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Um gov­erno de tirar do sério.

Escrito por Abdon Mar­inho


UM GOV­ERNO DE TIRAR DO SÉRIO.

Por Abdon Marinho.

OUTRO dia um amigo me liga – ou manda uma men­sagem –, e per­gunta: — o pres­i­dente te tirou do sério?

Isso deu-​se logo após o reg­istro de que a pan­demia do novo coro­n­avírus cei­fara a vida de cinco mil brasileiros e o pres­i­dente sair-​se com uma das frases mais indig­nas já pro­feri­das por um gov­er­nante, em todos os tem­pos, o famoso “e daí?”.

Escrevi um texto a respeito, “E daí, sen­hor pres­i­dente?”, e, à guisa de comentá-​lo o amigo fez a indagação.

Como muitos sabem, optei pela neu­tral­i­dade no segundo turno das eleições de 2018. As duas opções que restaram, fru­tos da livre e sober­ana von­tade do povo brasileiro, não me moti­varam a sair de casa para votar.

Durante aquele ano de 2018, por diver­sas vezes, escrevi sobre os riscos do país vir a ser gov­er­nado a par­tir de suas fran­jas mais rad­i­cais rep­re­sen­tadas pelo bol­sonar­ismo de um lado, com um can­didato noto­ri­a­mente sem qual­quer preparo e, de outro, pelo petismo, que trans­for­mou o roubo do patrimônio público numa estraté­gia de poder.

Não aceitar ser con­duzido por nen­huma destas cor­rentes foi uma escolha política con­sciente da qual não me arrependo. Não aceitar nen­hum dos nomes pos­tos e não sair de casa para votar foi o meu protesto solitário e silen­cioso con­tra a escolha feita pelos demais cidadãos.

Não me arrependo de não ter con­tribuído com a devolução do poder ao um grupo que tornou a cor­rupção numa política de Estado assim como não me arrependo de não ter con­tribuído para levar um dos mais desprepara­dos gov­er­nantes de todos os tem­pos ao poder.

Disse, quando saiu o resul­tado do primeiro turno – você encon­tra o texto neste sítio e/​ou nas redes soci­ais –, “Deu PT”, uma alusão ao fato de que o gov­erno pode­ria voltar ao Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT ou, aquilo que as segu­rado­ras uti­lizam como sigla para Perda Total — PT. Deu PT!

Inde­pen­dente disso, sem­pre torci para que o gov­erno “desse certo” – assim como fiz em todos os out­ros –, por acred­i­tar que o fra­casso dos gov­er­nos, mas do que con­se­quên­cias aos seus rep­re­sen­tantes e pro­tag­o­nistas, trazem con­se­quên­cias aos que mais pre­cisam deles.

São os mais frágeis que acabam “pagando pato” quando os gov­er­nos fracassam.

Ape­sar da tor­cida, não ape­nas minha, para que o gov­erno desse certo, o que assis­ti­mos, com menos de dois anos de mandato, já é o ester­tor de uma gestão.

Um gov­erno que a cada final de sem­ana pre­cisa que seus ali­a­dos – cada vez em número menor –, saia às ruas para defendê-​lo é porque perdeu a capaci­dade de sustentar-​se por seus próprios méri­tos.

Além das falanges de seguidores o gov­erno busca por todos os meios con­stranger as Forças Armadas a serem suas fiado­ras por temer que os demais poderes abre­vie seu fim.

Na quadra política, com o mesmo propósito, nego­cia o país jus­ta­mente com aque­les que mais jurou com­bater, a chamada “velha política”.

A conta a ser paga será alta. O gov­erno já entre­gou a Depar­ta­mento Nacional de Obras de Com­bate a Seca — DNOCS; o Fundo Nacional de Desen­volvi­mento da Edu­cação — FNDE; além de infini­tas out­ras sinecuras e emen­das parlamentares.

O gov­erno do sen­hor Bol­sonaro está “com­prando o passé” para gov­ernar, assim como fiz­eram os gov­er­nos petistas.

As suas falanges, assim como suas con­gêneres petis­tas, pare­cem não enx­er­gar nada de anor­mal nisso. Talvez achem que basta falar o nome de Deus; da família; e da defesa da posse de armas que tudo está certo. Eu tam­bém creio em Deus; sou defen­sor da família e muito antes do bol­sonar­ismo defendia o dire­ito do cidadão poder se defender em condições de igual­dade com a bandidagem.

