AbdonMarinho - Um pouco de coerência e decoro, por favor.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Um pouco de coerên­cia e decoro, por favor.

UM POUCO DE COERÊN­CIA E DECORO, POR FAVOR.

por Abdon Marinho.

DISSE AQUI mesmo – e por mais de uma vez –, que no dia que ouvir dizer que um.boi se encon­tra sobrevoando o Largo do Carmo ou a Praça D. Pedro II, não irei lá con­ferir. É bem provável que seja verdade.

Dando razão a um antigo ditado pop­u­lar, o gov­er­nador do estado despiu-​se de toda a litur­gia que o cargo requer e declarou apoio incondi­cional e irrestrito a um dos seus ex-​auxiliares que dis­putou a eleição na cap­i­tal e que, segundo a oposição, inte­graria uma espé­cie de con­sór­cio de can­didatos com o fito de dividir os votos no primeiro turno para juntá-​los no segundo e der­ro­tar o adver­sário real, que, por sinal, chegou em primeiro lugar.

Não sat­is­feito em declarar-​se o primeiro “cabo eleitoral” do estado, segundo as mais diver­sas fontes de infor­mações, teria, sua excelên­cia, deter­mi­nado que todos secretários, dire­tores, ocu­pantes de car­gos em comis­são e, até mesmo, os xerim­ba­bos menos qual­i­fi­ca­dos, de uma forma geral, tam­bém, o fizesse.

Em out­ras palavras, o gov­erno estad­ual, a máquina pública, custeada, com o seu, o meu, o nosso din­heiro, entrou em “cam­panha” a favor do can­didato favorito do gov­er­nador. É o que dizem, e, tam­bém, o que pas­samos a obser­var.

Emb­ora não se saiba o alcance do uso da “máquina” o sim­ples apoio osten­sivo do gov­erno já tem o condão de dese­qui­li­brar o pleito.

Remem­o­rando as lem­branças que tenho da história do Maran­hão, acred­ito que nem o velho Vitorino Freire, de quem, inclu­sive, falei em texto recente, ousou tanto.

Não tenho dúvida que se trata do maior aten­tado con­tra a democ­ra­cia neste século e tam­bém dos pas­sa­dos.

Nada tenho con­tra este ou aquele can­didato, favorito ou preferido de quem quer que seja, mas vis­lum­bro que esta­mos diante de um abuso, uma clara inter­venção, no que dev­e­ria ser um “duelo” justo e com pari­dade de armas.

Como, aliás, requer toda e qual­quer democ­ra­cia.

Desde a declar­ação do gov­er­nador, ainda no domingo, que fervil­ham nos meios de comu­ni­cação, blogues, redes soci­ais e etcetera, declar­ações de apoio ao can­didato “do gov­er­nador”, da parte dos seus aux­il­iares – não sei se feitas, inclu­sive, em horário de expe­di­ente e com uso dos meios e instru­men­tos públi­cos – o que não faz difer­ença. Estes servi­dores ocu­pam car­gos em tempo inte­gral e ded­i­cação exclu­siva.

Algo, que pelo exagero, parece-​me tão acin­toso que dev­e­ria chamar a atenção dos órgãos de con­t­role, sobre­tudo, do Min­istério Público Estad­ual e do Min­istério Público Eleitoral e, prin­ci­pal­mente, do Poder Judi­ciário.

Durante os dois últi­mos anos acom­panho, dia sim e no outro tam­bém, o gov­er­nador do estado recla­mar de autori­tarismo e de abu­sos que estariam sendo cometi­dos pelo pres­i­dente da República.

Como podemos clas­si­ficar o ato de um gov­erno que atenta, como esta­mos assistindo, con­tra a liber­dade de escolha dos cidadãos, usando dos meios que vem utilizando?

Neste último ano, desde que ini­ciou a pan­demia no país, tenho assis­tido, o gov­er­nador do estado recla­mar dos maus modos do pres­i­dente da República na con­dução da crise san­itária. O que faz com razão, tendo em vista que o chefe da nação opta de forma irre­spon­sável e crim­i­nosa por uma ati­tude nega­cionista, por não respeitar regras de dis­tan­ci­a­mento, recusar-​se, por diver­sas vezes a usar más­cara, e por último, até ontem, dizer que o país não pode ser um país de “mar­i­cas”, numa alusão às pes­soas que temem a doença.

Esse “destram­belho” do pres­i­dente, assim como a “tor­cida” para que a vacina feita em parce­ria entre o Insti­tuto Butantã e uma empresa chi­nesa, é assunto para um texto especí­fico, que, inclu­sive, seria pub­li­cado antes deste.

Por conta dos errô­neos ou crim­i­nosos atos do pres­i­dente, o gov­er­nador, valendo-​se de sua “amizade” com a “grande” imprensa, é o que mais se man­i­festa, denun­cia e cobra compostura.

Pois bem, esse mesmo gov­er­nador que cobrou – e tanto cobra –, pos­tura do pres­i­dente da República no trato da pan­demia é o mesmo que, sem tirar a camisa ou a más­cara, declarou pos­suir um can­didato “favorito” para o segundo turno das eleições munic­i­pais na cap­i­tal do estado, sendo que este mesmo can­didato foi acu­sado de, entre os dias 5 e 11 de novem­bro, ter feito cam­panha eleitoral, abraçado vel­hin­has e enfer­mos e a out­ros inte­grantes dos gru­pos de risco para a COVID-​19, sabendo-​se infec­tado.

Quer dizer que o pres­i­dente República, estando saudável, pelo sim­ples fato de sair sem más­cara, aten­tava con­tra a saúde pública da nação, mas o repub­li­cano can­didato favorito do gov­er­nador, sabendo-​se infec­tado pode­ria fazer o que fez e ainda rece­ber o prêmio de alcaide da cap­i­tal?

