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Racismo e preconceitos

Escrito por Abdon Mar­inho

RACISMO E PRECONCEITOS.

Por Abdon Marinho.

NÃO faz muito tempo um amigo e leitor me abor­dou com uma espé­cie de inqui­etação. Disse ele: — Abdon, em meio a tan­tos tex­tos que escrevestes, não lem­bro de nen­hum abor­dando o racismo.

A inqui­etação daquele amigo – que é afrode­scen­dente –, ocor­reu na esteira das cen­te­nas de man­i­fes­tações que ocor­riam ao redor do mundo, cujo o estopim do foi o bru­tal assas­si­nato de um cidadão afro-​americano, chamado George Floyd, por poli­ci­ais bran­cos, em Min­neapo­lis, nos Esta­dos Unidos da América.

Sem­pre tive difi­cul­dades de me expres­sar sobre assun­tos sobre os quais não com­preendo. O racismo encontra-​se nesta cat­e­go­ria. Foge à minha com­preen­são que seres humanos sejam humil­ha­dos, mal­trata­dos ou sofram quais­quer out­ros tipos de dis­crim­i­nação por conta da cor da pele.

A situ­ação torna-​se ainda mais incom­preen­sível quando estas pes­soas, estes serem humanos sofrem, além das vio­lên­cias já descritas acima, a vio­lên­cia física, a agressão pública.

Por não enten­der o que motiva isso, sinto-​me impo­tente para tratar do assunto.

Pode­ria aproveitar e falar sobre con­ceitos muito abor­da­dos ulti­ma­mente, como por exem­plo, o racismo estru­tural que têm origem na for­mação da sociedade brasileira e, tam­bém, na amer­i­cana.

Mas isso, tam­bém, seria um ter­reno pan­tanoso, pois nada – e falo sem receio de errar –, jus­ti­fi­caria ou expli­caria as várias for­mas de dis­crim­i­nação e/​ou o racismo implíc­i­tos ou explícitos.

Acred­ito que esta minha inca­paci­dade de com­preen­der o racismo tenha a ver com a forma como fui cri­ado, desde cri­ança con­vivendo, igual­i­tari­a­mente, com pes­soas e cre­dos. Na infân­cia, na juven­tude, na vida adulta.

Como deve ser, a con­vivên­cia me ensi­nou que todos somos iguais e que nada, nen­huma condição finan­ceira ou int­elec­tual, pode mudar isso. O respeito ao ser humano deve vir antes de qual­quer outra cir­cun­stân­cia.

Mas, o certo é que, por ser o racismo algo, a mim, incom­preen­sível, nunca o abor­dei nas min­has crôni­cas.

Por estes dias, entre­tanto, senti von­tade de escr­ever sobre o assunto diante de dois episó­dios de racismo ocor­rido no Brasil.

Um, se não me falha a memória, o cor­rido em um shop­ping cen­ter do Rio de Janeiro, com um jovem tra­bal­hador que foi tro­car um pre­sente que com­prara para o pai, e que foi agre­dido, acredita-​se por sua condição social e/​ou cor da pele, por supos­tos segu­ranças do empreendi­mento.

O outro, ocor­rido na cidade de Val­in­hos, São Paulo, quando um jovem, igual­mente tra­bal­hador, foi fazer uma entrega em deter­mi­nado con­domínio e, con­forme ficou explic­i­tado em um vídeo, ampla­mente divul­gado nos veícu­los de comu­ni­cação, inter­net e gru­pos de aplica­tivos, sofreu o crime tip­i­fi­cado de injúria racial da parte do cliente.

Este último caso, diante do racismo inde­s­cupável explíc­ito, gan­hou maior reper­cussão e a vítima, mere­ci­da­mente, pelo seu com­por­ta­mento sereno e altivo, a sol­i­dariedade de todos.

A sociedade brasileira como um todo, e diver­sos políti­cos, artis­tas, em par­tic­u­lar, reper­cu­ti­ram o episó­dio, se sol­i­darizando com o jovem que fora vítima de racismo e em repú­dio ao agressor.