Mas, e a mudança prometida? O fim da cor­rupção?

Ou como tan­tos out­ros era ape­nas uma cortina de fumaça para chegar ao poder – e agora, para permanecer?

Isso não é a mesma coisa que fiz­eram os petis­tas e aliados?

O bol­sonar­ismo é o petismo com sinal trocado?

Alguém con­segue dis­tin­guir alguma difer­ença entre o que o gov­erno Bol­sonaro faz agora com o que o gov­erno do Lula fez a par­tir de 2003 e que foi a gênese do “men­salão”, do “petrolão» e dos demais escân­da­los de cor­rupção que per­vert­eram a nação?

A difer­ença é que os petis­tas não demor­aram tanto. Já no ini­cio de 2003 estavam fazendo as trata­ti­vas para entrega do governo.

Logo mais os dois extremos da polit­ica brasileira estão tão semel­hantes nas más práti­cas que ao homem comum será impos­sível dis­tin­guir onde ter­mi­nou um e começou o outro.

Mas isso não será difer­ente do que antevi ainda no iní­cio de 2018.

Uma nação con­ti­nen­tal como a nossa não pode ser con­duzida por fran­jas rad­i­cais (de dire­ita ou de esquerda) que não rep­re­sen­tam nem trinta por cento da pop­u­lação. Se pare­cem maiores é ape­nas quando as colo­camos uma con­tra a outra.

O despreparo do pres­i­dente não pode­ria pro­duzir fru­tos difer­ente do que esta­mos assistindo agora. O que todos já sabiam, agora, por ocasião desta pan­demia, parece mais desnudo e mor­tal que nunca.

Esta­mos diante do caso clás­sico da ignorân­cia que mata.

E, pior que isso, a morte e o sofri­mento do povo não causa qual­quer pesar no grupo politico que está dirigindo o país.

Após pro­tag­oni­zar uma crise atrás da outra e perder com­ple­ta­mente a gov­er­nança do país, esperava-​se que com a pan­demia, o pres­i­dente – a exem­plo do que ocor­reu noutros países –, coor­de­nasse os “esforços de guerra” para com­bater o vírus.

Como temos assis­tido desde o começo da pan­demia o pres­i­dente fez o cam­inho inverso: min­i­mi­zou, ignorou, con­fron­tou os que que­riam um enfrenta­mento nos moldes do que ocor­ria no resto do mundo; sabotou as medi­das de iso­la­mento, e, com isso, enquanto os demais países que fiz­eram tudo con­forme a recomen­dação das autori­dades san­itárias, o Brasil se torna o novo epi­cen­tro da pan­demia, sem saber quando voltare­mos ao nor­mal, afu­gen­tando, com isso, os investi­dores e, até mesmo, voos de out­ros países.

A dura real­i­dade – ape­nas as fran­jas bol­sonar­is­tas não con­seguem ver –, é que o país, em plena crise, encontra-​se à deriva, coman­dado por um grupo de alo­pra­dos, com mania de perseguição e sérias sus­peitas de portarem dis­túr­bios mentais.

No último dia 22 de maio o min­istro do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, Celso de Mello, sus­pendeu o sig­ilo do vídeo de uma reunião ocor­rida um mês antes do pres­i­dente e seus min­istros.

O que vimos foi um fes­ti­val de hor­rores, mas digna de uma cachaçada em um bar pés-​sujos, do que uma reunião min­is­te­r­ial.

Só para reg­is­trar, no dia 22 de abril, além da data que se atribui o nasci­mento do país, 520 anos antes, o dia começou com o informe das sec­re­tarias estad­u­ais de saúde reg­is­trando 43.592 casos de coro­n­avírus no Brasil e o número de óbitos chegando a 2.769.

