Ah, as estradas.
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- Criado: Segunda, 02 Novembro 2020 13:18
- Escrito por Abdon Marinho
AH, AS ESTRADAS.
Por Abdon Marinho.
POR OCASIÃO da visita do presidente da República ao Maranhão, o governador do estado declarou que, o presidente, tinha pouco ou quase nada mostrar, as condições das BR’s que cortam o estado são péssimas além de ser “pouquinho” inaugurar 5 km de estradas em dois anos de governo.
Que as condições das estradas que cortam o estado do Maranhão são péssimas, não é segredo para ninguém, tanto assim que os maranhenses que moram na zona de fronteira preferem fazer suas viagens através das rodovias dos estados vizinhos. Eu mesmo já contei a história do “ceguinho” que acostumado a fazer o percurso Fortaleza (CE) – Belém (PA), sabe, sem que ninguém lhe diga, quando entra e quando sai do estado.
Conheço as estradas do Maranhão, desde que me fiz advogado que as percorro rotineiramente, pelo menos uma vez ao mês, para atender meus clientes.
Sempre me perguntei por quais motivos nossas estradas são tão ruins, por quais motivos padecem de obras intermináveis.
Era sobre estradas, desta vez estaduais, que iria tratar no “textão” do fim de semana quando a “boiolagem” de Bolsonaro se impôs.
Mas, com um pouco de atraso, faço agora.
Como disse, pelo menos uma vez por mês, desço para interior. Semana passada o destino foi o extremo norte do estado, Luís Domingues e Carutapera. No caminho fui “tirando reisado”, encostando aqui e ali, almoçamos em Santa Helena e paramos para cafezinho da tarde, em Maracaçumé, no “Café na Fazenda”, de D. Claúdia.
Já era pelas 17 horas quando chegamos às Quatro Bocas, povoado distrito do Junco do Maranhão, que dá acesso ao destino final da viagem.
Lá chegando encontramos a MA 206 interditada. Era um protesto dos moradores dos municípios da região (Amapá do Maranhão, Carutapera, Luís Domingues, Godofredo Viana é Cândido Mendes) contra as péssimas condições da estrada.
O protesto já consumia um dia inteiro. Fui avisado, aliás, antes mesmo de pegar o ferry boat, as 10 horas da manhã.
Ao chegarmos, no fim da tarde, encontramos um clima tenso com a polícia no local, ambulância e uma fila de carros de ambos os lados, sem contar aqueles que já haviam desistido de chegarem aos seus destinos e voltado para casa.
Embora sabendo do protesto com antecedência – desde a semana anterior –, não desisti da viagem por saber que provavelmente não teria tempo de voltar a fazê-la antes da eleição, a esperança de que quando chegasse lá o movimento já tivesse se dissipado, e, também, porque no manifesto de interdição tinha um item que dizia que permitiriam a passagem de pessoas com necessidades especiais.
Chegando lá encontramos os moradores ainda irredutíveis, inclusive, no que referia a permissão de passagem de pessoas com necessidades especiais – o meu caso.
Só depois de muita negociação com a polícia militar e com os manifestantes, permitiram a minha passagem. Já em Luís Domingues tomei conhecimento que depois de permitirem a nossa passagem, não demorou muito para encerrarem a manifestação de desobstruírem a via.
Na televisão, em horário nobre, passavam um comercial do governo estadual onde ele vende que está fazendo o maior programa rodoviário do estado e ainda ajuda, desde 2015, os municípios a asfaltar as vias urbanas.
Apesar do protesto contra as péssimas condições daquela MA ter durado desde as primeiras horas da manhã até a noite, na capital ou nos demais rincões do estado ninguém ficou sabendo, exceto os moradores daquela região e as pessoas que, eventualmente, tenham sido prejudicadas pela interdição.
No mais o que resta presente é a propaganda massiva e enganosa de que o melhor lugar para se viver é dentro dos comerciais do governo estadual.
Voltando ao protesto, por mais que seja contra esse tipo de ação, por entender que não se pode restringir o direito de locomoção dos cidadãos, forçoso não reconhecer que é justa causa daqueles que foram interditar a via em protesto.
