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A guerra dos insensatos.

Escrito por Abdon Mar­inho

A GUERRA DOS INSENSATOS.

Por Abdon Marinho.

CHAMAVA-​SE Gec­i­mon Pereira, com pouco mais de cinquenta anos, foi meu amigo de infân­cia na cidade Gonçalves Dias no iní­cio dos anos oitenta. Estu­damos jun­tos parte do primário e parte do giná­sio, era assim que denomi­navam não época os primeiros anos de ensino que ia até a quarta série e os anos finais do ensino básico, de quinta a oitava série. Com out­ros cole­gas descíamos jun­tos logo cedo para a Unidade Castelo Branco e à noite para Colé­gio Ban­deirantes – ambos no mesmo pré­dio, local­izado na Praça Miguel Bahury. Muitas vezes, na parte da manhã ou da tarde, ficava comigo no comér­cio que meu pai mon­tara na rua detrás para eu tomar conta.

Eram os anos oitenta de muita efer­vescên­cia, angús­tia e esperança.

Na noite de quinta-​feira, 10 de dezem­bro, meu sobrinho manda uma men­sagem pelo What­sApp que mais pare­cia um telegrama: — oi tio, boa noite! Esqueci de lhe avisar mais cedo. Mas o seu amigo Gec­i­mon fale­ceu hoje. COVID. Estão esperando o corpo para fazer o sepul­ta­mento. Infe­liz­mente o dia dele chegou. Muito triste.

Antes mesmo que tivesse tempo de dizer alguma coisa já com­ple­tou: “— a cidade está comovida. Todos estão subindo para a estrada do Cen­tro Novo para esperar o corpo dele”.

Foi assim que tomei con­hec­i­mento da perda de mais uma vida, mais um amigo, mais um con­hecido, mais um ser humano, para a maldita pan­demia. Desta vez de um muito querido amigo.

No dia seguinte a con­tagem ofi­cial de mor­tos apon­tava para uma assom­brosa soma supe­rior a 180 mil vidas per­di­das.

Como que guia­dos por cegos em meio à tem­pes­tade, a tragé­dia que toma conta do país já era anun­ci­ada desde antes de começar.

Enquanto em todos os demais países do mundo a gestão da pan­demia foi tratada como uma questão de estado – a exceção é os Esta­dos Unidos, cujo pres­i­dente é a inspi­ração para o daqui, e, por isso mesmo, amarga sua pior tragé­dia human­itária em tem­pos recentes, com mais de 300 mil mor­tos –, no Brasil virou moeda de troca de um dis­curso idi­o­ti­zado e ide­ol­o­gizado em uma guerra sem fim que per­dura até hoje.

Por razões que ainda descon­hece­mos, mas que pouco ou nada, teve de inter­venção estatal, a taxa de mor­tal­i­dade por mil­hão de pes­soas ocupa uma posição inter­mediária, o que, usurpando méri­tos que não são seus, ven­dem com êxito no com­bate à pan­demia.

Mentem como estão cer­tos que o sol bril­hará no dia seguinte.

O certo é que o Brasil não pos­suiu um plano de enfrenta­mento da pan­demia; não pos­sui um plano de pro­dução de vacina e não pos­sui, nem mesmo, uma estraté­gia de imu­niza­ção em massa, muito emb­ora o nosso sis­tema por quase meio século tenha se desta­cado em todo mundo.

A pos­tura do gov­erno fed­eral que var­iou desde ao “é uma gripez­inha” ao “não somos um país de mar­i­cas” tem cole­cionado tra­pal­hadas cul­mi­nando com a “anun­ci­ação” da parte do pres­i­dente de que pan­demia “está no fim” quando teste­munhamos o aumento sub­stan­cial na média de mor­tos.

E não é só isso. Enquanto gov­er­nos de out­ros países começam a vis­lum­brar uma luz no fim do túnel por conta da vaci­nação, o Brasil não tem nem per­spec­tiva quando ire­mos começar a vaci­nar a pop­u­lação.

