AbdonMarinho - RSS

4934 Irv­ing Place
Pond, MO 63040

+1 (555) 456 3890
info@​company.​com

A ban­cada do vírus ou os ratos chegaram ao poder.

Escrito por Abdon Mar­inho

A BAN­CADA DO VÍRUS OU OS RATOS CHEGARAM AO PODER.

Por Abdon Mar­inho.

OUTRO DIA um amigo, pro­fundo con­hece­dor da história, indagou-​me sobre a seguinte con­statação: — Abdon, já percebestes o deserto de estadis­tas na política mundial?

Depois, com mais vagar pus-​me a pen­sar nas palavras deste amigo, rec­headas de razão. Você olha a França e percebe que o sen­hor Macron não chega aos pés de um de Gaulle ou Mit­ter­rand; olha para o Reino Unido e vemos que o sen­hor Jonhson mais se assemelha uma figura de humor do que a um estadista como o foi Sir Churchill ou mesmo Miss Thatcher; os Esta­dos Unidos, mesmo recon­hecendo o sucesso da política econômica de Trump, ele nunca deixará de ser uma figura fol­clórica, de pas­sado duvi­doso e mais pre­ocu­pado com seus inter­esses inter­nos do que com a humanidade, fica há anos-​luz de um Roo­sevelt ou Eisen­hower, ou mesmo Rea­gan.

Aqui não falo dos líderes de regimes total­itários ou autocráti­cos, mas daque­les estadis­tas que cul­ti­varam e deram sua con­tribuição aos val­ores oci­den­tais – que muitos acham deca­dentes.

Esse deserto de estadis­tas fez com que, não faz muito tempo, algu­mas revis­tas recon­hecessem em Ângela Merkel, primeira-​ministra alemã, como a única líder do mundo livre ocidental.

Só isso, rep­re­senta bem o quanto esta­mos des­fal­ca­dos de líderes globais.

Se remem­o­rásse­mos aquela antiga ale­go­ria – retratada, inclu­sive, no cin­ema –, em que o Plan­eta Terra era inva­dido por aliení­ge­nas e estes pedis­sem: — nos leve ao seu líder! Cer­ta­mente, não teríamos a quem levar.

Não existe um con­senso mín­imo de lid­er­ança no mundo. Não existe um estadista, na atu­al­i­dade, que mereça ser chamado assim.

Levaríamos os aliení­ge­nas ao Trump? Ao pro­jeto de dita­dor Putin, que acaba de aprovar medi­das que per­mi­tirão ficar no poder até 2036, ou mais? Ao chinês Jìn­píng, que de tão democ­rata man­dou cen­surar até uma figura de desenho ani­mado, o ursinho Puff? Ao líder inglês, John­son, que mais parece o per­son­agem Loide, da comé­dia Débi&Loide?

O surg­i­mento deste novo coro­n­avírus tornou muito mais cristalina a falta de lid­er­anças políti­cas globais. Essa falta de estadis­tas.

Trata-​se de uma causa que inter­essa a todos.

Um inimigo comum, invisível e dev­as­ta­dor.

Seria um motivo, caso tivésse­mos líderes que mere­cessem ser chama­dos assim, para que se reunis­sem e encon­trassem uma solução ou estraté­gia comum – ouvido os mel­hores espe­cial­is­tas de todos os países –, para mel­hor enfrentar o prob­lema – envol­vendo os menores riscos para a humanidade.

Em oper­ações de guerra – e esta­mos diante de uma –, é inevitável as per­das humanas. Por isso cabe aos líderes adotarem as mel­hores estraté­gias para minimizá-​las.

Ape­nas para citar um exem­plo, quando os líderes ali­a­dos decidi­ram, na Segunda Guerra Mundial, pela invasão da Nor­man­dia, no chamado “Dia D”, sabiam que muitos daque­les jovens sol­da­dos, no começo da vida, não voltariam.

Foram 5.400 mor­tos naquele 6 de junho de 1944, um único dia, não foram mortes vãs, mas em nome de uma causa maior.

O con­ceito é básico: não existe vitória sem a cobrança de sac­ri­fí­cios.

A terra está em risco de perder mil­hares de vidas no momento, pela molés­tia ou pelas con­se­quên­cias pos­te­ri­ores, com o empo­brec­i­mento das nações o aumento da vio­lên­cia, etc.

