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Estupro ideológico.

Escrito por Abdon Mar­inho

ESTUPRO IDE­OLÓGICO.

Por Abdon Marinho.

OS DOIS assun­tos mais comen­ta­dos no Brasil, nos últi­mos dias, foram o “caso Mar­i­ana Fer­rer” e as eleições amer­i­canas. Emb­ora pareçam, e sejam, assun­tos total­mente difer­entes, pelo menos aqui, estes temas acabam se encontrado.

Cada um ao seu tempo, tratarei de ambos, ini­ciando, neste texto, pelo primeiro.

Esclareço, de iní­cio, que tratarei do caso envol­vendo o suposto estupro, em tese, con­siderando que o processo – como é de praxe –, corre em “seg­redo de justiça”, só sendo público “retal­hos” de uma instrução e a sen­tença abso­lutória, talvez o pivô de toda celeuma, e as ver­sões de ambos os lados, as sus­peitas de uma sen­tença injusta, os abu­sos clara­mente per­pe­tra­dos con­tra a vítima pela defesa do acu­sado e a omis­são, que chega às raias do crime, do juiz e do pro­mo­tor que atu­aram no caso.

Em que pese ser o estupro um dos crimes mais repu­di­a­dos, a ponto daque­les que o prati­cam não encon­trarem guar­ida nem entre ban­di­dos, e por isso lhes dis­pen­sam celas espe­ci­ais, os chama­dos “seguros”, e não raro, muitos defen­sores recusarem a defesa de tais crim­i­nosos, o crime de estupro, infe­liz­mente, ainda ocorre no Brasil em uma pro­porção absurda.

Segundo o Añuário Brasileiro de Segu­rança Pública, ocorre um estupro a cada oito min­u­tos, e, no ano pas­sado, 2019, foram reg­istra­dos 66.123 estupros, dos quais 57,9% con­tra víti­mas de até 13 anos e 85,7% con­tra pes­soas do sexo fem­i­nino.

Em pouco mais de uma década o número de estupros no Brasil cresceu mais de seis vezes. Cresceu este vol­ume ou foram rev­e­la­dos todos estes casos a par­tir da imple­men­tação de leg­is­lação e pro­gra­mas de atendi­mento às víti­mas, bem como, o “alarga­mento” do con­ceito da tip­i­fi­cação do crime, muito emb­ora ainda se saiba que exista muita sub­no­ti­fi­cação.

Qual­quer que seja o motivo para o aumento deste tipo de crime, o fato é que não podemos ser lenientes com o mesmo, deixar de apu­rar e punir os respon­sáveis, ofer­e­cer assistên­cia e pro­teção as víti­mas e pre­venir para que o mesmo não acon­teça.

Durante décadas a vio­lên­cia con­tra a mul­her foi igno­rada.

Se chegava a uma del­e­ga­cia e denun­ci­ava um estupro geral­mente era tratada como “vadia”, por vezes se exi­gia que provasse ter sido abu­sada ou que resi­s­tira ao crime ao lim­ite da própria vida e, o pior, disponibilizava-​se para a imprensa os dados do reg­istro poli­cial que, sem qual­quer respeito ou trata­mento, eram divul­ga­dos, com o nome da vítima, o endereço, fil­i­ação e, até mesmo, o que o vio­len­ta­dor – ou vio­len­ta­dores –, fiz­eram com a mesma.

Não bas­tasse toda a vio­lên­cia física e psi­cológ­ica já sofrida a vítima tinha, ainda, que supor­tar esse “lin­chamento público”.

Certa vez, em um caso de estupro cole­tivo ocor­rido na cap­i­tal, acho eram os anos 90 do século pas­sado, o jor­nal noti­ciou, como se fosse um filme pornográ­fico, em detal­hes tudo que os meliantes fiz­eram com a vítima, não a poupando nem dos detal­hes mais sór­di­dos.

Esse parece que foi o último caso que li na imprensa, depois pas­saram a ocul­tar o nome e endereço da vítima ou a não destacar como faziam ante­ri­or­mente.

