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A ver­dade que alvoroça a caserna

Escrito por Abdon Mar­inho


A VER­DADE QUE ALVOROÇA A CASERNA.

Por Abdon Marinho.

ALGU­MAS sem­anas, com o alas­tra­mento da pan­demia do novo coro­n­avírus e aumento do número de mor­tos, escrevi um texto no qual fazia a per­gunta essen­cial no seu título: “Quem her­dará os mor­tos da pandemia?”.

Nos últi­mos dias o país foi tomado por uma imensa polêmica envol­vendo uma fala do min­istro Gilmar Mendes, do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, que crit­i­cava a con­dução do gov­erno no con­t­role da pan­demia e dizia, entre out­ras coisas, que as Forças Armadas estariam se asso­ciando a um genocí­dio.

Foi o que bas­tou para o “mundo” vir abaixo.

Os coman­dantes das Forças Armadas, através do Min­istério da Defesa, emi­ti­ram notas de protestos, mil­itares far­da­dos e de pija­mas deram declar­ações de repú­dio, e, até entraram com uma rep­re­sen­tação con­tra min­istro na Procuradoria-​Geral da República, para que esta ado­tasse as medi­das “necessárias” con­tra o min­istro por suas colo­cações que, suposta­mente, feririam a Lei de Segu­rança Nacional, a famosa e temida LSN.

O próprio min­istro, diante da reper­cussão da fala, veio com expli­cações, fazendo uma espé­cie de “mea culpa”, dizendo que, emb­ora tenha fal­ado através da rede mundial de com­puta­dores – uma live –, suas colo­cações se diri­giam ao ambi­ente acadêmico e, pelo con­trário, tin­ham a intenção de preser­vação das Forças Armadas, exces­si­va­mente envolvi­das com o gov­erno do sen­hor Bolsonaro.

Desde que resolvi escr­ever min­has impressões sobre os fatos que vive­mos – e, ape­sar de recente já são quase mil tex­tos –, sem­pre tive um posi­ciona­mento crítico a respeito dos min­istros falas­trões da nossa Corte Suprema.

Acho que não com­porta a jul­gadores – ainda que em pre­juízo do livre exer­cí­cio da cidada­nia –, emi­tirem opiniões fora dos autos que jul­gam. É o ônus que têm de pagar pela escolha profis­sional que fiz­eram.

O posi­ciona­mento público ou político tem a única ser­ven­tia de enfraque­cer as insti­tu­ições que par­tic­i­pam e a própria democracia.

Dito isso, reafirmo a posição – sem­pre exter­nada –, de con­trariedade à fala do min­istro e de qual­quer outro jul­gador que se achar no dire­ito de dar “pitaco” em tudo que acon­tece no país, inclu­sive, sobre os assun­tos que, ao menos em tese, poderá julgar.

Entre­tanto, devo deixar claro, tam­bém, que a crítica que faço à fala do min­istro – e não a fiz antes por estar pre­ocu­pado com a saúde de um dos meus irmãos que esteve inter­nado em unidade de ter­apia inten­siva por conta da covid-​19 –, faço pela pes­soa que se man­i­festou, não pelo conteúdo.

Não fosse o autor das colo­cações, um min­istro da Suprema Corte, não teria prob­lema ou dúvida alguma em subscrevê-​las.

Exceto por uma ou outra ressalva, os ques­tion­a­men­tos estão per­feitos e dev­e­riam, ao invés de atrair críti­cas, atrair a reflexão do gov­erno fed­eral e das próprias Forças Armadas.

O que está ocor­rendo no Brasil, no que se ref­ere ao com­bate à pan­demia do novo coro­n­avírus é algo gravís­simo. Nunca na história do país – pelo menos na história recente –, nos deparamos com uma tragé­dia de tamanha mag­ni­tude.

Enquanto escrevo este texto, nesta tarde de domingo, o número de óbitos por conta da pan­demia se aprox­ima – se é que já não ultra­pas­sou –, a casa dos oitenta mil mor­tos, sem que o gov­erno do sen­hor Bol­sonaro tenha uma posição clara e cien­tifi­ca­mente aceita de como deve se com­bater esse vírus mortal.

