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Fra­cas­samos. O Brasil fra­cas­sou. O Maran­hão fracassou.

Escrito por Abdon Mar­inho

FRACAS­SAMOS. O BRASIL FRA­CAS­SOU. O MARAN­HÃO FRACASSOU.

Por Abdon Marinho.

PODE pare­cer mór­bido – ainda que feito na mel­hor das intenções: orar pelos que par­ti­ram –, mas, quase todos os dias, antes de me recol­her, dou uma última con­ferida no número de infec­ta­dos e mor­tos pelo novo coronavírus.

Con­firo a situ­ação no mundo, através de um aplica­tivo de mon­i­tora­mento, olho a situ­ação nos mais vari­a­dos países, das Améri­cas, da Europa, da Ásia, da Ocea­nia; depois me dedico a situ­ação do Brasil, olhando a situ­ação de cada estado, vejo onde aumen­tou, o quanto aumen­tou, se esta­bi­li­zou – faço isso através do site G1; por fim, exam­ino os números do Maran­hão, olhando o quanto que aumen­tou, as mortes, o alas­tra­mento da pan­demia pelo inte­rior – geral­mente alguém me encam­inha o bole­tim epi­demi­ológico disponi­bi­lizado pelas 21 horas.

Uma das coisas que mais me chama a atenção nas análises, antes mesmo dos números, é a posição da curva de infec­ta­dos.

A do Brasil, com­parada com out­ros países, mesmo aque­les que têm mais casos que nós, parece-​me, assus­ta­do­ra­mente, incli­nada.

O mesmo ocorre com a curva do Maran­hão, e os números con­fir­mam isso, como já dis­se­mos aqui diver­sas vezes.

Em relação aos nos­sos viz­in­hos, que começaram a reg­is­tar casos em datas semel­hantes aos reg­istra­dos por aqui, a situ­ação só encon­tra para­lelo com o Pará.

Já o Brasil, para o des­gosto de todos, tornou-​se uma ameaça san­itária para os viz­in­hos e para o mundo, a ponto de diver­sos países, como, tam­bém, já frisamos aqui, mes­mos quando suas situ­ações eram deses­per­ado­ras, recomen­darem que seus cidadãos deix­as­sem o nosso país o quanto antes.

O fra­casso foi anun­ci­ado desde muito tempo. Fra­cas­samos. O Brasil e o Maran­hão fra­cas­saram na imple­men­tação de políti­cas de com­bate a pan­demia do novo coro­n­avírus.

Cada um a seu modo, mas com resul­ta­dos, no fim das con­tas, idênticos.

As razões do fra­casso estão aí mate­ri­al­izadas nos mil­hares de mor­tos, nas mil­hares de famílias enlutadas.

Estão aí na maior crise econômica que se tem noti­cia – desde sempre.

Estão aí nos mil­hares de empre­gos já per­di­dos e nos que ainda serão per­di­dos ao longo dos próx­i­mos anos, nos seus danos colaterais.

E não é só, a falta de con­fi­a­bil­i­dade nos agentes políti­cos brasileiros na con­dução da crise do coro­n­avírus e na reaber­tura do mer­cado, afu­gen­tará os investi­dores já ress­abi­a­dos com o avanço dos par­tidos fisi­ológi­cos sobre a política econômica do gov­erno.

Tudo isso tornará o nosso fra­casso ainda mais retumbante.

O fra­casso do Brasil no com­bate ao coro­n­avírus e aos seus efeitos deletérios futuros podemos cred­i­tar, em grande parte, à ausên­cia de governo.

A ver­dade seja dita, enquanto o mundo todo se cur­vava a ciên­cia em busca de uma solução para a pan­demia o nosso pres­i­dente fazia pouco caso, gripez­inha, vai con­t­a­m­i­nar mesmo, desaguando, por fim, no “e, daí?”, quando o número de mor­tos chegou a cinco mil, e no anún­cio de chur­rasco – depois trans­for­mado em pas­seio de moto-​aquática –, quando os mor­tos atin­gi­ram a assom­brosa casa dos dez mil.

Ape­nas para reg­istro, o número de mor­tos nesta pan­demia é muito supe­rior a todas as per­das humanas sofridas pelo país – mesmo as guer­ras –, em mais de cem anos.

Vejam, enquanto todos os chefes de Estado do mundo con­stroem con­sen­sos inter­nos para com­bater a pan­demia, o nosso pres­i­dente busca a dis­sensão, o con­flito com os demais poderes da República, com os gov­er­nos estad­u­ais, e semeia a dis­cór­dia entre os próprios inte­grantes do governo.

