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A Pás­coa e o tri­unfo da humanidade.

Escrito por Abdon Mar­inho


A PÁS­COA E O TRI­UNFO DA HUMANIDADE.

Por Abdon Marinho.

CRE­DES!? Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca mor­rerá.

Ouvi as palavras que saiam da boca do padre como um con­selho e/​ou um con­solo der­radeiro diante da dor da perda de um ente querido na missa de corpo pre­sente que encomen­dava sua alma ao Pai celestial.

Naquela mis­são imposta por seu min­istério, ao padre cumpria a dupla função: encomen­dar ao Cri­ador a alma do que par­tia e con­so­lar a dor dos que ficavam.

Para isso, socorreu-​se das palavras do próprio Cristo Sal­vador, num daque­les mais ilus­tra­tivos episó­dios de fé que nos narra a Bíblia Sagrada: a ressur­reição de Lázaro.

O livro sagrado nos rev­ela que uma das famílias que mais pri­vava da amizade de Jesus era a família de Marta.

E, ela (Marta) man­dara avisar Jesus da enfer­mi­dade e morte de Lázaro, seu amigo/​irmão. Mas Jesus retar­dou no regresso, por isso Marta diz-​lhe, segundo o Evan­gelho de João: “Disse, pois, Marta a Jesus: Sen­hor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.

Mas tam­bém agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.

Disse-​lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.

Disse-​lhe Marta: Eu sei que há de ressus­ci­tar na ressur­reição do último dia.

Disse-​lhe Jesus: Eu sou a ressur­reição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.

E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca mor­rerá. Crês tu isto?” João 11:2126.

Marta ainda argu­menta que se pas­saram muitos dias desde a morte do irmão e que este já estaria em decom­posição.

Cristo, porém, tudo podia – e tudo pode, não nos esqueçamos disso –, e por isso ressus­ci­tou a Lázaro que já repousava na man­são dos mor­tos há dias.

Nestes dias, entre a Paixão e a Pás­coa, me pus a refle­tir sobre tais ensi­na­men­tos.

Busquei na memória dis­tante aquela lem­brança do que nos disse o pároco naquela missa de corpo pre­sente: “todo aquele que vive, e crê em mim, nunca mor­rerá”.

Não é que a fé nos deixe imunes ao medo do perec­i­mento antes daquela que jul­g­amos a hora da morte, mas ela (fé) nos con­forta diante do impon­derável.

O próprio Cristo sen­tiu o imenso peso do perec­i­mento, na noite em que se deu a prisão e pos­te­rior cru­ci­fi­cação: “Indo um pouco mais adi­ante, prostrou-​se com o rosto em terra e orou: ‘— Meu Pai, se for pos­sível, afasta de mim este cálice; con­tudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres’». Mateus 26:39.

E assim se deu, con­forme a von­tade de Deus.

Seu único filho foi preso, pade­ceu sob Pôn­cio Pilatos e foi cru­ci­fi­cado entre os dois malfeitores e de lá lançou o seu perdão: “— Pai, perdoa-​lhes, pois não sabem o que estão fazendo”. Lucas 23:34.

Na der­radeira hora, em voz alta Jesus brada, ainda segundo o Evan­gelho de Lucas: “— Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. E expirou. Lucas 23:46.

A Pás­coa, a ressur­reição de Jesus Cristo, que hoje se comem­ora é a vitória sobre tudo isso. Tudo que tinha de acon­te­cer para se cumprir a as escrit­uras sagradas e a von­tade de Deus.

Não podemos nos lim­i­tar a fes­te­jar – os que creem –, a ressur­reição do Sal­vador sem com­preen­der que ela sig­nifica o tri­unfo da humanidade sobre todos males.

E porque digo o tri­unfo da humanidade? Porque Jesus foi, como ele próprio recon­heceu, ape­nas o cam­inho, o instru­mento para o cumpri­mento da von­tade do Sen­hor único. Foi por isso que disse: — “Eu sou o cam­inho, e a ver­dade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. João 14:6.

