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Defi­cientes: Sol­i­dariedade, Dire­itos e Respeito.

Escrito por Abdon Mar­inho

DEFI­CIENTES: SOL­I­DARIEDADE, DIRE­ITOS E RESPEITO.

Por Abdon Mar­inho.

21 DE SETEM­BRO é o Dia Nacional de Luta da Pes­soa com Defi­ciên­cia.

A data foi insti­tuída pelos movi­men­tos soci­ais, ainda, em 1982, e ofi­cial­izada pela pela Lei nº. 11.133, de 14 de julho de 2005.

Este ano, impren­sada numa segunda-​feira preguiçosa, talvez até pas­sasse desa­pare­cida por muitos ou, no máx­imo, lem­brada por uma ou outra pes­soa solidária ou por alguns políti­cos opor­tunistas às vésperas das eleições.

Não dev­e­ria me man­i­fes­tar – como, aliás, não lem­bro de tê-​lo feito em datas ante­ri­ores –, ou para evi­tar diz­erem que o faço em causa própria ou por um pros­elit­ismo desnecessário.

Em meio a tan­tos desre­speitos, vio­lações de dire­itos e abu­sos, um em espe­cial, prat­i­cado con­tra um grupo de qua­tro sur­dos no Municí­pio de Santo Anto­nio dos Lopes, chamou minha atenção e mostrou que não pode­ria “deixar pas­sar” ou ape­nas fazer uma menção hon­rosa pela data.

Choca ver, que já avança­dos pelo século 21, ainda usem as defi­ciên­cias das pes­soas para o “diver­ti­mento» de alguns.

Choca ver que as pes­soas, mesmo aque­las que se dizem indig­nadas com tal fato se “divir­tam” com esse tipo de coisa.

Até li, em algu­mas redes soci­ais, onde o “espetáculo” foi ofer­tado, depoi­men­tos de pes­soas dizendo que riram muito de dis­curso do surdo chamado para “dis­cur­sar” pelo ex-​prefeito, durante a con­venção do seu par­tido, emb­ora, muitas delas, ten­ham dito que ficaram indignadas.

Então o cidadão fica indig­nado com o ato vex­atório, mas, ao mesmo tempo, não con­segue deixar de rir?

No meu escritório con­hece­mos o ex-​prefeito de Santo Anto­nio dos Lopes, Sr. Eunélio, “Forró Sacode”.

A história do inusi­tado apelido é bisonha e interessante.

Como sou nat­ural de Gov­er­nador Archer, municí­pio viz­inho ao do ex-​prefeito e ali, no Médio Mearim, tudo é perto, acabamos sabendo o que se passa por lá.

Certa vez, pouco tempo depois do sen­hor Eunélio Men­donça tornar-​se prefeito de Santo Anto­nio dos Lopes, acho que em 2009, um dos meus sobrin­hos apare­ceu no escritório para con­tar de uma grande festa ocor­rida naquele município.

–– Ah, tio, o sen­hor pre­cisava ouvir o dis­curso do Eunélio.

–– E o que ele disse de tão impor­tante? Indaguei.

–– Ah, tio, ele foi para o palanque onde a banda se apre­sen­tava e foi dis­cur­sar. E no dis­curso disse: “Tony Guerra, o maior sonho da minha vida como prefeito era trazer essa banda para tocar para o povo de Santo Anto­nio dos Lopes e que hoje é o dia mais feliz da minha vida”.

Entre out­ras coisas de adu­lação e declar­ação “amores” pela banda.

O que tor­nava engraçado a história do dis­curso de «ado­ração» do ex-​prefeito à banda, era a forma como o meu sobrinho a con­tava, imi­tando os tre­jeitos dele e a sua voz inconfundível.

Depois disso, sem­pre que alguém falava dele na nossa pre­sença sem­pre recordá­va­mos o episó­dio do “Forró Sacode”, tanto que quando alguém citava o nome do cidadão já com­ple­tava: “o Eunélio, do Forró Sacode?” Ou, dizia «o Eunélio, rapaz, aquele do Forró Sacode”. Por fim, ficou só o “Forró Sacode”.

