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Inau­gu­raremos a era dos min­istros capachos?

Escrito por Abdon Mar­inho

INAU­GU­RAREMOS A ERA DOS MIN­ISTROS CAPACHOS?

Por Abdon Marinho*.

O MIN­ISTRO Celso de Mello, do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, “pen­durou” a toga por estes dias, mais pre­cisa­mente, no dia 13 de out­ubro, dias antes de com­ple­tar os 75 anos idade, em 1º de novem­bro, data lim­ite para aposen­ta­do­ria com­pul­sória, com 31 anos na Corte Suprema e 50 anos de serviço público ao país – graduou-​se em 1969 e, a par­tir de 1970, através de con­curso, onde foi aprovado em primeiro lugar, pas­sou a inte­grar o Min­istério Público do Estado de São Paulo, de onde saiu para inte­grar o STF.

Com uma vida inteira ded­i­cada ao Dire­ito, o ex-​decano do STF, pos­sui uma car­reira jurídica sól­ida, tendo se car­ac­ter­i­zado por seus votos den­sos e de inigualáveis con­teú­dos.

Ao ingres­sar no Supremo e com 19 anos de car­reira no MPSP, já era recon­hecido por sua notável capaci­dade jurídica, esta, aliás, um dos pré-​requisitos para o ingresso na corte.

Nunca tive­mos notí­cias de ques­tion­a­men­tos à sua notável capaci­dade jurídica ou, tão pouco, quanto à falta de ilibação de sua con­duta, seja nos trinta e um anos na Suprema Corte, seja nos dezen­ove anos antecedentes no Min­istério Público de São Paulo.

Nas sessões que ante­ced­eram sua saída, na turma e no pleno, vimos em emo­cionadas saudações, os demais min­istros recon­hecerem a sua hon­radez e dig­nidade.

Mesmo o min­istro Gilmar Mendes, que por inúmeras vezes, dis­cor­dou dos posi­ciona­men­tos do ex-​ministro, não con­teve as lágri­mas no dis­curso de des­pe­dida.

Um justo recon­hec­i­mento pelos cinquenta anos de ded­i­cação ao dire­ito e ao serviço público brasileiro.

Mas, como nem tudo são flo­res, nos últi­mos anos, prin­ci­pal­mente desde que se instalou o atual gov­erno, o ex-​ministro vinha sofrendo ataques das hostes gov­ernistas e, prin­ci­pal­mente, da mil­itân­cia par­tidária vin­cu­lada ao pres­i­dente, incon­for­mada com algu­mas decisões e votos e, até, por críti­cas que fez em ambi­ente pri­vado – mas que vieram a público –, ao atual gov­erno, onde com­parou os arrou­bos autoritários dos atu­ais man­datários, com man­i­fes­tações sem­anais con­tra os demais poderes, ao ocor­rido na triste República de Weimar, naque­les anos que pre­ced­eram a tomada defin­i­tiva do poder na Ale­manha pelos nazis­tas e toda a des­graça que a ela se sucedeu.

A sanha detra­tora à guisa de não encon­trar um escân­dalo nos votos ou sus­peita de favorec­i­mento ou cor­rupção ou inter­esses sub­al­ter­nos, foi revolver da página de um livro do ex-​ministro da Justiça do gov­erno Sar­ney, Saulo Ramos, um único episó­dio pouco edi­f­i­cante, jamais des­men­tido – por edu­cação ou pudor –, por Celso de Mello.

O episó­dio nar­rado por Ramos, incerto no livro Código da Vida, dar conta de um diál­ogo havido entre o autor e o ex-​ministro sobre uma votação que inter­es­saria ao ex-​presidente José Sar­ney, que o indicara para o cargo de min­istro e que ele, Mello, votara con­tra.

Ao cobrar os motivos de seu posi­ciona­mento, o ex-​ministro teria respon­dido ao autor do livro que votara con­tra porque o jor­nal Folha de São Paulo ante­ci­para que ele votaria a favor do ex-​presidente Sar­ney e, como este já gan­hara a votação antes de chegar sua vez de votar, votou contra.

No livro, Ramos diz que o chamou de “juiz de merda” e nunca mais lhe dirigiu a palavra.

O livro de Ramos foi ques­tion­ado por algu­mas pes­soas, que dis­seram que o mesmo con­tara a história “causa própria”. O próprio Mello, como dito ante­ri­or­mente, nunca soube ter dito nada sobre o assunto.