Quem pode­ria imag­i­nar que um pres­i­dente da República pode­ria demi­tir seu min­istro da saúde, em plena pan­demia, só para provar que man­dava?

O novo min­istro, com quase um mês no cargo, não vez nada de difer­ente do ante­rior, e, além de ali­men­tar a indús­tria de “memes”, não disse a que veio.

Uma sem­ana depois foi a vez de demi­tir o min­istro da justiça e um dos pilares do gov­erno.

Detalhe, ambos os min­istros foram demi­ti­dos jus­ta­mente por estarem fazendo um tra­balho, recon­heci­da­mente, bem feito.

Mas não é só, além de não assumir o comando da nação em momento de tamanha gravi­dade, bem difer­ente do que fez a chanceler alemã, os primeiros-​ministros, inglês e espan­hol, os pres­i­dentes de Por­tu­gal, da França e até dos Esta­dos Unidos, o nosso pres­i­dente se empen­hou em sab­o­tar as medi­das de restrições impostas pelos gov­er­nos estad­u­ais e munic­i­pais, suposta­mente, em nome da causa maior da “economia”.

O resul­tado é desas­troso para o país – para a saúde da pop­u­lação e para a econo­mia.

Enquanto a maio­ria dos países que tomaram as medi­das, a tempo e modo cer­tos, para diminuir o con­tá­gio, depois de 60 dias começam a sair, ainda que cautelosa­mente, do con­fi­na­mento e a retomar as ativi­dades econômi­cas, o Brasil está parado pelo mesmo tempo, mas não sabe quando poderá retomar – ou retomar com segu­rança a ativi­dade econômica do país, sob pena de muitas mortes, porque à falta de gov­erno, operou um iso­la­mento par­cial e a curva de con­tá­gio ainda está ascendente.

Esta, tam­bém, uma das razões pelas quais os investi­dores querem tomar dis­tân­cia do nosso país – sem con­tar a grave situ­ação de ter­mos nos tor­nado uma espé­cie de pária global, que ninguém con­fia.

Qual a jus­ti­fica­tiva ou moti­vação o Brasil deu para desafiar o con­senso global quanto a pan­demia? Nen­hum.

Assim como não tem qual­quer plano para o retorno das ativi­dades econômi­cas, ali­a­dos a isso, a pro­funda insta­bil­i­dade política cau­sada pelo gov­erno.

Com declar­ações e medi­das erráti­cas, suposta­mente para pro­te­ger a econo­mia, o gov­erno, que se tornou uma usina de crise, aumen­tou o nosso caos econômico.

A econo­mia do país é glob­al­izada. Você não con­segue protegê-​la sem a con­fi­ança dos demais países.

Essa mer­cado­ria, con­fi­ança, é tudo que não temos mais.

Nem mesmo os Esta­dos Unidos – para quem o atual gov­erno fez juras de amor eterno e submeteu-​se a tudo –, está do lado do Brasil.

O pres­i­dente amer­i­cano quase todos os dias crit­ica – com razão –, os rumos ado­ta­dos pelo nosso pais.

Mesmo os Esta­dos Unidos, com mais de um mil­hão de infec­ta­dos e mais de 80 mil óbitos, dizem que o Brasil não fez o “dever de casa” cor­re­ta­mente.

Na defesa do pres­i­dente suas fran­jas saem com o dis­curso: “a culpa é dos esta­dos, o gov­erno man­dou o din­heiro para com­bater a pandemia”.

Sem desprezar a importân­cia dos recur­sos, muitas vezes mais impor­tante do que o din­heiro em si, é a pre­sença do gov­erno, é dis­curso uni­forme, são medi­das coer­entes. Sem isso, o que fize­mos foi “jogar fora” bil­hões e bil­hões de reais.

Estou certo que uma parte salvou vidas, mas a maior parte dos recur­sos, fru­tos do sac­ri­fí­cio que esta­mos pas­sando e pelos quais pas­sarão as ger­ações futuras, foi e está sendo jogado fora, no lixo. Tudo pela falta de governo.

O Brasil fra­cassa mis­er­av­el­mente no com­bate à pan­demia e na recu­per­ação da economia.

Quando exam­ino os dados do Brasil, por estado, me per­gunto a razão do Maran­hão, ao invés de se espel­har no que vem sendo feito no Piauí, se inspi­rar no que acon­tece no Pará.

O Maran­hão, decerto, não é o pior – pelos últi­mos dados ocu­pava o sétimo –, mas, não pode­ria estar melhor?