Pois bem, o caso de Val­in­hos chamou mais a minha atenção porque o pai do jovem agres­sor ao prestar esclarec­i­men­tos sobre o ocor­rido rev­elou que o filho (agres­sor) sofre de uma doença men­tal, a esquizofre­nia.

Como disse acima, a mim, o racismo é com­ple­ta­mente incom­preen­sível, e deve ser tratado como inde­s­culpável por toda a sociedade brasileira, que deve exi­gir a punição de quem o prat­ica. Entre­tanto, em sendo ver­dade o que ale­gou o pai do agres­sor – que muitos alegam ser des­culpa, chegando, inclu­sive, a diz­erem: sem­pre que um “bacana” faz besteira vêm dizer que é “doido” –, estare­mos diante de justo repú­dio a uma prática odi­enta de racismo, mas, tam­bém, por outro lado, de um imenso pre­con­ceito con­tra as pes­soas por­ta­do­ras de dis­túr­bios men­tais.

Quando o vídeo gan­hou o mundo das redes soci­ais, a indig­nação foi tamanha que se alguém pro­pusesse acen­der as tochas para incen­diar a casa no agres­sor, não fal­tariam vol­un­tários.

A indig­nação em casos como estes de racismo é justa, mas não podemos combatê-​la com preconceito.

Repito, em sendo o agres­sor do rapaz, um por­ta­dor de esquizofre­nia – e não tenho motivo para duvi­dar que não seja, pelo con­trário –, nada que se faça con­tra ele – e acred­ito que nada farão –, será com­parável à prisão per­pé­tua da qual já é vítima.

Já con­vivi (e ainda afas­tado, con­vivo) com pes­soas por­ta­do­ras de esquizofre­nia.

O com­por­ta­mento daquele agres­sor é total­mente com­patível com as infini­tas cenas que teste­munhei, inclu­sive o racismo.

Durante os anos em que con­vivi dire­ta­mente com uma pes­soa por­ta­dora de esquizofre­nia – con­heço out­ras, e a sociedade brasileira está é longe de imag­i­nar quan­tos doentes men­tais moram com seus famil­iares ou mesmo soz­in­has –, duas vezes ao dia, quando se aprox­i­mava a hora de tomar os medica­men­tos, em doses cav­alares, pois a dose ante­rior já rareava os efeitos, ouvia esta pes­soa esbrave­jando con­tra os negros em seus delírios.

Como falava soz­inho, porém alto, coisas do tipo: esse “nego” para cá; “nego” vagabundo para lá, além de diver­sos out­ros impropérios, muitas vezes na porta de casa, temíamos que algum transe­unte tomasse para si as agressões e fosse fazer-​lhe algum mal ou mesmo chamar a polí­cia con­tra ele.

Uma outra car­ac­terís­tica das pes­soas com esquizofre­nia – com as quais con­vivi ou tive algum con­tado –, é se voltarem con­tra as pes­soas que estão mais próx­i­mas e devotadas a elas: a mãe, o pai, os irmãos, os avós.

Estes são os que mais sofrem, são as agressões ver­bais quase diárias e, muitas das vezes, físi­cas. Sofrem, prin­ci­pal­mente, por assi­s­tirem, ano após ano, o sofri­mento de um ente querido, preso eter­na­mente numa prisão sem grades, a tor­tu­rante prisão da mente.

Nunca entendi – e tam­bém nunca pro­curei me apro­fun­dar no assunto –, o que motiva, nos esquizofrêni­cos, o racismo e tam­bém essa aver­são, na maio­ria das vezes, vio­lenta, aos seus entes queri­dos.

Com a mudança na política de trata­mento dos pacientes com dis­túr­bios men­tais – o fechamento dos hor­ren­dos man­icômios –, a respon­s­abil­i­dade por cuidar dos mes­mos foi trans­feri­das às famílias, que, sem qual­quer assistên­cia ou ajuda do Estado, na maio­ria das vezes não sabem o que fazer.

As inter­nações, quando as crises se tor­nam mais agu­das, se não me falha a memória, não podem pas­sar de sessenta dias, no resto do tempo são famílias, que com amor, mas sem con­hec­i­mento téc­nico algum, têm que lidar com situ­ações para as quais não estão preparadas.