Com quase trinta anos de “mundo jurídico”, onde tudo se comenta, como em um salão de beleza, e gozando de boa memória, nunca ouvi falar de nada, exceto este episó­dio, que desabonasse ou pusesse em xeque a con­duta do min­istro recém-​aposentado. Um ato de cor­rupção ou desvio de con­duta, nada.

Pois este único episó­dio, que já conta com quase três décadas, foi o que bas­tou para uma sór­dida cam­panha dos mil­i­tantes bol­sonar­is­tas con­tra o ex-​ministro, a quem só se refe­riam (ou se ref­erem) como “juiz de merda”. Essa tem sido a can­tilena nos dois últi­mos anos.

Faço tais con­sid­er­ações sobre a vida do ex-​ministro porque o pres­i­dente da República, até com um der­radeiro gesto de grosse­ria por alguém que dedi­cou 50 anos de sua vida ao serviço público, mal o então decano anun­ciara a data da saída, já tinha o nome pronto para ocu­par a vaga. Não esperou a “missa de sétimo dia”, o defunto ainda quente na sala, já o sub­sti­tuto aden­trava ao recinto.

E é sobre este pro­ceder pres­i­den­cial e sobre as suas escol­has que, pro­pri­a­mente, trata o pre­sente texto.

Desde que assumiu – e mesmo antes disso –, o pres­i­dente vem usando as vagas que sur­girão no Supremo, e tam­bém, nos out­ros tri­bunais, como moeda de troca.

Faz isso com tanta des­façatez e “desaver­gonhamento” que por vezes chego a pen­sar que isso é nor­mal. Ape­nas por um momento, logo percebo que nada disso é nor­mal, nem mesmo o “novo nor­mal”, é ape­nas descara­mento diante da omis­são dos poderes con­sti­tuí­dos que teimam em perseguir a própria desmor­al­iza­ção.

Me detendo ape­nas no Supremo Tri­bunal Fed­eral, a Con­sti­tu­ição Fed­eral, no artigo 101, esta­b­elece “Art. 101. O Supremo Tri­bunal Fed­eral compõe-​se de onze Min­istros, escol­hi­dos den­tre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e rep­utação ilibada”.

Muito emb­ora, den­tro das bal­izas con­sti­tu­cionais, exista uma vastidão a per­mi­tir a escolha, espera-​se que as escol­has recaíam sobre elas.

Antes mesmo de abrir a vaga ocu­pada pelo ex-​ministro Celso de Mello, o pres­i­dente já havia dito que indi­caria um min­istro “ter­riv­el­mente” evangélico, doutra feita, que indi­caria um min­istro com quem pudesse tomar uma cerveja.

Nada tenho con­tra os evangéli­cos ou os apre­ci­adores de cerve­jas, mas estes não são critérios para se escol­her min­istros de tri­bunais.

Ape­sar das inusi­tadas colo­cações a pat­uleia e, pior, os poderes con­sti­tuí­dos silen­ciam como se fos­sem nor­mais.

Mesmo aquela mil­itân­cia que disse ter votado no atual man­datário numa perseguição à ética per­dida na política, aplaude e acha nor­mal estes despautérios.

E não falo ape­nas daque­les que se deixaram “cegar” pelas escol­has ide­ológ­i­cas, mesmo pes­soas esclare­ci­das, aplau­dem e acham nor­mais esse tipo de coisa.

E, das palavras à ação – prin­ci­pal­mente diante do silên­cio cúm­plice, obse­quioso ou covarde –, é um pulo.

Antes mesmo de aberta a vaga ocu­pada pelo decano, o pres­i­dente, como dis­se­mos, tra­tou logo de indicar para preenchê-​la o desem­bar­gador do Tri­bunal Regional da Primeira Região, Kás­sio Mar­ques, que ingres­sou naquele tri­bunal na vaga do quinto con­sti­tu­cional des­ti­na­dos aos advo­ga­dos, nomeado, em 2011, pela então pres­i­dente Dilma Rouss­eff.

Estran­hamente, segundo noti­cia a mídia, o desem­bar­gador estava em “cam­panha” por uma vaga no Supe­rior Tri­bunal de Justiça — STJ, quando acabou caindo nas “graças” do pres­i­dente e gan­hando a indi­cação para o mais alto degrau da fama.