O Piauí, aqui do lado, faz uma polit­ica de enfrenta­mento a pan­demia de forma mais efi­ciente; o Tocan­tins, ape­sar de suas pecu­liari­dades, a mesma coisa; Minas Gerais, a despeito de uma pop­u­lação três vezes maior que nossa, tam­bém; assim como diver­sos out­ros esta­dos já cita­dos em tex­tos anteriores.

Claro que parte do insucesso pode ser atribuído aos desac­er­tos do con­texto nacional. Mas por que afe­tou mais ao Maran­hão que aos demais esta­dos cita­dos anteriormente?

Acred­ito – ainda que sem qual­quer amparo –, que as causas do nosso fra­casso no com­bate à pan­demia são dev­i­das a poli­ti­za­ção da doença.

Nos­sos gov­er­nantes ao invés de estarem foca­dos no com­bate à pan­demia (tam­bém) estavam na “rinha” do enfrenta­mento ide­ológico com o pres­i­dente da República.

Enquanto em out­ros esta­dos os gov­er­nadores não “estavam nem aí” para o que dizia (ou diz) a Maria Antoni­eta do planalto, “nosso líder”, até quando não tinha nada para dizer ia atrás de quizilas.

Durante essa crise pouco temos ouvido falar nos gov­er­nadores e prefeitos que apre­sen­tam mel­hores resul­ta­dos no com­bate a pandemia.

Já os out­ros todos os dias estão na “mídia”.

É o caso do Maran­hão.

Desde o começo percebe-​se que o gov­erno estad­ual não tem um roteiro bem definido (talvez roteiro algum) para com­bater a pan­demia.

Ape­sar do gov­er­nador dizer que iria seguir rig­orosa­mente as ori­en­tações da ciên­cia, não con­hece­mos a equipe de cien­tis­tas que este­jam ori­en­tando o gov­erno na tomada de decisões.

E muito pior que isso, a maio­ria das decisões são ques­tion­adas pelos cidadãos.

Não é ape­nas a imprensa ou o Min­istério Público que ques­tionam a ausên­cia de transparên­cia das autori­dades locais, mesmo para o cidadão comum elas são incom­preen­síveis e sem lógica.

Vejam um exem­plo, uma sem­ana depois de anun­ciar a medida extrema de iso­la­mento, o tal do lock­down, leio que sua excelên­cia infor­mou o retorno das ativi­dades econômi­cas já para o dia 21 de maio.

Ora, se o estado já estava cam­in­hando para o retomar a nor­mal­i­dade porque o gov­erno aceitou a imposição judi­cial do lock­down – e ainda deter­mi­nou um rodízio de veícu­los na cap­i­tal e nos municí­pios vizinhos?

Se, por outro lado, necessárias as medi­das, como falar em retorno das ativi­dades econômicas?

Agora dizem que fiz­eram um acordo judi­cial para levar o lock­down até o dia 17 de maio.

Quer dizer que saire­mos do iso­la­mento extremo para o retorno das ativi­dades econômi­cas a “todo vapor”?

Quem coloca a cabeça para pen­sar – mesmo que só um pouquinho –, fica com a impressão de que as autori­dades maran­henses, o gov­er­nador à frente, não sabem nada do que dizem.

Uma espé­cie de “Bol­sonaro” com o sinal tro­cado.

Os últi­mos dados cole­ta­dos apon­tavam para um com­pro­me­ti­mento de 97% (noventa e sete por cento) dos leitos de UTI; o gov­erno baix­ava decreto para se socor­rer dos leitos da rede pri­vada; as pes­soas já agon­i­zavam nas recepções da UPAS – e mor­riam – enquanto aguardam por uma vaga.

Isso tudo acon­te­cendo sem que a demanda dos pacientes do inte­rior – para onde a pan­demia começa a se alas­trar –, se torne mais intensa.

Já são mil­hares de infec­ta­dos no inte­rior. Mesmo os menores municí­pios já apre­sen­tam casos de trans­mis­são comu­nitária.

É quase certo que exista um número sig­ni­fica­tivo de sub­no­ti­fi­cações.

A rede de saúde do inte­rior do estado é muito precária, muitos municí­pios não pos­suem condições de faz­erem um atendi­mento básico.

Se não encon­trar­mos uma forma de trata­mento efi­caz logo, o que vai acon­te­cer quando a “pro­cis­são de ambulân­cias”, de todos os can­tos do estado, começarem a se diri­gir para a cap­i­tal em busca de tratamento?