Daí a neces­si­dade de se tratar os casos de vio­lên­cia sex­ual com extremada pre­caução. Não só porque his­tori­ca­mente sem­pre se atribuiu às víti­mas a respon­s­abil­i­dade pela vio­lên­cia sofrida, ora por dizer que deter­mi­nada roupa seria “provoca­tiva”; ora, por dizer que a mul­her não “resi­s­tira”, o impli­caria no “con­sen­ti­mento”; ora, por dizer que a mul­her con­sen­tira só se arrepen­dendo pos­te­ri­or­mente para ale­gar o suposto estupro para “tirar” do suposto vio­lador algum tipo de van­tagem.

Claro que não podemos deixar de aten­tar – ou fin­gir descon­hecer –, que não pou­cas vezes acon­te­cem exageros e não raro uma “can­tada” mal feita – ou mesmo as bem feitas –, é con­fun­dida com assé­dio sex­ual ou moral.

Não raro, tam­bém, são as vezes em muitas mul­heres usam um instru­mento legí­timo de pro­teção con­tra a vio­lên­cia domés­tica como forma de vin­gança ou perseguição con­tra seus ex-​companheiros, ex-​maridos ou ex-​namorados.

Emb­ora a regra seja de vio­lên­cia con­tra a mul­her – e os números com­pro­vam isso –, exis­tem estas detur­pações.

Daí a neces­si­dade de se exam­i­nar os casos que são pos­tos com cautela, sem paixões e pre­con­ceitos ou, como dizia um antigo mestre, “cum grano salis”.

O chamado “caso Mar­i­ana Fer­rer” reabre tais feri­das.

Pelas as infor­mações que cir­cu­lam “extra autos”, já que o caso, como dito ante­ri­or­mente, corre em seg­redo de justiça, a vítima teria sido “dopada” com o alu­cinógeno con­hecido pelo nome “boa noite Cin­derela”, lev­ada a um dos camarins e abu­sada sex­ual­mente por um cidadão; ato con­tínuo ela teria procu­rado a del­e­ga­cia e feito o exame de corpo e delito que atestou a con­junção car­nal e o DNA do acu­sado nas suas roupas ínti­mas e den­tro da moça, que seria virgem.

Através de rep­re­sen­tação da vítima o Min­istério Público denun­ciou o suposto predador sex­ual pelo “Art. 217-​A. Ter con­junção car­nal ou praticar outro ato libidi­noso com menor de 14 (catorze) anos: … § 1º Incorre na mesma pena quem prat­ica as ações descritas no caput com alguém que, por enfer­mi­dade ou defi­ciên­cia men­tal, não tem o necessário dis­cern­i­mento para a prática do ato, ou que, por qual­quer outra causa, não pode ofer­e­cer resistên­cia”.

O fato da vítima suposta­mente encontrar-​se “dopada” enquadraria na última parte do pará­grafo primeiro.

A sen­tença que absolveu o suposto autor do fato – com o pare­cer favorável do Min­istério Público –, tem como ponto essen­cial saber se o ato sex­ual foi con­sen­tido ou não ou se a suposta vítima teria condições de con­sen­tir o mesmo.

Afirma o mag­istrado: “assim, diante da ausên­cia de ele­men­tos pro­batórios capazes de esta­b­ele­cer o juízo de certeza, mor­mente no tocante à ausên­cia de dis­cern­i­mento para a prática do ato ou da impos­si­bil­i­dade de ofer­e­cer resistên­cia, indis­pen­sáveis para sus­ten­tar uma con­de­nação, decido a favor do acu­sado … com fun­da­mento no princí­pio do in dubio pro reo”.

O princí­pio do in dubio pro reo é uma garan­tia sec­u­lar do dire­ito brasileiro e destina-​se a pro­te­ger os cidadãos.

O Estado/​juiz recon­hecendo inex­i­s­tir certeza quanto a con­duta do agente lhe con­cede o bene­fí­cio da dúvida. Ou seja, na dúvida antes um cul­pado solto a um inocente preso.

Logo, poder-​se-​ia inter­pre­tar a sen­tença abso­lutória do mag­istrado como um legí­timo exer­cí­cio do dever de cautela.

Entre­tanto, tam­bém é sabido que um processo, con­forme a sua con­dução, a forma como é instruído e até mesmo as per­gun­tas que são feitas para as teste­munhas e partes, pode levar à certeza ou a dúvida.