A razão disso é que o gov­erno “fez pouco caso” da neces­si­dade da vaci­nação. Esta, aliás, uma can­tilena do pres­i­dente, seja desmere­cendo as vaci­nas, seja colo­cando em dúvida sua eficá­cia, seja incutindo não cabeça das pes­soas que as vaci­nas pos­sam trazer efeitos colat­erais danosos.

Do dis­curso ordinário à prática é um pulo.

O país não cele­brou con­tratos visando a aquisição de vaci­nas em grandes quan­ti­dades nos lab­o­ratórios de sua prefer­ên­cia e, como resul­tado, esta­mos no “fim da fila”.

Mesmo o acordo da aliança global para pro­dução de vacina, da qual o país é sig­natário, optou-​se por uma cota mín­ima de aquisição.

O resul­tado do com­por­ta­mento refratário do gov­erno fed­eral é que os brasileiros estão como cachor­ros em porta de gale­te­ria: assistindo com “água na boca” os out­ros se vacinarem.

O pior de tudo isso é que o gov­erno sabe que tem feito lam­bança.

Tanto que tenta cor­rer “atrás do pre­juízo” ao saber que o gov­erno do Estado de São Paulo poderá ini­ciar a vaci­nação dos seus cidadãos já no dia 25 de janeiro do próx­imo ano – caso a vacina que está sendo pro­duzida pelo Insti­tuto Butantã em parce­ria com a empresa chi­nesa Sino­vac seja aprovada pela Anvisa ou por algu­mas das agên­cias estrangeiras, nos ter­mos do que dis­põe a leg­is­lação que rege o assunto.

Bas­tou o gov­erno paulista anun­ciar a intenção de começar a vaci­nação que o gov­erno fed­eral lembrou-​se que “tem que haver um plano nacional de vaci­nação” e que não “pode haver trata­mento dis­tinto entre brasileiros”. E, por fim, segundo o gov­er­nador de Goiás, Ronaldo Caiado, o min­istro interino da Saúde, lhe teria “con­fi­den­ci­ado” a intenção de “con­fis­car” a pro­dução de vacina do Butantã – a infor­mação é que con­fis­caria qual­quer vacina pro­duzida ou adquirida pelos esta­dos –, para aplica-​la den­tro da “estraté­gia nacional de vacinação”.

Ora, me parece óbvio que todos os brasileiros devem ser vaci­na­dos den­tro de uma estraté­gia nacional, na ordem de pri­or­i­dade que se esta­b­elece para estas situ­ações. Entre­tanto, foi o próprio gov­erno fed­eral que, primeiro disse que iria adquirir as vaci­nas e depois “des­disse” gerando toda essa polêmica.

O próprio pres­i­dente, con­forme relata­mos aqui em um texto ante­rior, teria “vibrado” com o suposto insucesso da vacina que estaria sendo tes­tada pelo con­sór­cio Butantã/​Sinovac, igno­rando, inclu­sive, a perda de uma vida humana envolvida no acon­te­cido, que nada tinha com a vacina em si. Isso se deu no dia em que falou da China, declarou “guerra” aos Esta­dos Unidos e chamou os brasileiros de “mar­i­cas”.

O próprio pres­i­dente – e seus seguidores, acred­ito que por moti­vações ide­ológ­i­cas, emb­ora acred­ite que não saiba o que é isso –, faz cam­panha aberta con­tra a vaci­nação e, em par­tic­u­lar, con­tra a vacina pro­duzida pelo con­sór­cio Butantã/​Sinovac.

Aí, na hora que é anun­ci­ada a pro­dução de vacina em larga escala e se apre­senta uma data para começar a vaci­nação, o gov­erno fed­eral vem falar em “estraté­gia nacional” e até em con­fisco? Quer dizer que agora querem a “vacina chi­nesa”? Ou falam em con­fisco para que ninguém seja vacinado?

Se o gov­erno fed­eral é esse desas­tre que esta­mos teste­munhando, os gov­er­nos estad­u­ais não ficam muito atrás na con­dução da pandemia.