Arrisco dizer – isso da per­cepção de um diál­ogo com outro amigo –, que o próprio con­ceito de humanidade encontra-​se numa encruzil­hada – depois do que esta­mos pas­sando é difí­cil que permaneça.

E, ape­sar disso, não há qual­quer ação con­junta dos “líderes” mundi­ais – emb­ora ten­ham tomado con­hec­i­mento do prob­lema desde setem­bro ou out­ubro de 2019.

Basta dizer que a primeira providên­cia a ser ado­tada pelas nações, antes mesmo de bus­carem qual­quer diál­ogo sobre como tratar desta emergên­cia global, foi fechar as fron­teiras, proibir o deslo­ca­mento de pes­soas – inclu­sive o regresso de muitos cidadãos a seus países de origem –, sem qual­quer sis­tem­ati­za­ção, cada um fazendo no seu tempo e con­forme sua conveniência.

Ora, se sabiam com ante­cedên­cia que o vírus chegaria a seus países, por que nada fiz­eram em um esforço con­junto para encon­trar a solução.

Ao invés disso, preferi­ram se fechar. Como ratos, cada um foi cuidar da sua “toca”. E, nas suas tocas, as famílias tran­cadas em suas casas.

Em pleno século XXI, temos que lidar com o con­ceito de “nação-​toca”, onde cada país escolhe a mel­hor forma de se lidar com uma emergên­cia global que afeta a toda a humanidade.

A falta que fazem estadis­tas de estir­pes, que se pre­ocu­pem com os prob­le­mas da humanidade e não ape­nas com o seu quintal.

Quando trans­porta­mos tal situ­ação para o Brasil (a ausên­cia de estadis­tas no comando), a situ­ação fica mais dramática.

Até porque, acred­ito, o último estadista que tive­mos no comando da nação foi D. Pedro II, desde então, com uma outra exceção, uma chusma que não dis­tinguem con­ceitos básicos.

Se pegar­mos só do fim do régime mil­i­tar para cá, quem poderíamos chamar de estadista?

O Sar­ney que tendo man­dado num estado da fed­er­ação por quase 50 anos jus­ti­fica seus indi­cadores africanos com o fato do estado não pos­suir ter­ras férteis ou minérios de alto valor econômico?

O Col­lor, que foi apeado do poder por cor­rupção e desde então não aparece um escân­dalo de roubal­heira do din­heiro público em que não esteja envolvido?

O Fer­nando Hen­rique Car­doso, que mesmo no poder, ninguém nunca deu importân­cia as suas ideias?

O Lula da Silva, que mon­tou uma quadrilha para assaltar os cofres públi­cos quando esteve no poder e foi con­de­nado por cor­rupção e lavagem de din­heiro?

A Dilma Rouss­eff, que de tanto falar tolices virou uma espé­cie de piada nacional, um “meme” ambulante?

O último desta lista infame é o atual pres­i­dente, o sen­hor Bol­sonaro.

Desde sem­pre se soube que o preparo dele para o cargo de pres­i­dente era nulo.

Sua vitória, em grande parte, é dev­ida ao sen­ti­mento de vin­gança pela des­graça que Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e seus ali­a­dos fiz­eram com o país – acres­cen­tando os dois anos de Temer –, 16 anos de roubal­heira e “apar­el­hamento” do Estado.

O mérito dele – inegável –, foi con­seguir encar­nar, como nen­hum outro, o antipetismo.

No gov­erno, mais atra­palha do que ajuda. Mesmo quando tem razão não con­segue pas­sar con­fi­ança a equipe e aos governados.

Se fosse imag­i­nar o pres­i­dente como uma ale­go­ria da minha infân­cia, seria como aquele menino lá do povoado que o pai não man­dava ir à venda, a dois quilômet­ros de dis­tân­cia da casa, porque tinha receio dele não saber com­prar dois qui­los de açú­car, um fardo de far­inha e uma quarta de café.

O Bol­sonaro é isso: alguém que se atra­palha lendo um bil­hete. Alguém que é con­tes­tado vio­len­ta­mente até quando tem razão.

Não duvido que seja hon­esto; não duvido que tenha boas intenções, mas, ver­dadeira­mente, é alguém muito frágil para a enormi­dade do desafio de gov­ernar o país – ape­sar de legí­timo e eleito pela von­tade sober­ana do povo.

Essa frag­ili­dade fez com que o Con­gresso Nacional, o Supremo, usurpassem o poder e pas­sas­sem a “man­dar” no gov­erno mais que o Poder Exec­u­tivo.