Indi­cação feita, exceto por algu­mas fran­jas bol­sonar­is­tas, – e pelos motivos erra­dos –, que cobravam a nomeação de alguém “ter­riv­el­mente” evangélico, a escolha, ao que parece, agradou em “cheio” classe polit­ica, sobre­tudo, aque­les mais encalacra­dos com a justiça, do chamado “cen­trão”, agora prin­ci­pal força polit­ica na base do gov­erno e que, certa vez, um impor­tante min­istro do gov­erno fez o seguinte tro­cadilho: – se gri­tar pega “cen­trão”, não fica um meu irmão; os petis­tas, respon­sáveis, como dito ante­ri­or­mente, pela indi­cação ao TRF1.

A classe polit­ica parece tão sat­is­feita com a nova indi­cação para Suprema Corte que ninguém diz nada, impera o mutismo, em relação as incon­sistên­cias cur­ric­u­lares do indi­cado, aos indica­tivos de plá­gios nas teses defen­di­das e, até mesmo, nas denún­cias – várias –, de que não pos­suiria o notável con­hec­i­mento jurídico e a con­duta ilibada.

É ver­dade que ninguém disse nada, aliás, nem ligou, quando da nomeação pelo gov­erno do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, para o cargo que ocupa hoje. Como é comum nestes casos.

Entre­tanto, agora, esta­mos falando de uma indi­cação para mais ele­vada corte de justiça do país, onde o escol­hido, com menos de 50 anos, ficará por lá, com o dire­ito de “errar por último”, como os próprios inte­grantes da Corte fazem questão de dizer, por quase trinta anos.

Trata-​se de algo de tamanha importân­cia que dev­e­ria mobi­lizar toda a sociedade.

Assiste-​se, entre­tanto, uma estranha letar­gia diante de uma indi­cação, no mín­imo con­tro­versa, tendo o rela­tor da indi­cação no Senado República adi­antado, diante das incon­sistên­cias cur­ric­u­lares do pos­tu­lante, que o cur­rículo para o mais ele­vado cargo do judi­ciário brasileiro, não tem relevân­cia.

A mim, soa como ina­cred­itável que a classe política e a sociedade civil tratem a indi­cação e escolha de um min­istro para STF com o pouco caso de quem se apeia um bode em uma beira de estrada no Piauí.

Mesmo aque­les que estavam nas ruas, desde o ano de 2013, cobrando moral­i­dade, respeito a coisa pública e o fim da cor­rupção, parece-​me que nada têm a dizer diante da nomeação de um min­istro do STF por um con­vescote de pes­soas de con­duta duvi­dosa.

Quer me pare­cer que nada apren­deram com as con­se­quên­cias de quando o ex-​presidente Lula, indi­cou um mil­i­tante do par­tido e sub­or­di­nado de Zé Dirceu para o Supremo, ainda no seu primeiro gov­erno.

A escolha do novo min­istro parece seguir os mes­mos pas­sos daquela infe­liz escolha, numa ver­são pio­rada.

Ao bater os olhos no indi­cado por seus novos ali­a­dos políti­cos, o pres­i­dente tra­tou de levá-​lo pes­soal­mente para um “acerto” de posições com os notáveis min­istros Gilmar Mendes e Dias Tóf­foli.

Não sat­is­feito, em “bate-​boca” com seguidores nas redes soci­ais, adiantou uma dezenas de votos do futuro min­istro.

Chega a ser desmor­al­izante não só para o min­istro mas para todo o tri­bunal os votos de qual­quer inte­grante da corte seja ante­ci­pado por quem quer que seja.

Como alguém, em sã con­sciên­cia, pode acred­i­tar que esse tipo de coisa está certa? Não, não tem nada certo nisso.

Assim, como Celso de Mello, temo pelo futuro do país. Temo mais ainda quando vejo a comunhão de malfeitores em torno de um mesmo inter­esse.

A certeza é que dias piores virão.

Abdon Mar­inho é advogado.

Às terças-​feiras, José Reinaldo.

Escrito por Abdon Mar­inho

ÀS TERÇAS-​FEIRAS, JOSÉ REINALDO.

Por Abdon Marinho.

NOS ÚLTI­MOS meses tenho cul­ti­vado um hábito. Às terças-​feiras, geral­mente antes de sair para tra­balho, me ocupo da leitura da col­una do ex-​governador José Reinaldo Tavares, no Jor­nal Pequeno.

Já na casa dos 80+, como dizem meus sobrin­hos e uma sen­hor­inha dos com­er­ci­ais, o ex-​governador con­tinua a con­tribuir com diver­sos assun­tos do inter­esse do Estado do Maran­hão e para a sociedade brasileira, de uma forma geral.