Vejamos o caso do gov­erno paulista – que por sua relevân­cia econômica e porque parece ser ser o mais avançado nas estraté­gias de com­bate à pan­demia, inclu­sive com o anún­cio de vaci­nação para janeiro próx­imo –, o mundo começava a viven­ciar uma segunda onda da molés­tia, os téc­ni­cos infor­mam que avis­aram o gov­erno estad­ual da neces­si­dade de medi­das de dis­tan­ci­a­mento social, mas o gov­erno, por con­veniên­cia política, só foi anun­ciar quais­quer medi­das no dia seguinte após o segundo turno das eleições.

Medi­das que pode­riam sal­var vidas.

Vejamos, tam­bém, o caso do gov­erno maran­hense.

O gov­er­nador do estado se tornou uma espé­cie de “falador-​geral da República”. Volta e meia, dia sim e no outro tam­bém, lá está sua excelên­cia fusti­gando o gov­erno fed­eral por conta de sua inação no trato da pan­demia.

Sua excelên­cia, tam­bém, sabia que uma “segunda onda” se aprox­i­mava, todo mundo falava disso, mas o gov­erno estad­ual nada fez.

Durante a cam­panha eleitoral, muito emb­ora não tenha ido aos comí­cios de seus ali­a­dos, dele­gou tal mis­são aos secretários, inclu­sive o de saúde, para par­tic­i­parem de even­tos com aglom­er­ações, enquanto par­tic­i­pava, dev­i­da­mente “guardado” de con­tá­gios, através de video­con­fer­ên­cia.

Mas, o mais grave estava por vir. Pas­sa­dos mais de um mês desde que a pop­u­lação da cap­i­tal foi infor­mada que o “can­didato do gov­er­nador” fez cam­panha por, pelo menos, seis dias se sabendo con­t­a­m­i­nado – e colo­cando em risco a vida das pes­soas –, o gov­er­nador que tanto se diz pre­ocu­pado com a saúde do povo, não deu uma expli­cação sobre fato tão grave.

Aliás, deu, fechadas as urnas do primeiro turno das eleições, o gov­er­nador fez questão de assumir a can­di­datura do “suposto crim­i­noso” como se sua fosse; per­mi­tiu que usasse seu nome para con­vo­car aglom­er­ações; saudou pelas redes soci­ais, pelo menos, um evento de tal porte; e “passeou” pela praça com o can­didato, depois que ele apre­sen­tou o ates­tado de sanidade, exter­nando que aquele era o “seu” can­didato; e, finda as eleições munic­i­pais, com a der­rota do mesmo e ante a pos­si­bil­i­dade vir ser “cas­sado” pela Assem­bleia, cogita dar-​lhe abrigo no Poder Executivo.

Con­ver­sando com os meus botões sem­pre indago: será que gov­er­nador não se acha deve­dor de uma expli­cação à patuleia?

O silên­cio do gov­er­nador e suas ações em favor de um suposto crim­i­noso, eleva a outro pata­mar a máx­ima de “que o crime compensa”.

Emb­ora respei­tando a gradação de respon­s­abil­i­dades, con­fesso que não con­sigo enx­er­gar muita difer­ença entre os com­por­ta­men­tos das autori­dades fed­erais e estad­u­ais.

Usando uma expressão do meu saudoso pai, o que temos “são os sujos falando dos mal lavados”.

Enquanto isso, as famílias e ami­gos pran­teiam suas perdas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

É ensur­de­ce­dor o silên­cio que vem lá do Rangedor.

Escrito por Abdon Mar­inho

É ENSUR­DE­CE­DOR O SILÊN­CIO QUE VEM DO RANGE­DOR.

Por Abdon Mar­inho.

CERTA vez vi uma not­inha, emb­ora séria, escon­dida em uma col­una de fofoca. Insin­u­ava que um dep­utado estad­ual suposta­mente tendo ingerido bebida, medica­men­tos ou out­ras dro­gas, fora apan­hado pela polí­cia que, ao invés de levá-​lo para “des­cansar” em uma cela, fez foi servir-​lhe de motorista e conduzi-​lo até sua casa, com dire­ito a segu­rança pri­vada for­mada por bate­dores da corporação.