Não faz muito tempo – acred­ito que tenha con­tado aqui –, uma sen­hor­inha me procurou, apoiada em cajado, dev­ido ao peso dos anos, bateu no meu portão. Veio me pedir con­sel­hos sobre o que fazer com uma neta por­ta­dora de esquizofre­nia aguda que ela já não pos­suía forças para cuidar.

Assim como esta sen­hor­inha – com sua carga de sofri­mento dupla –, estão mil­hares, talvez mil­hões de lares brasileiros.

Por motivos que descon­heço e não me cabe espec­u­lar, temos uma pop­u­lação ele­vada de doentes men­tais que não estão sendo trata­dos como dev­e­riam, na maio­ria das vezes são igno­ra­dos pelo estado, e, não raro, “escon­di­dos” por suas famílias que têm ver­gonha e/​ou pre­con­ceito em dizer que pos­sui um famil­iar por­ta­dor de dis­túr­bios men­tais.

Assim como o racismo, os pre­con­ceitos são out­ros males que pre­cisamos com­bater com veemência.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

As fake news e a democ­ra­cia – Con­sid­er­ações iniciais.

Escrito por Abdon Mar­inho

AS FAKE NEWS E A DEMOC­RA­CIACON­SID­ER­AÇÕES INICIAIS.

Por Abdon Marinho.

AQUE­LES que acom­pan­ham meus escritos já sabem que fui apre­sen­tado às chamadas “fakes news”, bem antes delas exi­s­tirem como tais. Aliás, antes mesmo da pop­u­lar­iza­ção do próprio termo.

Cor­ria o ano de 1994 quando fomos – eu e o Maran­hão inteiro –, apre­sen­ta­dos a uma espé­cie de avô das hoje chamadas “fake news”. Era, ainda, uma fake news analóg­ica, mas, já com poten­cial alta­mente destru­tivo.

Falo do rumor­oso “Caso Reis Pacheco”, que já foi tratado por mim noutras opor­tu­nidades, aqui mesmo, neste site.

Farei um resumo em pou­cas lin­has e, os mais inter­es­sa­dos, poderão apro­fun­dar no assunto, no site, no meu canal no YouTube ou noutros meios de comu­ni­cação.

Em resumo, deu-​se o seguinte: o grupo adver­sário ao senador Cafeteira, can­didato ao gov­erno do Maran­hão naquele ano de 1994, urdiu uma trama dia­bólica para destruir sua rep­utação.

Alguns anos antes de 1994 o con­sel­heiro do Tri­bunal de Con­tas, Hilton Rodrigues, sogro de Cafeteira, mor­rera vítima de um aci­dente de trân­sito, na antiga Estrada da Raposa, nas prox­im­i­dades do Bairro Araçagy.

O cidadão envolvido no aci­dente de trân­sito que causara morte do sogro do gov­er­nador, de nome Raimundo Reis Pacheco, mudou-​se do estado, para, suposta­mente, apare­cer como um fan­tasma.

No ano da eleição, um falso irmão dele – cri­ado arti­fi­cial­mente, com iden­ti­dade, CPF e endereços fic­tí­cios –, por nome de Ana­cleto, “bateu” as por­tas do Supremo Tri­bunal Fed­eral– STF, com uma rep­re­sen­tação crim­i­nal gravís­sima: acusava um senador da República, Epitá­cio Cafeteira, de haver “deter­mi­nado” a morte do seu irmão.

Às vésperas das eleições, fal­tando pouco mais de uma sem­ana, o senador Sar­ney, na col­una man­tém na capa do jor­nal que fun­dou, assi­nava o texto: “Liber­dade e Reis Pacheco”. Nela ven­dia a “fake news” do falso assas­si­nato, dev­i­da­mente “calçado” na rep­re­sen­tação do irmão fake, ao STF.