A reunião do chefe da nação com seus min­istros não dedi­cou um momento para se sol­i­darizar com as famílias ou para tratar das medi­das de enfrenta­mento da pan­demia. Muito pelo con­trário, no momento que vi o pres­i­dente falando no assunto foi para recla­mar de uma nota de pesar do super­in­ten­dente da polí­cia rodoviária fed­eral que dizia que um patrul­heiro mor­rera por conta covid-​19; ou para o min­istro do meio ambi­ente dizer que dev­e­riam aproveitar a pre­ocu­pação dos brasileiros nor­mais com a pan­demia para pas­sar a “pauta-​bomba” con­tra a pro­teção ambi­en­tal; ou para a min­is­tra dos Dire­itos Humanos ameaçar de prisão prefeitos e gov­er­nadores por dec­retarem medi­das de iso­la­mento social como forma de com­bater a pan­demia; ou para o próprio pres­i­dente des­ti­lar seu ódio e xin­gar gov­er­nadores e prefeitos que estavam adotando as medi­das necessárias que ele dev­e­ria estar coman­dando – como os out­ros chefes de nação ao redor do mundo.

Se não vimos nada de pre­ocu­pação com o perec­i­mento de quase três mil vidas naquela opor­tuna reunião, o desre­speito saudado como “van­tagem” por uma massa de vas­sa­los, se repetiu todos os dias, assim como as medi­das de sabotagem.

A sab­o­tagem delib­er­ada do chefe da nação é respon­sável pela morte de mil­hares de brasileiros e pela destru­ição da econo­mia do país.

Quem é o louco que vai inve­stir em país con­duzido por um lunático, um menino do buchão, cer­cado por uma patota de idiotas?

No dia 22 de maio, os quase três mil mor­tos, de um mês antes, já eram mais de 21 mil mor­tos e o Brasil já era anun­ci­ado como o novo epi­cen­tro da pan­demia. E, mais uma vez, o que se viu foi o pres­i­dente e suas fran­jas igno­rando a morte e o sofri­mento do povo para fazer uma polit­i­calha rasteira e indigna; con­frontar os poderes e rev­e­lar uma ignorân­cia jurídica incom­patível com o cargo que ocupa.

O que se viu foi o pres­i­dente – e agora seus min­istros –, igno­rando que todos: do pres­i­dente da República ao mais sim­ples dos tabaréus, estão sub­or­di­na­dos à lei e que a maio­ria da pop­u­lação não tol­er­ará ameaças à ordem insti­tu­cional e a sub­ver­são da Con­sti­tu­ição da República.

Não são os democ­ratas que devem se quedar aos arrou­bos autoritários, são estes, os autoritários, que dev­erão ser expur­ga­dos da vida pública.

Não voltare­mos à barbárie!

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Como no tempo da KGB.

Escrito por Abdon Mar­inho

COMO NO TEMPO DA KGB.

Por Abdon Marinho.

ALGUÉM sabe qual é o grande sonho do gov­erno Bol­sonaro quando “crescer” – se crescer?

Resposta: ser igual ao gov­erno Flávio Dino.

Isso, claro, não se rela­ciona a qual­quer obra ou feito extra­ordinário para o bem da pop­u­lação, pois isso não existe.

O gov­er­nador pegou um estado mis­erável e já avançando pelo sexto ano o tem deix­ado mais mis­erável ainda.

Mas, como diria o ex-​presidente Lula, “ainda bem” que apare­ceu esse maldito vírus para o gov­er­nante estad­ual colo­car toda a culpa pelo insucesso e fra­casso do seu governo.

A “inveja” de Bol­sonaro em relação ao gov­erno do “nosso líder” diz respeito a “apro­pri­ação” do Estado, e dos seus instru­men­tos, em bene­fí­cio próprio e da “causa”.

O pres­i­dente da República atual­mente enfrenta uma das maiores crises do seu gov­erno por, suposta­mente, ten­tar inter­ferir ou ingerir ou coisa que o valha, nos des­ti­nos e na con­dução da Poli­cia Fed­eral.

Até um inquérito, com des­do­bra­men­tos impre­visíveis, corre no Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, depois que o ex-​ministro da justiça deixou o cargo, apon­tando como motivo para tal decisão, essa ten­ta­tiva, pouco repub­li­cana, do sen­hor Bolsonaro.

Por aqui ninguém jamais cog­i­tou ques­tionar o uso da Polí­cia Judi­ciária pelo gov­er­nante de plan­tão.

A começar pelo fato da própria sec­re­taria de segu­rança ser coman­dada por um fiel e ardoroso mil­i­tante, um ver­dadeiro “homem de par­tido”, do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB.

O gov­er­nador nomeou o mil­i­tante do par­tido no primeiro dia que chegou ao gov­erno e o mundo não veio abaixo.