Vive­mos uma Pás­coa espe­cial.

Em muitos anos antes desta e, acred­ito, muitos anos depois, não viver­e­mos um momento de tamanha importân­cia e de provação para a humanidade.

São dias de tribu­lações, sen­ti­men­tos à flor da pele.

Por isso mesmo deve­mos refle­tir sobre o momento que vive­mos e bus­car na fé indi­vid­ual de cada um – e todas devem e pre­cisam ser respeitadas –, as respostas que pre­cisamos, mas, sobre­tudo, o con­forto e a res­ig­nação para vencer os desafios que estão pos­tos.

É impor­tante para que obten­hamos êxito neste intento que deix­e­mos de lado os debates – ainda que impor­tantes –, sobre o que não é essen­cial.

Sabendo onde quer­e­mos chegar, em que porto atracare­mos após a tor­menta, o impor­tante é vencer­mos a tempestade.

Como fruto, talvez, da minha fé, car­rego comigo a con­vicção de todos os diss­a­bores, inclu­sive, o que mais nos aflige neste momento, são pas­sageiros e fazem parte do “cresci­mento” como humanos.

E, por conta disso, procuro tirar as mel­hores lições.

A vida seguia tran­quila e nor­mal – den­tro do que seja nor­mal para as cir­cun­stân­cias de cada um –, quando, não mais que de repente, nos surge um inimigo invisível aos olhos, dev­as­ta­dor, impiedoso a nos impor uma série de restrições – ainda que tem­porárias –, e a nos obri­gar a refle­tir sobre o que real­mente é impor­tante para as nos­sas vidas.

Este acon­tec­i­mento, antes de deses­perar, nos exige, primeiro, a serenidade para com­preen­der o que se passa; e, segundo, abne­gação, para combatê-​lo; e, por fim, talvez o mais impor­tante, humanidade para vencê-​lo.

Quando falo humanidade – e daí o título do texto fazer a lig­ação entre a Pás­coa e o tri­unfo da humanidade –, estou falando na soma dos todos, das qual­i­dades e defeitos, dos enormes avanços tec­nológi­cos e cien­tí­fi­cos que con­quis­ta­mos ao longo dos sécu­los, mas, tam­bém, da mesma humanidade pela qual o Cristo mor­reu e a quem per­doou da Cruz.

É com fun­da­mento nestes sen­ti­men­tos, nes­tas certezas, que firmo a con­vicção de que mais uma vez, como já ocor­rera diver­sas out­ras vezes, que tri­un­fare­mos.

A ressur­reição de que trata a Pás­coa não é ape­nas o renasci­mento de Jesus no coração de cada um dos cristãos que creem na sua palavra, ainda, que não vivam da sua fé, mais sim, e tam­bém, o renasci­mento de toda a humanidade.

A humanidade que tri­un­fará e renascerá mais justa, solidária, fra­terna e con­sciente de seu papel nesta longa jor­nada da vida.

Inde­pen­dente da fé de cada ser humano, um único sen­ti­mento deve nos guiar neste momento: o sen­ti­mento da esper­ança; e a certeza de que poder­e­mos ser bem mel­hores do que fomos até aqui.

Uma feliz e abençoada Pás­coa para todos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Lou­cura pandêmica

Escrito por Abdon Mar­inho

LOUCURA PANDÊMICA.

Por Abdon Marinho.

ALGUÉM já disse – não me recordo se ouvi, li ou imag­inei –, que toda cidadez­inha do inte­rior que se preze pre­cisa ter seus tipos fol­clóri­cos: o bêbado ofi­cial; o doido ofi­cial; as beatas ofi­ci­ais, e por aí vai.

Quando deixei o povoado onde nasci, lá pelo final dos anos setenta, fui para Gov­er­nador Archer. Muito novo, não lem­bro bem de inten­si­ficar estes tipos por lá, talvez, ape­nas as irmãs Leonel se encaixe no perfil.

O mesmo não acon­te­ceu quando mudei-​me para Gonçalves Dias, onde fiquei até o iní­cio de 1985.