Com a “fake news” analóg­ica rever­berando nos meios de comu­ni­cação e na reta final para o segundo turno, os ali­a­dos de Cafeteira tiveram que se “virar” para des­fazer a men­tira, primeiro local­izando a mãe de Reis Pacheco na per­ife­ria de Belém, que lhes disse jamais ter tido um filho por nome de Ana­cleto, e, depois, local­izando o próprio “morto-​vivo”, no Estado do Amapá, que gravou um depoi­mento segu­rando o jor­nal do dia, con­fir­mando que estava vivo.

O mate­r­ial todo, cole­tado pelo dep­utado estad­ual Ader­son Lago e Juarez Medeiros, tam­bém dep­utado estad­ual e can­didato a vice-​governador na chapa com Cafeteira, chegou a tempo de ser usando-​nos último pro­grama eleitoral.

Lev­ado ao ar, aquele último pro­grama, prati­ca­mente, só teve audiên­cia na cap­i­tal. No resto do estado, ou as repeti­do­ras tiveram alguma falha téc­nica que as tiraram do “ar” jus­ta­mente no momento em que o pro­grama repunha a ver­dade e reti­rava a pecha de assas­sino do can­didato oposi­cionista; ou eram prob­le­mas de falta de ener­gia em vários pon­tos do estado.

Pelo tele­fone, única forma de mon­i­tora­mento disponível naquela época, acom­pan­hava a angús­tia e tris­teza dos ali­a­dos de Cafeteira infor­mando que o pro­grama não pas­sara; ou fora cor­tado; ou fal­tara energia.

A col­i­gação do can­didato ainda ten­tou junto ao TRE que o pro­grama fosse repetido, mas não obteve êxito. Acred­ito que o tri­bunal só jul­gou o assunto bem depois do pleito.

No meu canal no YouTube tem uma live que fiz com o ex-​deputado Ader­son Lago onde trata­mos deste assunto.

O senador Cafeteira perdeu aquela eleição – muitos sus­ten­tam que gan­hou –, por uma difer­ença ínfima de votos, menos de 20 mil sufrá­gios.

Pas­sa­dos todos estes anos ainda me per­gunto se o resul­tado não teria sido outro sem a farsa do “Caso Reis Pacheco”.

Será que no longín­quo 1994 uma fake news decidiu o des­tino do Maran­hão?

Será que a história de tan­tos mil­hões de maran­henses não teria sido difer­ente sem aquela engen­hosa fake news analógica?

O Maran­hão, o Brasil e o mundo tem um assunto urgente na pauta: o impacto das fakes news nas eleições, nas vidas das pes­soas e nas insti­tu­ições dos países.

Com o advento da inter­net e o avanço dos téc­ni­cas de comu­ni­cação e manip­u­lação de dados, até mesmo da voz e imagem das pes­soas, uma men­tira ganha vida e provoca estra­gos antes mesmo da vítima saber o o está acon­te­cendo.

As men­ti­ras e manip­u­lações de infor­mações podem criar aver­sões e empa­tias, deter­mi­nando, o resul­tado de eleições.

Como as democ­ra­cias vão se pro­te­ger dos efeitos das fake news?

Como impedir que os resul­ta­dos das eleições pos­sam ser manip­u­la­dos por esper­tal­hões, por forças políti­cas e por gov­er­nos estrangeiros?

A dis­cussão alcança, ainda, o impacto das fake news na vida das pes­soas. Os “assas­si­natos” de rep­utações são cada vez mais fre­quentes e comuns.

O Brasil, diari­a­mente, sofre com os ataques de falanges políti­cas con­tra suas insti­tu­ições.

Como ire­mos com­pat­i­bi­lizar liber­dade de expressão com os ver­dadeiros ataques crim­i­nosos à honra e a dig­nidade das pes­soas?

Nos próx­i­mos tex­tos irei – sem a pre­ten­são de ser o dono da ver­dade –, expor meu posi­ciona­mento a respeito destes temas e outro cor­rela­ciona­dos.

Não per­cam os próx­i­mos episó­dios.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Far­inha pouca, meu pirão primeiro.

Escrito por Abdon Mar­inho

FARINHA POUCA, MEU PIRÃO PRIMEIRO.

Por Abdon Marinho.