Vejam que coisa, o cidadão com pouco tempo de eleito, com os recur­sos dos impos­tos do gás bor­b­otando, tinha como sonho, não tirar o povo da mis­éria ou mel­ho­rar as condições de saúde e de Edu­cação do povo, e sim, levar para o povo apre­sen­tação de “sua” banda de forró favorita.

O vol­ume de recur­sos, obvi­a­mente, trouxe mel­ho­rias para pop­u­lação.

A taxa de esco­lar­iza­ção tornou-​se a primeira do estado, e o IDEB 4,9 nas séries ini­ci­ais e 3,5 nos anos finais, está acima de muitos out­ros municí­pios.

Com pop­u­lação de aprox­i­mada­mente 15 mil habi­tantes, o Municí­pio de Santo Anto­nio dos Lopes pos­sui a maior renda per capita do país, cerca de 113 mil reais/​ano por habi­tante, mas pos­sui ape­nas 5% (cinco por cento) de esgo­ta­mento san­itário ade­quado, e 0,3% de urban­iza­ção de vias públicas.

Cer­ta­mente pode­ria ter avançado muito mais.

Com tan­tos recur­sos cir­cu­lando no municí­pio a taxa de pes­soas ocu­padas é de ape­nas 9,3% (nove vir­gula três por cento), o que cor­re­sponde a 1354 pes­soas, enquanto que 54% (cinquenta e qua­tro por cento da pop­u­lação pos­sui rendi­mento per capita de men­sal de até metade do salário mín­imo.

Em resumo, o municí­pio é rico mas a pop­u­lação per­manece pobre.

Com a der­rota do seu grupo nas últi­mas eleições, as notí­cias a respeito das peripé­cias do ex-​prefeito, exceto pelos boatos de que de um cidadão pobre tornara-​se rico em oito anos, a ponto de vez ou outra pro­mover fes­tas grandiosas, escassearam.

Isso até agora, quando o mesmo Eunélio, “aquele do Forró Sacode”, gan­hou destaque nacional por sub­me­ter, segundo disse, ami­gos seus, por­ta­dores de defi­ciên­cia, ao vex­ame nar­rado no ini­cio do texto.

Con­fesso que não me sur­preen­deu.

O que esperar de alguém que ao se eleger para diri­gir um municí­pio rico ao invés de pen­sar em mel­ho­rar a vida o povo tinha como maior sonho levar uma banda de forró para tocar?

Um pan­garé, ainda que calçado com fer­raduras de ouro, ainda será um pangaré.

Durante sécu­los pes­soas com defi­ciên­cias foram usadas para o deleite dos tira­nos e insen­síveis. Muitos deles até provo­cavam as defi­ciên­cias para delas rirem.

Até pouco tempo pes­soas com as mais vari­adas defi­ciên­cias eram explo­radas em «cir­cos de hor­rores” que as expun­ham como aber­rações.

Não faz muito saiu uma noti­cia de que pes­soas ver­ti­cal­mente prej­u­di­cadas estavam sendo usadas com obje­tos nos abje­tos torneios de lança­men­tos de anões.

São mil­hares de exem­p­los de vio­lên­cias, explo­rações e abu­sos con­tra as pes­soas por­ta­do­ras de defi­ciên­cias.

Vejam o vídeo do ex-​prefeito Eunélio na con­venção do seu par­tido, o Par­tido Comu­nista do Brasil — PC do B, o mesmo par­tido do gov­er­nador do estado, que sem­pre se vendeu como defen­sor das mino­rias e oprim­i­dos, emb­ora pos­samos perce­ber algum con­strang­i­mento, ninguém fez nada para impedir o abuso, a humil­hação daque­las pes­soas, que não são ape­nas defi­cientes, são, tam­bém, humildes, pobres.

