AbdonMarinho - Deficientes: Solidariedade, Direitos e Respeito.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Defi­cientes: Sol­i­dariedade, Dire­itos e Respeito.

DEFI­CIENTES: SOL­I­DARIEDADE, DIRE­ITOS E RESPEITO.

Por Abdon Mar­inho.

21 DE SETEM­BRO é o Dia Nacional de Luta da Pes­soa com Defi­ciên­cia.

A data foi insti­tuída pelos movi­men­tos soci­ais, ainda, em 1982, e ofi­cial­izada pela pela Lei nº. 11.133, de 14 de julho de 2005.

Este ano, impren­sada numa segunda-​feira preguiçosa, talvez até pas­sasse desa­pare­cida por muitos ou, no máx­imo, lem­brada por uma ou outra pes­soa solidária ou por alguns políti­cos opor­tunistas às vésperas das eleições.

Não dev­e­ria me man­i­fes­tar – como, aliás, não lem­bro de tê-​lo feito em datas ante­ri­ores –, ou para evi­tar diz­erem que o faço em causa própria ou por um pros­elit­ismo desnecessário.

Em meio a tan­tos desre­speitos, vio­lações de dire­itos e abu­sos, um em espe­cial, prat­i­cado con­tra um grupo de qua­tro sur­dos no Municí­pio de Santo Anto­nio dos Lopes, chamou minha atenção e mostrou que não pode­ria “deixar pas­sar” ou ape­nas fazer uma menção hon­rosa pela data.

Choca ver, que já avança­dos pelo século 21, ainda usem as defi­ciên­cias das pes­soas para o “diver­ti­mento» de alguns.

Choca ver que as pes­soas, mesmo aque­las que se dizem indig­nadas com tal fato se “divir­tam” com esse tipo de coisa.

Até li, em algu­mas redes soci­ais, onde o “espetáculo” foi ofer­tado, depoi­men­tos de pes­soas dizendo que riram muito de dis­curso do surdo chamado para “dis­cur­sar” pelo ex-​prefeito, durante a con­venção do seu par­tido, emb­ora, muitas delas, ten­ham dito que ficaram indignadas.

Então o cidadão fica indig­nado com o ato vex­atório, mas, ao mesmo tempo, não con­segue deixar de rir?

No meu escritório con­hece­mos o ex-​prefeito de Santo Anto­nio dos Lopes, Sr. Eunélio, “Forró Sacode”.

A história do inusi­tado apelido é bisonha e interessante.

Como sou nat­ural de Gov­er­nador Archer, municí­pio viz­inho ao do ex-​prefeito e ali, no Médio Mearim, tudo é perto, acabamos sabendo o que se passa por lá.

Certa vez, pouco tempo depois do sen­hor Eunélio Men­donça tornar-​se prefeito de Santo Anto­nio dos Lopes, acho que em 2009, um dos meus sobrin­hos apare­ceu no escritório para con­tar de uma grande festa ocor­rida naquele município.

–– Ah, tio, o sen­hor pre­cisava ouvir o dis­curso do Eunélio.

–– E o que ele disse de tão impor­tante? Indaguei.

–– Ah, tio, ele foi para o palanque onde a banda se apre­sen­tava e foi dis­cur­sar. E no dis­curso disse: “Tony Guerra, o maior sonho da minha vida como prefeito era trazer essa banda para tocar para o povo de Santo Anto­nio dos Lopes e que hoje é o dia mais feliz da minha vida”.

Entre out­ras coisas de adu­lação e declar­ação “amores” pela banda.

O que tor­nava engraçado a história do dis­curso de «ado­ração» do ex-​prefeito à banda, era a forma como o meu sobrinho a con­tava, imi­tando os tre­jeitos dele e a sua voz inconfundível.

Depois disso, sem­pre que alguém falava dele na nossa pre­sença sem­pre recordá­va­mos o episó­dio do “Forró Sacode”, tanto que quando alguém citava o nome do cidadão já com­ple­tava: “o Eunélio, do Forró Sacode?” Ou, dizia «o Eunélio, rapaz, aquele do Forró Sacode”. Por fim, ficou só o “Forró Sacode”.

Vejam que coisa, o cidadão com pouco tempo de eleito, com os recur­sos dos impos­tos do gás bor­b­otando, tinha como sonho, não tirar o povo da mis­éria ou mel­ho­rar as condições de saúde e de Edu­cação do povo, e sim, levar para o povo apre­sen­tação de “sua” banda de forró favorita.

O vol­ume de recur­sos, obvi­a­mente, trouxe mel­ho­rias para pop­u­lação.

A taxa de esco­lar­iza­ção tornou-​se a primeira do estado, e o IDEB 4,9 nas séries ini­ci­ais e 3,5 nos anos finais, está acima de muitos out­ros municí­pios.

Com pop­u­lação de aprox­i­mada­mente 15 mil habi­tantes, o Municí­pio de Santo Anto­nio dos Lopes pos­sui a maior renda per capita do país, cerca de 113 mil reais/​ano por habi­tante, mas pos­sui ape­nas 5% (cinco por cento) de esgo­ta­mento san­itário ade­quado, e 0,3% de urban­iza­ção de vias públicas.