E não é a primeira vez que fazem isso. Esse último já foi o terceiro ou quarto protesto dos moradores da região contra as péssimas condições das MA’s 206 e 101.
Desde o início do atual governo, ou seja, há seis anos, que vejo obras de reparos nas vias, e desde sempre que vejo que são reparos tão mal feitos que não duram nada, que desaparecem na primeira chuva ou no próximo inverno.
A impressão que fica é que tanto aquela rodovia como diversas outras rodovias do estado que o governo diz está recuperando não passam, na verdade, de “obras de morder”, onde todo mundo morde um pedaço, drenam os recursos públicos e as obras nunca ficam prontas.
É como se o estado aplicasse na prática o conceito do “Manto de Penélope”, que conhecemos da imortal obra de Homero, a Odisseia.
Na volta da viagem, na quarta-feira, final da tarde, dei uma carona, até Maracaçumé, para D. Claúdia, do “Café na Fazenda”, e perguntei-lhe sobre as condições da estrada até Centro Novo.
Com a sinceridade de sempre ela respondeu-me: — ah, doutor, se as BR’s já não prestam, o senhor já imagina como estão as MA’s.
Ainda assim, resolvi ir fazer essa visita ao Centro Novo do Maranhão, um dos mais prósperos municípios do estado. E, com de onde nada se espera é de onde nada vem, pude constatar que a estrada de apenas 22 km, encontra-se em petição de miséria, como, aliás todas as outras.
Costumo dizer que umas das principais rodovias estaduais é a que sai do Cujupe, Alcântara e vai até Governador Nunes Freire, que leva as municípios da baixada, da BR e, até para o Pará. Entra ano sai ano, entra inverno sai inverno e situação da estrada é de buraqueira e de intermináveis obras que nunca ficam prontas. De tão malfeitas, antes de receberem a marcação de sinalização já estão precisando de reformas.
Ao longo destas rodovias estaduais, principalmente as piores, costumamos avistar crianças ou mesmo adultos colocando terra ou pedras nos principais buracos para facilitar o tráfego, em troca de alguns trocados. Apelidei-os, por motivos óbvios, de DINOIT’s.
Já com troça meus companheiros de viagens dizem ao avistá-los: — olha, doutor, lá está um “dinoit”.
Ao passarmos por eles agradecemos e às vezes, se temos, lhe damos alguns trocados.
Vendo sua excelência, o governador do estado, criticar o presidente da República que está há dois anos no poder, pelas péssimas condições das BR’s – que são mesmo péssimas –, fico com a impressão que ele (o governador), ou não conhece as rodovias estaduais (ou só as conhece pelos seus comerciais regiamente pagos), de sua responsabilidade, ou quer “tomar” o emprego de piadista do senhor Bolsonaro, aquele que virou “boiola” ou maranhense ao tomar um refrigerante cor de rosa.
O descontrole é tamanho nas obras rodoviárias estaduais que outro dia li – mas continuo pensando que se trata de fake news –, que um engenheiro que trabalha na interminável obra da MA 103, a nossa estrada da Raposa, no Araçagy, teria declarado não mais saber o que estão fazendo ali, de tantas idas e vindas.
Eu custo acreditar que isso seja verdade, muito embora tenha recebido tal informação de mais de uma fonte.
Isso ocorre nas “barbas do governo”, com a imprensa, oposição, comerciantes e “todo mundo” criticando diariamente os transtornos e a demora na conclusão do empreendimento.
Finalizo dizendo que em meados do mês que findou o governo estadual recapeou a nossa Estrada da Mata. O serviço foi tão malfeito que no dia 16 de outubro filmei um trecho da obra só para guardar como prova o prazo de duração do serviço pois mal se foram 15 dias e os defeitos já brotam. Uma típica obra eleitoreira, como tantas.
Pois é, sujos e mal lavados falam para suas legiões enquanto o povo padece no sofrimento eterno.
Abdon Marinho é advogado