O ponto da sen­tença que o juiz ao reg­is­trar dúvida e por conta disso absolver o réu, levou ao alvoroço de se criar nos meios de comu­ni­cação a figura do “estupro cul­poso” – inex­is­tente no dire­ito brasileiro –, que, foi, e tem sido, explo­rado à exaustão.

A isso, somou-​se, ainda, a divul­gação de tre­chos da audiên­cia de instrução crim­i­nal na qual desnudou-​se para a sociedade os exces­sos prat­i­ca­dos pela defesa do réu em “vilanizar” a vítima diante do silên­cio obse­quioso e omis­sivo do mag­istrado e do rep­re­sen­tante do Min­istério Público e do próprio advo­gado da vítima – que, deduzo, esteve pre­sente a audiên­cia vir­tual.

Ainda que se diga tratar-​se de tre­chos ou que as falas estão fora do con­texto, não acred­ito que isso venha mudar o fato de que trataram a vítima como se a mesma estivesse diante de um tri­bunal de inquisição da Idade Média, de nada lhe val­endo os pedi­dos para que fosse tratada com respeito e/​ou o choro.

Para aumen­tar a des­graça do acon­te­cido, como a divul­gação da audiên­cia deu-​se através de um site lig­ado à esquerda brasileira e mundial, logo apare­ce­ram os ideól­o­gos da dire­ita e esquerda, a favor e con­tra a vítima.

O Brasil tornou-​se a primeira nação do mundo a inau­gu­rar o con­ceito de “estupro ide­ológico”, com a esquerda defend­endo que ocor­rera um estupro e a dire­ita afir­mando que não, ou, caso tenha havido, a culpa teria sido da vítima.

Com o país reg­is­trando um estupro a cada oito min­u­tos parece-​me sur­real o tema vire pauta de debates ide­ológi­cos. Além da gravi­dade do tema o que choca é levem o debate para o palco da política e da ide­olo­gia.

Con­fesso que não sei onde o país vai parar com tamanha rad­i­cal­iza­ção política, a ponto de se poli­ti­zar um episó­dio de suposto estupro, quando o mesmo dev­e­ria ficar restrito às esferas poli­ci­ais e judi­ciárias, com apu­ração rig­orosa e punição exem­plar para o cul­pado, quando com­pro­vada a culpa.

Mas não, por aqui, nem o estupro, quer dizer, a luta con­tra o estupro – e todas as for­mas de vio­lên­cia con­tra a mul­her os as mino­rias –, é capaz de unir o país.

Abdon Mar­inho é advogado.

Ah, as estradas.

Escrito por Abdon Mar­inho


AH, AS ESTRADAS.

Por Abdon Marinho.

POR OCASIÃO da visita do pres­i­dente da República ao Maran­hão, o gov­er­nador do estado declarou que, o pres­i­dente, tinha pouco ou quase nada mostrar, as condições das BR’s que cor­tam o estado são pés­si­mas além de ser “pouquinho” inau­gu­rar 5 km de estradas em dois anos de gov­erno.

Que as condições das estradas que cor­tam o estado do Maran­hão são pés­si­mas, não é seg­redo para ninguém, tanto assim que os maran­henses que moram na zona de fron­teira pref­erem fazer suas via­gens através das rodovias dos esta­dos viz­in­hos. Eu mesmo já con­tei a história do “ceguinho” que acos­tu­mado a fazer o per­curso For­t­aleza (CE) – Belém (PA), sabe, sem que ninguém lhe diga, quando entra e quando sai do estado.

Con­heço as estradas do Maran­hão, desde que me fiz advo­gado que as per­corro rotineira­mente, pelo menos uma vez ao mês, para aten­der meus clientes.

Sem­pre me per­gun­tei por quais motivos nos­sas estradas são tão ruins, por quais motivos pade­cem de obras intermináveis.

Era sobre estradas, desta vez estad­u­ais, que iria tratar no “tex­tão” do fim de sem­ana quando a “boio­lagem” de Bol­sonaro se impôs.

Mas, com um pouco de atraso, faço agora.

Como disse, pelo menos uma vez por mês, desço para inte­rior. Sem­ana pas­sada o des­tino foi o extremo norte do estado, Luís Domingues e Caru­ta­pera. No cam­inho fui “tirando reisado”, enco­stando aqui e ali, almoçamos em Santa Helena e paramos para cafez­inho da tarde, em Mara­caçumé, no “Café na Fazenda”, de D. Claú­dia.

