AbdonMarinho - A democracia do tacape.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A democ­ra­cia do tacape.

A DEMOC­RA­CIA DO TACAPE.

Por Abdon Marinho.

ALGUÉM chega me conta uma coisa a propósito do quadro político neste segundo turno; e mais um e mais outro.

Depois me per­gun­tam o que acho.

Con­fesso que resisto em acred­i­tar na maio­ria das coisas que me con­tam.

As mais ele­vadas autori­dades do estado, seguindo ori­en­tação expressa do gov­er­nador, escol­heram um dos can­didatos e o gov­erno estad­ual inteiro virou uma exten­são da cam­panha. Não posso acred­i­tar.

Secretário de estado ameaçando com o inferno de Dante aque­les que não seguirem a ori­en­tação do gov­er­nador e apoiar o seu can­didato. Um absurdo!

Dis­tribuição de cen­te­nas de mil­hares de ces­tas bási­cas nas esco­las da rede estad­ual ou na per­ife­ria da cidade, com o propósito de cap­tar votos. Um crime!

Ameaças e chan­ta­gens aos servi­dores ocu­pantes de car­gos comis­sion­a­dos, de chefia ou con­trata­dos, caso estes não plotem seus car­ros ou declarem voto no can­didato chapa-​branca. Inaceitável!

Reuniões e mais reuniões, com ver­i­fi­cação de fre­quên­cia dos servi­dores, em lou­vação ao can­didato. Uma vergonha!

Paga­mento dos servi­dores públi­cos coin­cidindo com a véspera das eleições municipais;

O gov­er­nador do estado, em pes­soa, passe­ando e posando “sen­tad­inho” no banco da praça com o can­didato ofi­cial. Nojento!

O gov­er­nador “investido” no papel de “cabo eleitoral” arreg­i­men­tando apoios e nego­ciando vare­jos as expen­sas do cargo e do gov­erno com vereadores e ex-​candidatos der­ro­ta­dos no primeiro turno em apoio ao “seu” can­didato. Degradante!

O vice-​governador, tam­bém investido no papel de cabo eleitoral, ameaçando pub­li­ca­mente lid­er­anças polit­i­cas do estado e as chamando de “deser­tores”. Viva Vitorino!

O próprio can­didato em áudio que não sei recente – mas que con­traria o dis­curso da nova política –, pedindo que se desco­brisse de quem seria a indi­cação do ter­ce­i­rizado que vigia a repar­tição pública ou do zelador do pré­dio para poder “cobrar” depois. Asqueroso!

O próprio can­didato, segundo denún­cias, teria feito cam­panha sabendo-​se con­t­a­m­i­nado pelo vírus da covid-​19, por 05 (cinco) dias, con­t­a­m­i­nando ou colo­cando em risco de con­t­a­m­i­nação dezenas, cen­te­nas ou mil­hares de pes­soas, isso em plena pan­demia. Hediondo!

O secretário de estado da saúde e o próprio gov­er­nador que deter­mi­nou o “con­fi­na­mento” de toda a pop­u­lação por meses, omis­sos diante de tal crime con­tra a saude pública e, pior, apoiando e pedindo votos para quem foi capaz de um crime tão hediondo. Inacreditável!

Ainda em plena pan­demia e quando a mesma volta a gan­har força, o próprio gov­er­nador se reju­bi­lando com as aglom­er­ações pro­movi­das pelo “seu” can­didato. Inaceitável!

Infor­mação de con­tratação de cem mil “bocas de urnas” para atuar no dia pleito – um dis­farce para a com­pra de votos explicita. Chamem a poli­cia!

A minha resistên­cia em acred­i­tar neste tipo de coisa – e nisso reside minha ingenuidade –, é que não me recordo de ter visto aque­les a quem com­bat­e­mos politi­ca­mente durante tan­tos anos serem capazes de gestos tão tor­pes e em tamanho vol­ume quanto aos que somos apre­sen­ta­dos agora.

E, lá atrás, lembro-​me muito bem, dizíamos que queríamos uma mudança de com­por­ta­mento das autori­dades.

O que gan­hamos foi isso? Foi para isso que ficamos, por quase cinquenta anos com­bat­endo o sarneísmo? Para ter­mos um gov­erno com práti­cas mais arcaicas ainda?

Até agora não con­segui assim­i­lar, por exem­plo, como o gov­er­nador e seus aux­il­iares dire­tos, prin­ci­pal­mente da área da saúde – que pas­saram os últi­mos meses na can­tilena do “fique em casa”, «man­tenha dis­tan­ci­a­mento”, “não faça aglom­er­ação”, etcetera –, saú­dem as aglom­er­ações do seu can­didato e, pior, apoiem um can­didato acu­sado de haver, sabendo-​se, infec­tado, man­tido uma cam­panha por dias segui­dos, igno­rando a saúde dos cidadãos.

Será que estas autori­dades não dev­e­riam explicar essa situ­ação dire­it­inho? Inclu­sive se acon­te­ceu ou não, ape­sar das provas abundantes.

Calam-​se por ver­gonha ou por indifer­ença aos que con­fi­aram nas autoridades?

Como é que fica isso? Nada têm a dizer a pop­u­lação que se tran­cou em casa? Aos empresários que perderam seu patrimônio – e con­tin­uam per­dendo –, por conta da pandemia?

