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Gov­erno estad­ual faz parce­ria com o crime eleitoral.

Escrito por Abdon Mar­inho


GOVERNO ESTAD­UAL FAZ PARCE­RIA COM O CRIME ELEITORAL.

Por Abdon Marinho.

SOU um declar­ado entu­si­asta do “Pro­grama Rua Digna” do gov­erno estad­ual. Esse entu­si­asmo vem desde antes do pro­grama exi­s­tir. Aliás, vem desde antes o atual gov­erno exi­s­tir.

Desde que come­cei a tra­bal­har pre­stando asses­so­ria aos municí­pios maran­henses que “meto a col­her” no que­sito da urban­iza­ção sug­erindo aos gestores adoção do calça­mento de ruas através dos blo­cos sex­tavado de alta qual­i­dade.

Ao meu sen­tir, muito mel­hor e viáveis para a maio­ria dos nos­sos municí­pios do que as urban­iza­ções feitas em asfalto.

Isso sem con­tar que os municí­pios pode­riam gerar renda com a con­fecção dos blo­cos para os munícipes; a manutenção que é muito mais fácil do que em vias asfal­tadas; e, sem con­tar, que a natureza agradece.

Alguns gestores, com quem tra­bal­hei (e tra­balho), que me ouvi­ram, implan­taram o mod­elo em seus municí­pios. Infe­liz­mente, ainda poucos.

Incom­preen­sivel­mente, a maio­ria ainda pref­ere ado­tar o mod­elo de ruas urban­izadas através do com­bustível fós­sil, mais caro, anti-​ecológico, e que, pouco ou nada de empre­gos, gera nas local­i­dades.

Qual não foi a minha sur­presa ao rece­ber uma série de vídeos nos quais a admin­is­tração munic­i­pal de Paço do Lumiar, municí­pio da região met­ro­pol­i­tana, colo­cava homens e máquinas para impedir o calça­mento de algu­mas ruas, suposta­mente, pelo pro­jeto “Rua Digna”, do gov­erno estadual.

Sur­presa maior por saber que tanto a prefeita em exer­cí­cio do municí­pio – o prefeito tit­u­lar encontra-​se afas­tado do cargo há mais de ano dev­ido a prob­le­mas de saúde –, quanto o gov­er­nador do estado são inte­grantes do mesmo par­tido, o Par­tido Comu­nista do Brasil — PC do B, e, em data recente, o pres­i­dente da agremi­ação no estado, dep­utado fed­eral Már­cio Jerry, estivera hipote­cando apoio à can­di­datura da vice-​prefeita, em exer­cí­cio, ao cargo de prefeita, nas eleições deste ano.

Tudo me pare­ceu bem estranho, inclu­sive, pelo fato de, dias antes, ter rece­bido algu­mas fotografias da “inau­gu­ração: de uma destas ruas por alguns secretários de estado sem a pre­sença da prefeita.

Ini­cial­mente, chamou-​me a atenção o fato da inau­gu­ração con­tar com placa. Sério, não uma placa infor­mando o nome da rua, mas uma placa daque­las típi­cas de inau­gu­rações, com o nome das autori­dades respon­sáveis pela obra, gov­er­nador, secretários, etc. Claro, tinha o nome da rua, tam­bém.

Não me recordo de fato semel­hante. Já vi, no Maran­hão mesmo, autori­dades inau­gu­rando poços arte­sianos, pri­vadas, pin­tura de pré­dio, lança­mento de alguma obra, vi, até, inau­gu­ração de semá­foro e placa de trân­sito, mas, inau­gu­ração de rua naque­les moldes, com dire­ito a plaquinha infor­mando o nome do gov­er­nador e dos secretários, foi a primeira vez.

Pois bem, mas fiquei curioso para saber o motivo da “zanga” da alcaide sub­sti­tuta por conta de uma obra suposta­mente real­izada pelo gov­erno do seu próprio partido.

Con­ver­sei com alguns ami­gos, out­ros ali e desco­bri que estas obras – parece que já pas­sam de cinco –, têm como ben­efi­ciário, eleitoral­mente falando, o adver­sário da prefeita.