Já era pelas 17 horas quando cheg­amos às Qua­tro Bocas, povoado dis­trito do Junco do Maran­hão, que dá acesso ao des­tino final da viagem.

Lá chegando encon­tramos a MA 206 inter­di­tada. Era um protesto dos moradores dos municí­pios da região (Amapá do Maran­hão, Caru­ta­pera, Luís Domingues, God­ofredo Viana é Cân­dido Mendes) con­tra as pés­si­mas condições da estrada.

O protesto já con­sumia um dia inteiro. Fui avisado, aliás, antes mesmo de pegar o ferry boat, as 10 horas da manhã.

Ao chegar­mos, no fim da tarde, encon­tramos um clima tenso com a polí­cia no local, ambulân­cia e uma fila de car­ros de ambos os lados, sem con­tar aque­les que já haviam desis­tido de chegarem aos seus des­ti­nos e voltado para casa.

Emb­ora sabendo do protesto com ante­cedên­cia – desde a sem­ana ante­rior –, não desisti da viagem por saber que provavel­mente não teria tempo de voltar a fazê-​la antes da eleição, a esper­ança de que quando chegasse lá o movi­mento já tivesse se dis­si­pado, e, tam­bém, porque no man­i­festo de inter­dição tinha um item que dizia que per­mi­tiriam a pas­sagem de pes­soas com neces­si­dades espe­ci­ais.

Chegando lá encon­tramos os moradores ainda irre­dutíveis, inclu­sive, no que refe­ria a per­mis­são de pas­sagem de pes­soas com neces­si­dades espe­ci­ais – o meu caso.

Só depois de muita nego­ci­ação com a polí­cia mil­i­tar e com os man­i­fes­tantes, per­mi­ti­ram a minha pas­sagem. Já em Luís Domingues tomei con­hec­i­mento que depois de per­mi­tirem a nossa pas­sagem, não demorou muito para encer­rarem a man­i­fes­tação de des­ob­struírem a via.

Na tele­visão, em horário nobre, pas­savam um com­er­cial do gov­erno estad­ual onde ele vende que está fazendo o maior pro­grama rodoviário do estado e ainda ajuda, desde 2015, os municí­pios a asfal­tar as vias urbanas.

Ape­sar do protesto con­tra as pés­si­mas condições daquela MA ter durado desde as primeiras horas da manhã até a noite, na cap­i­tal ou nos demais rincões do estado ninguém ficou sabendo, exceto os moradores daquela região e as pes­soas que, even­tual­mente, ten­ham sido prej­u­di­cadas pela inter­dição.

No mais o que resta pre­sente é a pro­pa­ganda mas­siva e enganosa de que o mel­hor lugar para se viver é den­tro dos com­er­ci­ais do gov­erno estad­ual.

Voltando ao protesto, por mais que seja con­tra esse tipo de ação, por enten­der que não se pode restringir o dire­ito de loco­moção dos cidadãos, forçoso não recon­hecer que é justa causa daque­les que foram inter­di­tar a via em protesto.

E não é a primeira vez que fazem isso. Esse último já foi o ter­ceiro ou quarto protesto dos moradores da região con­tra as pés­si­mas condições das MA’s 206 e 101.

Desde o iní­cio do atual gov­erno, ou seja, há seis anos, que vejo obras de reparos nas vias, e desde sem­pre que vejo que são reparos tão mal feitos que não duram nada, que desa­pare­cem na primeira chuva ou no próx­imo inverno.

A impressão que fica é que tanto aquela rodovia como diver­sas out­ras rodovias do estado que o gov­erno diz está recu­perando não pas­sam, na ver­dade, de “obras de morder”, onde todo mundo morde um pedaço, drenam os recur­sos públi­cos e as obras nunca ficam prontas.

É como se o estado apli­casse na prática o con­ceito do “Manto de Pené­lope”, que con­hece­mos da imor­tal obra de Homero, a Odis­seia.

Na volta da viagem, na quarta-​feira, final da tarde, dei uma carona, até Mara­caçumé, para D. Claú­dia, do “Café na Fazenda”, e perguntei-​lhe sobre as condições da estrada até Cen­tro Novo.

Com a sin­ceri­dade de sem­pre ela respondeu-​me: — ah, doutor, se as BR’s já não prestam, o sen­hor já imag­ina como estão as MA’s.