Cer­ta­mente pode­ria ter avançado muito mais.

Com tan­tos recur­sos cir­cu­lando no municí­pio a taxa de pes­soas ocu­padas é de ape­nas 9,3% (nove vir­gula três por cento), o que cor­re­sponde a 1354 pes­soas, enquanto que 54% (cinquenta e qua­tro por cento da pop­u­lação pos­sui rendi­mento per capita de men­sal de até metade do salário mín­imo.

Em resumo, o municí­pio é rico mas a pop­u­lação per­manece pobre.

Com a der­rota do seu grupo nas últi­mas eleições, as notí­cias a respeito das peripé­cias do ex-​prefeito, exceto pelos boatos de que de um cidadão pobre tornara-​se rico em oito anos, a ponto de vez ou outra pro­mover fes­tas grandiosas, escassearam.

Isso até agora, quando o mesmo Eunélio, “aquele do Forró Sacode”, gan­hou destaque nacional por sub­me­ter, segundo disse, ami­gos seus, por­ta­dores de defi­ciên­cia, ao vex­ame nar­rado no ini­cio do texto.

Con­fesso que não me sur­preen­deu.

O que esperar de alguém que ao se eleger para diri­gir um municí­pio rico ao invés de pen­sar em mel­ho­rar a vida o povo tinha como maior sonho levar uma banda de forró para tocar?

Um pan­garé, ainda que calçado com fer­raduras de ouro, ainda será um pangaré.

Durante sécu­los pes­soas com defi­ciên­cias foram usadas para o deleite dos tira­nos e insen­síveis. Muitos deles até provo­cavam as defi­ciên­cias para delas rirem.

Até pouco tempo pes­soas com as mais vari­adas defi­ciên­cias eram explo­radas em «cir­cos de hor­rores” que as expun­ham como aber­rações.

Não faz muito saiu uma noti­cia de que pes­soas ver­ti­cal­mente prej­u­di­cadas estavam sendo usadas com obje­tos nos abje­tos torneios de lança­men­tos de anões.

São mil­hares de exem­p­los de vio­lên­cias, explo­rações e abu­sos con­tra as pes­soas por­ta­do­ras de defi­ciên­cias.

Vejam o vídeo do ex-​prefeito Eunélio na con­venção do seu par­tido, o Par­tido Comu­nista do Brasil — PC do B, o mesmo par­tido do gov­er­nador do estado, que sem­pre se vendeu como defen­sor das mino­rias e oprim­i­dos, emb­ora pos­samos perce­ber algum con­strang­i­mento, ninguém fez nada para impedir o abuso, a humil­hação daque­las pes­soas, que não são ape­nas defi­cientes, são, tam­bém, humildes, pobres.

Pelo que soube o próprio pres­i­dente do par­tido estava lá e nada fez.

E, tam­bém não tenho noti­cias de qual­quer medida con­tra o ex-​prefeito da parte do PC do B.

Se fez alguma coisa, mesmo uma nota de admoes­tação, a pub­li­cou atrás da porta, para ninguém ler.

Se o mesmo não con­seguir ser can­didato não será por qual­quer medida do par­tido, mas sim, pelos malfeitos prat­i­ca­dos quando prefeito, o que o inabilita para o exer­cí­cio de car­gos públi­cos por 08 (oito) anos, segundo soube.

No por­tal do gov­erno, por mais que procurasse, não encon­trei uma nota de repú­dio, uma repri­menda, nada. Nem mesmo na parte des­ti­nada aos Dire­itos Humanos existe qual­quer refer­ên­cia ao triste episó­dio. Somos invisíveis aos olhos do estado no pre­sente episódio.

E olha que o gov­erno usa o pom­poso slo­gan: «Maran­hão de Todos Nós”.

O todos deles talvez não incluam as pes­soas com defi­ciên­cia, até porque, nem mesmo uma alusão ao Dia Nacional de Luta da Pes­soa com Defi­ciên­cia, 21 de setem­bro, existe nas várias platafor­mas do Estado ou dos seus diri­gentes.

O silên­cio por essa data, a omis­são diante de injusta e desumana agressão, talvez rev­ele o que ver­dadeira­mente as autori­dades sen­tem em relação a nós, por­ta­dores de defi­ciên­cias: servir ao seu diver­ti­mento e/​ou deleite ou para votar.

Outra expli­cação para o silên­cio talvez seja por não terem como saudar o Dia Nacional de Luta da Pes­soa com Defi­ciên­cia sem repu­diar de forma vee­mente o que fez um ali­ado do gov­er­nador, numa con­venção do par­tido do gov­er­nador, con­tra cidadãos por­ta­dores de defi­ciên­cia e, sobre­tudo, pobres.

Os defi­cientes, mere­ce­mos sol­i­dariedade de todos os cidadãos de bem, se não podem nos con­ceder isso, que garan­tam os nos­sos dire­itos e nos tratem com respeito.

Só isso.

Abdon Mar­inho é advogado.