Das min­has lem­branças daquele começo dos anos oitenta, pelo menos um dos tipos típi­cos tín­hamos de forma inques­tionável: o doido oficial.

O nosso doido ofi­cial naquele tempo era o Seu Romeiro, assim chamado, creio eu, por sua devoção ao Padre Cícero – nunca soube o seu nome de batismo, só o chamá­va­mos de Romeiro, como se fosse nome próprio.

Era um sen­horz­inho baixo, de idade indefinida, sem­pre bem vestido, de calças com­pri­das, sap­atos e camisa manga longa, diver­sos rosários no pescoço.

Andava sem­pre com uma valise onde car­regava papéis diver­sos e um cajado quase da mesma altura que ele, ador­nado com diver­sas fitas e out­ras bugingangas.

A sua lou­cura era apresentar-​se como o homem mais rico do mundo, sua for­tuna não era cal­cu­lada em mil­hões ou bil­hões, mas em «quadrilhões» ou “quin­quil­hões”. Era din­heiro, ouro, jóias, pro­priedades, tudo incal­culável pelos comuns mortais.

Saia de casa cedo e pas­sava o dia andando a cidade, ia aos lugares mais dis­tantes, par­ava aqui e ali, mas o resto do tempo per­cor­rendo a cidade, dando razão ao dito pop­u­lar: “andava mais que juízo de doido”.

Nas suas paradas, se alguém lhe falava de alguma neces­si­dade, ele abria a valise, pegava um pedaço de papel pre­vi­a­mente for­matado e fazia um cheque de alguns mil­hões para a pes­soa. Din­heiro, para ele, não era problema.

Suas “cis­mas» eram se alguém ques­tionasse sua riqueza, e outra, que não sei se moti­vada por racismo, con­tra Pelé – ele mesmo, o astro do futebol.

Ai de alguém dizer que o Pelé era mais rico do que ele. Avançava sobre o atre­v­ido com seu cajado.

Fora isso tirava os dias sem ofender ninguém fazendo cál­cu­los men­tais de sua for­tuna imaginária.

Bas­tava que ninguém se “tro­casse” com ele ou açu­lasse suas con­trariedades que tudo estaria bem.

Nestes dias de quar­entena, por conta da pan­demia do coro­n­avírus – e tam­bém por causa dela –, tenho refletido sobre a lou­cura, sobre­tudo, sobre a lou­cura pandêmica que toma conta do país.

Aqui, difer­ente da lou­cura do seu Romeiro, ela causa estra­gos, provoca mortes e danos à vida das pessoas.

O país, cap­i­taneado por seu pres­i­dente – tendo diver­sos gov­er­nadores como coad­ju­vantes –, vive um clima de lou­cura pandêmica.

Os cidadãos, não temos ape­nas que enfrentar a pan­demia do coro­n­avírus, somos obri­ga­dos a con­viver a lou­cura e a insen­satez dos gov­er­nantes.

Em tex­tos ante­ri­ores cobrei sen­satez e racional­i­dade. Até aqui, da parte das pes­soas que detêm o poder político emanado das urnas, temos visto o con­trário.

Em qual­quer lugar, em qual­quer tempo, diante de uma pan­demia, vemos as autori­dades, ainda que momen­tanea­mente, se darem as mãos para enfrentar um inimigo comum – e maior.

Aqui, assis­ti­mos que a pan­demia – que já ceifou mil­hares de vidas ao redor do mundo e algu­mas cen­tena no nosso país –, se tornou mais um pano de fundo e/​ou com­bustível para a dis­puta entre aquele que está na presidên­cia da República e os diver­sos pos­tu­lantes que son­ham em chegar lá.

O com­por­ta­mento, igual­mente hor­ro­roso, do pres­i­dente da República e dos “governadores-​candidatos”, enver­gonha os cidadãos de bem e não encon­tra para­lelo nas demais espé­cies da natureza.