Segundo as mes­mas fontes as obras são real­izadas por fun­cionários de suas empre­sas ou de seus par­entes, e, dia após dia, o pré-​candidato e/​ou seus par­entes, visi­tam os ben­efi­ciários infor­mando a todos quem é “o pai da cri­ança” e aprovei­tando pra pedir votos àquela sofrida pop­u­lação.

Este é o motivo da “zanga” da prefeita em exer­cí­cio.

A prefeita, por certo, deve lem­brar muito bem que não é a primeira vez que o gov­erno estad­ual inter­fere em muitos municí­pios para ben­e­fi­ciar seus ali­a­dos políti­cos.

Na eleição ante­rior, que a elegeu como vice-​prefeita de Paço do Lumiar, foram obras e mais de urban­iza­ção, asfal­ta­mento de ruas e até, promessa e dis­tribuição de títu­los de pro­priedade foram usa­dos para ben­e­fi­ciar a ela e ao can­didato a prefeito que acabou se ele­gendo.

O que a prefeita, em exer­cí­cio, deve estran­har é que agora o gov­erno estad­ual lança mão de uma estraté­gia inusi­tada: assumir a pater­nidade de crimes eleitorais – com dire­ito a placa e tudo mais –, em bene­fí­cios de uma can­di­datura adver­sária do par­tido do gov­erno.

Assis­tido a tudo isso de longe, não deixo de perce­ber o quanto essas eleições munic­i­pais serão desafi­ado­ras para a Justiça Eleitoral.

Em plena pan­demia, em todos os can­tos do estado, o que mais ouvi­mos são notí­cias de abu­sos de pré-​candidatos aproveitando-​se das difi­cul­dades do povo para dis­tribuírem benesses em troca de votos.

O exem­plo dos fatos nar­ra­dos acima, em Paço do Lumiar, é algo inédito em matéria de crime eleitoral – e de ousa­dia.

Imag­inem uma can­di­datura que usa o próprio gov­erno estad­ual para come­ter um delito eleitoral, con­forme denun­ci­ado ampla­mente pela prefeita munic­i­pal em exercício?

Em mais de vinte anos como advo­gado eleitoral­ista, acos­tu­mado com todo tipo de crimes e abu­sos em eleições nunca tinha visto algo do tipo.

Ora, se as obras de calça­men­tos estão sendo feitas pelo gov­erno estad­ual, por que este não busca uma parce­ria insti­tu­cional com o municí­pio, de forma plane­jada, trans­par­ente e pública?

Por qual motivo as obras suposta­mente “do estado”, em Paço do Lumiar, estão sendo apro­pri­adas e explo­radas politi­ca­mente por uma can­di­datura de forma tão acin­tosa, a ponto da prefeita do municí­pio colo­car máquinas e segu­ranças para impedi-​las?

Se as obras, na ver­dade, estão sendo real­izadas pelo pré-​candidato, o gov­erno estad­ual está ape­nas servindo de “bar­riga de aluguel” do crime eleitoral? Daí as inusi­tadas pla­cas de inau­gu­ração de ruas, com os nomes dos supos­tos “pés de panos”, assu­mindo a pater­nidade de obras que não são suas, é isso?

O Min­istério Público Eleitoral pre­cisa ficar bem atento para este tipo de coisa.

As eleições munic­i­pais deste ano não podem ser deci­di­das medi­ante o come­ti­mento de crimes eleitorais tão abusivos.

Quando can­di­dat­uras usam obras do estado para “turbinar” suas can­di­dat­uras, como se fos­sem suas; ou quando, o próprio gov­erno estad­ual aceita o papel de “bar­riga de aluguel” para o come­ti­mento de crimes eleitorais, assu­mindo como suas obras que não são suas para ben­e­fi­ciar especi­fi­ca­mente esta ou aquela can­di­datura, é porque a “coisa” já ultra­pas­sou todos os limites.

O Min­istério Público Eleitoral pode­ria aproveitar para inves­ti­gar a razão de, às vésperas das eleições, tan­tos veícu­los apare­cerem “cha­pa­dos” com pro­pa­ganda de deter­mi­na­dos partidos.

