, o que ocor­reu nesta sem­ana que finda não é o primeiro erro grave cometido pela segu­rança pública estad­ual.

Antes deste fato tive­mos o hor­ro­roso episó­dio do cidadão que foi lev­ado para uma “gaiola” ao relento onde veio a mor­rer, no Municí­pio de Barra do Corda; antes deste tive­mos a desastrada ação da polí­cia em Bal­sas, que metral­hou um carro, levando a morte uma jovem que mal começara a vida.

Estes só os fatos que lembro.

Em todos estes casos – e talvez exis­tam out­ros –, não se tem notí­cias de um pedido de des­cul­pas ofi­cial do gov­er­nador e demais autori­dades ou mesmo uma man­i­fes­tação de solidariedade.

Não se tem notí­cias de qual­quer sat­is­fação à sociedade.

É como se estes fatos e a vida das pes­soas, o sofri­mento de seus ami­gos e par­entes não tivessem qual­quer importân­cia.

Como disse – e repito –, erros ou mesmo exces­sos podem até acon­te­cer, mas pre­cisam ser punidos e, prin­ci­pal­mente, as víti­mas e/​ou seus famil­iares e ami­gos, e a sociedade, de forma geral, mere­cem um pedido de des­cul­pas.

Não encon­tramos nada neste sen­tido. Nem no site ofi­cial do gov­erno, nem site da sec­re­taria, nem nas redes soci­ais de sua excelên­cia. Nada.

Mas o Queiroz está preso.

Abdon Mar­inho é advogado.

Quem “her­dará” os mor­tos da pandemia?

Escrito por Abdon Mar­inho

QUEMHER­DARÁOS MOR­TOS DA PANDEMIA?

Por Abdon Marinho.

LEM­BRAVA daquela famosa “tirada” do ex-​deputado Mar­cony Farias por ocasião da sua inquir­ição na CPI da Pis­to­lagem, na Assem­bleia Leg­isla­tiva do Maran­hão, ainda pelos idos dos anos noventa.

Já con­tei o episó­dio aqui em algum texto. Para os que não lem­bram ou não tiveram a opor­tu­nidade de ler, nar­rarei – mas de forma mais resum­ida –, o episó­dio.

Já era final da tarde, começo da noite, quando, no auditório Fer­nando Fal­cão, da Assem­bleia Leg­isla­tiva, que ainda fun­cionava no antigo pré­dio da Rua do Egito, começou a oitiva do ex-​deputado.

O inquiri­dor era o então dep­utado Ader­son Lago.

O dep­utado Ader­son Lago ini­cia a inquir­ição: — Sen­hor dep­utado, o sen­hor sabe quem é Fulano de tal?

— Sei, sim, muito meu amigo. Já mor­reu. Responde Mar­cony Farias.

— E Sicrano de tal?

— Tam­bém con­heci, muito meu amigo, mas já morreu.

— E o Bel­trano dos Anzóis?

— Ah, esse era filho seu Sicrano, muito meu amigo, tam­bém morreu.

E sim foi por quase uma dúzia de nomes, o dep­utado Ader­son Lago per­gun­tando e o ex-​deputado Mar­cony Farias respon­dendo que con­hecera, que fora amigo, que mor­rera…

Todos os mor­tos – ou quase todos –, por óbvio, tin­ham lig­ações com crimes de pis­to­lagem e tin­ham mor­rido, invari­avel­mente, de morte violenta.

O dep­utado Ader­son Lago, per­gunta em con­clusão: — Dep­utado Mar­cony Farias, o sen­hor não acha muita coin­cidên­cia que todos estes seus ami­gos este­jam mortos?

O ex-​deputado Mar­cony Farias, responde com sua inigualável pre­sença de espírito: — Acho não, sen­hor dep­utado. Tanto assim que tenho mais ami­gos vivos que mor­tos.

O auditório lotado naquele fim de tarde foi ao delírio com a resposta espir­i­tu­osa do ex-​deputado.

Pois bem, lem­brei de tal episó­dio para tratar do avanço da pan­demia do novo coro­n­avírus no Brasil, o seu sig­ni­fica­tivo número de óbitos, e a única resposta que será pos­sível às autori­dades do país quando forem cobradas lá adi­ante.