Na atual crise – por conta da pan­demia –, apare­ceu mais um grupo para “man­dar” no gov­erno: o grupo dos governadores.

Não duvido que os gov­er­nadores ten­ham pre­ocu­pações com a saúde da pop­u­lação.

Acon­tece que eles, assim como a maio­ria esma­gadora da polit­ica nacional, fazem parte dessa chusma de políti­cos menores que estão longe de serem – ou mesmo de saberem –, o sig­nifi­cado da palavra estadista.

O que mais tenho assis­tido são gov­er­nadores querendo tirar van­ta­gens da pan­demia.

Cri­aram uma ver­dadeira “ban­cada do vírus”, cada um mais afoito que o outro querendo col­her div­i­den­dos eleitorais futuros.

Já disse – volto a repe­tir –, é escan­daloso que políti­cos se uti­lizem de uma pan­demia, uma tragé­dia, que está ceifando mil­hares de vidas ao redor do mundo para se pro­moverem politi­ca­mente.

Infe­liz­mente é que mais temos visto! São gov­er­nadores, são senadores, são dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais, prefeitos e até vereadores, todos querendo tirar uma “casquinha” do vírus.

Não têm pudor ou qual­quer con­strang­i­mento em explo­rarem uma tragé­dia como essa.

A pan­demia tornou-​se uma espé­cie de vale-​tudo dos desavergonhados.

Outro dia vi uma autori­dade crit­i­cando o pres­i­dente da República por que aquele com­pare­cera na porta do palá­cio para cumpri­men­tar uns man­i­fes­tantes.

O acu­sou de está espal­hando o vírus.

Pois é, essa mesma autori­dade, dias depois, quando a pan­demia já se tornara mais acen­tu­ada, pro­moveu uma farta dis­tribuição de ces­tas bási­cas a pes­soas car­entes (ato necessário), sem qual­quer pre­ocu­pação com a aglom­er­ação e con­tá­gio pelo coro­n­avírus (covid-​19) ou pelo vírus H1N1.

Nesta, e em diver­sas out­ras situ­ações, até mesmo con­tra­ditórias, vê-​se, clara­mente, o obje­tivo mera­mente eleitor­eiro por trás da “boa intenção”.

O mesmo acon­tece com dep­uta­dos, e até vereadores, que ficam pro­pondo medi­das, como isenções, adi­a­mento de con­tas, impos­tos, etc., aos gov­er­nos estad­u­ais e munic­i­pais.

Fazem uma indi­cação – às vezes nem pro­to­cola –, e cor­rem para os meios de comu­ni­cação para “vender” o feito. Exis­tem até “brigas” e acusações de plá­gio em deter­mi­na­dos casos.

Pode­ria, mas não cito os nomes para não “dar ibope” a quem age com tanta tor­peza.

Aqui nem falo daque­les que, com o surg­i­mento do novo coro­n­avírus – e apo­s­tando no alas­tra­mento da des­graça –, já cor­reram para pro­por as pror­ro­gações de seus próprios mandatos ou de seus ali­a­dos.

Ainda que isso se faça necessário – se, infe­liz­mente, a tragé­dia aumen­tar –, a pro­posta, no momento, é de um opor­tunismo ímpar.

A existên­cia de uma “ban­cada do vírus” é a com­pro­vação defin­i­tiva de que os ratos chegaram ao poder – e não é de hoje.

Abdon Mar­inho é advogado.

Eleições 2020: Pan­demia x Eleições.

Escrito por Abdon Mar­inho


ELEIÇÕES 2020: PAN­DEMIA X ELEIÇÕES.

Por Abdon Marinho.

UMA das mais cor­riqueiras inda­gações que tenho rece­bido nos últi­mos dias é se ter­e­mos mesmo eleições esse ano. A toda hora, por tele­fone ou pelas redes soci­ais, recebo a per­gunta: –– Dr. Abdon, vamos ter eleições este ano?

Essa inqui­etação se deve ao fato de algu­mas pes­soas, políti­cos, prin­ci­pal­mente, já terem se man­i­fes­tado favoráveis – out­ros, não –, ao adi­a­mento do pleito, ao can­ce­la­mento das eleições, pror­ro­gação dos mandatos, etc.