Pelo que soube o próprio pres­i­dente do par­tido estava lá e nada fez.

E, tam­bém não tenho noti­cias de qual­quer medida con­tra o ex-​prefeito da parte do PC do B.

Se fez alguma coisa, mesmo uma nota de admoes­tação, a pub­li­cou atrás da porta, para ninguém ler.

Se o mesmo não con­seguir ser can­didato não será por qual­quer medida do par­tido, mas sim, pelos malfeitos prat­i­ca­dos quando prefeito, o que o inabilita para o exer­cí­cio de car­gos públi­cos por 08 (oito) anos, segundo soube.

No por­tal do gov­erno, por mais que procurasse, não encon­trei uma nota de repú­dio, uma repri­menda, nada. Nem mesmo na parte des­ti­nada aos Dire­itos Humanos existe qual­quer refer­ên­cia ao triste episó­dio. Somos invisíveis aos olhos do estado no pre­sente episódio.

E olha que o gov­erno usa o pom­poso slo­gan: «Maran­hão de Todos Nós”.

O todos deles talvez não incluam as pes­soas com defi­ciên­cia, até porque, nem mesmo uma alusão ao Dia Nacional de Luta da Pes­soa com Defi­ciên­cia, 21 de setem­bro, existe nas várias platafor­mas do Estado ou dos seus diri­gentes.

O silên­cio por essa data, a omis­são diante de injusta e desumana agressão, talvez rev­ele o que ver­dadeira­mente as autori­dades sen­tem em relação a nós, por­ta­dores de defi­ciên­cias: servir ao seu diver­ti­mento e/​ou deleite ou para votar.

Outra expli­cação para o silên­cio talvez seja por não terem como saudar o Dia Nacional de Luta da Pes­soa com Defi­ciên­cia sem repu­diar de forma vee­mente o que fez um ali­ado do gov­er­nador, numa con­venção do par­tido do gov­er­nador, con­tra cidadãos por­ta­dores de defi­ciên­cia e, sobre­tudo, pobres.

Os defi­cientes, mere­ce­mos sol­i­dariedade de todos os cidadãos de bem, se não podem nos con­ceder isso, que garan­tam os nos­sos dire­itos e nos tratem com respeito.

Só isso.

Abdon Mar­inho é advogado.

Tes­tando Goebbels ou a Cel­e­bração do Fracasso.

Escrito por Abdon Mar­inho

TESTANDO GOEBBELS OU A CEL­E­BRAÇÃO DO FRACASSO.

Por Abdon Marinho.

PARA o min­istro da pro­pa­ganda nazista (19331945), Joseph Goebbels (18971945), uma men­tira con­tada mil vezes torna-​se ver­dade. Algo semelhante.

Desde que se instalou no estado, em janeiro de 2015, o gov­erno comu­nista do sen­hor Flávio Dino vem pondo a prova tal ensi­na­mento, ten­tando – e con­seguindo –, vender como sucesso aquilo que para qual­quer pes­soa min­i­ma­mente esclare­cida não passa de retum­bante fracasso.

Fazem isso porque não existe no estado uma oposição con­sis­tente e uma imprensa – com pou­cas e hon­radas exceções –, inde­pen­dente. Tal qual, como era, na primeira metade do século pas­sado, a Ale­manha nazista.

Faço tais con­sid­er­ações por ter assis­tido a uma pro­pa­ganda insti­tu­cional do gov­erno estad­ual cel­e­brando o fra­casso da edu­cação no estado como se fosse algo pos­i­tivo.

A tal peça “inunda” todos veícu­los de comu­ni­cação, inclu­sive nos horários nobres e caros da tele­visão brasileira, como durante os inter­va­los do Jor­nal Nacional, da Rede Globo.

Acred­ito que mil­hões sejam gas­tos com tais mídias. E, para quê? Para con­vencer os incau­tos que o gov­erno estad­ual é um sucesso nas mais vari­adas áreas.