Não como a tirada espir­i­tu­osa do ex-​deputado Mar­cony Farias, mas com o cin­ismo tão car­ac­terís­tico dos dias atu­ais, poderão dizer que não mor­reram assim tan­tos brasileiros por conta da pan­demia, afi­nal, “escaparam” mais brasileiros vivos do que mor­reram.

Aguar­dem que ainda nos depararemos com este tipo de resposta.

O Brasil enfrenta um momento difí­cil, talvez o mais difí­cil em mais de uma cen­tena de anos.

Já ocupá­va­mos o segundo lugar em número de con­tá­gio – só per­dendo para os Esta­dos Unidos –, com quase um mil­hão de infec­ta­dos e o ter­ceiro em número de óbitos. Agora, pas­sando na casa dos quarenta mil óbitos, somos o segundo tam­bém neste item, só per­dendo para a nação já referida acima.

Os estu­diosos – que têm acer­tado quase todas suas pro­jeções –, infor­mam até a data em que pos­sivel­mente ultra­pas­sare­mos a nação norte-​americana, tanto no número de infec­ta­dos: será no dia 29 de julho.

Nesta fatídica data futura os Esta­dos Unidos con­tará com 137 mil óbitos e o Brasil a ultra­pas­sará com 137.500 óbitos. Ou seja, daqui a pouco mais de um mês ao número de mor­tos que temos hoje, será acrescido cerca de 150% (cento e cinquenta por cento) novos óbitos.

Não sig­nifica que vamos parar aí, ape­nas que ultra­pas­sare­mos os Esta­dos Unidos e que con­tin­uare­mos a perder mil­hares de vidas de brasileiros até a pan­demia arrefe­cer.

Até aqui tudo que um país podia fazer de errado para com­bater uma pan­demia o nosso país fez, e pior, con­tinua fazendo.

Esta­mos na décima segunda (ou ter­ceira) sem­ana de pan­demia e, enquanto a maio­ria dos países que fiz­eram o “dever de casa” na sexta sem­ana os casos começavam arrefe­cer e curva se achatar, aqui con­tin­u­amos com a curva de con­tá­gio em ascen­são.

Com tudo que já fiz­eram de errado e com estes prognós­ti­cos tão des­fa­voráveis as autori­dades chegaram a “con­senso macabro”, con­trar­iando ori­en­tação de quem entendo assunto decidi­ram que é a hora do “liberou geral” ou, noutras palavras, “salve-​se quem puder”.

A única coisa de pos­i­tivo – se é que podemos ter algo de pos­i­tivo em meio a tanta tragé­dia –, é a nossa curva de cura que, tam­bém, é bas­tante ascen­dente, tendo inclu­sive ultra­pas­sado o número de casos ativos.

Mas isso não minora a nossa irre­spon­s­abil­i­dade na con­dução desta crise.

Enquanto mor­riam dezenas de pes­soas na Ásia diziam que não chegaria aqui; quando avançou pela Europa e pelos Esta­dos Unidos, negavam a existên­cia do vírus ou min­i­mizavam, com o vírus já matando no país, diziam que era exagero que não havia nada demais, em seguida que dev­eríamos nos conformar.

Há poucos dias, enquanto a Nova Zelân­dia anun­ci­ava que havia curado o der­radeiro infec­tado e ban­ido o vírus do arquipélago, no Brasil a polêmica da vez era divul­gar ou não ou como divul­gar o número de mor­tos e infe­ta­dos pelo novo coro­n­avírus.

Já se con­tava mais de trinta mil óbitos e a polêmica era essa. Mil­hares de pes­soas no país sofrendo pela perda de seus entes queri­dos e as autori­dades fazendo “cav­alo de batalha” sobre o for­mato de divul­gação das estatís­ti­cas. Esque­cendo que por trás de cada morto tem uma família, tem ami­gos, tem pes­soas que perderam alguém amado.

Pas­sando dos quarenta mil óbitos, menos de uma sem­ana depois, a polêmica foi a “recomen­dação” de “invasão” de hos­pi­tais para ver­i­ficar trata­men­tos e se as pes­soas estão mor­rendo ou não ou se os leitos hos­pi­ta­lares estão des­ocu­pa­dos ou não.

Há poucos dias um ex-​quase-​futuro servi­dor do Min­istério da Saúde – que está sem tit­u­lar há mais de mês –, deu a bril­hante ideia de se fazer o censo dos mor­tos pela pandemia.