Segundo as incon­fidên­cias do ex-​ministro da justiça o pres­i­dente da República choramin­gando apelou: –– Poxa, Moro, só quero um super­in­ten­dente (o do Rio de Janeiro), você fica com os out­ros vinte e seis.

É sobre o fato da poli­cia se prestar a servir o gov­er­nante que nos ocu­pare­mos neste texto. Antes, porém, cabe dizer que no fundo, no fundo, toda ani­mosi­dade entre o gov­er­nador do Maran­hão e o pres­i­dente da República e vice-​versa, é porque um enx­erga no outro os seus próprios defeitos.

Como em um espelho em que os vai­dosos se exam­i­nam e odeiam os defeitos que o outro (o espelho) revela.

Essa é a ver­dadeira razão da ani­mosi­dade – ainda que oculta por más­caras psicológicas.

Iso­lado há mais de sessenta dias por conta da pan­demia – e só me infor­mando através do leio e escuto –, sou infor­mado que poli­cia estad­ual “sen­tou à pua” em um grupo de What­sApp. Segundo o jor­nal­ista, que nar­rou o fato em “pod­cast”, os inte­grantes do grupo foram chama­dos à polí­cia por “falarem mal do gov­er­nador e do gov­erno” e, tam­bém, por orga­ni­zarem, através do grupo, uma man­i­fes­tação paci­fica con­tra as medi­das de iso­la­mento social dec­re­tadas pelo gov­er­nador para com­bater a pan­demia do novo coro­n­avírus.

Na nar­ra­tiva, o jor­nal­ista nos informa que os inte­grantes do grupo de What­sApp são (ou eram) pes­soas comuns que foram tratadas como mar­gin­ais e sofr­eram diver­sos tipos de con­strang­i­men­tos por se verem naquela situ­ação e serem chama­dos às falas como se fos­sem marginais.

Decerto que os del­e­ga­dos – e demais agentes poli­ci­ais –, agi­ram den­tro dos lim­ites da lei – jamais pen­saria difer­ente.

Mas ven­hamos – e con­ven­hamos –, tratava-​se de cidadãos comuns, mem­bros de um grupo de What­sApp, What­sApp, repita-​se mil vezes, e não de uma célula ter­ror­ista; o que estes cidadãos faziam (ou ainda fazem) eram críti­cas ao gov­erno – um dire­ito deles, gostem-​se das crit­i­cas ou não –, o ato suposta­mente pro­gra­mado, ainda que infringisse o decreto de iso­la­mento, não se tratava da pro­gra­mação para colo­carem bom­bas para explodi­rem as pontes sobre o Rio Anil, o palá­cio do gov­erno, o cen­tro admin­is­tra­tivo ou mesmo o edifí­cio João Goulart, recen­te­mente inau­gu­rado e pelo qual o estado paga uma boa grana mensalmente.

A dis­cussão que se trava aqui é sobre a escal­ada autoritária do gov­erno estad­ual, a ponto da poli­cia mon­i­torar gru­pos de con­ver­sas por aplica­tivos e inti­mar as pes­soas a prestarem esclarec­i­men­tos por, suposta­mente, pro­gra­marem uma man­i­fes­tação pací­fica con­tra o gov­erno ou para “furarem” um blo­queio san­itário.

Ora, ainda que fosse legit­imo esse mon­i­tora­mento indis­tinto de gru­pos de bate papo por aplica­tivo, por qual razão, ao tomarem con­hec­i­mento de que o grupo pre­tendia fazer um protesto pací­fico con­tra as medi­das do gov­erno, as autori­dades poli­ci­ais não noti­ficaram o Min­istério Público Estad­ual para que este ado­tasse as providên­cias que jul­gasse necessárias?

Aliás, o MPE ou mesmo a Defen­so­ria Pública se fiz­eram pre­sentes nas oitavas dos inte­grantes do grupo de What­sApp a fim de pre­venirem quais­quer abusos?

Muito além do ato iso­lado – pois mais abu­sivo que seja –, o que torna a situ­ação mais grave é padrão.

Quan­tas não foram as vezes que se ouviu histórias de que as forças poli­ci­ais do estado, suposta­mente, estariam enga­jadas no pro­jeto político do gov­er­nador e do seu grupo?