Ainda assim, resolvi ir fazer essa visita ao Cen­tro Novo do Maran­hão, um dos mais prósperos municí­pios do estado. E, com de onde nada se espera é de onde nada vem, pude con­statar que a estrada de ape­nas 22 km, encontra-​se em petição de mis­éria, como, aliás todas as out­ras.

Cos­tumo dizer que umas das prin­ci­pais rodovias estad­u­ais é a que sai do Cujupe, Alcân­tara e vai até Gov­er­nador Nunes Freire, que leva as municí­pios da baix­ada, da BR e, até para o Pará. Entra ano sai ano, entra inverno sai inverno e situ­ação da estrada é de buraque­ira e de inter­mináveis obras que nunca ficam prontas. De tão malfeitas, antes de rece­berem a mar­cação de sinal­iza­ção já estão pre­cisando de refor­mas.

Ao longo destas rodovias estad­u­ais, prin­ci­pal­mente as piores, cos­tu­mamos avis­tar cri­anças ou mesmo adul­tos colo­cando terra ou pedras nos prin­ci­pais bura­cos para facil­i­tar o tráfego, em troca de alguns tro­ca­dos. Apelidei-​os, por motivos óbvios, de DINOIT’s.

Já com troça meus com­pan­heiros de via­gens dizem ao avistá-​los: — olha, doutor, lá está um “dinoit”.

Ao pas­sar­mos por eles agrade­ce­mos e às vezes, se temos, lhe damos alguns tro­ca­dos.

Vendo sua excelên­cia, o gov­er­nador do estado, criticar o pres­i­dente da República que está há dois anos no poder, pelas pés­si­mas condições das BR’s – que são mesmo pés­si­mas –, fico com a impressão que ele (o gov­er­nador), ou não con­hece as rodovias estad­u­ais (ou só as con­hece pelos seus com­er­ci­ais regia­mente pagos), de sua respon­s­abil­i­dade, ou quer “tomar” o emprego de piadista do sen­hor Bol­sonaro, aquele que virou “boiola” ou maran­hense ao tomar um refrig­er­ante cor de rosa.

O descon­t­role é tamanho nas obras rodoviárias estad­u­ais que outro dia li – mas con­tinuo pen­sando que se trata de fake news –, que um engen­heiro que tra­balha na inter­minável obra da MA 103, a nossa estrada da Raposa, no Araçagy, teria declar­ado não mais saber o que estão fazendo ali, de tan­tas idas e vin­das.

Eu custo acred­i­tar que isso seja ver­dade, muito emb­ora tenha rece­bido tal infor­mação de mais de uma fonte.

Isso ocorre nas “bar­bas do gov­erno”, com a imprensa, oposição, com­er­ciantes e “todo mundo” crit­i­cando diari­a­mente os transtornos e a demora na con­clusão do empreendi­mento.

Final­izo dizendo que em mea­dos do mês que findou o gov­erno estad­ual recapeou a nossa Estrada da Mata. O serviço foi tão malfeito que no dia 16 de out­ubro filmei um tre­cho da obra só para guardar como prova o prazo de duração do serviço pois mal se foram 15 dias e os defeitos já bro­tam. Uma típica obra eleitor­eira, como tan­tas.

Pois é, sujos e mal lava­dos falam para suas legiões enquanto o povo padece no sofri­mento eterno.

Abdon Mar­inho é advogado

Da trans­vi­adônica de Lula à “boio­lagem” de Bolsonaro.

Escrito por Abdon Mar­inho

DA TRANS­VI­ADÔNICA DE LULA À BOIO­LAGEM DE BOLSONARO.

Por Abdon Marinho.

se pas­saram mais de trinta anos desde que o ex-​presidente Lula, em visita a Pelotas, no Rio Grande Sul, sug­eriu que aquela cidade seria um pólo expor­ta­dor de “vea­dos”. O áudio cap­tado indisc­re­ta­mente (parece-​me que ele não sabia que o micro­fone estaria lig­ado) daria conta que o então político sem mandato ainda pro­pusera a con­strução de uma rodovia lig­ando a cidade gaúcha à cidade de Camp­inas, em São Paulo, a “trans­vi­adônica”.