A con­stante pre­ocu­pação com os grandes pro­je­tos para o estado, como fer­rovias, rodovias, a explo­ração com­er­cial da Base de Alcân­tara e/​ou mesmo um novo porto naquele municí­pio, são temas recor­rentes das dis­cursões e ini­cia­ti­vas que o ex-​governador tem trazido para o debate local.

Como sem­pre fez – e por isso mesmo, por vezes incom­preen­dido a ponto de sofrer as con­se­quên­cias –, con­segue enx­er­gar muito à frente do seu tempo.

Foi assim quando, no seu gov­erno, ini­ciou – ou colo­cou em prática –, as obras do plano rodoviário estad­ual, começando pela parte mais difí­cil: as pontes, pon­til­hões e ele­va­dos.

Como os gov­er­nos seguintes – mesmo os ali­a­dos –, não deram sequên­cia as obras do plano rodoviário, aquele esforço e gasto, acabaram por serem explo­rados politi­ca­mente como um escân­dalo levando o ex-​governador a respon­der na justiça.

Ora, se as pontes, ele­va­dos e pas­sagens estavam prontas, caberia aos gov­er­nos seguintes con­struir as rodovias pas­sando por tais locais, como con­sta no plano rodoviário do estado.

Não fiz­eram. E a imagem das pontes e ele­va­dos sem seus com­ple­men­tos, lig­ando nada a coisa nen­huma, servindo de abrigo para ani­mais, ou até, mesmo, para mesas de bil­har e bares, gan­haram o mundo como sím­bolo de desvios de recur­sos públi­cos na visão dos lei­gos e dos maus inten­ciona­dos.

Com­preen­sível que o gov­erno Jack­son Lago não tenha dado con­tinuidade ao plano rodoviário ini­ci­ado por José Reinaldo pois não teve tempo para isso é desde o primeiro dia teve que “matar um leão por dia” e, assim mesmo, perdeu o mandato com pouco mais de dois anos da posse.

Dos gov­er­nos de Roseana Sar­ney não se pode­ria esperar que desse con­tinuidade pois fazia parte da nar­ra­tiva escan­dalizar a cor­rupção para jus­ti­ficar – e con­tin­uar jus­ti­f­i­cando –, o golpe que afas­tou Jack­son Lago do poder.

Difí­cil de com­preen­der é o com­por­ta­mento do atual gov­erno – pelo qual José Reinaldo tanto fez –, já avançando para o sétimo ano de gestão e já, já sentindo o bafo do suces­sor no can­gote, nada fez para levar em frente o plano rodoviário ini­ci­ado pelo ex-​governador, per­mitindo que aque­las caras obras de engen­haria se eternizem como mon­u­men­tos ao des­perdí­cio.

E, se nada fez para levar adi­ante o plano rodoviário estad­ual, é certo pri­or­i­zou obras de cunho eleitor­eiro e impacto ime­di­ato, bem como, as famosas “obras de morder”.

Abro um parên­tese para explicar o sig­nifi­cado de “obra de morder”.

Numa das min­has andanças pelo inte­rior, recla­mava com um morador pelo fato de deter­mi­nada rodovia se encon­trar sem­pre em manutenção e sem­pre em pés­si­mas condições. Foi aí que ele me veio com essa:

— Ah, doutor, essa é uma “obra de morder”.

Diante do meu olhar espan­tado, com aquela sim­pli­ci­dade de homem do campo, explicou:

—Essa, e out­ras obras, são feitas para nunca ter­mi­nar, pois todo gov­er­nante, secretário, empresário, as man­tém sem­pre em reparos para “morder” um pedaço da verba.

Não sei se é ver­dade, mas foi assim que me contaram.

Feita essa digressão, retorno.

Não faz muito tempo, um amigo me chamou atenção para a bru­tal falta de con­sid­er­ação do atual gov­erno com o ex-​governador, bem como, tam­bém, a falta de visão de Estado.

Dizia o amigo, sobre o assunto, que o gov­erno estad­ual cel­e­brara uma parce­ria com uma empresa para con­strução de uma rodovia entre dois municí­pios dos Lençóis Maran­henses e, ao invés de aproveitar a infraestru­tura de pontes quase toda pronta ainda no gov­erno José Reinaldo, preferiu ou aceitou que se fizessem a rodovia igno­rando o plano rodoviário e nas bor­das do Par­que dos Lençóis.