Esses pro­pri­etários são fil­i­a­dos a estes par­tidos?

Por qual motivo não sendo, ou, mesmo sendo fil­i­a­dos a out­ros par­tidos, colo­cam a pro­pa­ganda de deter­mi­nada agremi­ação com número da leg­enda em destaque (só lem­brando que será o mesmo número do can­didato), estão recebendo por isso?

Quais os bene­fí­cios? Din­heiro? Com­bustível? Empre­gos?

Ah, pode­ria aproveitar a viagem e inves­ti­gar notí­cias de farta dis­tribuição de mil­hares de ces­tas bási­cas, peixes, mate­r­ial de con­strução, etc.

Voltando as obras de mel­ho­ra­mento das ruas, fato, que dev­ido a par­tic­i­pação do estado, de forma ativa ou pas­siva, mais me chamou a atenção, quero dizer que: se a rua é digna, o crime eleitoral não é.

Fica o alerta e a dica.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Vida de gado

Escrito por Abdon Mar­inho

VIDA DE GADO.

Por Abdon Marinho.

SEM­ANA pas­sada escrevi dois tex­tos. Um dizia que o gov­erno Bol­sonaro acabara, no outro crit­i­cava a pos­tura do gov­erno estad­ual em pro­mover, sem amparo cien­tí­fico o “liberou geral” da econo­mia, sem con­sid­erar o alas­tra­mento da pan­demia pelo inte­rior do estado, a perda de mais de duas mil vidas, o número de óbitos diários acima da casa dos trinta, jus­ti­f­i­cando que não seria “tutor de ninguém e que cada um dev­e­ria cuidar de si”.

Aos dois tex­tos, as reações apaixon­adas típi­cas dos dias atu­ais.

Depois de tan­tos anos não dev­e­ria mais “dá trela”, como dizia lá no meu inte­rior, entre­tanto, não posso deixar de reg­is­trar a pro­funda con­tradição das falanges bol­sonar­is­tas ao recla­marem – com o mesmo dis­curso dos seus adver­sários –, de um texto, ao meu sen­tir, sereno que só passa a per­cepção do autor em relação ao gov­erno atual.

Os ataques desnecessários – porque não me con­vencerão do con­trário –, e con­tra­ditórios, pois falam como máx­ima democrática na liber­dade de expressão, incluindo a defesa da supressão da própria democ­ra­cia brasileira, como é o caso das man­i­fes­tações em defesa de um golpe mil­i­tar, do fechamento do Con­gresso Nacional e Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF (e por exten­são de toda a justiça); de atos insti­tu­cionais como AI-​5, que suprimiu as liber­dades indi­vid­u­ais dos cidadãos, e ao mesmo tempo são refratários à liber­dade de expressão quando esta é para criticar o gov­erno que defen­dem.

Quer dizer que a liber­dade de expressão que alberga até a defesa do fim da liber­dade não serve para que se defenda ideias difer­entes ou con­trárias às suas ideias?

Não, não acho razoável – e jamais acharei –, que em nome de uma suposta liber­dade se defenda a implan­tação de uma ditadura, o fechamento das insti­tu­ições próprias da democ­ra­cia ou se suprima as liber­dades indi­vid­u­ais.

Acho menos razoável, ainda, que um pres­i­dente da República incen­tive, direta ou indi­re­ta­mente, por ação ou omis­são, este tipo de movi­mento.

A tola con­ceitu­ação de que exis­tem “ditadura boa” é, aliás, o que os iguala mais, ainda, às ideias que dizem com­bater: o tal comu­nismo.

Colo­cam o “comu­nismo” como se este estivesse enfron­hado nas insti­tu­ições do país e perseguindo os novos “cav­aleiros” das liber­dades nacionais.

Os defen­sores do comu­nismo, a mil­itân­cia de base – pois os diri­gentes comu­nistas em todos lugares do mundo e em todos os tem­pos sem­pre quis­eram “se darem bem” –, foram for­jadas, tam­bém, no falso con­ceito de que as ditaduras comu­nistas “eram do bem”.