O nar­rador do fato, tratou-​o com incon­tido humor.

Tem­pos depois, tam­bém, de forma enviesada tomamos con­hec­i­mento que uma outra excelên­cia cul­ti­vava o hábito de pas­sar a roupa da esposa com ela dentro.

Zumbidos daqui ou dali, de certo que o par­la­men­tar acabou por ter­mi­nar o mandato sem ser impor­tu­nado.

Quem parece não ter gostado muito da história foi a pat­uleia que o reprovou nas urnas na eleição seguinte.

Não muito dis­tante deste período tomamos con­hec­i­mento de um outro fato igual­mente per­tur­bador, aquele par­la­men­tar da primeira história deste texto, envolveu-​se em idên­tica situ­ação em um estado viz­inho, que acabou detendo-​o, se não me falha a memória, por desacato e/​ou ameaças diver­sas aos agentes da lei que cumpri­ram com o seu dever.

Mais grave que a mon­u­men­tal con­fusão na qual envolveu-​se a excelên­cia, foram as palavras que teria pro­ferido, segundo diver­sos veícu­los de comu­ni­cação.

Teria dito (ou con­fes­sado) sua excelên­cia: “Vocês são polí­cia, né? A gente mata gente”. Mais: “Eu sou, eu sou mais que tu. Eu sou dep­utado, e sou rico. Vou man­dar te matar, vagabundo. Vou te pegar, eu te mato. Sou filho do ****. Per­gunta quem é ****. Eu vou te matar. Vou man­dar te matar”. E ainda: “Tá morto ele. Per­gunta quem é ****. Esse cara tá morto”, completou.

Tratei deste assunto no texto “Um bode invisível na Alema”.

Ape­sar da gravi­dade da situ­ação e, sobre­tudo, das declar­ações “dadas” por sua excelên­cia – ainda que diga que quem as pro­feriu foi o Mr. Walker, John­nie Walker –, nada lhe acon­te­ceu. Uma con­fis­são pública de que seria depen­dente químico foi o sufi­ciente para arrefe­cer, se por­ven­tura ocor­reu, qual­quer sen­ti­mento de resposta à sociedade por parte dos seus cole­gas de par­la­mento.

É fato que a dependên­cia química é uma doença que merece, e pre­cisa, ser tratada. Entre­tanto, se o par­la­men­tar, legí­timo rep­re­sen­tante do povo que­ria mesmo a expi­ação de sua culpa dev­e­ria bus­car o trata­mento clínico ade­quado.

Noutra quadra, o que disse, sobre a “tradição” de matar gente, dele e da família, não pode­ria ter pas­sado em bran­cas nuvens. Passou.

Ao invés de repri­menda ou, pelo menos inves­ti­gação, o que vimos foi o par­la­men­tar “tirar onda” com a ban­deira da pre­venção à dependên­cia química e estam­par outdoor’s e busdoor’s por toda a cidade com sua foto e suposta ini­cia­tiva. Tudo, obvi­a­mente, pagos com recur­sos dos nos­sos impos­tos.

Trata­mento às maze­las da doença que dev­e­ria com­bater, não se sabe se bus­cou, tanto que, mais uma vez, se ouve buchi­cho de que envolveu-​se em um grave episó­dio de vio­lên­cia domés­tica, tendo sido, inclu­sive, proibido de aproximar-​se da(s) vítima(s). A famosa medida pro­te­tiva pre­vista na Lei Maria da Penha.

Como disse, são “buchi­chos”, uma vez que a imprensa local, ape­sar do assunto envolver o inter­esse público, trata o assunto como algo extrema­mente pri­vado.

Não me recor­dando, sequer de ter lido ou visto em algum canal de rádio, tele­visão ou mesmo nos grandes jor­nais nada sobre assunto.