Depois da “trans­vi­adônica”, dos tem­pos que o político ainda son­hava em ser pres­i­dente da República, depois de sê-​lo – acho que em 2017 ou 18 –, quando acos­sado por inves­ti­gações poli­ci­ais da chamada oper­ação Lava jato, o ex-​presidente Lula, nova­mente cap­tado em áudios indis­cre­tos, desta vez autor­iza­dos pela justiça, sug­eriu que colo­cassem mil­i­tantes do sexo fem­i­nino na linha de frente de protestos, referindo-​se a elas como sendo “mul­heres do grelo duro”. Até hoje não sei o que sig­nifica isso.

Ainda naquela opor­tu­nidade por conta de uma oper­ação na sede do Insti­tuto Lula e nas casas de alguns dos membros/​funcionários, sug­eriu que deter­mi­nada secretária ao vê os poli­ci­ais “invadindo” sua casa pen­sou tratar-​se de um atendi­mento de uma prece. Induzindo que a mesma gostaria de ser “ata­cada” por aque­les homens.

Durante todos esses anos a mil­itân­cia política lig­ada ao ex-​presidente Lula sem­pre se esqui­varam ou ten­taram jus­ti­ficar as falas homofóbi­cas e/​ou pre­con­ceitu­osas, desprovi­das de edu­cação e respeito do seu líder.

Por estes dias, em visita ao Maran­hão, o atual pres­i­dente da República, sen­hor Bol­sonaro, tam­bém gravado indisc­re­ta­mente repetiu a “graça” do ante­ces­sor feita há trinta anos, ao ser apre­sen­tado ao guaraná Jesus, disse: “Agora eu virei boiola. Igual maran­hense, é isso?”, disse o pres­i­dente entre risos. “Guaraná cor-​de-​rosa do Maran­hão aí, quem toma esse guaraná aqui vira maran­hense”, com­ple­tou mostrando a bebida.

Em tem­pos de inter­net, com a reper­cussão à fala gan­hando o mundo, inclu­sive sendo objeto de debates nas redes de tele­visão, à noite o pres­i­dente, na sua live sem­anal e vestindo a camisa de um pop­u­lar time maran­hense, “emen­dou” um pedido des­cul­pas tomando nova­mente o guaraná Jesus e dizendo que “não sen­tiu nada”. Tudo isso entre mux­oxos e piad­in­has.

Acred­ito que a des­culpa tenha até saído pior que a ofensa ini­cial.

Existe alguma difer­ença entre dizer que “Pelotas é um grande polo expor­ta­dor de vea­dos” ou a refer­ên­cia às “mul­heres do grelo duro” e “agora virei boiola. Igual maranhense”?

Talvez a única difer­ença seja que as duas primeiras tenha sido pro­feri­das pelo sen­hor Lula antes e depois do mesmo ser pres­i­dente, já a última, a fala do sen­hor Bol­sonaro, tanto em solo maran­hense quanto aos mux­oxos e piad­in­has durante a live se deram em pleno exer­cí­cio do cargo.

Vive­mos tem­pos de ineditismos. Acred­ito ser a primeira vez que um pres­i­dente da República se refira a pop­u­lação inteira de um estado, inclu­sive, muitos seus ali­a­dos e defen­sores como “boio­las”.

Idên­tico, tam­bém, é o com­por­ta­mento dos “fac­ciona­dos” de ambos os lados.

Assim como os lulis­tas estão há anos fin­gindo que nunca houve tal ofensa ou fazendo pouco caso das mes­mas, o mesmo ocorre com os bol­sonar­is­tas, que acharam lindo o que o seu líder disse e defen­dem nas redes soci­ais e meios de comu­ni­cação a sua fala.

Dizem: — o Bol­sonaro falou de diver­sas coisas, só reper­cu­ti­ram isso; — o pres­i­dente falou dos mil­hões em inves­ti­men­tos para Maran­hão; — o pres­i­dente fez mais pelo guaraná Jesus do que qual­quer outra pes­soa.

Out­ros até se saíram com a inusi­tada tese de que o pres­i­dente chamou os “maran­henses de ‘boio­las’ de forma car­in­hosa”.