Para estes, a dire­ita cor­rupta e per­versa pas­sam os dias a tra­mar con­tra a classe tra­bal­hadora sendo necessário uma “ditadura do bem” para lib­er­tar o povo.

Assim, tam­bém, os foram out­ros dois movi­men­tos hedion­dos da história recente da humanidade: o fas­cismo e o nazismo. Este último quase con­seguindo o seu intento de impor uma ditadura em uma grande parte do globo ter­restre, mas, ainda cau­sando sofri­mento e mortes a mil­hões de pes­soas.

A história mostra que mil­hões de alemães “do bem”, defendiam e idol­a­travam os líderes nazis­tas e a sua ditadura “restau­radora”.

O mesmo acon­te­cendo com mil­hões de ital­ianos “do bem”.

Só foram perce­ber seus equívo­cos no final ou reta final da Segunda Guerra Mundial.

Os ver­dadeiros democ­ratas – por mais que os extrem­is­tas digam o con­trário –, são con­scientes que não existe ditadura boa, ou do bem.

Não bas­tassem os exem­p­los históri­cos, os tristes exem­p­los dos regimes autoritários que teimam em sobre­viver, estão aí para com­pro­var o que digo.

Os soluços autoritários, ven­ham de onde vierem, pre­cisam ser com­bat­i­dos no nasce­douro.

Foi isso que disse uma pesquisa recente da Folha de São Paulo, que apon­tou que quase oitenta por cento da pop­u­lação brasileira é con­tra a ditadura.

Nunca o índice dos que apoiam a democ­ra­cia, desde 1988, foi tão ele­vado, o que con­firma aquilo que já nos dizia Ulysses Guimarães por ocasião da pro­mul­gação da Con­sti­tu­ição: “o povo brasileiro tem ódio e nojo de ditadura”.

O recado não pode­ria ser mais claro e dev­e­ria nortear a con­duta do atual gov­erno. Ou seja, defender a democ­ra­cia é condição essen­cial para gov­ernar.

Noutra palavras, não sabe brin­car, não desce para o play.

Nada nos vale qual­quer sucesso ou “mila­gre econômico” como pre­gavam os mil­itares ainda durante a ditadura, sem o respeito às insti­tu­ições repub­li­canas e a democ­ra­cia.

O povo brasileiro não deseja e jamais vai defender uma ditadura, seja ela de “dire­ita” ou de “esquerda”, ainda que seus “mil­i­tantes” digam, dia após dia, que exis­tem ditaduras boas.

Desde sem­pre que a minha pauta é defesa da democ­ra­cia e dos seus val­ores; que me coloco con­tra o pés­simo hábito das lid­er­anças tratar o povo como gado, inca­paz de for­mu­lar seus próprios con­ceitos.

Faço isso a vida inteira. Já no movi­mento estu­dan­til, em mea­dos dos anos oitenta, com o surg­i­mento do pluri­par­tidarismo e as diver­sas cor­rentes defend­endo os regimes total­itários da esquerda ou da dire­ita me colo­cava con­tra.

O mesmo com­por­ta­mento durante o movi­mento uni­ver­sitário.

Já naque­les anos, mea­dos dos anos noventa e iní­cio dos anos dois mil, muito antes das redes soci­ais, já assumia pub­li­ca­mente min­has ideias e as exter­nava, nos fóruns de debates ou por out­ros meios.

Naquele tempo as “redes soci­ais” eram os pro­gra­mas matuti­nos de rádio.

Um dos mais req­ui­si­ta­dos era o do saudoso jor­nal­ista Roberto Fer­nan­des, na Rádio Edu­cadora Rural do Maran­hão, para lá, quase toda sem­ana, lig­ava para expor min­has posições sobre os temas políti­cos comu­nitários, crit­i­cava prefeito, gov­er­nador, dep­uta­dos, ministros.

Depois veio a par­tic­i­pação em pro­gra­mas de rádio e de tele­visão, através de entre­vis­tas.

Nunca me furtei a assumir minha posição ou de dizer o que pen­sava a respeito dos mais vari­a­dos temas ou governos.