Em sendo ver­dade, alcança-​nos a exdrúx­ula situ­ação de ter­mos um par­la­men­tar que não pode “chegar perto” da esposa ou dos fil­hos, mas que pode fazer leis de inter­esse de toda a sociedade, fis­calizar os atos do Poder Exec­u­tivo e gozar de todas as benesses que lhe con­fere o con­fere o mandato par­la­men­tar.

Pois bem, faço esse breve ret­ro­specto – inclu­sive deixando de citar as out­ras infor­mações que nos chagam sobre nepo­tismo, favorec­i­mento, rachad­in­has, ven­das de emen­das par­la­mentares, agio­tagem, etcetera, porque tais “notí­cias” são “vel­has” e, parece-​me, nunca des­per­taram o inter­esse da imprensa ou mesmo dos eleitores, tanto que sem­pre ou quase sem­pre, elegem os mes­mos de sem­pre –, porque li em algum lugar que deter­mi­nado dep­utado estad­ual que dis­putou a eleição na cap­i­tal tenta uma vaga no Poder Exec­u­tivo, suposta­mente, por temer, um processo de cas­sação na Casa de Manoel Bequimão.

Em sendo ver­dade, sua excelên­cia, deve ter se dado conta, final­mente, da gravi­dade da sua con­duta, ao, suposta­mente, estando con­t­a­m­i­nado pela covid-​19, em plena ascen­são da pan­demia do novo coro­n­avírus, ter per­manecido em cam­panha por diver­sos dias, colo­cando em risco, dezenas ou cen­te­nas, quiçá, mil­hares de vidas humanas, além, claro, de ter desre­speitado decre­tos estad­u­ais que tratam dos pro­ced­i­men­tos a serem ado­ta­dos por conta da pandemia.

Parafrase­ando um antigo filme, é provável que sua excelên­cia saiba o que fez no verão pas­sado.

Pas­sa­dos quase trinta dias desde que fato foi denun­ci­ado, não me recordo de nen­hum posi­ciona­mento ofi­cial da Assem­bleia Leg­isla­tiva sobre o com­por­ta­mento do dep­utado. Nem mesmo para con­fir­mar ou negar o fato divulgado.

Como se o povo, esse con­junto de cidadãos que votam e pagam impos­tos, não tivesse o direto de saber, de fato, o que ocor­reu.

Aliás, como previne o título do texto, a Casa de Bequimão guarda um silên­cio ensur­de­ce­dor.

O que não chega a ser uma novi­dade diante de tan­tos fatos que mal fogem da penum­bra.

O para­doxo da notí­cia é a nar­ra­tiva de que o par­la­men­tar deixaria o cargo por temer a retal­i­ação dos cole­gas. Logo eles que sem­pre foram tão “com­preen­sivos” com tan­tos malfeitos.

Será que final­mente chegaram à con­clusão que passou-​se do ponto?

Em sendo ver­dade, tem-​se que o par­la­men­tar não vai servir ao Poder Exec­u­tivo para con­tribuir com alguma coisa, mas para “homiziar-​se” e fugir de uma rara – e dev­ida –, punição.

Ainda no campo das suposições – como tudo neste texto, já que as infor­mações são sone­gadas, sus­sur­radas –, em sendo com­pro­vado, após reg­u­lar pro­ced­i­mento, que o par­la­men­tar come­teu o delito que lhe é imputado, o mel­hor lugar para fugir de suas respon­s­abil­i­dades e sair ileso é a sinecura per­ante o Poder Exec­u­tivo? A ausên­cia atre­v­ida per­mi­tiria que suas excelên­cias “esque­cessem” o delito praticado?

E, noutra quadra, como o Poder Exec­u­tivo iria (ou irá) fazer para jus­ti­ficar a guar­ida ao infrator? Não foi ele que impôs todo tipo de restrições para impedir que a pan­demia se espal­hasse no Maran­hão? Quan­tos micro e peque­nas empre­sas que­braram por conta das restrições? Quan­tos perderam seus empregos?