Difi­cil­mente, para nossa tris­teza, até o final desta tragé­dia, alguma família brasileira escape do sofri­mento cau­sado pela dor da perda de um ente ou um amigo, sem que o gov­erno demon­stre qual­quer sol­i­dariedade, empa­tia ou faça o seu papel de bus­car a mel­hor alter­na­tiva visando sal­var o maior número pos­sível de pes­soas.

Em sen­tido inverso, temos é o gov­er­nante, dia após dia, se envol­vendo em polêmi­cas empíri­cas e/​ou teses exdrúx­u­las que em nada tem aju­dado no com­bate à pan­demia.

Outro erro grave é que esta­mos há mais de sessenta dias sem um min­istro tit­u­lar na pasta da saúde, alguém respeitado pela comu­nidade cien­tí­fica nacional e inter­na­cional, com con­hec­i­mento do assunto ou que, pelo menos, não seja ques­tion­ado pelo descon­hec­i­mento do tema.

A situ­ação torna-​se ainda mais grave – infini­ta­mente mais grave –, quando ao invés de cien­tis­tas, temos o Min­istério da Saúde “tomado” por mil­itares, tanto da reserva quanto da ativa.

Noutras palavras, o min­istro Gilmar Mendes acerta quando pon­tua que esta inde­v­ida “usurpação” por parte dos mil­itares de um min­istério civil e que, por sua natureza, dev­e­ria ser con­duzido por cien­tis­tas, ainda mais durante uma pan­demia, coloca as Forças Armadas como par­ticipes de um genocí­dio.

O alvoroço na caserna, a sus­ci­tar tan­tos protestos, foi cau­sado prin­ci­pal­mente pelo termo genocí­dio uti­lizado pelo min­istro falas­trão.

Com relação a isso (ao termo genocí­dio uti­lizado), menos do que crítica, dev­e­ria ser motivo de agradec­i­mento e de uma reflexão visando uma mudança de rumos no com­bate à pan­demia.

Ora, se o gov­erno fed­eral, ainda que através de nar­ra­ti­vas mais diver­sas, possa com­par­til­har a culpa pela imen­sidão de mor­tos cau­sada pela pan­demia, com gov­er­nadores e prefeitos, o mesmo mesmo não poderá fazê-​lo naquilo que é sua respon­s­abil­i­dade exclu­siva, que é a pro­teção dos povos indí­ge­nas.

Em relação a estes povos, é o gov­erno fed­eral, através de suas fun­dações e órgãos, o respon­sável exclu­sivo, e sabe­mos que ele não tem se desin­cumbido desta mis­são, seja por não impedir a invasão das reser­vas e aldeias por garimpeiros e out­ros explo­radores das flo­restas, provo­cando a con­t­a­m­i­nação daque­las comu­nidades, seja por não dis­pen­sar um trata­mento médico ade­quado aos indí­ge­nas que estão ou pos­sam vir a ser infec­ta­dos pelo vírus.

Con­siderando que muitos destes povos já estão restri­tos a um número reduzi­dos de mem­bros, caso ven­ham a pere­cer toda uma etnia estare­mos, sim, diante de um genocí­dio.

Vamos torcer para que isso não acon­teça, mas as políti­cas gov­er­na­men­tais, tendo à frente o Min­istério da Saúde – e o mundo inteiro está assistindo –, con­duz para que o pior acon­teça.

Quando tudo isso pas­sar, caso o pior acon­teça, o com­por­ta­mento de cada gov­erno será avali­ado, e caso, infe­liz­mente, seja com­pro­vado o genocí­dio de povos indí­ge­nas, o gov­erno brasileiro e seus agentes fatal­mente dev­erão respon­der per­ante as Cortes Penais Inter­na­cionais –, isso, se não respon­derem, tam­bém, per­ante a Justiça brasileira.

A forma de com­bater a pan­demia foi – e está sendo –, uma posição política de cada gov­erno.

Quem agiu certo e no tempo ade­quado, colhe os mel­hores resul­ta­dos. Os que, pelo con­trário, se deixaram cegar pelos seus próprios con­ceitos, amargam os piores resul­ta­dos e algum dia serão chama­dos para rece­ber a suas her­anças.