Faço estas reflexões da minha quar­entena de quase 60 dias, chegando a duas con­clusões: a primeira, é que o fra­casso do Brasil e do Maran­hão está ai, à vista de todos; a segunda, é que a ignorân­cia ide­ol­o­gizada mata. A pan­demia está provando isso.

Abdon Mar­inho é advogado.

Pan­demia ideológica.

Escrito por Abdon Mar­inho

PAN­DEMIA IDEOLÓGICA.

Por Abdon Marinho.

UM AMIGO me manda uma fotomon­tagem com um quadro com­par­a­tivo da situ­ação da pan­demia no Maran­hão e em Minas Gerais. Indaga-​me o que acho das infor­mações ali contidas.

Em con­tra­posição, um outro amigo, por sua vez, manda idên­tica fotomon­tagem, mostrando, desta feita, o quadro com­par­a­tivo da pan­demia no Brasil e na Índia.

As duas, por assim dizer, são “provo­cações” sobre a mel­hor forma de tratar a pan­demia do coro­n­avírus que se espalha pelo mundo e que, no Brasil, virou instru­mento de uma guerra ide­ológ­ica nunca vista ou imag­i­nada em qual­quer tempo da história – é essa, a guerra política e ide­ológ­ica, ao nosso sen­tir, uma das causas de estarem ocor­rendo tan­tas mortes no Brasil.

Começando pela segunda peça que com­para a situ­ação do Brasil e a da Índia diz que aquele país, a despeito de pos­suir uma pop­u­lação de 1 bil­hão e 300 mil­hões de pes­soas, reg­is­tra números de infec­ta­dos e de mor­tos bem infe­ri­ores aos números do nosso país para ambos os que­si­tos.

Cred­i­tando isso à rígida política de iso­la­mento social ado­tada por lá, o que difere, em muito, do que defende o gov­erno fed­eral do Brasil.

Não sei em que está­gio se encon­tra a pen­e­tração do coro­n­avírus no ter­ritório indi­ano, de qual­quer modo há de se recon­hecer que só o fato de reg­is­trar, em qual­quer está­gio, os números que reg­is­tram, con­siderando as condições extrema­mente precária em que vive a maio­ria da sua imensa pop­u­lação, é digno de elo­gios.

Não há como negar, tam­bém, que todos os países que min­i­mizaram per­das humanas nesta primeira onda da doença foram aque­les que ado­taram medi­das rig­orosas de restrições e que tra­bal­haram com a testagem da pop­u­lação.

Foi assim com Ale­manha, a Aus­trália, a Nova Zelân­dia, Por­tu­gal, e mesmo a Argentina.

Por outro lado, aque­les que demor­aram a ado­tar medi­das ou apos­taram na chamada “imu­nidade de rebanho”, enfrentaram per­das humanas sig­ni­fica­ti­vas, é o caso da Itália, da França, da Espanha, do Reino Unido e dos Esta­dos Unidos.

No chamado mundo oci­den­tal ape­nas a Sué­cia não impôs restrições à cir­cu­lação de pes­soas – apo­s­tando na imu­nidade de rebanho –, e reg­is­tra um número muito alto de víti­mas se com­para­dos aos países viz­in­hos, Noruega, Fin­lân­dia e Dina­marca.

Diante disso, até aqui, pelo menos, temos por certo que o con­senso cien­tí­fico em torno do tema tem se mostrado correto.

Com relação ao primeiro quadro com­par­a­tivo referido, o que com­para a real­i­dade do Maran­hão à de Minas Gerais, entendo caberem algu­mas considerações.

A primeira delas é que difer­ente do que aponta o quadro, Minas Gerais não apre­senta um resul­tado mel­hor no com­bate ao vírus por “man­ter flex­i­bi­lizado o comér­cio”, como coloca o quadro, em con­tra­posição ao Maran­hão que man­teve (e man­tém) “restrições ao comér­cio”, e agora até implan­tou, por deter­mi­nação da justiça, o chamado lock­down, nos municí­pios de São Luís, São José de Riba­mar, Paço do Lumiar e Raposa, onde se encon­tra o maior número de casos.

Emb­ora a pre­missa no quadro com­par­a­tivo seja falsa, não foi a flex­i­bi­liza­ção no comér­cio que “impediu” a expan­são do vírus em Minas Gerais ou restrição do comér­cio a “respon­sável” pela expan­são do vírus no Maran­hão, é certo que alguém fez mel­hor o “dever de casa” do que out­ros.

Os números falam por si e não mentem.