Na ver­dade, nem eu, nem ninguém sabe o que vai acon­te­cer. Tudo vai depen­der da super­ação da grise global que esta­mos atrav­es­sando ou, pelo menos, que ten­hamos encam­in­hamen­tos ade­qua­dos a ela de sorte a diminuir o pânico que toma conta dos cidadãos.

A reg­u­lar­i­dade de eleições, com um cal­endário pré-​estabelecido, é um dos pilares da nossa democ­ra­cia.

Assim, tanto quanto pos­sível, deve­mos tra­bal­har com a pos­si­bil­i­dade das eleições munic­i­pais acon­te­cerem con­forme estão pre­vis­tas desde muito na leg­is­lação pátria.

Não é saudável para a democ­ra­cia que por qual­quer motivo – ainda que seja um de tamanha gravi­dade quanto o pre­sente –, ou para aten­der qual­quer situ­ação, se fale em sus­pender, adiar ou can­ce­lar eleições.

Isso daria lugar a uma série de casuís­mos, den­tre os quais, ante­ci­par as eleições gerais de pres­i­dente, gov­er­nadores, senadores, dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais.

Não estou dizendo que isso vá acon­te­cer ou que deva acon­te­cer. Entre­tanto, no momento que você ache razoável que se altere o cal­endário para adiar as eleições pre­vis­tas, que as coloque para o ano que vem ou para 2022, você, tam­bém, está per­mitindo que se abra a dis­cussão para que, diante de uma crise como a que vive­mos, se mod­i­fique toda sis­temática eleitoral, inclu­sive para abre­viar todos os mandatos eletivos.

Por coin­cidên­cia, os amer­i­canos realizarão eleições presidên­cias este ano – cerca de um mês depois das nos­sas eleições munic­i­pais –, lá, com um processo bem mais cor­rido que o nosso, pois envolve a real­iza­ção de diver­sas eleições primárias para escol­has dos can­didatos dos par­tidos, ninguém, ainda, cog­i­tou a pos­si­bil­i­dade de adiar as eleições para depois da pan­demia.

Isso ocorre pelo ele­vado grau de respeito que se tem pela democ­ra­cia. Sabem que não se pode mudar as regras do jogo em um assunto tão sério.

Repare que o número de infec­ta­dos nos EUA já pas­sam de 40 mil, com mais 500 mor­tos.

Claro que se a pan­demia se tornar incon­trolável, invi­a­bi­lizando o processo eleitoral, todas as as pos­si­bil­i­dades, den­tro do respeito à democ­ra­cia devem ser postas na mesa.

A vida e a segu­rança das pes­soas pre­cede a tudo.

Quem já teve a curiosi­dade de exam­i­nar o cal­endário das eleições deve ter perce­bido que ele é quase todo “amar­rado” no dia das eleições. Por exem­plo, dia 4 de abril de 2020 (seis meses antes), e o que deve ser feito a par­tir daquele dia ou que tem de ser feito até aquela data.

Até aqui, acred­ito que só se encon­tra com­pro­metido – e de forma rel­a­tiva, não vi se o TSE baixou alguma norma neste sen­tido –, o prazo rel­a­tivo à mudança de domicílio eleitoral, que é de seis meses, e não sabe­mos como vão com­pat­i­bi­lizar a quar­entena com a neces­si­dade de com­parec­i­mento pes­soal para a mudança do domi­cilio, caso a mesma seja man­tida até aquela data ou depois dela.

O TSE até já criou uma página para atendi­mento “on line” de diver­sos serviços, mas em alguns casos, como a mudança de domi­cilio, por exigên­cia legal, deve ser pres­en­cial.

Em todo caso, isso só afeta alguns eleitores que dese­jam ser can­didatos por deter­mi­nado municí­pio e não ado­tou a providên­cia antes – assim mesmo se não man­tiverem um atendi­mento pres­en­cial mín­imo ou, mesmo, agen­dado, para cumprir o prazo.

Outra data lim­ite que suposta­mente exi­giria a pre­sença física do eleitor e do servi­dor da Justiça Eleitoral – na even­tu­al­i­dade de até lá não sair­mos da pan­demia ou ado­tar­mos uma solução “on line” –, é 6 de maio de 2020 (151 dias antes da eleição) — Último dia para o eleitor solic­i­tar oper­ações de alis­ta­mento, trans­fer­ên­cia e revisão.

Depois disso, só as con­venções par­tidárias, a par­tir de 20 de julho, e as cam­pan­has pro­pri­a­mente ditas, que terão iní­cio em 6 de agosto.