Como com­preen­der que autori­dades, gov­er­nador, vice-​governador, secretários e tan­tas out­ras, ameacem e chan­tageiem cidadãos livres por estes não aceitarem a votar em um can­didato que não reúné as condições mín­i­mas para o exer­cí­cio de qual­quer cargo, porque este foi imposto pelo capri­cho pes­soal de ape­nas uma pessoa?

Como que estes apoiadores nada dizem diante de áudios e vídeos em que rev­e­lam o can­didato exter­nando, em lin­gua­jar chulo, toda sorte de pre­con­ceitos e indigên­cia moral?

Uma outra infor­mação de extrema gravi­dade é a que narra a pos­sível con­tratação de 100 mil “bocas de urnas”, ou no lin­gua­jar comum, com­pra explícita de votos.

Acred­ito que as autori­dades lig­adas à Justiça Eleitoral, ao Min­istério Público Fed­eral e a Polí­cia Fed­eral, devem ficar aten­tas e apu­rarem se tal infor­mação é ver­dadeira ou não.

Trata-​se de algo muito grave e com poten­cial para dese­qui­li­brar o pleito.

Mais grave ainda, por sug­erir a par­tic­i­pação de ele­vadas autori­dades públi­cas do estado no delito.

E esse é ape­nas um pos­sível abuso, diante de out­ros que já estão em curso.

Como aceitar como nor­mal que o gov­erno estad­ual use as forças de segu­rança do estado para fazer dis­tribuição, a rodo, de ces­tas bási­cas para as pes­soas car­entes até na véspera do pleito eleitoral, em ato que car­ac­ter­iza de forma cristalina, o abuso de poder, a com­pra de votos, e prin­ci­pal­mente, a falta de lim­ites dos donatários do poder, enquanto, às escân­caras, pedem votos?

Vejam, ainda que digam que se trata de pro­grama reg­u­lar, não é ver­dade.

Estão dis­tribuindo mil­hares ces­tas bási­cas, explo­rando a mis­éria do povo, para coop­tar a sim­pa­tia do povo para o gov­erno e, por exten­são, ao can­didato oficial.

Uma ver­gonha que usem, inclu­sive, a ali­men­tação esco­lar das cri­anças car­entes.

A escala de serviços da cor­po­ração esta­b­elece como datas para a dis­tribuição das ces­tas bási­cas os dias 25, 26 e 27 de novem­bro.

Qual a razão de não terem dis­tribuído antes?

Qual o motivo para não deixarem para dis­tribuir depois do pleito?

A mesma dis­tribuição está ocor­rendo noutros municí­pios inclu­sive naque­les onde a mis­éria, infe­liz­mente, é mais premente?

A explo­ração da mis­éria como bar­ganha polit­ica é uma ver­gonha, é uma ignomí­nia, dev­e­ria ser algo para aque­les que a prati­cam se enver­gonharem de se olharem no espelho.

Entre­tanto, isso parece não enver­gonhar as autori­dades suposta­mente envolvi­das, e, pelo con­trário, parece ser motivo de orgulho.

As pes­soas de bem não podem – e não devem –, aceitar esse tipo de coisa, não foi pelo que esta­mos viven­ciando que entreg­amos os mel­hores anos de nos­sas vidas.

Ouvi um áudio em que o can­didato “ofi­cial” do gov­erno procura saber de quem é a indi­cação de um ter­ce­i­rizado da segu­rança ou da zelado­ria para “cobrar depois” e fico imag­i­nando se esse tipo de coisa que ocor­ria ou ocorre em um órgão de ter­ceiro ou quarto escalão, não acon­tece nos demais órgãos ou sec­re­tarias de gov­erno.

De um gov­erno que quando assumiu, frise-​se, tinha como com­pro­misso primeiro a não uti­liza­ção do apar­elho estatal para perseguir os mais fra­cos e os menos favore­ci­dos.

Foi isso que o gov­er­nador prom­e­teu no seu dis­curso de posse.

Esse áudio e tan­tos out­ros, até onde sei nunca foram des­men­ti­dos e ainda assim, nunca ouvi­mos do gov­er­nador ou de out­ras autori­dades, se aquele tipo de cobrança e pro­ced­i­mento era “padrão” do gov­erno que tinha como mote a liber­dade pre­gada no dis­curso de posse.

Acred­ito que ao dizer aque­las tão belas palavras – que con­trasta com tudo que esta­mos assistindo –, sua excelên­cia, as pro­feriu ao vento, para serem lev­adas e sem qual­quer ser­ven­tia.

As palavras, assim como o gov­erno, nada mais eram do que uma triste car­i­catura da ver­dade real, o retrato final de Dorian Gray, que o gênio de Oscar Wilde tão bem exprimiu.

Não deve­mos desan­i­mar, a liber­dade ainda não chegou ao Maran­hão, nosso povo con­tinua escrav­izado por capri­chos pes­soais e sendo humil­ha­dos, mas, cer­ta­mente, algum dia ela vai chegar. Tudo chega.

O cam­inho para isso é o repú­dio vee­mente aos abu­sos, aos crimes e ao vale-​tudo eleitoral.

É diz­er­mos que não aceita­mos e que esta­mos cansa­dos de manip­u­lação, men­ti­ras e engodos.

Abdon Mar­inho é advogado.