Com a notí­cia estapafúr­dia de alguém que ainda não era nada (e acabou não sendo) no “jogo do bicho”, a pop­u­lação, prin­ci­pal­mente, as pes­soas que perderam seus par­entes e ami­gos, ficou escan­dal­izada com a pos­si­bil­i­dade desta dor adi­cional, supondo que fos­sem desen­ter­rar os mor­tos para checar se, de fato, o morto fora vítima ou não da covid-​19.

A elas não bas­tariam ficar afas­tadas dos seus entes durante o trata­mento, não poderem fazer um velório – se bem que vimos pes­soas ofer­e­cendo velórios no câm­bio para­lelo –, teriam que teste­munhar a vio­lação de suas sepul­turas para con­fir­mar a “causa mor­tis” e servirem de ban­deiras políti­cas.

Vejam o absurdo ao qual cheg­amos: no ano em que não con­seguimos fazer o censo dece­nal por conta de uma pan­demia, alguém propõe o “censo fúne­bre” dos mor­tos da pan­demia – e isso é lev­ado a sério. Pes­soas dis­cutem, acham relevante.

A impressão que tenho é que o Brasil – muito além do que teria dito de Gaulle (Charles André Joseph Marie de Gaulle, ex-​primeiro-​ministro francês), que o país não seria sério –, virou um imenso hos­pí­cio, onde se min­i­mizam mortes e o sofri­mento alheio, como se fosse a coisa mais nat­ural do mundo.

Recebo, vez ou outra, infor­mações anôn­i­mas, com quadros com­par­a­tivos entre o número de mor­tos no Brasil e na Europa levando em con­sid­er­ação o número de habi­tantes e mor­tos como a quer­erem jus­ti­ficar que nos­sas dezenas de mil­hares de mor­tos fos­sem pouco, se com­para­dos a nossa pop­u­lação de 210 mil­hões de habi­tantes.

Há pouco mais de dois meses o próprio pres­i­dente da República, nas suas redes soci­ais, por onde se comu­nica com seu público, fez essa com­para­ção estúp­ida, quando o número de mor­tos no Brasil era oito por mil­hão de habi­tantes. Hoje já são duzen­tos por mil­hão.

Out­ros, abu­sando da cru­el­dade, quando não negam, jus­ti­fi­cam que a morte pela pan­demia alcançou um idoso, um obeso, um car­diopata, um renal crônico, um trans­plan­tado, etc., como se a abre­vi­ação da vida destas pes­soas – que teriam mais cinco, dez, quinze ou vinte anos com os seus –, não tivesse importân­cia alguma.

Como se o cara mere­cesse mor­rer por ser gordinho, por ter uma doença lig­ada s obesi­dade, por ter um prob­lema renal ou car­dio­vas­cu­lar, por ser idoso, etc.

Outro dia soube que alguém do Min­istério da Econo­mia teria saudado como promis­sora está pan­demia porque “aliviaria” o déficit prev­i­den­ciário.

Achei a notí­cia tão absurda que não fui checar – temendo que fosse verdadeira.

Muito além da pan­demia, o Brasil sofre de uma grave doença moral.

É como se a nação, por suas con­veniên­cias políti­cas e/​ou ide­ológ­i­cas, fosse for­mada por sociopatas.

Algum dia, talvez quando isso tudo pas­sar, ter­e­mos um encon­tro com a ver­dade que irá cobrar a respon­s­abil­i­dade de cada um nesta pan­demia.

Quan­tas mortes pode­riam ter sido evi­tadas e não foram? Quan­tos lares ficaram órfãos pela leniên­cia ou irre­spon­s­abil­i­dade das autori­dades? Quem será ou serão ou respon­sáveis?

Vejo que muitas autori­dades – e seus seguidores –, já bus­cam apon­tar o dedo para os out­ros, inclu­sive para as viti­mas (a sociedade), querendo fugir à própria respon­s­abil­i­dade.

Ainda não é a hora do jul­ga­mento, mas todos serão jul­ga­dos: pelas urnas, por suas con­sciên­cias, pelo tri­bunal da história e por Deus.

A todos estes não lhes valerão o argu­mento de escaparam mais do que mor­reram.

Algum dia saber­e­mos quem her­dará os mor­tos desta pan­demia.

Abdon Mar­inho é advo­gado.