DESCON­TADAS algu­mas arrobas que pos­sui a mais, o gov­er­nador do Maran­hão, tal qual a D. Bela, per­son­agem imor­tal de Zezé Macedo na “Escol­inha do Pro­fes­sor Raimundo», do saudoso genial Chico Any­sio, só pensa “naquilo”. Para ele, no caso, “aquilo” é a presidên­cia da República. Espé­cie de sonho e/​ou obsessão que o persegue desde sem­pre.

Os que não con­hecem a história ficam sem enten­der muitos dos seus posi­ciona­men­tos e man­i­fes­tações.

Foi, basi­ca­mente, o que acon­te­ceu com essa rev­e­lação de uma artic­u­lação urdida pelo comu­nista visando a fusão do seu par­tido, o PCdoB com o PSB e/​ou uma espé­cie de “MDB de esquerda”, agru­pando todos os descon­tentes de todas as leg­en­das “de esquerda” para enfrentar o bol­sonar­ismo nas eleições de 2022, son­hando ser ele o grande con­du­tor e can­didato do grupo, con­forme rev­elou “O Globo”, em edição recente.

No mesmo artigo, sua excelên­cia «assina» o ates­tado de óbito da esquerda brasileira e escreve o epitá­fio na sua lápide, avaliando, den­tre out­ras coisas, que as chamadas “esquer­das” não elegerão nen­hum prefeito de cap­i­tal nas eleições munic­i­pais deste ano.

Não é que a avali­ação esteja errada, pelo con­trário, pelas infor­mações que temos, parece cor­reta, é pela forma como se avalia.

Aqui mesmo, no estado que con­duz – e que as pesquisas apon­tam pos­suir apoio majoritário –, não ape­nas cam­in­ham para perder a eleição da cap­i­tal, como, tam­bém, nos municí­pios mais impor­tantes do Maran­hão.

A própria região met­ro­pol­i­tana, onde a pre­sença do gov­erno estad­ual é mais sen­tida, até pela influên­cia das mais vari­adas mídias, as “chamadas esquer­das” não devem eleger ninguém.

O curioso é que em muitos municí­pios, inclu­sive na região met­ro­pol­i­tana, temos o gov­erno estad­ual fazendo “parce­rias” con­tra os can­didatos da esquerda, até mesmo con­tra o próprio par­tido do gov­er­nador, o PCdoB.

Outro dia expus a curiosa parce­ria que ocorre entre o gov­erno estad­ual é um pré-​candidato de Paço do Lumiar, um dos municí­pios mais impor­tantes do estado.

A impressão que fica é que o gov­er­nador, para jus­ti­ficar a sua “análise” de que a esquerda brasileira não elegerá nen­hum prefeito de cap­i­tal – e acres­cento, de municí­pios impor­tantes –, “torce” e/​ou até “tra­balha” para o fra­casso dos par­tidos do seu campo, para depois dizer: “eu não disse”, e apresentar-​se como o grande tim­o­neiro do tal pro­jeto do “MDB da esquerda”.

Há alguns dias, um fato político me chamou a atenção: um impor­tante secretário do gov­erno estad­ual, fil­i­ado ao par­tido do gov­er­nador, foi à imprensa dizer que estava “fechado” com um outro can­didato que não era o do seu par­tido.

Achei o gesto muito estranho. Não entro no mérito sobre a qual­i­dade do can­didato que escol­hera, com certeza um exce­lente nome.

O meu estran­hamento foi pelo fato em si.

Ora, con­heço o PCdoB, pes­soal­mente, desde que voltaram a legal­i­dade, em mea­dos de 1985. Ape­sar de não ser fil­i­ado a par­tido – ainda era ado­les­cente –, par­tic­i­pava de dis­cussões com diver­sos comu­nistas por conta da orga­ni­za­ção do movi­mento estu­dan­til e, ainda que com menos assiduidade, nunca perdi o diál­ogo com algu­mas pes­soas do par­tido, nem quando, em 1994, fiz­eram um acordo “secreto” com o grupo Sar­ney e não apoiaram as forças políti­cas da oposição.