Como podemos perce­ber – exceto pelos exem­p­los acima, que poderão ser equa­ciona­dos com a tec­nolo­gia ou com atendi­mento pres­en­cial mín­imo e den­tro das nor­mas de segu­rança –, ainda está cedo para se falar em adi­a­mento de eleições, pror­ro­gação de mandatos ou out­ras ino­vações de con­veniên­cias.

Aos cidadãos e eleitores cabe-​nos seguir as ori­en­tações e pro­to­co­los de segu­rança para con­ter­mos e evi­tar­mos que a pan­demia se alas­tre com mais inten­si­dade e faça muito mais viti­mas. E torcer para saí­mos dessa mais for­t­ale­ci­dos como nação.

Aos pré-​candidatos resta serem cria­tivos e ino­vadores para, em tem­pos de crise tão aguda, con­seguirem con­quis­tar a con­fi­ança e o voto dos eleitores.

Uma der­radeira con­sid­er­ação – se não ficou claro –, é que a análise feita no pre­sente texto “tra­balha” com um cenário ideal: com a pop­u­lação con­tribuindo para evi­tar a expan­são do vírus cau­sador da pan­demia e com as autori­dades con­seguindo contê-​la e/​ou, ainda, com o desen­volvi­mento de med­icação ou vacina que trate e imu­nize a pop­u­lação.

Em um cenário oposto disso, de terra arrasada, com a pop­u­lação mor­rendo aos mil­hares, econo­mia destruída, desem­prego e tudo mais, tudo pode acon­te­cer, prin­ci­pal­mente quando o país se mostra – e não é de hoje –, um deserto de lid­er­anças.

O de menos seria adiar uma eleição.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Sin­fo­nia de pan­elas às por­tas do inferno.

Escrito por Abdon Mar­inho


SINFO­NIA DE PAN­ELAS ÀS POR­TAS DO INFERNO.

Por Abdon Marinho.

O MUNDO está em sus­pense diante desta que talvez seja a maior tragé­dia human­itária em décadas: a pan­demia do coro­n­avírus ou covid-​19.

Mesmo os cál­cu­los mais otimis­tas apon­tam para mil­hares – ou mil­hões –, de mor­tos ao redor do mundo em uma questão de meses.

Na China, onde tudo começou, com mais de oitenta mil infec­ta­dos, registrou-​se mais mais de três mil mor­tos. Lá o gov­erno ado­tou uma política de iso­la­mento da provín­cia epi­cen­tro do surto e con­trolou a pro­lif­er­ação do surto, reduzindo ou não reg­is­trando con­tá­gio interno há alguns dias.

Antes de fazer o “dever de casa”, porém, o novo corona já havia se espal­hado pelo mundo, cau­sando mortes e destru­indo a econo­mia dos países.

Na Itália, que ado­tou o iso­la­mento das cidades quando o surto se espal­hara, já reg­is­tra quase mil mortos/​dia – ultra­pas­sando o número de mor­tos ocor­ri­dos na China –, com a curva de con­tá­gio e mortes ainda em ascen­são e já sem um sis­tema de saúde que possa dar conta da demanda – por mais que se esforcem e mostrem abne­gação –, e nos fornecer números reais da tragé­dia que vem ocor­rendo naquele país.

Ainda na Europa, a Espanha, que tam­bém demorou nas providên­cias, o ritmo de con­tá­gio e mortes segue em ascen­são e não se descarta que ultra­passe, em breve, os números ital­ianos.

O Reino Unido, diante do avanço do vírus e do que vem acon­te­cendo noutros países, está revendo sua política para o enfrenta­mento do prob­lema – antes pen­savam em deixar como estava para ver como ficava.

Con­stataram que o pre­juízo em vidas humanas seria incalculável.

O ponto fora da curva na Europa, pela efi­ciên­cia no com­bate ao covid-​19, é a Ale­manha que a despeito do número ele­vado de infec­ta­dos, pos­sui um baixo número de mor­tos.

O mundo é glob­al­izado e as doenças tam­bém. Assim o vírus chegou as Améri­cas.

Nos Esta­dos Unidos, que, ini­cial­mente, apos­taram no com­bate nat­ural da doença, o vírus já infec­tou alguns mil­hares de amer­i­canos e já se con­tam em cen­te­nas os mor­tos.