As Forças Armadas do Brasil, que têm um papel bem definido na Con­sti­tu­ição Fed­eral, ao aceitarem sair da sua mis­são para exercerem car­gos – muitos ainda na ativa –, em um gov­erno civil, absur­da­mente ide­ol­o­gizado, dev­e­ria saber o risco que cor­re­ria – e que está cor­rendo, inclu­sive, o de perder o prestí­gio que tanto se esforçou para con­quis­tar nas últi­mas décadas.

Os mais jovens talvez não lem­brem, mas, quando a pop­u­lação com­preen­deu que o movi­mento de 1964 implan­tara uma ditadura no país, de lá até 1985, ou seja, por vinte e um anos, as Forças Armadas pas­saram a ser vis­tas como as Forças Armadas da ditadura. Com o retorno do poder aos civis a par­tir de 1985, pas­saram a ser vis­tas com descon­fi­ança pela pop­u­lação, tanto assim que temiam alguma espé­cie de revan­chismo por parte dos gov­er­nos civis.

Os anos do pós ditadura têm sido para as Forças Armadas se recom­porem com a sociedade brasileira.

Somente em tem­pos recentes pas­saram a ser vis­tas como essen­ci­ais ao país e a con­quis­tar a sim­pa­tia da pop­u­lação e é isso que se arriscam a perder.

As diver­sas ten­ta­ti­vas do atual gestão – calçado na tol­erân­cia obse­quiosa de alguns mil­itares e no saudo­sismo de alguns gen­erais de pijama –, de “mil­i­ta­rizar” o gov­erno ou de se sus­ten­tar usando as Forças Armadas, tem o efeito deletério de dividir a nação e devolver àquela insti­tu­ição todo o desprestí­gio e descon­fi­ança dos anos de ditadura e das primeiras décadas pós o régime de exceção.

As Forças Armadas não pre­cisam ficar alvoroçadas com as colo­cações “inde­v­i­das” do min­istro Gilmar Mendes, pre­cisam, sim, com­preen­derem o seu papel con­sti­tu­cional numa sociedade democrática, mantendo-​se equidis­tantes de con­tendas políti­cas ou de par­tic­i­pação de estraté­gias toscas de gov­erno, sob pena de perderem não ape­nas o respeito den­tro da nação, mas, tam­bém, no âmbito inter­na­cional, e, inclu­sive, respon­derem per­ante as cortes inter­na­cionais na even­tu­al­i­dade de se com­pro­var genocí­dio con­tra os povos indí­ge­nas do Brasil.

Devem refle­tir sobre isso e enten­derem que fiz­eram e fazem muito mal a si mes­mas e à nação, deixarem uma posição de Estado para se posi­cionarem politi­ca­mente a favor de uma facção política.

Demor­aram muito para con­quis­tar um respeito que têm colo­cado em risco ao longo do último ano e meio. Não tar­darão a ouvir o velho bor­dão do tempo da ditadura: mil­itares, de volta aos quar­téis!

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Gov­erno estad­ual faz parce­ria com o crime eleitoral.

Escrito por Abdon Mar­inho


GOVERNO ESTAD­UAL FAZ PARCE­RIA COM O CRIME ELEITORAL.

Por Abdon Marinho.

SOU um declar­ado entu­si­asta do “Pro­grama Rua Digna” do gov­erno estad­ual. Esse entu­si­asmo vem desde antes do pro­grama exi­s­tir. Aliás, vem desde antes o atual gov­erno exi­s­tir.

Desde que come­cei a tra­bal­har pre­stando asses­so­ria aos municí­pios maran­henses que “meto a col­her” no que­sito da urban­iza­ção sug­erindo aos gestores adoção do calça­mento de ruas através dos blo­cos sex­tavado de alta qual­i­dade.

Ao meu sen­tir, muito mel­hor e viáveis para a maio­ria dos nos­sos municí­pios do que as urban­iza­ções feitas em asfalto.

Isso sem con­tar que os municí­pios pode­riam gerar renda com a con­fecção dos blo­cos para os munícipes; a manutenção que é muito mais fácil do que em vias asfal­tadas; e, sem con­tar, que a natureza agradece.

Alguns gestores, com quem tra­bal­hei (e tra­balho), que me ouvi­ram, implan­taram o mod­elo em seus municí­pios. Infe­liz­mente, ainda poucos.

Incom­preen­sivel­mente, a maio­ria ainda pref­ere ado­tar o mod­elo de ruas urban­izadas através do com­bustível fós­sil, mais caro, anti-​ecológico, e que, pouco ou nada de empre­gos, gera nas local­i­dades.