Quan­tas não foram as vezes que se ouviu boatos sobre a existên­cia de mon­i­tora­mento ou mesmo “grampo” telefônico/​telemática e dados con­tra os adversários?

Lem­bro que nas eleições de 2016 ouvi­mos depoi­men­tos de mais uma lid­er­ança, sobre­tudo, do inte­rior dando conta do uso da máquina pública con­tra os adver­sários do gov­er­nador, inclu­sive um ou outro dizendo que a polí­cia mil­i­tar aman­hecera em suas portas.

Aqui na cap­i­tal e região met­ro­pol­i­tana, nem se fala.

Em 2018 foi o escân­dalo denun­ci­ado pub­li­ca­mente de que a Polí­cia Mil­i­tar estaria mon­i­torando os gru­pos políti­cos no inte­rior, inclu­sive, ofi­cial­mente, com dire­ito a ofí­cios cir­cu­lares e planil­has de dados a serem cole­ta­dos.

Alguém sabe a quan­tas andam as inves­ti­gações sobre isso e se alguém foi punido ou responsabilizado?

A escal­ada autoritária com a uti­liza­ção da máquina pública tam­bém se volta con­tra a imprensa livre.

Quan­tas vezes não ouvi­mos notí­cias de jor­nal­is­tas sendo proces­sa­dos – e até mesmo cidadãos comuns –, por escreverem, falarem ou mesmo se man­i­festarem con­tra os novos “donos” do poder no Maranhão?

Uma vez, estava em meu escritório quando uma fun­cionária me avi­sou que deter­mi­nado cidadão que­ria falar comigo.

Pelo nome dito não lem­brei da pes­soa mas fui atendê-​lo numa sala ao lado.

O cidadão tinha ido me comu­nicar e até cog­i­tar me arro­lar como teste­munha em um processo ou inquérito que estaria respon­dendo por ter comen­tado, através de um pseudôn­imo, um artigo que havia escrito que fora repro­duzido por um dos blogues da cidade.

Diver­sos jor­nal­is­tas ou blogueiros respon­dem ou respon­deram proces­sos cíveis, crim­i­nais ou mesmo a inquéri­tos por crimes de opinião no atual gov­erno.

Quando não são as autori­dades a proces­sarem jor­nal­is­tas e cidadãos, o próprio Estado se encar­rega disso através de sua procuradoria.

A intenção é a aniquilação finan­ceira ou bus­car a con­de­nação das pes­soas para, no fundo, calar qual­quer um que ouse dis­sentir e se man­i­fes­tar con­tra o gov­erno e/​ou os gov­er­nantes.

Já ouvi de mais de um jor­nal­ista que nunca em qual­quer tempo da car­reira profis­sional fora perseguido quanto na atual quadra da polit­ica local.

São poucos os jor­nal­is­tas, no Maran­hão, que brava­mente resistem à pressão do apar­elho estatal ou dos demais mecan­is­mos de dominação.

Enquanto fazem tudo isso por aqui, este mes­mos pal­adi­nos da democ­ra­cia e da liber­dade, saem Brasil afora crit­i­cando a escal­ada autoritária do gov­erno fed­eral – com razão –, inclu­sive, através de reit­er­a­dos pedi­dos de impeach­ment, rep­re­sen­tações e ações judiciais.

É o nosso con­hecido espelho. Nos out­ros enx­ergo meus próprios defeitos – e eles são tão hor­ren­dos quanto a real face de Dorian Gray, da imor­tal obra de Oscar Wilde.

Os cidadãos de bem, não podemos silen­ciar diante de fatos de tamanha gravi­dade. Inti­mar e con­stranger inte­grantes de gru­pos de What­sApp é a prova der­radeira de que o autori­tarismo dos atu­ais gov­er­nantes estad­u­ais não con­hece limites.

O próx­imo passo será inti­mar a turma do happy hour? A galera da sin­uca? O grupo de ami­gas que ficam “fofo­cando” nas por­tas ao entardecer?

É o que falta.

Tomem tento! A única KGB da qual sen­ti­mos saudades é a antiga boate da Rua das Hor­tas, da nossa juventude.

Abdon Mar­inho é advogado.

Ainda bem, não é, Lula?

Escrito por Abdon Mar­inho

AINDA BEM, NÃO É, LULA?

Abdon Mar­inho.