A Orga­ni­za­ção Mundial da Saúde — OMS, declarou situ­ação de pan­demia global no dia 14 de março, já nos dias seguintes começaram as restrições no estado, aulas sus­pen­sas, ativi­dades não essen­ci­ais par­al­isadas.

Resta saber o que as autori­dades do Maran­hão deixaram de fazer – ou não fiz­eram à con­tento –, para reg­is­trar números tão des­fa­voráveis, não ape­nas em relação ao Estado de Minas Gerais, que pos­sui uma pop­u­lação três vezes supe­rior à nossa, mas, tam­bém, em relação a out­ros esta­dos da fed­er­ação, como o Rio Grande do Sul, que tem pouco mais de um terço, em relação aos casos de con­tá­gios reg­istra­dos por aqui e nem um terço dos óbitos, se com­para­dos aos nos­sos; Mato Grosso, com pouco mais de qua­tro­cen­tos casos, e pouco mais de uma dezena de mor­tos; Mato Grosso do Sul, com cerca de trezen­tos casos de con­tá­gio e uma dezena de mor­tos; ou mesmo o viz­inho estado do Piauí, que pos­sui pouco mais de mil casos de con­tá­gio e pouco mais de trinta óbitos, dez vezes menos que o reg­istrado aqui.

Além destes esta­dos, ainda merece destaque o Tocan­tins, com pouco mais de qua­tro­cen­tos casos de con­tá­gio e menos de dez mortos.

Os Esta­dos cita­dos como exem­p­los não estão aguardando o pico de con­tá­gio chegar por lá, pelo que vi na mídia, já estão, sim, ten­tando retornar à vida nor­mal – que torce­mos, seja feita com todas as caute­las necessárias para que não se tenha um recrude­sci­mento de con­tá­gio.

Emb­ora não me caiba jul­gar – ainda mais estando de fora –, talvez seja hora das autori­dades do estado avaliarem o que fiz­eram, até aqui, de errado – ou não tão certo –, a ponto de provo­car números tão des­fa­voráveis e que, infe­liz­mente, con­tin­uam subindo, enquanto vemos out­ros esta­dos já flex­i­bi­lizando as medi­das de restrições.

Com tris­teza reg­istro que ao serem com­peli­dos, pela justiça, para adotarem medi­das mais duras, como lock­down, autori­dades “fes­te­jem” por estarem na “van­guarda”.

Talvez na van­guarda do atraso.

Não vejo os mineiros, os mato-​grossenses, sul-​mato-​grossenses, ou mesmo os piauienses cobiçando nossa “vanguarda”.

Não sei se por conta da pan­demia ide­ológ­ica, chegam-​nos áudios e/​ou men­sagens de texto acu­sando o gov­erno local de não uti­lizarem (ou uti­lizarem menos do que dev­e­riam) os testes repas­sa­dos pelo gov­erno fed­eral; ou de não ado­tar (ou retar­dar) o uso da hidrox­i­cloro­quina no trata­mento dos enfer­mos, suposta­mente, para não darem razão ao pres­i­dente da República, que recomen­dou o trata­mento – ainda que sem qual­quer embasa­mento cien­tifico –, desde o inicio.

Não sabe­mos se existe qual­quer amparo para as acusações, mas por outro lado, em que pese ter­mos um sig­ni­fica­tivo número de recu­per­a­dos e a curva de con­tá­gio não seja tão ascen­dente como no Ama­zonas, Amapá, Ceará ou Per­nam­buco – só para citar os exem­p­los mais próx­i­mos –, o número de infec­ta­dos cresce assus­ta­do­ra­mente, inclu­sive no inte­rior, e os óbitos já se con­tam nas cen­te­nas.

Há bem pouco tempo – pouco mais de um mês –, quando a pan­demia começava a reg­is­trar seus óbitos no Brasil, lem­bro que quando atingiu a fatídica marca de 300 mor­tos, o gov­er­nador do estado escreveu um tuíte, dizendo que aman­hecera aquela quan­ti­dade de mor­tos na porta do pres­i­dente, sendo admoes­tado, por sua insen­si­bil­i­dade, pelo gen­eral Augusto Heleno.

Hoje, para o nosso pesar, só o Maran­hão ultra­passa essa marca. Em respeito às víti­mas e seus famil­iares jamais se dev­erá dizer que os mor­tos aman­hece­ram na porta dos Leões.