Qual não foi a minha sur­presa ao rece­ber uma série de vídeos nos quais a admin­is­tração munic­i­pal de Paço do Lumiar, municí­pio da região met­ro­pol­i­tana, colo­cava homens e máquinas para impedir o calça­mento de algu­mas ruas, suposta­mente, pelo pro­jeto “Rua Digna”, do gov­erno estadual.

Sur­presa maior por saber que tanto a prefeita em exer­cí­cio do municí­pio – o prefeito tit­u­lar encontra-​se afas­tado do cargo há mais de ano dev­ido a prob­le­mas de saúde –, quanto o gov­er­nador do estado são inte­grantes do mesmo par­tido, o Par­tido Comu­nista do Brasil — PC do B, e, em data recente, o pres­i­dente da agremi­ação no estado, dep­utado fed­eral Már­cio Jerry, estivera hipote­cando apoio à can­di­datura da vice-​prefeita, em exer­cí­cio, ao cargo de prefeita, nas eleições deste ano.

Tudo me pare­ceu bem estranho, inclu­sive, pelo fato de, dias antes, ter rece­bido algu­mas fotografias da “inau­gu­ração: de uma destas ruas por alguns secretários de estado sem a pre­sença da prefeita.

Ini­cial­mente, chamou-​me a atenção o fato da inau­gu­ração con­tar com placa. Sério, não uma placa infor­mando o nome da rua, mas uma placa daque­las típi­cas de inau­gu­rações, com o nome das autori­dades respon­sáveis pela obra, gov­er­nador, secretários, etc. Claro, tinha o nome da rua, tam­bém.

Não me recordo de fato semel­hante. Já vi, no Maran­hão mesmo, autori­dades inau­gu­rando poços arte­sianos, pri­vadas, pin­tura de pré­dio, lança­mento de alguma obra, vi, até, inau­gu­ração de semá­foro e placa de trân­sito, mas, inau­gu­ração de rua naque­les moldes, com dire­ito a plaquinha infor­mando o nome do gov­er­nador e dos secretários, foi a primeira vez.

Pois bem, mas fiquei curioso para saber o motivo da “zanga” da alcaide sub­sti­tuta por conta de uma obra suposta­mente real­izada pelo gov­erno do seu próprio partido.

Con­ver­sei com alguns ami­gos, out­ros ali e desco­bri que estas obras – parece que já pas­sam de cinco –, têm como ben­efi­ciário, eleitoral­mente falando, o adver­sário da prefeita.

Segundo as mes­mas fontes as obras são real­izadas por fun­cionários de suas empre­sas ou de seus par­entes, e, dia após dia, o pré-​candidato e/​ou seus par­entes, visi­tam os ben­efi­ciários infor­mando a todos quem é “o pai da cri­ança” e aprovei­tando pra pedir votos àquela sofrida pop­u­lação.

Este é o motivo da “zanga” da prefeita em exer­cí­cio.

A prefeita, por certo, deve lem­brar muito bem que não é a primeira vez que o gov­erno estad­ual inter­fere em muitos municí­pios para ben­e­fi­ciar seus ali­a­dos políti­cos.

Na eleição ante­rior, que a elegeu como vice-​prefeita de Paço do Lumiar, foram obras e mais de urban­iza­ção, asfal­ta­mento de ruas e até, promessa e dis­tribuição de títu­los de pro­priedade foram usa­dos para ben­e­fi­ciar a ela e ao can­didato a prefeito que acabou se ele­gendo.

O que a prefeita, em exer­cí­cio, deve estran­har é que agora o gov­erno estad­ual lança mão de uma estraté­gia inusi­tada: assumir a pater­nidade de crimes eleitorais – com dire­ito a placa e tudo mais –, em bene­fí­cios de uma can­di­datura adver­sária do par­tido do gov­erno.

Assis­tido a tudo isso de longe, não deixo de perce­ber o quanto essas eleições munic­i­pais serão desafi­ado­ras para a Justiça Eleitoral.

Em plena pan­demia, em todos os can­tos do estado, o que mais ouvi­mos são notí­cias de abu­sos de pré-​candidatos aproveitando-​se das difi­cul­dades do povo para dis­tribuírem benesses em troca de votos.