O que vemos na natureza é que quanto há um incên­dio na flo­resta predadores e pre­sas não param para resolverem suas “con­tendas”, antes, têm a com­preen­são de que o fogo é o inimigo comum, e cor­rem lado a lado na busca da sal­vação.

Os “humanos” brasileiros não têm essa com­preen­são, em meio a uma das maiores tragé­dias a afe­tar a humanidade, se achando pro­te­gi­dos por suas posses ou pela certeza que serão bem aten­di­dos caso adoeçam, tripu­diam da dor daque­les que estão per­dendo seus entes queri­dos com uma dis­puta insana.

Vemos até governador-​candidato obcecado pelo pres­i­dente – tal qual o seu Romeiro era pelo Pelé –, se ocu­pando em con­tar os mor­tos (e, talvez torcendo por seu aumento) que hipoteti­ca­mente aman­hece­riam na porta do pres­i­dente da República.

O maior inimigo da sociedade brasileira no momento não é ape­nas o coro­n­avírus é, tam­bém, esse com­por­ta­mento rasteiro das “autori­dades”.

Em plena crise, ao invés de se enten­derem, gov­ernistas e oposi­cionistas, se ali­men­tando da própria medioc­ridade, pas­sam os dias tro­cando insul­tos através das redes soci­ais e dos demais veícu­los de comu­ni­cação.

Nada con­tra que se odeiem – e que matem, se assim quis­erem –, mas deixem isso para o futuro, para depois da pan­demia. Podemos, até, defender uma lei que per­mita essa gente a resolver seus con­fli­tos através de due­los públicos.

Já que não con­seguem ser civ­i­liza­dos nem mesmo durante uma pan­demia, a lin­guagem das armas talvez con­sigam entender.

Vejam, nen­hum dos lados, que infe­liz­mente ten­tam tirar div­i­den­dos políti­cos em cima de uma tragé­dia humana de tamanha dimen­são, tem razão e os seus rep­re­sen­tantes deviam ter vergonha.

O com­por­ta­mento destes políti­cos é digno de vergonha.

Assim como enver­gonha a raça humana todos aque­les que, nas rebar­bas, ten­tam tirar alguma van­tagem de tal tragé­dia.

Será que temos entre as nos­sas autori­dades só a escória da raça humana?

Porém, diante da tragé­dia, vejo com a ale­gria que a maio­ria da sociedade brasileira tem mais lucidez que os seus gov­er­nantes.

Uma pesquisa da Folha de São Paulo, divul­gada neste domingo, rev­ela que 59% (cinquenta e nove por cento) são con­tra uma renún­cia do pres­i­dente con­tra 37% (trinta e sete por cento) que são favoráveis à renún­cia, con­forme defend­eram, em carta alguns par­tidos de oposição, e, em out­ros veícu­los de comu­ni­cação, diver­sas lid­er­anças políti­cas, prin­ci­pal­mente, alguns que ten­tam tirar vantagens.

Não é que a sociedade brasileira, em per­centual tão ele­vado apoie, o pres­i­dente ou mesmo apoie o seu desem­penho diante da crise provo­cada pela pan­demia. Nada disso, recen­te­mente, outra pesquisa disse que ape­nas 35% (trinta e cinco por cento) aprovava o seu desem­penho con­tra 75% (setenta e cinco por cento) que aprovava o desem­penho do Min­istério da Saúde do seu governo.

O que a sociedade brasileira já perce­beu – e que a oposição e seus líderes teimam em bater cabeça –, é que este não é um momento para se aumen­tar as divisões inter­nas do país.

A dis­puta não é entre gov­ernistas e oposi­cionistas, é con­tra uma pan­demia, é con­tra um vírus que ameaça diz­imar – e já vem fazendo isso –, um número sig­ni­fica­tivo de vidas humanas.

Não é a primeira vez – e, infe­liz­mente não será a última –, que enfrenta­mos uma pan­demia. Desta vez, difer­ente, das vezes ante­ri­ores, esta­mos bem mais prepara­dos.