A peça de pub­li­ci­dade que chamou minha atenção, pelo caráter “nazista” foi essa que vem sendo veic­u­lada sobre a divul­gação do resul­tado do Índice de Desen­volvi­mento do Ensino Básico — IDEB, rel­a­tivo ao ano de 2019, ocor­rido recen­te­mente.

Ora, em que pese o recon­hec­i­mento de que existe uma rel­a­tiva mel­hora nos índices do IDEB, me parece um pouco desproposi­tado que o gov­erno estad­ual gaste mil­hões em pro­pa­ganda para fes­te­jar o índice de 3,7 obtido e, em des­cumpri­mento da meta esta­b­ele­cida para o ano de 2019.

Tratar-​se-​ia de um escárnio à opinião pública?

Soa-​me como a cel­e­bração do fra­casso ou como um teste à tese de Goebbels de que as pes­soas podem ser con­ven­ci­das de qual­quer coisa pelos gov­er­nantes, ambas hipóte­ses um desas­tre para o que enten­demos que deva ser a sociedade ou o respeito aos seres humanos.

A nota do IDEB, como as notas que obtín­hamos quando estudá­va­mos no ensino fun­da­men­tal, varia de 0,00 (zero) a 10,00 (dez).

O ensino médio no Brasil anda tão ruim que o estado mais bem colo­cado, o Espírito Santo, obteve a nota 4,8, infe­rior, por­tanto, à meta esta­b­ele­cida para o IDEB/​2019, que foi de 5,3.

O Maran­hão aparece no rank­ing dos esta­dos da fed­er­ação na vigésima posição, atrás de dezen­ove out­ros esta­dos, tais como, Alagoas, Roraima, Acre, Paraíba, Piauí, Tocan­tins, Rondô­nia, e tan­tos out­ros.

Citei estes para dimen­sionar o despropósito de se cel­e­brar a nota obtida quando esta­mos atrás destes esta­dos, que longe, não têm a riqueza da nossa história de int­elec­tu­al­i­dade.

Temos motivos para comemorar?

O Brasil e, muito menos o Maran­hão, nada têm a fes­te­jar em relação a nota do IDEB obtida, pelo con­trário, só o fato de ape­nas dois esta­dos haverem alcançado a meta esta­b­ele­cida – que são mod­estís­si­mas –, com­prova que não esta­mos indo para lugar nen­hum.

O Brasil está ficando para trás e o Maran­hão para muito mais para trás.

Devo lem­brar que mesmo os municí­pios que atin­gi­ram a meta esta­b­ele­cida para o IDEB/​2019, estão longe de pos­suírem uma edu­cação de qual­i­dade, quanto mais aque­les que não a atin­gi­ram.

Uma outra coisa que não deve­mos perder de vista é que a nota obtida pelos esta­dos e municí­pios é o resul­tado das médias entre as redes públi­cas e pri­vadas, sendo que estas últi­mas pos­suem uma nota bem mel­hor que as da rede pública.

Em out­ras palavras, nem mesmo a nota 3,7 obtida pelo Estado do Maran­hão pode ser “cred­i­tada”, na sua total­i­dade, à “efi­ciên­cia” das políti­cas públi­cas empreen­di­das pelo gov­erno estad­ual.

Fazem um com­er­cial inde­v­ido, uma ver­dadeira ode ao fra­casso, e mesmo este, não é total­mente “mérito” seu.

Hoje, sei que as coisas estão mudadas, pelo que ouvi dizer tornou-​se “proibido” reprovar estu­dante – e até tenho dúvi­das se pela qual­i­dade do ensino ofer­tado as esco­las públi­cas têm “moral” para reprovar alguém –, mas quando estu­dava, “filho de uma égua” algum pas­sava de ano com a média de aproveita­mento de 3,7 de nota. Jamais a pro­fes­sora Mar­garida deixaria que o indig­i­tado que tivesse essa média mudasse de ano, era no mín­imo 7,5 ou 8 e sem dire­ito a recla­mação.