E por aí vai. Morro e entendo o com­por­ta­mento de “mili­ton­tos” que são capazes de

‘pas­sar o pano’ para tudo que seus líderes dizem ou fazem. Chega ser engraçado que todos estes que se calaram ou jus­ti­ficaram todas as asneiras do Lula durante anos agora virem cen­sores do Bol­sonaro, não que ele não mereça sev­era cen­sura, mas porque nunca dis­seram nada ante­ri­or­mente.

Já disse por diver­sas vezes que não dev­e­ria ser con­sid­er­ado ofen­sivo dizer que alguém é homos­sex­ual, gay, etc.

Os últi­mos tex­tos que abordo o assunto, que lem­bro foram: “A ofensa gay”, onde trato de um entrevero entre os hoje senadores Roberto e Wev­er­ton Rocha, onde o primeiro referiu-​se ao segundo e ao pres­i­dente do seu par­tido como um casal e fechava a pub­li­cação dizendo que “dese­java feli­ci­dades ao casal” e por ocasião do rece­bi­mento de uma queixa ofer­tada pela esposa do senador Wev­er­ton con­tra o senador Roberto, pelo mesmo fato, no Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF. O título do texto é “Insin­u­ação de ‘viadagem’ aflora pre­con­ceitos até no Supremo”.

Nestes dois tex­tos os leitores encon­tram com maiores detal­hes o que penso.

Descarto tanto das falas do ex-​presidente Lula quanto do atual pres­i­dente Bol­sonaro a ausên­cia de pre­con­ceitos. Ambas foram man­i­fes­tações de quem vêem os gays como seres humanos infe­ri­ores e ambas foram feitas com intu­itos de ofender as pessoas.

Emb­ora muito comum entre os brasileiros, não con­sigo enx­er­gar graça no chamado “pre­con­ceito recre­ativo”, este em que as pes­soas tiram motivos para riso de situ­ações físi­cas ou situ­ações sex­u­ais de out­ras pes­soas.

O gordo, o magrelo, o negro, o albino, o defi­ciente, o gay, não são motivos de graça para ninguém.

Não é por sua situ­ação que devem ser motivos de cha­co­tas ou dis­crim­i­nações.

No caso do pres­i­dente o caso se reveste de maior gravi­dade, não só pela hon­radez e respeito que o cargo requer, como rep­re­sen­tante de todos os brasileiros, inclu­sive dos gays e dos maran­henses, mas, tam­bém, porque ele pautou sua car­reira política inteira reforçando pre­con­ceitos con­tra as pes­soas, chegando ao ponto de, em deter­mi­nada entre­vista, ter dito que preferiria muito mais um filho morto a um filho gay, muito emb­ora saibamos que todos os seus fil­hos este­jam bem vivos, com a graça de Deus, e um ou outro até ensaie sair do armário de vez em quando. E ninguém tem nada com isso.

Um pres­i­dente da República é pres­i­dente de todos e deve respeito a todos os pre­si­di­dos. Ainda que seja hon­esto, tra­bal­hador, que faça obras impor­tantes e necessárias, isso não lhe dar o dire­ito de ofender os sen­ti­men­tos de nen­hum cidadão. Ainda que traga “bur­ras” de ouro não lhe per­mite dizer asnices.

O Brasil é um país que enfrenta desafios imen­sos, é a econo­mia que não vai bem, com o dívida pública con­sumindo quase a total­i­dade do PIB, é o dólar nas alturas, é o desem­prego com números absur­dos, é a fome que ronda o lares de mil­hões de brasileiros, é a crise ambi­en­tal que se tornou a maior da história, é a edu­cação que não avança, é a saúde que não atende como dev­e­ria, é a cor­rupção que drena os recur­sos públicos.

Com tan­tos prob­le­mas, pre­cisamos de um pres­i­dente da República que se pre­ocupe com os fun­dos da nação e não com fun­dos dos seus cidadãos. Destes, cada um cuida do seu como mel­hor lhe aprou­ver.

Ah, ape­nas encer­rar, o pres­i­dente e seus adu­ladores podem tomar guaranás ou bebidas de qual­quer cor que não cor­rerão o risco de ficarem “boio­las” por conta disso.

Noutra palavras, não poderão usar essa des­culpa se quis­erem “soltar a franga”.

E, para os que não sabem, no Maran­hão não temos “boio­las”, ape­nas “quali­ras” e nen­hum por ter tomado guaraná Jesus.

Abdon Mar­inho é advo­gado.