Foi uma questão de dias entre o aparec­i­mento da “doença” e o sequen­ci­a­mento genético do vírus e o iní­cio de diver­sos méto­dos de trata­mento.

Emb­ora insip­i­entes já exis­tem diver­sos estu­dos apon­tando um rumo.

A nossa luta, a luta da sociedade, é para ter­mos o menor número de víti­mas pos­sível; é para não sobre­car­regar­mos o sis­tema de saúde, invi­a­bi­lizando o atendi­mento e provo­cando a con­t­a­m­i­nação, sobre­tudo, dos val­orosos brasileiros que estão na linha de frente desta guerra.

Enquanto faze­mos a nossa parte, o enfrenta­mento da pan­demia exige, método, dis­ci­plina e comando.

Aliás, SUS sig­nifica jus­ta­mente isso: Sis­tema Único de Saúde.

Não ire­mos muito longe e de nada terá valido os esforços da sociedade, se as “autori­dades” insi­s­tirem e puxar cada um para um lado ou fazer da sua maneira.

O momento é de ouvir a ciên­cia. É ela nossa mel­hor ali­ada.

Não imag­inem que alguém vai lá e pegar o vírus na unha. Não é assim que funciona.

Espero que depois de der­ro­tar­mos o vírus a sociedade tome cor­agem para extir­par outra doença que assola o país – de forma tão ou mais danosa que o próprio vírus –, essa corja de políti­cos opor­tunistas e ine­scrupu­losos que, sequer, sen­tem con­strang­i­mento em explo­rar as tragé­dias que ceifam vidas humanas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Um apelo à racionalidade.

Escrito por Abdon Mar­inho


UM APELO À RACIONALIDADE.

Por Abdon Marinho.

O TEXTO que plane­jei para escr­ever hoje nada tem a ver com o que segue abaixo.

Aquele – o texto não escrito –, iria tratar das reflexões sobre a vida, as rem­i­nis­cên­cias e as pro­jeções futuras que fiz nesta primeira sem­ana de iso­la­mento social. Não deu! Paciência!

Já o texto que ora escrevo, é um apelo à razão, ao bom senso, à hon­esti­dade int­elec­tual, à ver­gonha na cara, etc., neste momento em que ten­tam explo­rar os medos das pes­soas, sobre­tudo, das mais frágeis, em bene­fí­cio dos próprios e incon­fessáveis inter­esses.

Ini­cial­mente devo dizer que não esta­mos diante de uma “gripez­inha”, como querem alguns, ou, tão pouco, diante do “fim do mundo”, do ocaso da humanidade, como pre­ten­dem outros.

Logo, se você se encon­tra em um dos extremos e passa os dias – de ócio ou de labuta –, ten­tando con­vencer os out­ros que está certo e que ninguém o fará mudar de opinião, já se sinta des­o­bri­gado da leitura do que segue.

Este texto, como já dito, é um apelo à racional­i­dade, é, por­tanto, incom­patível com extremismos.

O brasileiro, de uns tem­pos para cá, começou a enx­er­gar as coisas em preto e branco, quer dizer, para eles, ou é preto ou é branco; ou é oito ou é oitenta, oito­cen­tos, oito mil …

Os extrem­is­mos nunca foram os mel­hores con­sel­heiros de ninguém.

Mas, por aqui, se tornaram a moda da estação. Pior, muitos, por indigên­cia moral e pelo caráter duvi­doso, ten­tam tirar van­ta­gens. Políti­cas, finan­ceiras, ou as duas.

Esse vale-​tudo do mau-​caratismo, infe­liz­mente, tem se esten­dido a tudo, até mesmo a uma situ­ação como esta da pan­demia cau­sada pelo surg­i­mento, na China – e se espal­hado pelo mundo –, do novo coro­n­avírus (Sars-​Cov-​2).

Por aqui, essa pan­demia que já ceifou mais de uma cen­tena de vidas e que deve cei­far out­ros mil­hares (ou mil­hões, não se sabe ao certo), tornou-​se um ele­mento a mais na “guerra” política que dom­ina o país.