Como alguém pode fes­te­jar ou mesmo sug­erir que o Estado do Maran­hão, com média IDEB/​2019 de 3,7 está muito bem, obri­gado?

Como alguém pode achar que a cap­i­tal do estado com nota de 5,1, nas séries ini­ci­ais, na vigésima segunda posição; e nota de 3,9, nos anos finais, na décima nona posição, no rank­ing das cap­i­tais, está muito bem, obri­gado?

Fico me per­gun­tando o que se passa na cabeça das autori­dades respon­sáveis pela fis­cal­iza­ção e con­t­role das ativi­dades estatais quando são con­fronta­dos com este tipo de com­er­ci­ais do gov­erno estad­ual “fes­te­jando” a extra­ordinária nota de 3,7 obtida no IDEB/​2019 e tan­tos out­ros que mais pare­cem peças de pro­pa­ganda “nazista” e que estão longe de cumprir o seu papel con­sti­tu­cional.

Será que lem­bram que o con­tribuinte está sendo “san­grado” duas vezes: primeiro, porque está recebendo uma edu­cação de pés­sima qual­i­dade, inca­paz, até, de cumprir o\uma meta mod­esta e, segundo, por estar pagando mil­hões para mídia para ser “con­ven­cido” de que tudo corre às mil maravilhas?

Será que Tri­bunal de Con­tas do Estado –TCE, Min­istério Público estad­ual e fed­eral, Con­tro­lado­ria Geral da União — CGU, Tri­bunal de Con­tas da União– TCU, e out­ros órgãos, se dão conta da situ­ação absurda que esta­mos vivendo no Maran­hão, com o din­heiro público sendo uti­lizado para fes­te­jar o fra­casso?

O Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­cas — IBGE, nestes mes­mos dias em que o gov­erno estad­ual gasta for­tu­nas tes­tando Goebbels e cel­e­brando o fra­casso da nossa edu­cação, que o Maran­hão é o campeão nacional no rank­ing de pes­soas na condição de mis­éria abso­luta, de pes­soas pas­sando fome, dos vinte sete esta­dos exis­tentes, esta­mos na vigésima sétima posição, se tivesse mais algum outro estado, cer­ta­mente estaríamos atrás dele tam­bém e o gov­erno estad­ual usa o din­heiro público para enga­nar o con­tribuinte com esse tipo de mídia.

E ninguém diz nada?

Todos, pelo silên­cio, pela omis­são ou pela cumpli­ci­dade, pura e sim­ples, acabam entrando na onda e fes­te­jando junto.

Como disse no começo do texto, em grande parte, esse tipo de descal­abro que viven­ci­amos é dev­ido à ausên­cia de uma imprensa inde­pen­dente, assertiva e ques­tion­adora.

A implan­tação do gov­erno comu­nista no estado nos tirou isso tam­bém – ou piorou o que já era pés­simo.

A nossa mis­éria – ates­tada em números pelo IBGE –, faz com que toda a econo­mia seja depen­dente do estado e com isso, todos os segui­men­tos se tor­nam depen­dentes do gov­erno, a ponto de faz­erem “vista grossa” ou fin­girem não enx­er­gar o que vem se pas­sando.

É certo, tam­bém, que muitos nunca quis­eram ou tiveram com­pro­mis­sos com a inde­pendên­cia, pelo con­trário, estavam “loucos” para serem chama­dos ao “diál­ogo”. A car­ac­terís­tica de todo gov­erno autoritário é o con­t­role da infor­mação para, assim, manip­u­lar os povos.

Vive­mos isso por aqui, com um gov­erno que admin­is­tra a maior pop­u­lação de fam­intos, gas­tando os recur­sos públi­cos para “vender” o sucesso que é uma nota 3,7 no IDEB.

E a con­tagem regres­siva para que isso piore já começou.