O que não fize­mos dire­ito, já que sabíamos criticar? Por que seguimos o exem­plo dos esta­dos onde os números da tragé­dia estão nas alturas ou invés de seguirmos aque­les esta­dos de forma silen­ciosa e sem alarde con­seguiram ou estão con­seguindo apre­sen­tar mel­hores resultados?

Como disse desde o iní­cio não é com pirotec­nia, excesso de pro­pa­ganda ou pros­elit­ismo politico que ire­mos com­bater a pan­demia e poupar vidas, mas, sim, com o tra­balho sério, dis­creto, trans­par­ente e sem ide­ol­o­gismo, como aquele real­izado pelos esta­dos que, até aqui, apre­sen­tam os mel­hores resul­ta­dos que os nos­sos.

As autori­dades e, prin­ci­pal­mente, a pop­u­lação talvez devesse refle­tir sobre isso.

Abdon Mar­inho é advogado.

* Os números que apare­cem nas ima­gens, como de se esperar, estão defasa­dos, rep­re­sen­tava a situ­ação naquele momento.

A tragé­dia anunciada.

Escrito por Abdon Mar­inho

A TRAGÉ­DIA ANUN­CI­ADA.

Por Abdon Marinho.

MANIFESTEI-​ME sobre a adoção de medi­das de pre­venção e con­tenção à pro­lif­er­ação do novo coro­n­avírus no nosso estado, no dia 17 de março, por­tanto, há mais de um mês – quase dois –, aler­tava para a neces­si­dade das autori­dades tratarem o assunto com o máx­imo de transparên­cia e respon­s­abil­i­dade; dizia da neces­si­dade de infor­mações cor­re­tas aos cidadãos para que os mes­mos não ques­tionassem (ou des­obe­de­cessem) as ori­en­tações rece­bidas; dizia da neces­si­dade de se inve­stir em cam­pan­has educa­ti­vas nas esco­las, repar­tições, etcetera, de sorte que quando chegasse o momento certo todos soubessem o que fazer.

Naquela opor­tu­nidade, segundo dados ofi­ci­ais, não havia o reg­istro de qual­quer caso no Maran­hão e, tam­bém, nos esta­dos do Piauí, Tocan­tins e Pará. Daí o ques­tion­a­mento sobre as medi­das de restrições que nos­sas autori­dades estavam adotando, já naquele momento, uma vez que com o pas­sar do tempo a tendên­cia das pes­soas seriam “relaxar” nas mes­mas.

Numa situ­ação de pan­demia as medi­das cer­tas pre­cisam ser ado­tadas nos momen­tos cer­tos. Não adi­anta você ado­tar a medida errada no momento certo ou a medida certa no momento errado.

Não vai fun­cionar e só vai causar mais prob­le­mas na cabeça das pes­soas e favore­cer o aumento da con­t­a­m­i­nação.

Foi o que vimos nos diver­sos momen­tos deste surto pandêmico no estado. Nas primeiras medi­das do gov­erno as pes­soas cor­reram para se aglom­erar nos super­me­r­ca­dos, nas feiras, nos ban­cos, favore­cendo que hou­vesse con­tá­gios ou que este aumentasse.

Nos dias seguintes ape­sar das notí­cias das con­t­a­m­i­nações e das mortes poucos foram os que deixaram de seguir suas roti­nas de aglom­er­ações.

Ocorre a mesma coisa agora com o anún­cio de que a Justiça, através da Vara de Inter­esses Difu­sos, instou o gov­erno estad­ual a ado­tar a medida con­hecida como “lock­down”, em toda a ilha de Upaon-​Açu, alcançando, além da cap­i­tal, São Luís, os municí­pios de São José de Riba­mar, Paço do Lumiar e Raposa.

Emb­ora se especule que a deter­mi­nação judi­cial faça parte de um “com­binemos” entre o Poder Exec­u­tivo, o Min­istério Público e o Poder Judi­ciário – vi diver­sas pes­soas espec­u­lando sobre isso na imprensa e redes soci­ais, inclu­sive um dep­utado estad­ual da base gov­ernista –, vez que o gov­er­nador do estado, que chamou para si a con­dução das medi­das de com­bate à covid-​19, não gostaria de assumir soz­inho a respon­s­abil­i­dade pela medida – bem difer­ente de ape­nas cumprir uma decisão judi­cial –, o fato é que as medi­das ado­tadas pelas autori­dades estad­u­ais ao longo deste tempo não sur­tiram efeito alme­jado.

E o pedido do Min­istério Público e a decisão do Juízo de Inter­esses Difu­sos – com­bi­na­dos ou não com gov­er­nador do estado –, com­pro­vam isso.