O exem­plo dos fatos nar­ra­dos acima, em Paço do Lumiar, é algo inédito em matéria de crime eleitoral – e de ousa­dia.

Imag­inem uma can­di­datura que usa o próprio gov­erno estad­ual para come­ter um delito eleitoral, con­forme denun­ci­ado ampla­mente pela prefeita munic­i­pal em exercício?

Em mais de vinte anos como advo­gado eleitoral­ista, acos­tu­mado com todo tipo de crimes e abu­sos em eleições nunca tinha visto algo do tipo.

Ora, se as obras de calça­men­tos estão sendo feitas pelo gov­erno estad­ual, por que este não busca uma parce­ria insti­tu­cional com o municí­pio, de forma plane­jada, trans­par­ente e pública?

Por qual motivo as obras suposta­mente “do estado”, em Paço do Lumiar, estão sendo apro­pri­adas e explo­radas politi­ca­mente por uma can­di­datura de forma tão acin­tosa, a ponto da prefeita do municí­pio colo­car máquinas e segu­ranças para impedi-​las?

Se as obras, na ver­dade, estão sendo real­izadas pelo pré-​candidato, o gov­erno estad­ual está ape­nas servindo de “bar­riga de aluguel” do crime eleitoral? Daí as inusi­tadas pla­cas de inau­gu­ração de ruas, com os nomes dos supos­tos “pés de panos”, assu­mindo a pater­nidade de obras que não são suas, é isso?

O Min­istério Público Eleitoral pre­cisa ficar bem atento para este tipo de coisa.

As eleições munic­i­pais deste ano não podem ser deci­di­das medi­ante o come­ti­mento de crimes eleitorais tão abusivos.

Quando can­di­dat­uras usam obras do estado para “turbinar” suas can­di­dat­uras, como se fos­sem suas; ou quando, o próprio gov­erno estad­ual aceita o papel de “bar­riga de aluguel” para o come­ti­mento de crimes eleitorais, assu­mindo como suas obras que não são suas para ben­e­fi­ciar especi­fi­ca­mente esta ou aquela can­di­datura, é porque a “coisa” já ultra­pas­sou todos os limites.

O Min­istério Público Eleitoral pode­ria aproveitar para inves­ti­gar a razão de, às vésperas das eleições, tan­tos veícu­los apare­cerem “cha­pa­dos” com pro­pa­ganda de deter­mi­na­dos partidos.

Esses pro­pri­etários são fil­i­a­dos a estes par­tidos?

Por qual motivo não sendo, ou, mesmo sendo fil­i­a­dos a out­ros par­tidos, colo­cam a pro­pa­ganda de deter­mi­nada agremi­ação com número da leg­enda em destaque (só lem­brando que será o mesmo número do can­didato), estão recebendo por isso?

Quais os bene­fí­cios? Din­heiro? Com­bustível? Empre­gos?

Ah, pode­ria aproveitar a viagem e inves­ti­gar notí­cias de farta dis­tribuição de mil­hares de ces­tas bási­cas, peixes, mate­r­ial de con­strução, etc.

Voltando as obras de mel­ho­ra­mento das ruas, fato, que dev­ido a par­tic­i­pação do estado, de forma ativa ou pas­siva, mais me chamou a atenção, quero dizer que: se a rua é digna, o crime eleitoral não é.

Fica o alerta e a dica.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Vida de gado

Escrito por Abdon Mar­inho

VIDA DE GADO.

Por Abdon Marinho.

SEM­ANA pas­sada escrevi dois tex­tos. Um dizia que o gov­erno Bol­sonaro acabara, no outro crit­i­cava a pos­tura do gov­erno estad­ual em pro­mover, sem amparo cien­tí­fico o “liberou geral” da econo­mia, sem con­sid­erar o alas­tra­mento da pan­demia pelo inte­rior do estado, a perda de mais de duas mil vidas, o número de óbitos diários acima da casa dos trinta, jus­ti­f­i­cando que não seria “tutor de ninguém e que cada um dev­e­ria cuidar de si”.

Aos dois tex­tos, as reações apaixon­adas típi­cas dos dias atu­ais.