Quando pen­sá­va­mos que, diante de um inimigo comum, teríamos alguma unidade que nos fizesse sair do prob­lema mais for­t­ale­ci­dos e com um sen­ti­mento de nação deu-​se o con­trário. O novo coro­n­avírus tornou-​se o com­bustível que ali­menta a insanidade.

Pelo que tenho visto, lido ou ouvido a respeito do novo coro­n­avírus, não se trata, como querem alguns, de uma “gripez­inha”.

Uma gripe não mata mil­hares de pes­soas em tão pouco espaço de tempo, como ocor­reu na China, e como vem ocor­rendo na Itália, com mais de 10 mil mor­tos; Espanha, quase 7 mil mor­tos; Irã, quase 3 mil mor­tos; Esta­dos Unidos, mais de 2 mil mor­tos; França, mais de 2 mil mor­tos; Reino Unido, mais de mil mor­tos; e por aí vai. Destes, exceção da China que está com situ­ação rel­a­ti­va­mente equi­li­brada, os números só aumen­tam – e numa pro­porção quase geométrica –, levando pane aos sis­temas de saúde e à exaustão os profis­sion­ais da área.

São números, que pelo curto espaço de tempo em que ocor­reram, não per­mitem que se min­i­mize o prob­lema.

Uma “gripez­inha” não levaria à dec­re­tação de quar­entena a todas as cap­i­tais da Europa e ao fechamento das fron­teiras daque­les países.

Uma “gripez­inha” não levaria Nova Iorque, uma espé­cie de cap­i­tal do mundo e que recebe mais de 60 mil­hões de tur­is­tas por ano a encontrar-​se às moscas, com par­ques e avenidas que nunca param a ficarem com­ple­ta­mente vazios.

Não seria um mero res­fri­ado que iria obri­gar o pres­i­dente dos Esta­dos Unidos, Don­ald Trump, a dizer que estu­dava dec­re­tar quar­entena em três esta­dos amer­i­canos por conta do novo coro­n­avírus: esta­dos de Nova York, Nova Jer­sey e Con­necti­cut – ainda que horas depois tenha dito que desi­s­tirá da ideia.

Ainda que tenha desis­tido – não sabe­mos se momen­tanea­mente, só o tempo dirá –, tal ideia, até então, só pas­sara pela cabeça dos roteiris­tas de Hol­ly­wood, assim mesmo, os mais inventivos.

Dito isso, ainda pelo respeito que deve­mos ter pela dor alheia, por aque­les que estão sofrendo, não deve­mos fazer pouco caso do assunto.

Noutra quadra, não podemos deixar de levar em con­sid­er­ação a existên­cia de estu­dos sérios ate­s­tando que o “mundo não vai acabar” por conta da atual pan­demia e que o Brasil, por suas car­ac­terís­ti­cas próprias, sofr­erá menos os impactos do novo coro­n­avírus que vêm sofrendo out­ras nações.

Segundo estes estu­dos o alas­tra­mento do vírus no Brasil será dis­tinto daquele que vem ocor­rendo na Europa e na América do Norte, argu­men­tando que ele (o vírus) tem pouca resistên­cia ao calor dos trópi­cos, pere­cendo mais rápido em tem­per­at­uras acima de 20º Celsius.

Ainda segundo estes estu­dos ape­sar do poder de con­t­a­m­i­nação deste vírus ser supe­rior aos daque­les que o pre­ced­eram, a sua letal­i­dade não é tão grande, ficando abaixo de quase todos os demais.

Mais, ape­nas estariam sujeitos à morte provo­ca­dos pelo coro­n­avírus (pelo menos em maior per­centual) deter­mi­na­dos gru­pos de indivíduos.

Faz parte da ciên­cia – e todos con­cor­dam –, que os ataques virais começam a dec­li­nar quando uma grande parcela da pop­u­lação é con­t­a­m­i­nada e começa a adquirir anti­cor­pos àquele ele­mento estranho.