Encerro com uma crítica à imprensa estad­ual e nacional, que se aco­varda é neg­li­gente e/​ou que perdeu o senso crítico, faço isso uti­lizando as palavras do juiz Hugo Black (18861971), da Suprema Corte a amer­i­cana que assen­tou: “Na Primeira Emenda, os pais fun­dadores pro­por­cionaram à liber­dade de imprensa a pro­teção que ela neces­si­tava para cumprir seu papel essen­cial em nossa democ­ra­cia. A imprensa era para servir os gov­er­na­dos, e não os gov­er­nantes […] somente uma imprensa livre e sem restrições é capaz de efe­ti­va­mente demon­strar os equívo­cos do governo”.

A assertiva do mag­istrado foi no caso New York Times Co. v United States, jul­gado em 1971, tam­bém con­hecido por The Pen­ta­gon Papers. Sobre este caso encontra-​se em car­taz no stream­ing Net­flix o filme The Post, uma refer­ên­cia ao outro polo do processo, o jor­nal The Wash­ing­ton Post.

Talvez seja opor­tuno refle­tir­mos sobre tudo isso nesta atual quadra.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

A política sem princípios.

Escrito por Abdon Mar­inho

A POLÍTICA SEM PRINCÍPIOS.

Por Abdon Marinho.

NESTES dias, enquanto par­tidos e can­didatos organizam-​se para a eleição de 15 novem­bro – data deslo­cada do primeiro domingo de out­ubro por conta da pan­demia do novo coro­n­avírus –, exceto pelas obri­gações do tra­balho, venho me abstraindo do atual processo eleitoral. Sequer sei em quem votarei – ou se votarei.

O quadro não me inspira, pelo con­trário, acho-​o desolador.

Por coin­cidên­cia, em meio a tudo isso, numa noite dessas me dediquei a assi­s­tir ao filme Dark­est Hour – O des­tino de uma nação, no título em por­tuguês –, de Joe Wright, com inter­pre­tação pre­mi­ada de Gary Old­man, no papel de Win­ston Churchill.

O filme é de política e não de ação de guerra, e narra o iní­cio da gestão de Churchill, como primeiro-​ministro do Reino Unido, no começo da Segunda Guerra Mundial.

Começo é ape­nas uma forma de dizer, as tropas nazis­tas já domi­navam grande parte da Europa e a película nos alcança nas dis­cussões sobre a reação do Reino Unido à invasão da França. Churchill já era velho – e, até, se ressente por ter virado primeiro-​ministro já naquela idade e em uma situ­ação tão difí­cil –, mas já ao assumir fez o famoso dis­curso de que o que tinha a prom­e­ter ao país era a guerra, o sangue, o suor, o tra­balho e as lágri­mas.

Deslo­cado no tempo, acho nos anos oitenta ou noventa fiz­eram uma minis­série com título semel­hante: “Sangue, Suor e Lágri­mas”.

Como disse, o filme é sobre política, sobre os basti­dores da política enquanto a guerra se desen­rolava e retrata muito bem as difi­cul­dades enfrentadas pelo gov­erno de Churchill em sus­ten­tar um con­fronto con­tra as imbat­íveis tropas alemães, prati­ca­mente soz­inho.

No próprio gov­erno haviam pressões para se cos­tu­rar um acordo com os nazis­tas.

As pressões aumen­taram com a queda da França pouco depois.

Emb­ora a história não mostre, por um momento o Reino Unido ficou soz­inho no com­bate ao nazismo.

Foi neste momento que a auto­con­fi­ança de Hitler o levou à der­rota, pois pen­sando que seria fácil a vitória, abriu, simul­tane­a­mente, uma outra frente de batalha, agora, con­tra a União Soviética.