Quando crit­i­cava os gov­er­nos do grupo Sar­ney, pelos adu­ladores destes, era chamado de esquerdista; quando crit­i­cava os gov­er­nos da esquerda, era chamado de dire­itista.

Nos últi­mos trinta anos tem sido assim.

Quando critico os gov­er­nos ditos de esquerda sou chamado de dire­itista; quando crítico os da dire­ita, sou chamado de esquerdista.

As crítica, geral­mente, partem das “bases”, daque­les que querem “mostrar serviço” ou adu­lar os chefes.

Os líderes, salvo uma ou outra exceção, sequer me con­hece, já a mil­itân­cia insana e des­ocu­pada, nem chega a ler ou a for­mu­lar uma con­vicção sobre qual­quer coisa, já lança os ataques pelo título do texto.

Com o advento da aces­si­bil­i­dade a comu­ni­cação social através das redes soci­ais, blogues, sites, resolvi escr­ever min­has ideias.

Fora os tex­tos que se perderam numa ou outra mudança de prove­dor, no meu site, hoje tem quase mil tex­tos, onde falo de tudo – e de todos.

Nunca tive medo ou a neces­si­dade de escon­der atrás do anon­i­mato.

Desde o tempo que lig­ava para as emis­so­ras de rádio até hoje sem­pre assumi min­has posições. Meus tex­tos, para que ninguém tenha dúvi­das quanto à auto­ria, assino-​os no iní­cio e no final. Não temo patrul­hamen­tos – nunca os temi.

Quando, no iní­cio, disse que nem dev­e­ria “dá trela” as tolices que muitos dizem nas redes soci­ais ou mesmo em comen­tários pri­va­dos, é porque isso vem de longe.

Mas, vez por outra, é impor­tante assen­tar algu­mas ver­dades bási­cas para que os mil­i­tantes, ao menos, ten­ham o tra­balho de fazer alguma pesquisa e apren­dam a sep­a­rar o joio do trigo.

Ah, o título do texto é só uma justa hom­e­nagem a uma linda música do grande can­tor brasileiro Zé Ramalho, nada a ver com a insanidade dos mil­i­tantes de lado a lado que pas­sam os dias se diglad­iando nas ruas, nas Redes Soci­ais e nos gru­pos de What­sApp.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Sem cov­eiro e sem tutor é cada um por si, ainda bem.

Escrito por Abdon Mar­inho

SEM COV­EIRO E SEM TUTOR É CADA UM POR SI, AINDA BEM.

Por Abdon Marinho.

O GOV­ER­NADOR do estado, sen­hor Flávio Dino (PCdoB), anun­ciou por estes dias, em entre­vista cole­tiva, a flex­i­bi­liza­ção das regras de iso­la­mento social por conta da pan­demia do novo coro­n­avírus.

Ques­tion­ado se não seria pre­cip­i­tada a flex­i­bi­liza­ção, em face do aumento de casos, e como se daria a fis­cal­iza­ção dos serviços autor­iza­dos a fun­cionar, segundo a imprensa local, saiu-​se como esta: “ — É uma decisão de cada um. Eu tam­bém não sou tutor de todas as pes­soas, não me cabe isso. Eu sou gov­er­nador do Maranhão”.

Não posso deixar de reg­is­trar que trata-​se de uma resposta bem assemel­hada às man­i­fes­tações do sen­hor Bol­sonaro, pres­i­dente da República, e que, politi­ca­mente, encontra-​se, em tese, no espec­tro político oposto ao do gov­er­nador, como este faz questão de ressaltar sem­pre, colocando-​se, aliás, como uma espé­cie de antípoda do primeiro.

É dizer-​se, o Flávio é Dino, não é Bol­sonaro, muito emb­ora nas práti­cas e nos dis­cur­sos de ambos encon­tremos muito mais con­vergên­cias do que divergên­cias

Logo no iní­cio da pan­demia, acred­ito que quando atingi­mos a casa dos mil óbitos deb­ita­dos à covid-​19, talvez um pouco mais disso, respon­dendo a um pop­u­lar sobre este fato, o pres­i­dente da República, saiu-​se com esta: “— Sei lá, pô, eu não sou cov­eiro”. Isso, dito lit­eral­mente, ou algo bem assemel­hado.