Aí, não mais que de repente, um “pro­te­gido” é acu­sado de aten­tar con­tra a saúde da pop­u­lação em plena pan­demia e o mesmo gov­erno que impôs aos cidadãos todas as restrições já lis­tadas, para que o mesmo não seja punido por seus próprios pares, o que faz é premiá-​lo com um cargo de secretário de estado ou algo equiv­a­lente?

E têm cor­agem de nos olhar na cara depois de ter, inclu­sive, colo­cado a polí­cia nas ruas para impedir que saísse­mos de casa sem um motivo justificado?

Vejam onde amar­ramos a nossa égua, não bas­tasse o silên­cio crônico das excelên­cias em relação a tudo, quando há uma pál­ida notí­cia de que alguma coisa final­mente será feita, e por algo efe­ti­va­mente grave e indeco­roso – muito emb­ora todos os out­ros fatos nar­ra­dos sejam de gravi­dade ímpar –, partem para uma “oper­ação” de sal­va­mento do mandato e pre­mi­ação do infrator.

Emb­ora nada mais me sur­preenda, causa-​me estu­por que autori­dades sejam capazes de tais ati­tudes.

É como se nada de grave tivesse ocor­rido, como se tudo fosse nor­mal, como se o respeito ao cidadão fosse algo secundário.

Quem parece ter sido “con­t­a­m­i­nado” pelo silên­cio tam­bém é o nosso val­oroso Min­istério Público. Sobre todos os fatos que rap­i­da­mente nar­rei neste texto e sobre os quais dev­e­ria dizer ou ado­tar alguma providên­cia, ainda que para tran­quil­izar a pat­uleia insana, se disse ou se fez algo é seg­redo tão bem guardado quanto cabelo de freira.

É assim. Que siga o cortejo fúne­bre da ética e da decên­cia, com silên­cio cor­tado pelo rangido das rodas das car­roças.

Abdon Mar­inho é advogado.

A democ­ra­cia venceu. A der­rota tem dono.

Escrito por Abdon Mar­inho

A DEMOC­RA­CIA VENCEU. A DER­ROTA TEM DONO.

Por Abdon Marinho.

DIZEM os mais sábios que eu que se aprende mais com os reveses e difi­cul­dades do que com as vitórias e facil­i­dades. Um outro dito, bem comum, é aquele que diz que mares tran­qui­los não fazem bons mar­in­heiros.

Encer­radas as apu­rações das eleições na cap­i­tal do estado, consagrou-​se a democ­ra­cia, a von­tade livre e sober­ana da pop­u­lação da cidade. Entre­tanto, muito mais do que isso, mostrou aos donos do poder, os novos “dinotários” desta cap­i­ta­nia, que, ainda que pos­sam muito, não podem mais que o povo.

Essa é a lição que, se tiverem sabedo­ria e humil­dade, espero que ten­ham apren­dido.

Na Roma antiga de tan­tas glórias e tan­tos césares, o Senado impôs uma regra aos des­files em se fes­te­javam os tri­un­fos das suas cam­pan­has ao redor do mundo: ao lado do gov­er­nante, enquanto esse saia a “saborear” seus feitos, um cidadão repetia ao seu ouvido, à exaustão “tu és mor­tal” ou “tu és ape­nas um homem”.

O propósito de tal recomen­dação era evi­tar que o gov­er­nante vito­rioso, saudado como um Deus pelo povo, assim se achasse.

Se, no pleito que se encerra, tive­mos a democ­ra­cia como a grande vito­riosa, temos, por outro lado, que a der­rota não está órfã e, mais, que a der­rota tem um dono que é o atual ocu­pante do gabi­nete prin­ci­pal do Palá­cio dos Leões.

O can­didato que ofi­cial­mente con­sta como “não eleito”, no mapa de apu­ração do Tri­bunal Supe­rior Eleitoral — TSE, para onde chegou, pode até se con­sid­erar vito­rioso pois a der­rota não é dele.