Em relação a esse novo coro­n­avírus (Sars-​Cov-​2), pelo seu alto grau de con­tá­gio, ainda que seus efeitos mais graves só atinja a uma pequena parcela da pop­u­lação e sua letal­i­dade a uma parcela menor ainda, ainda assim, esses números estariam bem acima da capaci­dade dos sis­temas de saúde, inclu­sive do brasileiro que pos­sui o Sis­tema Único de Saúde — SUS – e para o nosso orgulho, senão o maior, um dos maiores sis­temas públi­cos do mundo.

Como podemos perce­ber o prob­lema não é de grande inda­gação.

Bas­taria, ao meu sen­tir, as autori­dades do setor médico, sem aço­da­men­tos, chegarem a um con­senso sobre os níveis de inter­venções a serem pro­pos­tos nas vidas das pes­soas para colo­car a curva de con­tá­gio pelo novo coro­n­avírus den­tro da capaci­dade de atendi­mento do sis­tema de saúde, pois é certo que o con­tá­gio haverá e quanto mais pes­soas forem con­ta­giadas e adquirirem anti­cor­pos para lidarem com a doença, mel­hor para todos.

O debate que propõe deve ser travado à luz da ciên­cia e desprovido de qual­quer sen­ti­mento de cunho político/​ideológico. Como dito ante­ri­or­mente os extrem­is­mos, neste, e em qual­quer outro momento, não são os mel­hores conselheiros.

Este é o apelo à racional­i­dade que se faz.

Não é hora de embates ide­ológi­cos.

É hora de sal­var o país da hecatombe e com os menores danos possíveis.

Quando se fala em retornar à ativi­dade econômica do país ape­sar da crise posta é porque sabe­mos (acred­ito que todos saibam disso) que a “que­bradeira” da indús­tria, do comér­cio e do setor de serviços, trará con­se­quên­cias igual­mente danosas à saúde das pes­soas: fome, desem­prego e vio­lên­cia.

É bom que se entenda que quando se par­al­isa todas as ativi­dades econômi­cas o país que­bra. Pois é da ativi­dade pro­du­tiva que vem o din­heiro para pagar as con­tas.

Não adi­anta dizer que vai parar tudo e o gov­erno vai prover, pois o gov­erno somos nós.

Se não tiver­mos din­heiro para dar ao gov­erno através dos impos­tos que pag­amos ele não terá a capaci­dade de hon­rar com­pro­mis­sos com o restante da sociedade.

Faz-​se necessário que parem com este embate ide­ológico, essas cam­pan­has ante­ci­padas, para que se busque uma saída para o país. Para que se encon­tre uma cura para o prob­lema sem que se mate o paciente, aprovei­tando – se reais –, as supostas van­ta­gens que teríamos.

Pre­cisamos das mel­hores cabeças das ciên­cias, da med­i­c­ina, da econo­mia, para apli­car­mos a mel­hor equação.

A China e a Cor­eia do Sul enfrentaram (e ainda enfrentam) o prob­lema e estão se saindo bem. Outro mod­elo a ser repli­cado é o da Ale­manha. Ali, no novo epi­cen­tro da pan­demia, próx­imo à Itália, França e Espanha, já tendo reg­istrado mais de 70 mil casos de infec­ta­dos “só” reg­is­tra pouco mais de 500 víti­mas fatais. Número bem aquém dos que os reg­istra­dos nos países viz­in­hos.

Claro que um país con­ti­nen­tal como nosso não teríamos as mes­mas condições de imple­men­tar o que se está imple­men­tando, numa Ale­manha, por outro lado, temos nos­sas próprias “van­ta­gens”, já referi­das acima.

O que pre­cisamos é de uma nação unida falando a mesma lín­gua no enfrenta­mento de um inimigo comum.

Isso vai muito além dos inter­esses políti­cos ou ide­ológico de quem só con­segue pen­sar no próprio umbigo.

Depois de ven­cido o “inimigo” sem ter­mos destruído o país, podem voltar a guer­rinha tola e por poder de vocês e de prefer­ên­cia se matem.

Abdon Mar­inho é advo­gado.