Agora é a vez do gov­er­nador, talvez imi­tando o presidente/​desafeto, dizer que não é tutor de ninguém, e sim, gov­er­nador.

Na mesma cole­tiva sua excelên­cia, ainda pon­tuou: — “Não serei eu que direi para uma pes­soa ir ou não ir a um restau­rante ou a um bar, mas a minha mãe, que tem 82 anos, não irá. Pedi a ela. Meu pai, que tem 88 anos, tam­bém não irá. Con­ver­sei com ele”, e ainda: “— Então, é pre­ciso que cada um cuide de sI”.

A nova posição do gov­er­nador Dino, no trata­mento a ser dis­pen­sado à pan­demia, é mais con­ver­gente do que diver­gente à posição do pres­i­dente Bol­sonaro, e é diame­tral­mente oposta ao que vinha pre­gando e prat­i­cando deste o iní­cio da pandemia.

Como a pan­demia no Brasil ainda não tem seis meses, a primeira morte reg­istrada atribuída à covid-​19 data do dia 12/​03, é pos­sível con­ferir as mudanças de comportamentos.

Antes do reg­istro do primeiro caso de infecção no estado, o que só foi acon­te­cer no dia 20 de março, segundo o próprio gov­er­nador anun­ciou nas suas redes soci­ais, o gov­erno já vinha ori­en­tando pelo dis­tan­ci­a­mento social, com a com­pro­vação do primeiro caso, no dia 21 de março o gov­er­nador foi para os meios de comu­ni­cação infor­mar que estava baixando diver­sos atos proibindo as ativi­dades econômi­cas no estado e impondo dis­tan­ci­a­mento social.

Naquela opor­tu­nidade – antes do reg­istro do primeiro caso no estado e nos esta­dos viz­in­hos –, ques­tion­ava se as medi­das necessárias não estavam sendo pre­cip­i­tadas e cobrava transparên­cia do gov­erno no com­bate à pandemia.

A argu­men­tação é a mesma que trago até hoje: o dis­tan­ci­a­mento social é o remé­dio mais efi­caz, mas pre­cisa ser ado­tado no momento certo e pelo tempo certo, sob pena das pes­soas relaxarem ou não terem como ficarem con­fi­nadas por um tempo muito longo.

Mais, que era necessário o máx­imo de transparên­cia para que as pes­soas con­fi­assem nas recomen­dações das autori­dades.

Como por aqui a pan­demia foi tratada como parte de uma estraté­gia política do gov­er­nador para se rivalizar com o pres­i­dente da República, não vimos nem uma coisa nem outra.

As regras de iso­la­mento social não foram cumpri­das como dev­e­riam, nem na cap­i­tal nem no inte­rior, tanto assim que desde o iní­cio do alas­tra­mento da pan­demia, o estado “está bem posi­cionado”, tanto no número de óbitos, quando no de con­t­a­m­i­na­dos. Sem­pre ali na sexta ou sétima posição.

Out­ros esta­dos, como Piauí e Tocan­tins, com quem faze­mos fron­teira, reg­is­tam números bem mais favoráveis que os nos­sos.

De igual modo, diver­sos out­ros esta­dos, como Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, entre outros.

A transparên­cia, jun­ta­mente com a explo­ração política da des­graça, foram out­ros fatores sem­pre ques­tion­a­dos.

Logo no iní­cio da pan­demia o gov­er­nador, seus ali­a­dos e adu­ladores, se ocu­pavam em con­tar os óbitos para atribuí-​los ao pres­i­dente da República, chegando a dizer, certa feita, que no dia seguinte aman­hece­riam na porta do palá­cio 300 mor­tos, enquanto o pres­i­dente nada fazia.

Os mor­tos começaram a aman­hecer nas por­tas dos palá­cios. Não ape­nas na porta do palá­cio pres­i­den­cial, mas, tam­bém, nos palá­cios dos gov­er­nos estad­u­ais.