Todos que assis­ti­mos e acom­pan­hamos de perto esses últi­mos 15 dias, somos sabedores que houve uma “troca de can­didatos”, o can­didato Duarte Júnior, que ficou em segundo lugar e pas­sou para a etapa seguinte, cedeu lugar ao gov­er­nador Flávio Dino, que assumiu a can­di­datura como se fosse sua e se expôs além do dev­ido.

Desde a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, que per­mi­tiu as eleições nas cap­i­tais a par­tir de 1985, que acom­panho as eleições em São Luís, e não me recordo de uma inter­fer­ên­cia maior da parte do gov­erno estad­ual na eleição da cap­i­tal do que nesta. Nem mesmo naquela primeira eleição, em que o gov­erno estad­ual teve um can­didato cujo slo­gan era “Força Total”.

Naquela eleição, ocor­rida há trinta e cinco anos, “fez-​se de tudo”, mas, ainda assim, chegou foi longe de alcançar o que foi feito nesta e que rogo a Deus, nunca mais se repita.

Se me per­mitem uma ale­go­ria sobre estas eleições, seria como aquela em que temos dois meni­nos brig­ando no recreio da escola e um irmão, bem maior e mais forte, assume lugar daquele que está apanhando.

O gov­er­nador do estado, esse irmão maior, parece ter dito: se afasta que agora é comigo.

Pois é, e apan­hou feio.

Como dizíamos, fazendo um para­lelo com as eleições de 1985, o gov­erno estad­ual ten­tou – e inter­feriu –, no pleito, mas ficou foi longe de colo­car todos os secretários na cam­panha do can­didato, ameaçando, chan­tage­ando, con­strangendo servi­dores públi­cos a aderirem e a fazer cam­panha e, muito menos, que o vice-​governador chamasse os que não estavam na cam­panha de “deser­tores”, que na acepção comum da palavra é “aquele que aban­dona uma causa, um par­tido, uma luta qual­quer do qual era par­tidário ou um dever ou com­pro­misso a que estava afeito ou vin­cu­lado”, e que o próprio gov­er­nador fosse para a “linha de frente” da cam­panha, como se aquela fosse a sua própria eleição.

Sim, vive­mos no Maran­hão, no atual pleito eleitoral, uma situ­ação inédita na nossa história.

Desde que o atual gov­erno se instalou que me per­gunto quem são os con­sel­heiros do gov­er­nador – em diver­sos tex­tos já falei disso –, pois causa-​me espé­cie que ninguém tenha a cor­agem de lhe chamar a atenção para as lou­curas que comete.

O saudoso amigo Wal­ter Rodrigues dizia: — Abdon, lou­curas só são admis­síveis quando feitas por amor, pois o amor tem razões que a própria razão descon­hece. Dizia isso, e caia na gar­gal­hada.

A exceção dos amantes e dos loucos, por serem inim­putáveis, deve­mos agir com racional­i­dade.

Uma eleição na cap­i­tal é uma eleição impor­tante, é fato, mas não tanto assim. Hoje, o eleitorado de São Luís, rep­re­senta menos de 15% (quinze por cento) do eleitorado do estado. Ou seja, não faz nen­hum sen­tido, se pen­sar­mos com racional­i­dade, que o gov­er­nador e, mais grave, o gov­erno, se exponha como se expôs, na dis­puta, a ponto da autori­dade máx­ima estad­ual “chamar para a briga” nas redes soci­ais, o can­didato adver­sário.

Não dev­e­ria ter se envolvido no primeiro turno e, muito menos agora, ter “assum­ido” a cam­panha munic­i­pal no segundo.

Tudo errado desde o começo. E não teve ninguém para dizer que o gov­er­nador do estado se exce­dia.

Tão errado que o gov­er­nador só con­seguiu “levar para apoiar o seu can­didato” os seus depen­dentes, mel­hor dizendo, os secretários “din­ode­pen­dentes”.

Nem mesmo os políti­cos expres­sivos do seu próprio par­tido aten­deram ao chamado; o mesmo acon­te­cendo com os par­tidos da sua base de sus­ten­tação.