Depois de tan­tos anos não dev­e­ria mais “dá trela”, como dizia lá no meu inte­rior, entre­tanto, não posso deixar de reg­is­trar a pro­funda con­tradição das falanges bol­sonar­is­tas ao recla­marem – com o mesmo dis­curso dos seus adver­sários –, de um texto, ao meu sen­tir, sereno que só passa a per­cepção do autor em relação ao gov­erno atual.

Os ataques desnecessários – porque não me con­vencerão do con­trário –, e con­tra­ditórios, pois falam como máx­ima democrática na liber­dade de expressão, incluindo a defesa da supressão da própria democ­ra­cia brasileira, como é o caso das man­i­fes­tações em defesa de um golpe mil­i­tar, do fechamento do Con­gresso Nacional e Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF (e por exten­são de toda a justiça); de atos insti­tu­cionais como AI-​5, que suprimiu as liber­dades indi­vid­u­ais dos cidadãos, e ao mesmo tempo são refratários à liber­dade de expressão quando esta é para criticar o gov­erno que defen­dem.

Quer dizer que a liber­dade de expressão que alberga até a defesa do fim da liber­dade não serve para que se defenda ideias difer­entes ou con­trárias às suas ideias?

Não, não acho razoável – e jamais acharei –, que em nome de uma suposta liber­dade se defenda a implan­tação de uma ditadura, o fechamento das insti­tu­ições próprias da democ­ra­cia ou se suprima as liber­dades indi­vid­u­ais.

Acho menos razoável, ainda, que um pres­i­dente da República incen­tive, direta ou indi­re­ta­mente, por ação ou omis­são, este tipo de movi­mento.

A tola con­ceitu­ação de que exis­tem “ditadura boa” é, aliás, o que os iguala mais, ainda, às ideias que dizem com­bater: o tal comu­nismo.

Colo­cam o “comu­nismo” como se este estivesse enfron­hado nas insti­tu­ições do país e perseguindo os novos “cav­aleiros” das liber­dades nacionais.

Os defen­sores do comu­nismo, a mil­itân­cia de base – pois os diri­gentes comu­nistas em todos lugares do mundo e em todos os tem­pos sem­pre quis­eram “se darem bem” –, foram for­jadas, tam­bém, no falso con­ceito de que as ditaduras comu­nistas “eram do bem”.

Para estes, a dire­ita cor­rupta e per­versa pas­sam os dias a tra­mar con­tra a classe tra­bal­hadora sendo necessário uma “ditadura do bem” para lib­er­tar o povo.

Assim, tam­bém, os foram out­ros dois movi­men­tos hedion­dos da história recente da humanidade: o fas­cismo e o nazismo. Este último quase con­seguindo o seu intento de impor uma ditadura em uma grande parte do globo ter­restre, mas, ainda cau­sando sofri­mento e mortes a mil­hões de pes­soas.

A história mostra que mil­hões de alemães “do bem”, defendiam e idol­a­travam os líderes nazis­tas e a sua ditadura “restau­radora”.

O mesmo acon­te­cendo com mil­hões de ital­ianos “do bem”.

Só foram perce­ber seus equívo­cos no final ou reta final da Segunda Guerra Mundial.

Os ver­dadeiros democ­ratas – por mais que os extrem­is­tas digam o con­trário –, são con­scientes que não existe ditadura boa, ou do bem.

Não bas­tassem os exem­p­los históri­cos, os tristes exem­p­los dos regimes autoritários que teimam em sobre­viver, estão aí para com­pro­var o que digo.

Os soluços autoritários, ven­ham de onde vierem, pre­cisam ser com­bat­i­dos no nasce­douro.

Foi isso que disse uma pesquisa recente da Folha de São Paulo, que apon­tou que quase oitenta por cento da pop­u­lação brasileira é con­tra a ditadura.

Nunca o índice dos que apoiam a democ­ra­cia, desde 1988, foi tão ele­vado, o que con­firma aquilo que já nos dizia Ulysses Guimarães por ocasião da pro­mul­gação da Con­sti­tu­ição: “o povo brasileiro tem ódio e nojo de ditadura”.

O recado não pode­ria ser mais claro e dev­e­ria nortear a con­duta do atual gov­erno. Ou seja, defender a democ­ra­cia é condição essen­cial para gov­ernar.

Noutra palavras, não sabe brin­car, não desce para o play.