QUANDO a pan­demia do novo coro­n­avírus ceifou a vida de cinco mil irmãos brasileiros, o pres­i­dente da República, sen­hor Bol­sonaro, inda­gado sobre o vol­ume de mor­tos, saiu-​se com a seguinte frase: “E, daí? Lamento, sou mes­sias, mas não faço mila­gres”.

Pen­sei ter ouvido a maior boçal­i­dades já dita por uma pes­soa a respeito de tan­tas vidas per­di­das – muitas delas por culpa do próprio gov­erno –, e, assis­tido ao maior exem­plo de falta de empa­tia e de respeito, não ape­nas pelos mor­tos – que já não lêem os epitá­fios das man­hãs –, como bem dizia o poeta e escritor Nauro Machado, mas por suas famílias restam sofrendo suas per­das.

Depois, claro, ainda tive­mos o con­vite para chur­rasco – sub­sti­tuído pelo pas­seio de moto aquática –, quando o número de mor­tos chegou a dez mil; e, por último, com o número de óbitos diários pas­sando dos mil e a mor­tan­dade total chegando a vinte mil, a piad­inha infame e poli­ti­zada de que “os de dire­ita tomam cloro­quina e os de esquerda, tomam tubaína”.

Isso é coisa que um pres­i­dente da República, em meio a uma tragé­dia de tamanha mag­ni­tude, faça? Alguém con­segue imag­i­nar um grande líder mundial, um estadista, que ver­dadeira­mente mereça esse título, fazer tão pouco caso com a des­graça de seus gov­er­na­dos? Com o deses­pero dos seus famil­iares ante a perda de um ente querido? Ou, mais de um, como temos visto acontecer?

Chego a dolorosa con­clusão que, talvez, o caso de sua excelên­cia, seja de internação.

Pois bem, como des­graça pouca é bobagem, no mesmo dia em o sen­hor pres­i­dente fazia a piad­inha infame, foi a vez dos seus algo­zes da esquerda engolirem o cuspe e silen­cia­rem diante de uma frase tão ou mais infamante quanto qual­quer uma já dita pelo atual pres­i­dente da República, durante essa pandemia.

No mesmo dia em que o Brasil “cravava” o triste recorde de perder mais de mil brasileiros em um único dia — acred­ito que o maior número diário para uma nação, até mesmo para os Esta­dos Unidos, com seu mais de um mil­hão de meio de infec­ta­dos –, e “beirar­mos” a assom­brosa marca de 20 mil mor­tos para a pan­demia, foi a vez do ex-​presidente Lula da Silva, em entre­vista ao jor­nal­ista Mino Carta da revista “Carta Cap­i­tal”, saudar o surg­i­mento do novo coronavírus.

A frase com­pleta do ex-​presidente, para que não digam que foi tirada do con­texto é a seguinte: “Ainda bem que a natureza, con­tra a von­tade da humanidade, criou esse mon­stro chamado coro­n­avírus. Porque esse mon­stro está per­mitindo que os cegos come­cem a enx­er­gar que ape­nas o Estado é capaz de dar solução a deter­mi­nadas crises”.

Ainda bem, “né”, Lula?

Como disse, a sociopa­tia do pres­i­dente é caso de inter­nação. Mas, o que dizer de alguém que “se vende” – e é “com­prado” por uma grande parcela da sociedade brasileira e mundial –, como um grande líder das mul­ti­dões se sai com esse tipo de coisa?

Ainda que de forma incon­sciente – dou esse desconto “inde­v­ido” por conta de sua baixa instrução –, o Lula, rev­e­lando sua total amoral­i­dade, cor­rob­ora com o dis­curso das fran­jas “bol­sonar­is­tas” de que essa maldita molés­tia, que está trazendo infortúnio a tan­tos lares no Brasil e no mundo, é uma arma política para ser usada ide­o­logi­ca­mente a favor do seu par­tido e da sua causa.

Na visão do ex-​presidente Lula, o balu­arte da esquerda brasileira, o vírus é “bom” pois está trazendo luz ao seu dis­curso sobre a importân­cia do Estado macro.

É isso que o Lula diz com todas a letras.

E, não duvido que inter­na­mente, a despeito de tanto sofri­mento que o vírus está cau­sando, deseje que ele mate muito mais brasileiros, talvez cem, cento e cinquenta, talvez duzen­tos mil.