Talvez por conta disso ou por “cas­tigo” da parte de algum anjo que não tol­era os ingratos, a rodovia nem bem fora inau­gu­rada já apre­sen­tou infini­tos defeitos, sem con­tar que os ven­tos mais dia, menos dia, vai soter­rar a estrada.

Acred­ito que se tivessem feito a rodovia seguindo o plano rodoviário e aprovei­tando, pelo menos, parte da infraestru­tura lá dis­posta, isso não estivesse acon­te­cendo ou, se acon­te­cesse, seria muito mais demor­ado.

Como fez todas as vezes que o atual gov­erno, seus pre­pos­tos ou adu­ladores, o agrediu, de forma gra­tuita, sobre mais essa afronta, o ex-​governador nada disse e con­tin­uou – e con­tinua –, tra­bal­hando e dis­cutindo ideias pelo engrandec­i­mento do Maran­hão, inclu­sive em proveito destes governantes.

Arrisco dizer que com suas ideias e ini­cia­ti­vas, emb­ora sem mandato, o ex-​governador vem con­tribuindo muito mais com o Maran­hão do que uma dúzia de dep­uta­dos fed­erais, que sequer sabe­mos o nome e que ocu­pam os dias enri­cando as cus­tas dos cofres públi­cos.

Como vão pen­sar nos inter­esses do estado ou do país, se têm infini­tas con­tas de recur­sos de emen­das para faz­erem? Se os inter­esses pri­va­dos vêm antes do inter­esse público? Se pre­cisam fazer for­tu­nas para infini­tas ger­ações enquanto são “novinhos”?

Já no out­ono da vida, o entu­si­asmo de José Reinaldo pelo pro­gresso e desen­volvi­mento do Maran­hão, estam­pado nas suas col­u­nas sem­anais no Jor­nal Pequeno, é de quem vive o princí­pio da primavera.

Para demon­strar tanto fres­cor, acred­ito que ignore as infini­tas rasteiras e traições, sobre­tudo, daque­les por quem mais fez.

Parece-​me que a tudo isso trata com a clara certeza que de que tais mesquin­harias, assim como os homens, pas­sarão, ficarão como nódoas da história quando esta fizer a Justiça ver­dadeira, que até pode tar­dar, mas, cer­ta­mente, não fal­hará.

Nos últi­mos dias, sem perce­ber­mos, acabamos por teste­munhar tais reg­istros históricos.

Não faz muito tempo, acho que no auge da pan­demia, sem querer – e sem ser essa a intenção –, blogues locais acabaram por fazer um elo­gio indi­reto à vida pública do ex-​governador José Reinaldo.

Noti­cia­ram que ele, aquele homem que já foi quase tudo que quis na vida pública, secretário de obras, dep­utado fed­eral, min­istro de Estado, vice-​governador e gov­er­nador de estado, estava na fila em busca de crédito em uma dessas empre­sas finan­ceiras facil­i­ta­do­ras de emprés­ti­mos, que pelos juros cobra­dos se aprox­i­mam do mer­cado finan­ceiro infor­mal.

Pois é, enquanto vemos, hoje, dep­uta­dos ou ocu­pantes de out­ros car­gos, ficarem ricos, por ger­ações, em um mandato, lá estava um ex-​governador, ex-​ministro, ex-​secretário, ex-​deputado fed­eral, ex-​quase tudo que quis ser, na fila como qual­quer cidadão comum, como eu, você, ou seu João lá do Anjo da Guarda ou do Coroad­inho, nego­ciando um crédito para pagar as con­tas pes­soais e, com a mesma elegân­cia, dis­cutindo pro­je­tos bil­ionários que impactarão, pos­i­ti­va­mente, a vida e o futuro do estado e do país por ger­ações.

Não que a hon­esti­dade seja mérito, pelo con­trário, é dever. Entre­tanto, não é usual, diante do que assis­ti­mos na atu­al­i­dade, ver­mos ex autori­dades levando a vida como os comuns mor­tais.

Um outro reg­istro foi um feito por um xerim­babo do atual gov­erno.

Quando das for­mação das cha­pas para a dis­puta eleitoral deste ano na cap­i­tal e alguém ter sug­erido o nome do ex-​governador, a despeito de nada ter a dizer que o desabonasse, disse que ele seria “velho”.

