AbdonMarinho - Testando Goebbels ou a Celebração do Fracasso.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Tes­tando Goebbels ou a Cel­e­bração do Fracasso.

TESTANDO GOEBBELS OU A CEL­E­BRAÇÃO DO FRACASSO.

Por Abdon Marinho.

PARA o min­istro da pro­pa­ganda nazista (19331945), Joseph Goebbels (18971945), uma men­tira con­tada mil vezes torna-​se ver­dade. Algo semelhante.

Desde que se instalou no estado, em janeiro de 2015, o gov­erno comu­nista do sen­hor Flávio Dino vem pondo a prova tal ensi­na­mento, ten­tando – e con­seguindo –, vender como sucesso aquilo que para qual­quer pes­soa min­i­ma­mente esclare­cida não passa de retum­bante fracasso.

Fazem isso porque não existe no estado uma oposição con­sis­tente e uma imprensa – com pou­cas e hon­radas exceções –, inde­pen­dente. Tal qual, como era, na primeira metade do século pas­sado, a Ale­manha nazista.

Faço tais con­sid­er­ações por ter assis­tido a uma pro­pa­ganda insti­tu­cional do gov­erno estad­ual cel­e­brando o fra­casso da edu­cação no estado como se fosse algo pos­i­tivo.

A tal peça “inunda” todos veícu­los de comu­ni­cação, inclu­sive nos horários nobres e caros da tele­visão brasileira, como durante os inter­va­los do Jor­nal Nacional, da Rede Globo.

Acred­ito que mil­hões sejam gas­tos com tais mídias. E, para quê? Para con­vencer os incau­tos que o gov­erno estad­ual é um sucesso nas mais vari­adas áreas.

A peça de pub­li­ci­dade que chamou minha atenção, pelo caráter “nazista” foi essa que vem sendo veic­u­lada sobre a divul­gação do resul­tado do Índice de Desen­volvi­mento do Ensino Básico — IDEB, rel­a­tivo ao ano de 2019, ocor­rido recen­te­mente.

Ora, em que pese o recon­hec­i­mento de que existe uma rel­a­tiva mel­hora nos índices do IDEB, me parece um pouco desproposi­tado que o gov­erno estad­ual gaste mil­hões em pro­pa­ganda para fes­te­jar o índice de 3,7 obtido e, em des­cumpri­mento da meta esta­b­ele­cida para o ano de 2019.

Tratar-​se-​ia de um escárnio à opinião pública?

Soa-​me como a cel­e­bração do fra­casso ou como um teste à tese de Goebbels de que as pes­soas podem ser con­ven­ci­das de qual­quer coisa pelos gov­er­nantes, ambas hipóte­ses um desas­tre para o que enten­demos que deva ser a sociedade ou o respeito aos seres humanos.

A nota do IDEB, como as notas que obtín­hamos quando estudá­va­mos no ensino fun­da­men­tal, varia de 0,00 (zero) a 10,00 (dez).

O ensino médio no Brasil anda tão ruim que o estado mais bem colo­cado, o Espírito Santo, obteve a nota 4,8, infe­rior, por­tanto, à meta esta­b­ele­cida para o IDEB/​2019, que foi de 5,3.

O Maran­hão aparece no rank­ing dos esta­dos da fed­er­ação na vigésima posição, atrás de dezen­ove out­ros esta­dos, tais como, Alagoas, Roraima, Acre, Paraíba, Piauí, Tocan­tins, Rondô­nia, e tan­tos out­ros.

Citei estes para dimen­sionar o despropósito de se cel­e­brar a nota obtida quando esta­mos atrás destes esta­dos, que longe, não têm a riqueza da nossa história de int­elec­tu­al­i­dade.

Temos motivos para comemorar?

O Brasil e, muito menos o Maran­hão, nada têm a fes­te­jar em relação a nota do IDEB obtida, pelo con­trário, só o fato de ape­nas dois esta­dos haverem alcançado a meta esta­b­ele­cida – que são mod­estís­si­mas –, com­prova que não esta­mos indo para lugar nen­hum.

O Brasil está ficando para trás e o Maran­hão para muito mais para trás.

Devo lem­brar que mesmo os municí­pios que atin­gi­ram a meta esta­b­ele­cida para o IDEB/​2019, estão longe de pos­suírem uma edu­cação de qual­i­dade, quanto mais aque­les que não a atin­gi­ram.

Uma outra coisa que não deve­mos perder de vista é que a nota obtida pelos esta­dos e municí­pios é o resul­tado das médias entre as redes públi­cas e pri­vadas, sendo que estas últi­mas pos­suem uma nota bem mel­hor que as da rede pública.

Em out­ras palavras, nem mesmo a nota 3,7 obtida pelo Estado do Maran­hão pode ser “cred­i­tada”, na sua total­i­dade, à “efi­ciên­cia” das políti­cas públi­cas empreen­di­das pelo gov­erno estad­ual.

Fazem um com­er­cial inde­v­ido, uma ver­dadeira ode ao fra­casso, e mesmo este, não é total­mente “mérito” seu.

