A PÁSCOA E O TRIUNFO DA HUMANIDADE.
Por Abdon Marinho.
CREDES!? Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá.
Ouvi as palavras que saiam da boca do padre como um conselho e/ou um consolo derradeiro diante da dor da perda de um ente querido na missa de corpo presente que encomendava sua alma ao Pai celestial.
Naquela missão imposta por seu ministério, ao padre cumpria a dupla função: encomendar ao Criador a alma do que partia e consolar a dor dos que ficavam.
Para isso, socorreu-se das palavras do próprio Cristo Salvador, num daqueles mais ilustrativos episódios de fé que nos narra a Bíblia Sagrada: a ressurreição de Lázaro.
O livro sagrado nos revela que uma das famílias que mais privava da amizade de Jesus era a família de Marta.
E, ela (Marta) mandara avisar Jesus da enfermidade e morte de Lázaro, seu amigo/irmão. Mas Jesus retardou no regresso, por isso Marta diz-lhe, segundo o Evangelho de João: “Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.
Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.
Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.
Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia.
Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.
E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto?” João 11:21 – 26.
Marta ainda argumenta que se passaram muitos dias desde a morte do irmão e que este já estaria em decomposição.
Cristo, porém, tudo podia – e tudo pode, não nos esqueçamos disso –, e por isso ressuscitou a Lázaro que já repousava na mansão dos mortos há dias.
Nestes dias, entre a Paixão e a Páscoa, me pus a refletir sobre tais ensinamentos.
Busquei na memória distante aquela lembrança do que nos disse o pároco naquela missa de corpo presente: “todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá”.
Não é que a fé nos deixe imunes ao medo do perecimento antes daquela que julgamos a hora da morte, mas ela (fé) nos conforta diante do imponderável.
O próprio Cristo sentiu o imenso peso do perecimento, na noite em que se deu a prisão e posterior crucificação: “Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: ‘— Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres’». Mateus 26:39.
E assim se deu, conforme a vontade de Deus.
Seu único filho foi preso, padeceu sob Pôncio Pilatos e foi crucificado entre os dois malfeitores e de lá lançou o seu perdão: “— Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo”. Lucas 23:34.
Na derradeira hora, em voz alta Jesus brada, ainda segundo o Evangelho de Lucas: “— Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. E expirou. Lucas 23:46.
A Páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo, que hoje se comemora é a vitória sobre tudo isso. Tudo que tinha de acontecer para se cumprir a as escrituras sagradas e a vontade de Deus.
Não podemos nos limitar a festejar – os que creem –, a ressurreição do Salvador sem compreender que ela significa o triunfo da humanidade sobre todos males.
E porque digo o triunfo da humanidade? Porque Jesus foi, como ele próprio reconheceu, apenas o caminho, o instrumento para o cumprimento da vontade do Senhor único. Foi por isso que disse: — “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. João 14:6.
Vivemos uma Páscoa especial.
Em muitos anos antes desta e, acredito, muitos anos depois, não viveremos um momento de tamanha importância e de provação para a humanidade.
São dias de tribulações, sentimentos à flor da pele.
Por isso mesmo devemos refletir sobre o momento que vivemos e buscar na fé individual de cada um – e todas devem e precisam ser respeitadas –, as respostas que precisamos, mas, sobretudo, o conforto e a resignação para vencer os desafios que estão postos.
É importante para que obtenhamos êxito neste intento que deixemos de lado os debates – ainda que importantes –, sobre o que não é essencial.
Sabendo onde queremos chegar, em que porto atracaremos após a tormenta, o importante é vencermos a tempestade.
Como fruto, talvez, da minha fé, carrego comigo a convicção de todos os dissabores, inclusive, o que mais nos aflige neste momento, são passageiros e fazem parte do “crescimento” como humanos.
E, por conta disso, procuro tirar as melhores lições.
A vida seguia tranquila e normal – dentro do que seja normal para as circunstâncias de cada um –, quando, não mais que de repente, nos surge um inimigo invisível aos olhos, devastador, impiedoso a nos impor uma série de restrições – ainda que temporárias –, e a nos obrigar a refletir sobre o que realmente é importante para as nossas vidas.
Este acontecimento, antes de desesperar, nos exige, primeiro, a serenidade para compreender o que se passa; e, segundo, abnegação, para combatê-lo; e, por fim, talvez o mais importante, humanidade para vencê-lo.
Quando falo humanidade – e daí o título do texto fazer a ligação entre a Páscoa e o triunfo da humanidade –, estou falando na soma dos todos, das qualidades e defeitos, dos enormes avanços tecnológicos e científicos que conquistamos ao longo dos séculos, mas, também, da mesma humanidade pela qual o Cristo morreu e a quem perdoou da Cruz.
É com fundamento nestes sentimentos, nestas certezas, que firmo a convicção de que mais uma vez, como já ocorrera diversas outras vezes, que triunfaremos.
A ressurreição de que trata a Páscoa não é apenas o renascimento de Jesus no coração de cada um dos cristãos que creem na sua palavra, ainda, que não vivam da sua fé, mais sim, e também, o renascimento de toda a humanidade.
A humanidade que triunfará e renascerá mais justa, solidária, fraterna e consciente de seu papel nesta longa jornada da vida.
Independente da fé de cada ser humano, um único sentimento deve nos guiar neste momento: o sentimento da esperança; e a certeza de que poderemos ser bem melhores do que fomos até aqui.
Uma feliz e abençoada Páscoa para todos.
Abdon Marinho é advogado.