É isso mesmo pro­dução?

Em um texto ante­rior, onde tratei deste assunto, por con­sid­erar tão abjeto o com­por­ta­mento do can­didato, dei-​lhe o bene­fí­cio da dúvida. Não se pode acusar alguém de um crime tão grave sem que exis­tam provas con­tun­dentes do fato.

Mas, se o can­didato não come­teu o crime, que providên­cias foram ado­tadas con­tra aque­las pes­soas que teriam “armado” con­tra ele e for­jado exame médico datado do dia 5/​11, ate­s­tando a contaminação?

A polí­cia abriu inquérito para apu­rar crime tão grave con­tra a saúde pública ou con­tra o can­didato?

A declar­ação fornecida pelo Lab­o­ratório Cen­tral do Estado — LACEN MA é falsa?

Se é falsa por que até agora as autori­dades não vieram a público dizer isso?

Se é ver­dadeira porque não tomaram providên­cias para impedir a ati­tude crim­i­nosa do candidato?

Se falsa, quais providên­cias ado­taram con­tra os falsificadores?

Vejam, sem querer ser “palmatória do mundo”, por um mín­imo de coerên­cia em relação a can­tilena do gov­er­nador no plano nacional, antes de declarar a apoio a um can­didato acu­sado de con­du­tas tão graves e abje­tas, sua excelên­cia, por respeito a pop­u­lação que gov­erna e prin­ci­pal­mente da cap­i­tal, dev­e­ria ter chamado uma cole­tiva e respon­dido para pat­uleia os ques­tion­a­men­tos acima.

Sim­ples­mente isso. Êpa, doutor, volte a fita. Esclareça isso antes.

Não é coer­ente que o gov­er­nador do estado que mais cobra o respeito das autori­dades fed­erais à crise san­itária oca­sion­ada pelo novo coro­n­avírus, se vista de “cabo eleitoral” de um can­didato acu­sado do hor­rendo crime de espal­har uma doença sabendo-​se infec­tado, e, ainda, que isso ocorra pela ganân­cia desme­dida pelo poder.

Isso se ele for cul­pado, repito.

Mas se não é, o gov­er­nador do estado não dev­e­ria declarar pub­li­ca­mente que ele, o can­didato, foi vítima de uma acusação sór­dida?

Não dev­e­ria colo­car a polí­cia na “cola” dos fal­si­fi­cadores do exame do can­didato e da declar­ação do Lab­o­ratório Cen­tral do Estado — LACEN MA?

Na minha ótica tais omis­sões soam como inco­erên­cias.

Êpa, doutor, volte a fita. Esclareça isso antes, repito.

Assim como é inco­er­ente o gov­er­nador do estado e demais autori­dades investi­das de “cabos eleitorais” apontarem que o con­fronto que ocor­rerá na cap­i­tal é con­tra o can­didato do sen­hor Bol­sonaro quando é jus­ta­mente o can­didato que apoiam o “com­pan­heiro” de par­tido dos fil­hos do pres­i­dente.

Não se pode enga­nar ou humil­har o povo com esse tipo de nar­ra­tiva. É infamante. É um insulto à nossa inteligên­cia.

Querem nos insul­tar? Insul­tem. Mas, pelo menos isso, não nos tratem como estúpi­dos.

Como disse no iní­cio deste texto, no Maran­hão, não duvido nem se me dis­serem que boi “avoa”. Quem diria, por exem­plo, que um can­didato depois de ser chamado de “ban­dido”, de ter ofen­di­dos o pai, inter­nado em estado grave, o par­tido e família e de ter clas­si­fi­cado tal ato como covarde, iria, sim­ples­mente, fin­gir que nada foi dito, que ofen­sas não foram lançadas, se con­tentaria com um «cho­cho» e irônico pedido des­cul­pas, para apoiar o “can­didato do governador”?

Êpa, xin­garam meu pai, cus­pi­ram na minha mãe e o que digo é: “bola pra frente”?

Ora, me com­pre um bode.

O can­didato que disse a plenos pul­mões que não deixaria “o ban­dido” chegar a prefeitura, aceita “na boa” o apoio do “ban­dido” e dos “fichas sujas”?

Os fatos nar­ra­dos – e out­ros mais graves que todos assis­ti­mos nesta cam­panha – , não acon­te­ce­ram no século pas­sado, não, foi na “sem­ana pas­sada”, todos os cidadãos ainda têm grava­dos na memória os insul­tos. Se bem que depois do que estou vendo, nem sei se podemos con­sid­erar como insul­tos. Se ficou bem para todos, então eram “elo­gios”.

Será que igno­ram o que seja decoro? O que seja decên­cia? O que seja dig­nidade?

De repente, depois das ofen­sas mútuas, de ofend­erem até a família em situ­ação difí­cil, se abraçam e dizem que está “tudo bem”?

É assim mesmo? É essa a lição para atual e futuras ger­ações: que vale tudo pelo poder?

Será que isso é nor­mal e eu que estou com­ple­ta­mente “fora de tempo”?

Essa é a nova política?

O novo tempo para o Maranhão?

Não, meus sen­hores, mil vezes, não. Isso não pode e não está certo. Não foi isso que aprendi com meu pai, que era anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira.

Esse tipo de política é degradante. Está errada e é da conta de todos. Até dos covardes, que silen­ciam e acham nor­mal.

Um pouco de coerên­cia, um pouco de decên­cia, um pouco de decoro, por favor.

É o que fica.

Abdon Mar­inho é advo­gado.