Pois bem, voltando ao tempo em que o Reino Unido estava soz­inho no enfrenta­mento ao nazismo – mesmo os Esta­dos Unidos se recusavam ou colo­cavam obstácu­los na ajuda aos ali­a­dos históri­cos –, e enfrentando resistên­cias den­tro do próprio Gabi­nete de Guerra, que não acred­i­tava numa vitória con­tra os alemães, Churchill mostrou ao Par­la­mento, ao país e ao mundo, que exis­tiam coisas, princí­pios que não podiam ser nego­ci­a­dos; e, que, ainda, a der­rota, a morte, eram mais dig­nas do que a capit­u­lação ao nazismo.

Ainda por um momento que seja dev­eríamos pen­sar no que seria o mundo sem aquele momento de solitária resistên­cia.

Aliás, a maio­ria da pop­u­lação mundial sequer sabe a importân­cia daquele ato.

O mundo de hoje se ressente de líderes com princí­pios. Parece-​nos que a política global se tornou um refú­gio para todo tipo de psicopatia.

Basta olhar para o que acon­tece diante da pan­demia.

O mundo inteiro enfrenta um inimigo comum, mas, mesmo assim, os líderes globais agem como se brigassem entre si, cada um bus­cando suas próprias soluções e inca­pazes de um esforço comum para o enfrenta­mento da pan­demia, para a pro­dução de uma vacina, pro­mover trata­men­tos, etc., enquanto o mundo já reg­is­tra quase um mil­hão de vidas humanas perdidas.

Quando trago este mesmo exem­plo para a política nacional meu desalento é ainda maior.

Enquanto con­tá­va­mos mor­tos aos mil­hares – já pas­samos de 130 mil vidas per­di­das, a maior tragé­dia da história do país –, os políti­cos estavam brig­ando entre si por espaço político, por apare­cer mel­hor na mídia.

E não pensem que isso, a “brigal­hada” político-​ideológica foi o que tín­hamos de pior a ofer­e­cer. O pior é que os políti­cos – não todos, mas uma grande maio­ria –, estavam “ocu­pa­dos” roubando o din­heiro público que dev­e­ria se des­ti­nar a equipar hos­pi­tais, com­prar medica­men­tos e sal­var vidas. Gov­er­nadores, prefeitos, senadores, dep­uta­dos, e tan­tos out­ros políti­cos, legí­ti­mos rep­re­sen­tantes do povo, que dev­e­riam se ocu­par na busca de soluções para sal­var vidas, estavam – e ainda estão –, “ocu­pa­dos” des­viando o din­heiro público, cobrando propinas de prefeitos para des­ti­nar ver­bas para sal­var vidas humanas e diminuir o sofri­mento do povo.

Que tipo de gente não se enver­gonha de roubar din­heiro público em plena pan­demia? Ora, os mes­mos que roubam nas qua­tro estações do ano o din­heiro da saúde, da edu­cação, da infraestru­tura, da cul­tura, da ciên­cia, e de tudo que tenha algum valor.

Não roubam por neces­si­dade. Roubam porque o ato de roubar se tornou um vicio pior do o vício na heroína, na cocaína, no crack ou qual­quer outro narcótico.

Roubam para si e por várias gerações.

Mas, pior, ainda é saber que esses políti­cos são o retrato de uma sociedade aética e imoral. A nossa sociedade.

O Tri­bunal de Con­tas da União — TCU, aponta que mais de R$ 40 bil­hões de reais des­ti­na­dos à ajuda emer­gen­cial por causa da pan­demia foram parar nas con­tas de pes­soas que não tin­ham neces­si­dade de tal ajuda. Quan­tas destas pes­soas que não dev­e­riam rece­ber devolveram o din­heiro? Bem pou­cas, quase nen­huma. Muito pelo con­trário, pes­soas que sabida­mente não teriam neces­si­dade de se rece­ber, se inscreveram para rece­ber a ajuda emer­gen­cial; out­ras até entraram na justiça recla­mando um dire­ito ao qual não fazem jus, não são mere­ce­do­ras.