Vejam que do tal con­sór­cio, só lem­bro de ter visto aten­dendo a “ordem” do gov­er­nador para apoiar o can­didato “chapa branca”, o can­didato do Par­tido Comu­nista do Brasil — PC do B, e, assim mesmo, um apoio tão esquisito, tendo em vista tudo que o “apoiado” disse dele e da família dele, que acred­ito que o apoio, teve mais efeito con­trário que a favor.

Os demais, aque­les que não se enga­jaram na cam­panha adver­sária, preferi­ram a neu­tral­i­dade.

É ver­dade que o can­didato do gov­er­nador “semeou” estes ven­tos. Mas, mesmo assim, sua excelên­cia, tendo tal des­culpa para “ficar na sua”, fez foi o con­trário, per­doou todos os “malfeitos” do can­didato, e “caiu de cabeça” na cam­panha. Ignorou, até mesmo, a gravís­sima infor­mação de que o can­didato pas­sara, pelo menos, cinco dias fazendo cam­panha quando se sabia con­t­a­m­i­nado pela COVID-​19.

Segundo li, mesmo ami­gos pes­soais, de lon­gas datas, do gov­er­nador, acharam “lamen­tável” a escolha ou pos­tura do gov­er­nante.

Muitos movi­dos pelos próprios inter­esses e out­ros por dever cívico, enten­deram que não podiam aten­der o chamado do gov­er­nador nesta estraté­gia de “tudo ou nada” que ado­tou no segundo turno destas eleições.

Como disse, desde a primeira eleição de cap­i­tal, após a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, em 1985, não tín­hamos notí­cias de um grau tão grande de “inter­venção” do gov­erno estad­ual no pleito.

Esse sen­ti­mento, a com­preen­são de que a ati­tude do gov­er­nador em relação ao pleito era exces­siva e rep­re­sen­tava um retro­cesso às con­quis­tas democráti­cas do país, levou diver­sas pes­soas, inclu­sive, muitas que nunca tiveram qual­quer apreço pelo can­didato que sagrou-​se vito­rioso nas urnas, a lhe hipote­car apoio e sol­i­dariedade.

Uns fiz­eram isso pub­li­ca­mente, out­ros, entre os seus ami­gos e con­heci­dos e, out­ros, sim­ples­mente, votando nele.

Se os exces­sos públi­cos causaram repulsa das pes­soas de bem, criando o efeito “Davi ver­sus Golias”, as infor­mações – que jamais serão provadas –, de que ultra­pas­saram todos os lim­ites para alterar a von­tade do povo, pode ter sido respon­sável pela difer­ença de votos não ter sido mais expres­siva.

Ao agir de forma tão impen­sada – ou por razões que descon­hece­mos –, arrisco dizer que o gov­er­nador “frag­ili­zou” sua posição como lid­er­ança política capaz de alçar voos mais alto, ameaçando, até mesmo, a condição de vir­tual senador eleito, em 2022.

Os “deser­tores” de hoje – que no fri­gir dos ovos, pos­suem mais rep­re­sen­ta­tivi­dade, inclu­sive eleitoral –, pen­sarão duas vezes antes de embar­car numa suposta “can­di­datura nata”, de sua excelên­cia ao senado, vaga que poderá acabar “sobrando” para o atual prefeito da cap­i­tal, que sai do pleito “bem na fita” e sem nen­hum arran­hão.

A iro­nia do dia da eleição ficou por conta de uma postagem de sua excelên­cia dizendo que votou “com muita gratidão aos que enfrentaram e der­ro­taram a ditadura mil­i­tar, devolvendo-​nos o dire­ito de escol­her os nos­sos governantes”.

Acred­ito que os ludovi­censes ao votarem con­tra sua excelên­cia e o seu can­didato estiveram imbuí­dos do mesmo sen­ti­mento das mem­o­ráveis lutas dos anos oitenta con­tra a ditadura.

A democ­ra­cia venceu. A ditadura perdeu nova­mente.

Abdon Mar­inho é advo­gado.