Foi o que restou para falarem mal de José Reinaldo: a inevitável condição tem­po­ral, que mais dia menos dia, alcançará a todos nós. Isso é, aos que tiverem tal sorte.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Basta não roubar?

Escrito por Abdon Mar­inho

BASTA NÃO ROUBAR?

Por Abdon Marinho.

TENHO refletido nos últi­mos dias, pós quar­entena, nos males cau­sa­dos pelas admin­is­trações do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT – e seus ali­a­dos –, ao Brasil. Não falo ape­nas dos atos prat­i­ca­dos no exer­cí­cio dos encar­gos. Destes, podemos, com boa von­tade, até apu­rar coisas pos­i­ti­vas e diver­sos avanços.

O que, efe­ti­va­mente, me pre­ocupa são os efeitos para a posteridade.

Recen­te­mente, em um debate com os can­didatos à prefeitura de São Paulo, um dos assun­tos que domi­nou os par­tic­i­pantes foi a “ameaça” de um retorno dos petis­tas ao comando da cidade.

O receio parece ser tanto que o rep­re­sen­tante do par­tido encontra-​se, nas pesquisas de opinião, atrás, até mesmo, de rad­i­cais, como o can­didato do Par­tido Social­ista e Liber­dade — PSOL, rep­re­sen­tado pelo notório Guil­herme Bou­los, que, ao menos em tese, estaria à esquerda do PT.

O que assis­ti­mos em São Paulo é o que acon­tece no macro cenário da política nacional.

Estim­u­la­dos por ambos os lados, como se hou­vessem ape­nas dois, os brasileiros, somos com­peli­dos ou empurra­dos para o seguinte dilema: se criti­camos o gov­erno Bol­sonaro, somos logo colo­ca­dos no grupo dos “esquerdis­tas, comu­nistas, saudo­sis­tas” da roubal­heira dos gov­er­nos petis­tas.

Se, por outro lado, criti­camos a roubal­heira, os equívo­cos, a ban­dalha que foram os gov­er­nos petis­tas, logo somos chama­dos bol­sonar­is­tas, infames, intol­er­antes, racis­tas, geno­ci­das, e tudo mais.

Nos debates extrema­dos que tomaram de conta da política nacional, os gov­er­nos tidos por sociais-​democratas, que na curta exper­iên­cia após a ditadura, se fazem rep­re­sen­tar pelos dois gov­er­nos do Par­tido da Social Democ­ra­cia Brasileira — PSDB, são colo­ca­dos, na conta dos petis­tas como “de dire­ita” e, por isso mesmo, com­bat­i­dos; e, pelos bol­sonar­is­tas, como comu­nistas, de esquerda, cúm­plices da cor­rupção, ali­a­dos e a encar­nação do mal, devendo ser com­bat­i­dos por isso.

É assim, entre dois pólos que lutam pelo poder e/​ou para a manutenção de suas ideias a qual­quer custo, que a maior parte da sociedade brasileira vê-​se com­pel­ida, emb­ora sem lado, a escol­her um dos dois que mais “berram”.

O debate do “nós con­tra eles” teve iní­cio com primeiro gov­erno Lula, que a despeito de ter rece­bido o gov­erno numa tran­sição pací­fica – como nunca tín­hamos visto entre par­tidos de oposição –, logo que assumiu tra­tou de satanizar o gov­erno ante­rior.

Isso foi feito, não com o propósito de “fazer difer­ente” ou evoluir no propósito de gov­ernar para o bem comum, mas sim, para aniquilar aquela que era a prin­ci­pal força de oposição em um pro­jeto hegemônico de poder.

Em lin­has gerais, o petismo vem exper­i­men­tando o mesmo método de descon­strução que uti­li­zou con­tra os seus ante­ces­sores.

Assumi­ram com uma ban­deira de “puros” e no gov­erno revelara-​se aos olhos da nação capazes de coon­estarem e par­tic­i­parem de esque­mas de cor­rupção inimag­ináveis aos cidadãos brasileiros, até então.

É esse con­traponto que o bol­sonar­ismo vem fazendo de forma efi­ciente – tam­bém num pro­jeto hegemônico de poder –, impingindo a todos os seus críti­cos a pecha de cúm­plices ou par­ticipes dos esque­mas petis­tas de cor­rupção, mesmo que estes nunca ten­ham pas­sado por perto de qual­quer dos gov­er­nos petis­tas ou auferido quais­quer van­ta­gens de seus gov­er­nos.

O título do texto é uma provocação.

