AS FAKE NEWS E A DEMOCRACIA — CONSIDERAÇÕES INICIAIS.
Por Abdon Marinho.
AQUELES que acompanham meus escritos já sabem que fui apresentado às chamadas “fakes news”, bem antes delas existirem como tais. Aliás, antes mesmo da popularização do próprio termo.
Corria o ano de 1994 quando fomos – eu e o Maranhão inteiro –, apresentados a uma espécie de avô das hoje chamadas “fake news”. Era, ainda, uma fake news analógica, mas, já com potencial altamente destrutivo.
Falo do rumoroso “Caso Reis Pacheco”, que já foi tratado por mim noutras oportunidades, aqui mesmo, neste site.
Farei um resumo em poucas linhas e, os mais interessados, poderão aprofundar no assunto, no site, no meu canal no YouTube ou noutros meios de comunicação.
Em resumo, deu-se o seguinte: o grupo adversário ao senador Cafeteira, candidato ao governo do Maranhão naquele ano de 1994, urdiu uma trama diabólica para destruir sua reputação.
Alguns anos antes de 1994 o conselheiro do Tribunal de Contas, Hilton Rodrigues, sogro de Cafeteira, morrera vítima de um acidente de trânsito, na antiga Estrada da Raposa, nas proximidades do Bairro Araçagy.
O cidadão envolvido no acidente de trânsito que causara morte do sogro do governador, de nome Raimundo Reis Pacheco, mudou-se do estado, para, supostamente, aparecer como um fantasma.
No ano da eleição, um falso irmão dele – criado artificialmente, com identidade, CPF e endereços fictícios –, por nome de Anacleto, “bateu” as portas do Supremo Tribunal Federal– STF, com uma representação criminal gravíssima: acusava um senador da República, Epitácio Cafeteira, de haver “determinado” a morte do seu irmão.
Às vésperas das eleições, faltando pouco mais de uma semana, o senador Sarney, na coluna mantém na capa do jornal que fundou, assinava o texto: “Liberdade e Reis Pacheco”. Nela vendia a “fake news” do falso assassinato, devidamente “calçado” na representação do irmão fake, ao STF.
Com a “fake news” analógica reverberando nos meios de comunicação e na reta final para o segundo turno, os aliados de Cafeteira tiveram que se “virar” para desfazer a mentira, primeiro localizando a mãe de Reis Pacheco na periferia de Belém, que lhes disse jamais ter tido um filho por nome de Anacleto, e, depois, localizando o próprio “morto-vivo”, no Estado do Amapá, que gravou um depoimento segurando o jornal do dia, confirmando que estava vivo.
O material todo, coletado pelo deputado estadual Aderson Lago e Juarez Medeiros, também deputado estadual e candidato a vice-governador na chapa com Cafeteira, chegou a tempo de ser usando-nos último programa eleitoral.
Levado ao ar, aquele último programa, praticamente, só teve audiência na capital. No resto do estado, ou as repetidoras tiveram alguma falha técnica que as tiraram do “ar” justamente no momento em que o programa repunha a verdade e retirava a pecha de assassino do candidato oposicionista; ou eram problemas de falta de energia em vários pontos do estado.
Pelo telefone, única forma de monitoramento disponível naquela época, acompanhava a angústia e tristeza dos aliados de Cafeteira informando que o programa não passara; ou fora cortado; ou faltara energia.
A coligação do candidato ainda tentou junto ao TRE que o programa fosse repetido, mas não obteve êxito. Acredito que o tribunal só julgou o assunto bem depois do pleito.
No meu canal no YouTube tem uma live que fiz com o ex-deputado Aderson Lago onde tratamos deste assunto.
O senador Cafeteira perdeu aquela eleição – muitos sustentam que ganhou –, por uma diferença ínfima de votos, menos de 20 mil sufrágios.
Passados todos estes anos ainda me pergunto se o resultado não teria sido outro sem a farsa do “Caso Reis Pacheco”.
Será que no longínquo 1994 uma fake news decidiu o destino do Maranhão?
Será que a história de tantos milhões de maranhenses não teria sido diferente sem aquela engenhosa fake news analógica?
O Maranhão, o Brasil e o mundo tem um assunto urgente na pauta: o impacto das fakes news nas eleições, nas vidas das pessoas e nas instituições dos países.
Com o advento da internet e o avanço dos técnicas de comunicação e manipulação de dados, até mesmo da voz e imagem das pessoas, uma mentira ganha vida e provoca estragos antes mesmo da vítima saber o o está acontecendo.
As mentiras e manipulações de informações podem criar aversões e empatias, determinando, o resultado de eleições.
Como as democracias vão se proteger dos efeitos das fake news?
Como impedir que os resultados das eleições possam ser manipulados por espertalhões, por forças políticas e por governos estrangeiros?
A discussão alcança, ainda, o impacto das fake news na vida das pessoas. Os “assassinatos” de reputações são cada vez mais frequentes e comuns.
O Brasil, diariamente, sofre com os ataques de falanges políticas contra suas instituições.
Como iremos compatibilizar liberdade de expressão com os verdadeiros ataques criminosos à honra e a dignidade das pessoas?
Nos próximos textos irei – sem a pretensão de ser o dono da verdade –, expor meu posicionamento a respeito destes temas e outro correlacionados.
Não percam os próximos episódios.
Abdon Marinho é advogado.