Aqui não ques­tiono a ded­i­cação e empenho do gov­er­nador do estado, do secretário de saúde, ou de tan­tos out­ros da sua equipe que estão tratando do assunto, mas, sim, o fato de que suas providên­cias para pre­venção e com­bate ao vírus não sur­tiram os efeitos desejados.

Se assim não fosse não teria havido neces­si­dade de inter­venção judicial.

A per­gunta que se faz é se com a medida judi­cial o enfrenta­mento ao vírus terá efe­tivi­dade.

Fal­tava só o juiz man­dar que gov­er­nador fizesse o “lock­down” para que o vírus fosse com­bat­ido de forma cor­reta? Acred­ito que não.

E se con­cor­damos que não fal­tou empenho e ded­i­cação à equipe do gov­erno no com­bate à pan­demia, como cheg­amos à situ­ação em que esta­mos hoje, cuja tendên­cia, ainda, é pio­rar – e muito?

Vejam, até 17 de março, pelos dados ofi­ci­ais, da Sec­re­taria de Estado da Saúde e do Min­istério da Saúde, não tín­hamos nem um reg­istro, um mês e meio depois, esta­mos entre os esta­dos que mais ofer­e­cem pre­ocu­pação.

A cap­i­tal do estado está entre as primeiras em número de infec­ta­dos e de mor­tos por 100 mil habi­tantes.

Já se tem notí­cias de pes­soas com sin­tomas claros de con­t­a­m­i­nação que não estão sendo tes­tadas; ou de pes­soas em estado grave que as unidades de saúde não estão atendendo.

São notí­cias que chegam através de diver­sas mídias dig­i­tais que não sabe­mos serem ver­dadeiras ou não no momento em que são divul­gadas, mas que depois são con­fir­madas pela crueza dos números.

Então, é de deduzir-​se que, provavel­mente, a abor­dagem que o gov­erno estad­ual vem dando talvez não seja a mais cor­reta.

A cap­i­tal do estado, ocupa a sexta posição em número de óbitos, estando à frente, inclu­sive de Belém que pos­sui uma pop­u­lação com cerca de 500 mil habi­tantes a mais que a nossa;

Em número de con­tá­gio em todo estado, o Maran­hão pos­sui 3.506 con­tra 3.176 no estado viz­inho, emb­ora o Pará pos­sua um número de óbitos supe­rior ao nosso, 235 con­tra 204 mortos.

Em relação ao outro estado viz­inho a nossa desvan­tagem é ainda maior. O Piauí, pos­sui ape­nas 600 casos con­fir­ma­dos e 24 óbitos.

Nem fale­mos no outro viz­inho, o Tocan­tins, que pos­sui ape­nas 164 cidadãos con­t­a­m­i­na­dos e reg­is­tra três óbitos, uma vez que a pop­u­lação é bem menor, o dis­tan­ci­a­mento social é quase nat­ural.

Os qua­tro esta­dos, na mesma data, apre­sen­tavam situ­ações idên­ti­cas de nen­huma infecção, um mês e meio depois dois deles estão em pés­si­mas condições e dois con­seguindo admin­is­trar mel­hor o prob­lema.

Ape­sar de todo o caos que me relatam está ocor­rendo no Pará, acred­ito, infe­liz­mente, que nossa venha a se tornar ainda mais grave.

Digo isso porque tenho rece­bido relatos de pes­soas que estão com os sin­tomas da covid-​19 e que não estão nas estatís­ti­cas ofi­ci­ais.

No último domingo, pelas 22 horas, recebi a men­sagem de uma pes­soa infor­mando que uma grande amiga estava a cam­inho de São Luís, por estar com os sin­tomas da doença. Ontem, recebi a men­sagem de que essa amiga havia pere­cido. Detalhe, o municí­pio sequer aparece nas estatís­ti­cas – pelo menos até aqui –, com reg­istro de casos.

Como já dizia o cabo­clo lá do meu sertão, o que está errado não pode estar certo.

Então é per­ti­nente que se per­gunte o que o gov­erno estad­ual tem feito de errado na con­dução desta crise.

É bem provável que alguns digam que fez tudo certo e que a pop­u­lação que não aten­deu às recomen­dações ofi­ci­ais.

Os que pen­sam assim, decerto que estão cor­re­tos. Mas, se for­mos mais a fundo ire­mos encon­trar os motivos pelos quais a pop­u­lação não tem (ou tem pouco) colab­o­rado com as ini­cia­ti­vas governamentais.