Aprendi desde muito cedo, aliás, desde sem­pre, que a hon­esti­dade não é favor, mérito ou fac­ul­dade, mas sim um dever, uma obri­gação do cidadão.

Outra coisa, ninguém que se pre­tende hon­esto deve sê-​lo para impres­sionar ou para os out­ros. Deve­mos ser hon­estos para nós mes­mos.

E isso não “van­tagem” nenhuma.

O ex-​presidente Lula da Silva, no seu dis­curso de posse, no já longíquo janeiro de 2003, fez uma solene promessa à nação brasileira: não ape­nas não roubar, mas impedir que out­ros roubassem no seu governo.

O tempo que é o sen­hor da razão e as dezenas de proces­sos civis e crim­i­nais con­tra o ex-​presidente e sua troupe provam que não fez nen­huma coisa nem outra.

Os mais vari­a­dos esque­mas já rev­e­la­dos – e acred­i­ta­mos que de muitos jamais saber­e­mos –, sub­traíram dos cofres da nação bil­hões de dólares e as penas aos impli­ca­dos se conta em mil­hares de anos.

As mal­tas fiéis do lulopetismo negam as evidên­cias – e provas da ban­dalha –, como elas nunca tivessem exis­tido e tudo que assis­ti­mos nos últi­mos anos fos­sem uma “armação” da dire­ita con­ser­vadora, escrav­ocrata e ressen­tida que nunca superou a chegada de “operário” (que nunca tra­bal­hou) ao poder.

Esse nega­cionismo à luz de todas as evidên­cias é o prin­ci­pal com­bustível para o bol­sonar­ismo se fir­mar e se for­t­ale­cer no poder.

As hostes bol­sonar­is­tas – e já ouvi de diver­sos defen­sores deste novo credo –, repetem como se fosse um mantra: o homem não está roubando; até agora, com toda vig­ilân­cia, ninguém nunca apon­tou qual­quer ato de cor­rupção e out­ras coisas na mesma linha.

Enquanto isso, a “boiada” vai pas­sando, como bem assi­nalou o min­istro anti-​meio ambi­ente do atual governo.

Para os defen­sores do credo bol­sonar­ista a “for­mação de família” que aliv­iou ou cofres públi­cos em mil­hões de reais através do famoso esquema de “rachad­inha” não é nada.

— Ora, todo mundo faz: vereadores, dep­uta­dos, senadores, mem­bros do poder judi­ciário e até do Min­istério Público, que dev­e­ria fis­calizar a lei. Por que com os Bol­sonaro seria diferente?

Dizem para jus­ti­ficar o injustificável.

O que sig­nifi­cam os depósi­tos sem origem na conta da primeira-​dama de pouco menos de cem mil diante dos mil­hões rou­ba­dos pelos petis­tas?

É claro que numa escala de grandeza não se tem como com­parar, mas é cor­rupção do mesmo jeito.

Enquanto o mundo inteiro assiste com estu­por as queimadas recordes na Amazô­nia e no Pantanal.

Para os defen­sores do credo bol­sonar­ista isso sem­pre exis­tiu, é coisa de ONG’s estrangeiras inter­es­sadas em ques­tionar a sobera­nia do país sobre assun­tos inter­nos, é coisa de índios e de cabo­c­los que usam esse método para limpeza do solo, é coisa do Leonardo di Caprio.

Órgãos de mon­i­tora­mento via satélite do Brasil e do mundo inte­rior estão erra­dos.

As ima­gens estão erradas, são infil­tra­dos esquerdis­tas que querem deses­ta­bi­lizar o governo.

E a boiada vai passando.

Numa reunião con­vo­cada numa sexta-​feira para acon­te­cer na segunda, o Con­selho Nacional de Meio Ambi­ente – Conama, que foi “desidratado” pelo atual gov­erno, para excluir a par­tic­i­pação da sociedade, revo­gou diver­sas nor­mas de pro­teção ambi­en­tal, seja a pro­teção dos manguezais, das restin­gas, do cer­rado, da explo­ração dos rios, lagos e da pro­teção as áreas de reservatórios.

O que tem? É o desen­volvi­mento.

O mer­cado e a espec­u­lação imo­bil­iária em geral, agradece.

E é assim em toda a pauta ambi­en­tal, explo­ração des­or­de­nada de garim­pos em reser­vas e áreas indí­ge­nas, incen­tivos à gri­lagem de ter­ras públi­cas nas bor­das da Amazô­nia e do Pan­tanal e por aí vai.