Enquanto escrevo este texto já são mais 57 mil mor­tos, mais de um mil­hão e trezen­tos mil pes­soas infec­tadas, e o Brasil já é, há algum tempo, o epi­cen­tro da pan­demia.

Só no Maran­hão já são 2 mil mor­tos e mais de 80 mil infec­ta­dos. A taxa de mor­tal­i­dade diária, há sem­anas, girando na casa dos 35 mor­tos.

Vejam os sen­hores que quando não tín­hamos um único caso, só fomos reg­is­trar o primeiro em 20 de março, como já dito, mas inter­es­sava ao gov­er­nador ali­men­tar a guerra política con­tra o pres­i­dente, foram divul­gadas diver­sas medi­das de restrições para a pop­u­lação, e agora, com os mor­tos que se acu­mu­lam nos leões, já chegando ao ater­rador número de 2 mil e o de infec­ta­dos se aprox­i­mando de cem mil, sua excelên­cia, vem a público dizer não é tutor de ninguém e que cada um que cuide de si, enquanto adota um mod­elo de “liberou geral” das diver­sas ativi­dades econômi­cas.

Quer dizer que era mais fácil nos “con­t­a­m­i­n­ar­mos” pelo novo coro­n­avírus quando não tinha um único caso no estado do que agora, quando cam­in­hamos rápido para a casa dos cem mil? Ou será que as medi­das ado­tadas no iní­cio da pan­demia, sem um caso, sem um morto, tin­ham o condão de servir de instru­mento para explosão política? Ou será que se pre­cip­i­taram fiz­eram tudo antes da hora, de forma ata­bal­hoada e agora, com todos riscos que a pop­u­lação corre, não têm como “segu­rar” a pressão dos empresários e entrega a respon­s­abil­i­dade ao “cada um cuida de si”?

Ape­nas para reg­isto, com o número de mor­tos e infec­ta­dos atingindo pata­mares ele­va­dos, a exem­plo do pres­i­dente da República, não me recordo de uma nota de pesar ou um decreto de luto ofi­cial baix­ado pelo gov­erno – talvez tenha acon­te­cido e não vi –, como se os úni­cos mor­tos que inter­es­sas­sem fos­sem aque­les que serviriam naquele momento à guerra eleitor­eira.

Como podemos con­statar, os opos­tos de tanto se atraírem acabam por con­ver­girem, como agora pare­cem comungar o gov­er­nador Flávio Dino com o pres­i­dente Jair Bol­sonaro.

Tenho visto out­ros esta­dos, out­ras cidades que reg­is­tram menos casos que o Maran­hão, diante do aumento de casos, tomarem medi­das mais rígi­das para as nor­mas de iso­la­mento social, como por exem­plo, Minas Gerais e a região met­ro­pol­i­tana de Belo Horizonte.

Emb­ora a cap­i­tal do estado do Maran­hão tenha reg­istrado um decréscimo no número de infec­ta­dos e mor­tos, no inte­rior do estado existe um cresci­mento acen­tu­ado, reg­is­trando mais de mil novos casos de infec­ta­dos por dia.

Na hora que o gov­er­nador do estado “lava as mãos” e diz que “cada um cuida de si”, o inte­rior do estado, cuja respon­s­abil­i­dade pelo con­t­role da pan­demia foi entregue aos prefeitos, não terá como con­tro­lar a pressão para que tudo volte ao “nor­mal”.

Ora, se o gov­er­nador “liberou” qual é o prefeito que terá “força” para man­ter medi­das necessárias de iso­la­mento às vésperas de eleições municipais?

Emb­ora torcendo para estar errado, temo que muitas famílias ainda perderão seus entes queri­dos antes desta tragé­dia se dis­si­par do nosso estado e do Brasil.

E, neste quadro dan­tesco, esta­mos sem cov­eiro – como disse o pres­i­dente –, e sem tutor, cada um cuidando de si – como disse o gov­er­nador –, mas como diria, diante da tragé­dia, o ex-​presidente Lula, ainda bem.

Abdon Mar­inho é advo­gado.