Em todos estes anos – e depois, com o apro­fun­da­mento dos estu­dos da história a par­tir da rup­tura dos dis­si­dentes com o Par­tido Comu­nista Brasileiro, o antigo PCB, nos anos 50 do século pas­sado, jus­ta­mente por aquele par­tido ado­tar revi­sion­ismo con­tra as práti­cas stal­in­istas, mas isso é assunto para outro texto –, sem­pre soube que um dos pilares do par­tido era o chamado “cen­tral­ismo democrático”.

O que sig­nifi­cava (ou sig­nifica) que podiam dis­cu­tir, “se matar” na base, mas cumpririam, rig­orosa­mente, as decisões do par­tido. Nas vezes que ques­tionei isso, os ami­gos diziam que era pela “causa” maior. Nunca soube que causa era essa.

Quando vi um secretário do gov­er­nador, mais que isso, um “comunista-​raiz”, declarar que estava “fechado” com outro can­didato, entendi que havia “uma causa maior” pelo meio e que o can­didato ofi­cial do par­tido comu­nista seria “cris­tian­izado”, ou seja, para constar.

Os mais jovens não devem saber mas o termo “cris­tianizar” remonta a eleição pres­i­den­cial de 1950 do século pas­sado, quando o PSD lançou um can­didato, Cris­tiano Machado, mas com o avançar da dis­puta, e mesmo no iní­cio da mesma, prati­ca­mente todos os líderes do par­tido o aban­do­nou.

O Cris­tiano Machado ficou foi longe de gan­har as eleições, mas o fol­clore da política nacional gan­hou um novo termo: “cris­tianizar”.

Como vêem, Abdon Mar­inho tam­bém é cul­tura. Rsrsrs.

A certeza que o can­didato ofi­cial seria “cris­tian­izado” ficou mais patente quando diver­sos out­ros secretários de esta­dos, “da con­fi­ança do gov­er­nador”, ainda que de par­tidos políti­cos difer­entes, ao invés de guardarem dis­crição, expuseram pub­li­ca­mente suas can­di­dat­uras.

Excesso de democ­ra­cia ou movi­mento combinado?

A situ­ação ficou tão con­strange­dora que outro dia “virou notí­cia” alguém do PCdoB declarar apoio for­mal ao can­didato do par­tido. É sério.

E, por último, o vati­cino do gov­er­nador do estado – emb­ora falando para a política nacional –, de que a “esquerda” não elege­ria nen­hum prefeito de cap­i­tal, o can­didato do par­tido dele, obvi­a­mente, incluso.

Quem con­hece política sabe que nen­hum gesto é em vão.

Raposa velha neste ter­reiro, o pai do can­didato do par­tido do gov­er­nador já avi­sou que no seu dicionário não con­sta a palavra desistên­cia. Talvez querendo dizer não aceitar ser deix­ado para trás, como tantos.

Reca­dos dados de todos os lados resta saber o resul­tado de tudo isso.

O jabuti está em cima da árvore e duas per­gun­tas se fazem necessárias: quem o colo­cou e por que o colo­cou.

A mim soa estranho que um gov­erno que “se vende” como tendo o apoio de quase 70% (setenta por cento) de apoio pop­u­lar, com uma forte pen­e­tração na mídia, não con­siga trans­ferir esse apoio para o “seu” can­didato.

Mais estranho, ainda, que o gov­er­nador já tenha “ven­dido” der­rota do “seu” can­didato ao país inteiro.

A situ­ação fica mais esquisita quando sabe­mos que o can­didato do par­tido do gov­er­nador – até onde sabe­mos, repita-​se –, não pos­sui qual­quer mácula no cur­rículo, nunca se envolveu em escân­da­los, pos­sui família estru­tu­rada, e quem con­vive com ele, diz que é boa praça, exce­lente pes­soa, etc.

Diante disso, não podemos deixar de per­gun­tar, até porque, per­gun­tar não ofende, por qual motivo e tão pre­mat­u­ra­mente o par­tido já o “cris­tian­i­zou” e o gov­er­nador já pub­li­cou que ele não se elege?