Em se tratando de princí­pios, que difer­ença faz o roubar pouco e o roubar muito? Qual a difer­ença que tem entre o cidadão que rouba os R$ 600 reais do político que roubou os R$ 60 mil, os R$ 60 mil­hões, os R$ 600 mil­hões, etc? Talvez aquela apon­tada por padre Antônio Vieira há trezen­tos anos: o roubar pouco faz os salteadores o roubar muito, os imperadores.

A difer­ença que enx­ergo entre o que rouba pouco e o que rouba muito é que rouba para viver já o outro vive para roubar.

No Brasil, aqui mesmo no Maran­hão, começou-​se a falar em nova política.

Muitas pes­soas pas­saram a con­fundir idade cronológ­ica com práti­cas políti­cas mod­er­nas, com o zelo pelo din­heiro do con­tribuinte e, sobre­tudo, jovens querendo e entrando na política falando uma coisa e prat­i­cando outra.

Assim, temos vis­tos muitos políti­cos jovens com vel­has práti­cas e mesmo alguns vel­hos políti­cos com práti­cas mod­er­nas – estes, infe­liz­mente, em extinção.

A política no Maran­hão (e no Brasil) se tornou um negó­cio que é indifer­ente a qual­quer princí­pio ético ou moral.

É assim que vemos deter­mi­nado jovem político falar em “nova política” e ao mesmo tempo se “ajun­tar” e se sub­me­ter a out­ros políti­cos, que pela vida pre­gressa e pela prática cotid­i­ana, já desafi­aram todos os dis­pos­i­tivos do Código Penal Brasileiro e tan­tos out­ros dis­pos­i­tivos da leg­is­lação penal extrav­a­gante.

Trata-​se do poder pelo poder – sem qual­quer chance de esper­ança ao povo.

O poder, a sua con­quista e per­manên­cia, tornou-​se um fim em si mesmo.

Ainda na esteira de tudo isso que falo, outro dia chamou-​me a atenção a col­i­gação para “fins eleitorais” de dois gru­pos políti­cos locais his­tori­ca­mente antag­o­nistas, para apoiarem deter­mi­nado can­didato, tam­bém desta escola de “jovens políti­cos anciãos”.

Pois bem, os dois gru­pos políti­cos já vin­ham de uma longa história de brigas, até que lá atrás, no começo deste século, prin­cip­i­aram um diál­ogo que não vin­gou e, anos depois, mais pre­cisa­mente, há onze anos, aze­dou de vez quando um dos gru­pos “tomou”, na marra, o mandato de gov­er­nador ard­u­a­mente con­quis­tado pelo grupo político da oposição.

Por ocasião da “deposição” do gov­er­nador eleito o seu grupo criou um movi­mento inti­t­u­lado os “Os Bal­aios”, uma alusão ao Movi­mento Bal­a­iada, revolta pop­u­lar ocor­rida no estado entre os anos de 1838 e 1841, tam­bém chamada de Guerra dos Bem-​te-​vis.

Como ocor­rido no século XIX, os Bal­aios do século XX, tam­bém, foram der­ro­ta­dos pelas forças do “império”.

O que achei curioso no acon­tec­i­mento de dias atrás é que os líderes “bal­aios” – bal­aios fakes, diga-​se de pas­sagem –, lá estavam no “palá­cio” daque­les que os der­ro­taram e os apearam do poder injus­ta­mente, para se col­i­garem numa estraté­gia de con­quistarem e man­terem o poder.

A impressão que tive, anal­isando o fato a par­tir de uma per­spec­tiva histórica, é que estava havendo uma der­radeira capit­u­lação – e o ex-​governador, do túmulo, se con­torcendo, assim como os ver­dadeiros balaios.

Mas, na ver­dade, era ape­nas a velha prática da “nova” política, onde nada que não seja o poder importa.

Por conta da pan­demia do novo coro­n­avírus – e não como os vel­hos salteadores de out­rora –, estavam todos dev­i­da­mente mas­cara­dos, talvez para escon­der os sor­risos maro­tos.

E são tão jovens.

Quanta falta nos faz o velho Churchill.

Abdon Mar­inho é advo­gado.