Vejam que mesmo o “gan­cho” que usam para se con­tra­por aos gov­er­nos petis­tas se tornou contraditório.

Como falar em com­bate à cor­rupção quando o gov­erno é “sus­ten­tado” politi­ca­mente pelos mes­mos par­la­mentares – com pou­cas exceções –, envolvi­dos em onze de cada dez escân­da­los de cor­rupção dos gov­er­nos petistas.

— Mas o “homem” pre­cisa gov­ernar. Vai gov­ernar com quem?

Dizem as mal­tas do bol­sonar­ismo uti­lizando, prati­ca­mente, o mesmo argu­mento do ex-​ministro Zé Dirceu, em 2003, ao lotear o gov­erno e mon­tar o esquema que ficou con­hecido como “men­salão” e depois “petrolão”.

O que tem de difer­ente é que a cor­rupção encontra-​se “insti­tu­cional­izada” através de out­ros mecan­is­mos, não mais total­mente den­tro do gov­erno fed­eral.

Agora usam a prin­ci­pal moeda da República: as emen­das, dis­tribuí­das a granel e sem con­t­role, inclu­sive, legal, para garan­tir a sus­ten­tação do governo.

Quan­tos bil­hões o gov­erno não lançou mão nos últi­mos tem­pos para “agradar” a base ali­ada?

Como nos gov­er­nos ante­ri­ores ninguém liga para as bur­ras da viúva – ou ligam em dema­sia, tanto que as querem para si.

E o gov­erno fed­eral, pres­i­dente à frente, faz de tudo para sat­is­fazer a gula e ficar de bem com o eleitorado.

Pois, mais do que colo­car o país no rumo do desen­volvi­mento e do pro­gresso, o que está em jogo já é a dis­puta eleitoral de 2022.

Outro dia, os par­la­mentares aprovaram um “mimo” de isenção de quase um bil­hão para as igre­jas, o pres­i­dente por recomen­dação da ile­gal­i­dade pela equipe econômica, mas já dizendo aos seus ali­a­dos do Con­gresso que der­rubem o próprio veto.

A mesma coisa é a “guerra” que trava para criar um pro­grama assis­ten­cial mais robusto que o cri­ado pelo petismo, que por sua vez era uma junção dos pro­gra­mas cri­a­dos pelo PSDB.

Tudo com um propósito: com­prar votos explo­rando a mis­éria do povo – ainda que o país tenha que pagar as con­se­quên­cias.

Noutra frente, e com igual importân­cia, tra­bal­ham com inco­mum afinco para – e jun­tos –, para acabar com todos os avanços na área de con­t­role e com­bate insti­tu­cional à cor­rupção.

Não foi sem motivos que o pres­i­dente nomeou um procurador-​geral de fora da lista trí­plice for­mu­lada pelos inte­grantes do MPF.

Os resul­ta­dos estão aí, a forças tare­fas de com­bate à cor­rupção nos esta­dos – as várias “lava jato” estão sendo desmo­bi­lizadas.

Alguém se lem­bra que o ex-​juiz Moro deixou a mag­i­s­tratura porque acred­i­tou na promessa que no gov­erno não iria “pescar” cor­rup­tos com vara de pesca, mas com redes?

Desde o seu primeiro dia que assis­tiu a “promessa” esvair.

Viu o pro­jeto de com­bate à cor­rupção ser aniquilado; as ações de com­bate à cor­rupção serem redi­re­cionadas.

Viu as ten­ta­ti­vas de apar­el­hamento da Polí­cia Fed­eral.

E, por fim, teve que pedir demissão.

Agora, assiste aque­les mes­mos cor­rup­tos que dev­e­riam ser inves­ti­ga­dos, jul­ga­dos e con­de­na­dos “estancarem a san­gria” –como bem que­ria o notório ex-​senador Romero Jucá –, e revert­erem com o silên­cio e com­placên­cia de todos, os avanços no com­bate à cor­rupção que ele – e tan­tos juízes –, o Min­istério Público, a Polí­cia Fed­eral, travaram.

Assiste, tam­bém, o pres­i­dente da República a escol­her min­istro do STF, em comum acordo com o cen­trão, em con­vescote com Gilmar Mendes e Dias Tóf­foli, as prin­ci­pais reser­vas morais do nosso Supremo.

Sobra a impressão que o Brasil faz um triste retorno a um triste pas­sado.

Abdon Mar­inho é advo­gado.