Isso fez com que o gov­erno revisse sua estraté­gia e cor­resse para as políti­cas de con­tenção enquanto acel­eram estu­dos e pesquisas para encon­trar um medica­mento no mais curto espaço de tempo.

Fize­mos ligeira­mente essa panorâmica – deixando de fora diver­sos out­ros países den­tre os quais o Irã, por pos­suir uma dinâmica própria, e out­ros da Europa, Ásia e África, por se enquadrarem nos mod­e­los já referi­dos –, antes de aden­trar, pro­pri­a­mente no assunto do nosso texto.

Como era de se esperar o vírus chegou ao Brasil e cir­cula entre nós.

Ofi­cial­mente já temos mais de mil infec­ta­dos com o vírus e quase duas dezenas de mor­tos. Isso ofi­cial­mente, uma vez que só estão sendo sub­meti­dos a testes – até por sua escassez –, aque­les que apre­sen­tam algum sin­toma e estes são uma ínfima quan­tia dos que, de fato, podem está efe­ti­va­mente infectados.

Ainda assim, se levar­mos em conta os números de out­ros países e con­sid­er­amos que já somam mais de 13 mil mor­tos e um bil­hão de pes­soas em quar­entena, trata-​se de números modestos e que per­mitem, ainda, uma ação con­junta e efe­tiva das autori­dades para reduzir – ou mino­rar –, os impactos do novo coro­n­avírus no nosso país.

Infe­liz­mente, pelo que tenho visto, parece que as autori­dades fed­erais, estad­u­ais e munic­i­pais – com as hon­radas exceções de sem­pre –, não se deram conta da gravi­dade do prob­lema, ou apos­taram na solução do mesmo pelo esgotamento.

Desde o final do ano pas­sado que o coro­n­avírus vinha fazendo víti­mas na China, mas o Brasil e o Maran­hão – faço esse destaque por conta do Porto do Itaqui que recebe inúmeros navios de várias partes do mundo e daquele país, em espe­cial, além de ter­mos uma con­sid­erável pop­u­lação de asiáti­cos aqui –, con­tin­uaram a rece­ber a todos sem ado­tar os pro­to­co­los mín­i­mos de segu­rança.

No período do Car­naval, então, nem se fala, cada gov­erno querendo “se mostrar” e rece­ber mais tur­is­tas.

Isso foi há pouco mais de duas sem­anas. Até poucos dias o nosso gov­erno estad­ual “ven­dia” que tinha feito mel­hor car­naval de todos os tem­pos e que tinha colo­cado perto de um mil­hão de pes­soas na Beira-​mar, etc.

O período de Momo por aqui coin­cidia, com pouca margem, com o período de cresci­mento da doença na China.

Mas não é só, por aqui já havia um grande número de pes­soas infec­tadas pelo vírus H1N1 cir­cu­lando e fes­te­jando como se nada tivesse acon­te­cendo.

Se por aqui não mor­reu, pelo menos ofi­cial­mente, dev­ido o covid-​19, em relação ao H1N1, pelo que dizem, o quadro é des­o­lador, com reg­istro de mortes, inclu­sive de ado­les­centes.

E as autori­dades sabiam disso, não podiam eram perder a beleza da fotografia da beira-​mar lotada de gente.

Agora cor­rem para fazer com­er­cial dizendo que estão tes­tando a tem­per­atura das pes­soas que chegam no aero­porto. Por que não fiz­eram antes, durante o car­naval e em todas os aces­sos à cidade?

Não é por nada, mas pode­ria ter, per­feita­mente, já alguém infec­tado com o covid-​19 que ninguém daria conta.

Como disse acima, ofi­cial­mente, ainda temos um número baixo de infec­ta­dos, menos ainda de mortes.

Ape­sar de todo tempo que se perdeu, esse é o momento até a onde podemos fazer alguma coisa para impedir que a pan­demia tome conta do país, alcançando prin­ci­pal­mente as camadas mais pobres – que são a maio­ria da pop­u­lação –, que não têm como seguir recomen­dações de iso­la­mento e higiene e que, ver­dade seja dita, não têm nada com o prob­lema.

Mas Isso só acon­te­cerá se hou­ver entendi­mento entre as autori­dades nas três esferas admin­is­tra­ti­vas: fed­eral, estad­u­ais e munic­i­pais.

Algo que seria óbvio, em momento de crise como esse, parece o mais difí­cil de se conseguir.