Acred­ito que as respostas – o prob­lema com­porta mais de uma –, este­jam no des­cumpri­mento daquele apelo que fiz em mea­dos de março: que o gov­erno tratasse o assunto com seriedade, tran­quil­i­dade e, sobre­tudo, com transparên­cia.

Mais, que pas­sas­sem tal con­fi­ança a ponto dos cidadãos não ques­tionarem suas recomendações.

Infe­liz­mente, não foi o que se viu.

Desde o iní­cio o próprio gov­er­nador chamou para si a respon­s­abil­i­dade pela admin­is­tração da crise e trans­for­mou a pan­demia numa frente de batalha con­tra o gov­erno fed­eral, sendo mais especí­fico, con­tra o pres­i­dente da República.

Aqui não dis­cuto se suas colo­cações estavam cer­tas ou erradas.

Estavam, sim, ino­por­tu­nas, pois a pop­u­lação pas­sou a enten­der que a pan­demia “não exis­tia”, era ape­nas uma dis­puta política entre o governador/​candidato e o presidente/​destrambelhado.

O pres­i­dente dizia uma coisa de lá e o daqui respon­dia ou provo­cava de forma mais assertiva ainda.

O prefeito da cap­i­tal, que pela sis­temática do SUS é o gestor da saúde na cap­i­tal, talvez por edu­cação ou timidez, deixou o gov­er­nador “tão à von­tade” para cuidar da saúde dos ludovi­censes – respon­s­abil­i­dade do prefeito –, que os adver­sários pas­saram a dizer que ele foi a primeira pes­soa a entrar em quar­entena.

Com­por­ta­mento bem difer­ente do que obser­va­mos no prefeito de São Paulo, de Man­aus ou mesmo do de Teresina, que estão tomando as medi­das que dizem respeito à suas respon­s­abil­i­dades como gestores munic­i­pais.

O de Teresina, por exem­plo, instalou bar­reira san­itária nas pontes que ligam sua cidade ao Maran­hão, jus­ta­mente para evi­tar que maran­henses doentes acor­ressem para aquela cidade.

Outra coisa, tudo que uma pan­demia pre­cisa para se alas­trar e matar a torto e a dire­ito é de infor­mações trun­cadas ou ausên­cia de transparência.

Ao longo destes dias, inclu­sive, nesta sem­ana, não foi só uma ou duas vezes que uma entre­vista ou dados apre­sen­ta­dos pelo gov­er­nador não fos­sem con­tes­ta­dos pelos jor­nal­is­tas e/​ou blogueiros da cidade.

Se a autori­dade passa uma infor­mação e ela é con­tes­tada – e, pior, com­pro­vada que não está certa ou que está trun­cada –, os cidadãos pas­sam a duvi­dar da própria cir­custân­cia a que estão sub­meti­dos.

Ainda mais quando veem as autori­dades fazendo aquilo que pedem para que não façam.

Durante mais de uma sem­ana vi uma polêmica envol­vendo uma autori­dade da saúde que estava fazendo sua cam­in­hada por uma das avenidas da cidade. Em sua “defesa” a autori­dade disse que estava andando soz­inho e seguindo os pro­to­co­los de segurança.

Acho até com­preen­sível – e necessário –, que a autori­dade queiram fazer sua cam­in­hada. Mas já pen­sou o caos que seria se todos que estão se sentindo apri­sion­a­dos em casa resolvessem seguir o exem­plo?

Em situ­ações de exceção, o exem­plo, a presteza, a transparên­cia, a con­fi­ança que a autori­dade con­seguir trans­mi­tir, vai valer mais do que dis­curso, entre­vista, decreto ou sen­tença judi­cial.

Con­forme disse lá atrás, “medi­das urgentes e necessárias, pre­cisam ser ado­tadas no momento é pelo tempo certo”.

Quem tam­bém deu uma boa sug­estão, tam­bém, lá atrás, foi um prefeito de Santa Rita, Hilton Gonçalo: sug­eriu que o gov­er­nador do estado – que colocou-​se no comando da pan­demia no estado –, se cer­casse de uma equipe téc­nica com con­hec­i­men­tos na área da saúde para ado­tar as medi­das necessárias ao com­bate da pan­demia.

Espero que sua excelên­cia ouça esses apelos.

A situ­ação, que já é grave com essa pan­demia con­cen­trada, prati­ca­mente, na Ilha de Upaon-​Açu e em poucos municí­pios do inte­rior, se tornará insus­ten­tável caso se alas­tre por todos os municí­pios do estado.

Abdon Mar­inho é advo­gado.