Só lem­brando, aqui mesmo na cap­i­tal, muitas can­di­dat­uras, antes de suas escol­has em con­venções, saíram para dis­puta com per­centu­ais infe­ri­ores ao can­didato do PCdoB e sagraram-​se vito­riosas.

Daí soar estranho tamanho desin­ter­esse pela can­di­datura ofi­cial do par­tido a ponto de sua maior lid­er­ança, o gov­er­nador, já ter “recon­hecido” a der­rota antes mesmo de entrar no ringue. E por nocaute.

Quer me pare­cer que, em nome de sua “causa maior” o gov­er­nador queira “dá um cav­alo de pau” na sua estraté­gia política.

Como disse no iní­cio – e em diver­sos out­ros momen­tos –, sua excelên­cia só pensa “naquilo”, na presidên­cia.

Desde que pôs os pés nos Leões que sua ener­gia – e o poder do estado –, é dire­cionada para este propósito, já se vão quase sete anos nisso.

Lá atrás, se não me falha memória, em 2012 ou 2013, alertei, sua excelên­cia, para o risco de candidatar-​se pelo PCdoB ao gov­erno do estado, um par­tido arraigado em dog­mas e posi­ciona­men­tos difí­ceis de serem com­pat­i­bi­liza­dos com à sociedade brasileira.

Não deu bola, e a vitória nas urnas – moti­vadas prin­ci­pal­mente pelo cansaço do povo com o grupo Sar­ney e, tam­bém, porque não tinha como deixar de gan­har do opos­i­tor –, fez foi achar que estava no cam­inho certo e que o povo brasileiro aceitaria ser gov­er­nado por um par­tido com o histórico do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB.

Depois de tanto tempo, parece que sua excelên­cia viu que a briga lá em cima é para “cachorro grande”, e que o seu par­tido, con­forme já aler­tou o próprio Lula, num “chega pra lá” ele­gante, é a sua prin­ci­pal desvantagem.

Nesse tempo todo, em entre­vis­tas para uma imprensa dócil, o gov­er­nador já negou os duzen­tos anos do comu­nismo, já des­disse a maio­ria dos seus dog­mas, já o ten­tou “casar com o Cris­tian­ismo” e tan­tas out­ras coisas.

Tudo que foi ten­tado não deu o resul­tado esper­ado, por isso é sabedor da sua enorme desvan­tagem, ainda mais que o “mote” do atual pres­i­dente – e do bol­sonar­ismo –, para as eleições de 2022, será o com­bate à “ameaça comu­nista”.

Ciente disso, o gov­er­nador e seus ali­a­dos, den­tro do par­tido, ten­taram “inven­tar” um tal de movi­mento 65, que, efe­ti­va­mente, até parece coisa de movi­mento, mas, estu­dan­til, e não de quem pre­tende diri­gir o país.

Sair do par­tido – como já foi ensa­iado algu­mas vezes –, não pegaria bem, pas­saria a impressão de opor­tunismo.

Sem con­tar con­tar que os próprios cama­radas do par­tido pode­riam se sen­tir “traí­dos”.

A estraté­gia política que mel­hor se apre­senta para sua excelên­cia é apos­tar – e mesmo torcer, talvez “tra­bal­har” –, para o insucesso dos par­tidos de esquerda nes­tas eleições munic­i­pais, para quedá-​los a aceitar a “sua ideia” da fed­er­ação de par­tidos, o tal de “MDB de esquerda”.

Só reg­is­trando que tal ideia nem é orig­i­nal. O MDB orig­i­nal, quando surgiu, foi como uma “fed­er­ação de diver­sas forças políti­cas colo­cadas na clan­des­tinidade pela ditadura.

Ele, como “pai” da ideia à frente, para dis­putar as eleições pres­i­den­ci­ais, já sem o estigma do comu­nismo e com o apoio de todas as forças políti­cas de dire­ita, cen­tro até a extrema esquerda.

Esse é o jabuti. Na tradução lit­eral do que já dizia minha avó: “— far­inha pouca, meu pirão primeiro”.

Abdon Mar­inho é advo­gado.