Aí sim, o brasileiros vão “enx­er­gar” a mar­avilha que é o estado macro, prove­dor de todas as neces­si­dades da humanidade.

Veja que o Lula, malan­dra­mente, diz que o vírus é uma “con­spir­ação” da natureza con­tra von­tade da humanidade.

Qual o propósito disso? Sim­ples, afir­mar que a natureza “pro­duziu” o vírus para que a humanidade pas­sasse a enx­er­gar que “ape­nas o Estado é capaz de dar solução a deter­mi­nadas crises”, o macro estado, o estado comu­nista é, por outro lado, afas­tar a ideia – e sus­peita de muitos –, de que o vírus seria uma arma biológ­ica cri­ada proposi­tal­mente pelo gov­erno Chinês ou mesmo que, invol­un­tari­a­mente, tal exper­i­mento, “fugiu” do con­t­role de seus laboratórios.

Essa tese de arma biológ­ica já foi descar­tada por cien­tis­tas sérios, porém ainda ali­menta os son­hos deli­rantes de cer­tas fran­jas dire­itis­tas que querem bus­car um cul­pado e de prefer­ên­cia que ele (o cul­pado) seja o inimigo ide­ológico principal.

O ex-​presidente Lula na sua frase imoral e ver­gonhosa tenta con­struir nar­ra­tiva – que não duvido seja assim­i­lada e “com­prada” por grande parte dos seus seguidores.

Mas, vendo de outro modo, se o vírus fosse uma cri­ação humana e não nat­ural, com o condão de levar a luz as pes­soas para enx­er­garem as mar­avil­has do Estado macro, ele perde­ria o sta­tus de “ainda bem”?

Acom­pan­hando a vida política brasileira há tan­tos, emb­ora fique chocado – como agora –, com as enormi­dades ditas por Lula, elas já não me causam surpresas.

O que me causa estu­por, ver­dadeira­mente, é a hipocrisia dos seus ali­a­dos.

Há pouco mais de vinte dias, quando o pres­i­dente da República, pro­feriu o infamante “e, daí?”, diante dos mil­hares de mor­tos, pági­nas e pági­nas de jor­nais, bits e bits de inter­net foram gas­tos para para repu­diar – com razão –, a sua colo­cação desastrada.

A frase do pres­i­dente da República, infame, infe­liz, debochada, escrota, e tudo mais que se possa adje­ti­var, foi dita num con­texto de situ­ação posta. Isso está feito, e, daí?

Claro, dita por alguém que tem a respon­s­abil­i­dade de diri­gir o país, o que a agrava substancialmente.

Mas, a frase do ex-​presidente Lula, que dirigiu o país por oito anos, que elegeu suces­sor e tudo mais – emb­ora não tenha ele respon­s­abil­i­dade atual pelo rumos do país –, se reveste de muito mais gravi­dade.

O Lula, assim como o Bol­sonaro, rev­ela total indifer­ença pelo sofri­mento das pes­soas, a mesma falta de empa­tia e de respeito, e com uma agra­vante, ele “saúda” o vírus como uma coisa boa, como um “lib­er­ta­dor” da cegueira coletiva.

E faz isso moti­vado pelo mais mesquinho dos inter­esses: o inter­esse politico/​eleitoral, pela guerra pelo poder, pelo inter­esse ideológico.

Para Lula, o que sig­nifica mil­hares de vidas humanas diante do ganho político e ideológico?

O Lula não é pior que seus ali­a­dos, sub­al­ter­nos ou adu­ladores.

Todos colo­cam “a causa” à frente da vida, da ética ou da humanidade.

Não fiz­eram do roubo aos recur­sos públi­cos uma “causa de Estado”?

No fundo repro­duzem a velha e hor­renda frase de Stalin, para quem a morte de uma pes­soa era uma tragé­dia, mas a morte de mil­hões era uma estatística.

Daí o silên­cio obse­quioso que fazem diante desta última enormi­dade de Lula. Cadê os “tex­tões” de repulsa? Cadê os tuítes histéricos?

O silên­cio. Só restou o silêncio.

No fundo a ver­dadeira doença que infesta e mal­trata mais esse esse pais e a doença moral.

É a doença moral que faz com que não importe o que se diga, mas quem o diga.

Abdon Mar­inho é advogado.

PS. A ilus­tração é uma gen­til colab­o­ração do amigo Cordeiro Filho.