Enquanto nos Esta­dos Unidos o pres­i­dente já anun­ciou que os par­tidos (Democ­rata e Repub­li­cano) e ainda os inde­pen­dentes, estão tra­bal­hando em con­junto para tirar aquele país da situ­ação em que se encon­tra, fazendo questão de nom­i­nar os líderes políti­cos da oposição com que tem tratado, por aqui, a pop­u­lação não tem só que se pri­var de tudo para evi­tar o con­tá­gio, tem, ainda, que assi­s­tir a troca de acusações e a guerra de egos das autori­dades.

O pres­i­dente da República brig­ando com os gov­er­nadores e estes com o pres­i­dente, tudo para tirarem van­ta­gens políti­cas e pes­soais, como se não tivessem 210 mil­hões de brasileiros no meio da con­fusão.

Acred­ito que mesmo o mais fiel ali­ado do atual pres­i­dente já saiba que ele (o pres­i­dente) é o prin­ci­pal inimigo do seu gov­erno – con­forme já disse aqui mesmo algu­mas vezes.

Lá atrás, bem antes das eleições de 2018, reg­istrei o desas­tre que seria o país ser dirigido a par­tir dos extremos; quando decidi­ram que segundo turno seria dis­putado entre os extremos, reg­istrei que tinha se dado “perda total”, e con­sciente disso, no dia do segundo turno das eleições, fiz o que a minha con­sciên­cia man­dou: não sai de casa.

Desde que assumiu o comando do país o atual pres­i­dente sab­ota o gov­erno, ora, atra­pal­hando as refor­mas estru­tu­rais, necessárias e urgentes; ora, ten­tando, e con­seguindo, “queimar” algum min­istro que possa lhe fazer som­bra no futuro; ora, fazendo ou dizendo tolices.

Quando não é ele é algum dos três fil­hos pate­tas ou os três ao mesmo tempo.

Na atual pan­demia o pres­i­dente con­tin­uou fazendo o que sem­pre fez desde que assumiu: sab­o­tar o gov­erno e as impor­tantes medi­das e providên­cias que os seus min­istros estão adotando.

Cientes desta frag­ili­dade do pres­i­dente – não do gov­erno, que vem, den­tro de suas atribuições e lim­i­tações, dando as respostas necessárias –, alguns gov­er­nadores, de forma opor­tunista, e sem que ten­ham feito o dever de casa, apos­tam no con­flito e na bal­búr­dia para se pro­moverem politi­ca­mente a suces­sores do atual pres­i­dente.

Nos Esta­dos Unidos, onde as eleições pres­i­den­ci­ais acon­te­cerão em novem­bro, estão todos os par­tidos unidos para sal­var o povo é evi­tar mortes.

Todos esque­ce­ram as difer­enças políti­cas, os inter­esses pes­soais, para se sub­me­terem aos inter­esses da pop­u­lação e do país.

No Brasil a eleição pres­i­den­cial será só daqui a três anos, por isso choca que alguns políti­cos de oposição ao atual gov­erno, dire­ta­mente ou através de seus adu­ladores, inclu­sive da mídia, ten­tem por todas as for­mas explo­rar a tragé­dia para se pro­moverem.

Até tomam medi­das que ben­e­fi­ciam a pop­u­lação, não duvido, mas alguns estão “jogando” com a des­graça alheia para se ben­e­fi­cia­rem política e pes­soal­mente. Isso está bem claro.

Choca mais ainda é ver a pop­u­lação divi­dida em alas aplaudindo os malu­cos de ambos os lados sem saberem o dia de amanhã.

Não é aceitável ou razoável que em plena pan­demia, ao invés de todos se unirem, faz­erem reuniões e bus­carem as mel­hores alter­na­ti­vas para sal­varem a pop­u­lação da tragé­dia, inclu­sive, seguindo os exem­p­los de out­ros países, se ocu­pem de ali­men­tar movi­men­tos divi­sion­istas, pre­gando impeach­ment, pro­movendo, lit­eral­mente, uma sin­fo­nia de pan­elas às por­tas do inferno, como o sofri­mento dos menos favore­ci­dos não pas­sasse de um detalhe no cál­culo eleitoral.

O desastrado pres­i­dente que temos não jus­ti­fica que usem o tal do covid-​19 como cabo eleitoral para servir aos inter­esses dos desqual­i­fi­ca­dos, opor­tunistas e ine­scrupu­losos.

Tratem o Brasil com respeito!

Abdon Mar­inho é advogado.