Nada nos vale qual­quer sucesso ou “mila­gre econômico” como pre­gavam os mil­itares ainda durante a ditadura, sem o respeito às insti­tu­ições repub­li­canas e a democ­ra­cia.

O povo brasileiro não deseja e jamais vai defender uma ditadura, seja ela de “dire­ita” ou de “esquerda”, ainda que seus “mil­i­tantes” digam, dia após dia, que exis­tem ditaduras boas.

Desde sem­pre que a minha pauta é defesa da democ­ra­cia e dos seus val­ores; que me coloco con­tra o pés­simo hábito das lid­er­anças tratar o povo como gado, inca­paz de for­mu­lar seus próprios con­ceitos.

Faço isso a vida inteira. Já no movi­mento estu­dan­til, em mea­dos dos anos oitenta, com o surg­i­mento do pluri­par­tidarismo e as diver­sas cor­rentes defend­endo os regimes total­itários da esquerda ou da dire­ita me colo­cava con­tra.

O mesmo com­por­ta­mento durante o movi­mento uni­ver­sitário.

Já naque­les anos, mea­dos dos anos noventa e iní­cio dos anos dois mil, muito antes das redes soci­ais, já assumia pub­li­ca­mente min­has ideias e as exter­nava, nos fóruns de debates ou por out­ros meios.

Naquele tempo as “redes soci­ais” eram os pro­gra­mas matuti­nos de rádio.

Um dos mais req­ui­si­ta­dos era o do saudoso jor­nal­ista Roberto Fer­nan­des, na Rádio Edu­cadora Rural do Maran­hão, para lá, quase toda sem­ana, lig­ava para expor min­has posições sobre os temas políti­cos comu­nitários, crit­i­cava prefeito, gov­er­nador, dep­uta­dos, ministros.

Depois veio a par­tic­i­pação em pro­gra­mas de rádio e de tele­visão, através de entre­vis­tas.

Nunca me furtei a assumir minha posição ou de dizer o que pen­sava a respeito dos mais vari­a­dos temas ou governos.

Quando crit­i­cava os gov­er­nos do grupo Sar­ney, pelos adu­ladores destes, era chamado de esquerdista; quando crit­i­cava os gov­er­nos da esquerda, era chamado de dire­itista.

Nos últi­mos trinta anos tem sido assim.

Quando critico os gov­er­nos ditos de esquerda sou chamado de dire­itista; quando crítico os da dire­ita, sou chamado de esquerdista.

As crítica, geral­mente, partem das “bases”, daque­les que querem “mostrar serviço” ou adu­lar os chefes.

Os líderes, salvo uma ou outra exceção, sequer me con­hece, já a mil­itân­cia insana e des­ocu­pada, nem chega a ler ou a for­mu­lar uma con­vicção sobre qual­quer coisa, já lança os ataques pelo título do texto.

Com o advento da aces­si­bil­i­dade a comu­ni­cação social através das redes soci­ais, blogues, sites, resolvi escr­ever min­has ideias.

Fora os tex­tos que se perderam numa ou outra mudança de prove­dor, no meu site, hoje tem quase mil tex­tos, onde falo de tudo – e de todos.

Nunca tive medo ou a neces­si­dade de escon­der atrás do anon­i­mato.

Desde o tempo que lig­ava para as emis­so­ras de rádio até hoje sem­pre assumi min­has posições. Meus tex­tos, para que ninguém tenha dúvi­das quanto à auto­ria, assino-​os no iní­cio e no final. Não temo patrul­hamen­tos – nunca os temi.

Quando, no iní­cio, disse que nem dev­e­ria “dá trela” as tolices que muitos dizem nas redes soci­ais ou mesmo em comen­tários pri­va­dos, é porque isso vem de longe.

Mas, vez por outra, é impor­tante assen­tar algu­mas ver­dades bási­cas para que os mil­i­tantes, ao menos, ten­ham o tra­balho de fazer alguma pesquisa e apren­dam a sep­a­rar o joio do trigo.

Ah, o título do texto é só uma justa hom­e­nagem a uma linda música do grande can­tor brasileiro Zé Ramalho, nada a ver com a insanidade dos mil­i­tantes de lado a lado que pas­sam os dias se diglad­iando nas ruas, nas Redes Soci­ais e nos gru­pos de What­sApp.

Abdon Mar­inho é advo­gado.