Hoje, sei que as coisas estão mudadas, pelo que ouvi dizer tornou-​se “proibido” reprovar estu­dante – e até tenho dúvi­das se pela qual­i­dade do ensino ofer­tado as esco­las públi­cas têm “moral” para reprovar alguém –, mas quando estu­dava, “filho de uma égua” algum pas­sava de ano com a média de aproveita­mento de 3,7 de nota. Jamais a pro­fes­sora Mar­garida deixaria que o indig­i­tado que tivesse essa média mudasse de ano, era no mín­imo 7,5 ou 8 e sem dire­ito a recla­mação.

Como alguém pode fes­te­jar ou mesmo sug­erir que o Estado do Maran­hão, com média IDEB/​2019 de 3,7 está muito bem, obri­gado?

Como alguém pode achar que a cap­i­tal do estado com nota de 5,1, nas séries ini­ci­ais, na vigésima segunda posição; e nota de 3,9, nos anos finais, na décima nona posição, no rank­ing das cap­i­tais, está muito bem, obri­gado?

Fico me per­gun­tando o que se passa na cabeça das autori­dades respon­sáveis pela fis­cal­iza­ção e con­t­role das ativi­dades estatais quando são con­fronta­dos com este tipo de com­er­ci­ais do gov­erno estad­ual “fes­te­jando” a extra­ordinária nota de 3,7 obtida no IDEB/​2019 e tan­tos out­ros que mais pare­cem peças de pro­pa­ganda “nazista” e que estão longe de cumprir o seu papel con­sti­tu­cional.

Será que lem­bram que o con­tribuinte está sendo “san­grado” duas vezes: primeiro, porque está recebendo uma edu­cação de pés­sima qual­i­dade, inca­paz, até, de cumprir o\uma meta mod­esta e, segundo, por estar pagando mil­hões para mídia para ser “con­ven­cido” de que tudo corre às mil maravilhas?

Será que Tri­bunal de Con­tas do Estado –TCE, Min­istério Público estad­ual e fed­eral, Con­tro­lado­ria Geral da União — CGU, Tri­bunal de Con­tas da União– TCU, e out­ros órgãos, se dão conta da situ­ação absurda que esta­mos vivendo no Maran­hão, com o din­heiro público sendo uti­lizado para fes­te­jar o fra­casso?

O Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­cas — IBGE, nestes mes­mos dias em que o gov­erno estad­ual gasta for­tu­nas tes­tando Goebbels e cel­e­brando o fra­casso da nossa edu­cação, que o Maran­hão é o campeão nacional no rank­ing de pes­soas na condição de mis­éria abso­luta, de pes­soas pas­sando fome, dos vinte sete esta­dos exis­tentes, esta­mos na vigésima sétima posição, se tivesse mais algum outro estado, cer­ta­mente estaríamos atrás dele tam­bém e o gov­erno estad­ual usa o din­heiro público para enga­nar o con­tribuinte com esse tipo de mídia.

E ninguém diz nada?

Todos, pelo silên­cio, pela omis­são ou pela cumpli­ci­dade, pura e sim­ples, acabam entrando na onda e fes­te­jando junto.

Como disse no começo do texto, em grande parte, esse tipo de descal­abro que viven­ci­amos é dev­ido à ausên­cia de uma imprensa inde­pen­dente, assertiva e ques­tion­adora.

A implan­tação do gov­erno comu­nista no estado nos tirou isso tam­bém – ou piorou o que já era pés­simo.

A nossa mis­éria – ates­tada em números pelo IBGE –, faz com que toda a econo­mia seja depen­dente do estado e com isso, todos os segui­men­tos se tor­nam depen­dentes do gov­erno, a ponto de faz­erem “vista grossa” ou fin­girem não enx­er­gar o que vem se pas­sando.

É certo, tam­bém, que muitos nunca quis­eram ou tiveram com­pro­mis­sos com a inde­pendên­cia, pelo con­trário, estavam “loucos” para serem chama­dos ao “diál­ogo”. A car­ac­terís­tica de todo gov­erno autoritário é o con­t­role da infor­mação para, assim, manip­u­lar os povos.

Vive­mos isso por aqui, com um gov­erno que admin­is­tra a maior pop­u­lação de fam­intos, gas­tando os recur­sos públi­cos para “vender” o sucesso que é uma nota 3,7 no IDEB.

E a con­tagem regres­siva para que isso piore já começou.

Encerro com uma crítica à imprensa estad­ual e nacional, que se aco­varda é neg­li­gente e/​ou que perdeu o senso crítico, faço isso uti­lizando as palavras do juiz Hugo Black (18861971), da Suprema Corte a amer­i­cana que assen­tou: “Na Primeira Emenda, os pais fun­dadores pro­por­cionaram à liber­dade de imprensa a pro­teção que ela neces­si­tava para cumprir seu papel essen­cial em nossa democ­ra­cia. A imprensa era para servir os gov­er­na­dos, e não os gov­er­nantes […] somente uma imprensa livre e sem restrições é capaz de efe­ti­va­mente demon­strar os equívo­cos do governo”.

A assertiva do mag­istrado foi no caso New York Times Co. v United States, jul­gado em 1971, tam­bém con­hecido por The Pen­ta­gon Papers. Sobre este caso encontra-​se em car­taz no stream­ing Net­flix o filme The Post, uma refer­ên­cia ao outro polo do processo, o jor­nal The Wash­ing­ton Post.

Talvez seja opor­tuno refle­tir­mos sobre tudo isso nesta atual quadra.

Abdon Mar­inho é advo­gado.