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A ESTÉTICA NAZISTA E OUT­ROS MALES.

Escrito por Abdon Mar­inho


A ESTÉTICA NAZISTA E OUT­ROS MALES.

Por Abdon Marinho.

HAVIA reser­vado a manhã de sábado para escr­ever – como, aliás, faço quase sem­pre. Diver­sos assun­tos já con­stavam da pauta, além da cos­tumeira cobrança de alguns ami­gos para manifestar-​me sobre out­ros. Mais eis que surgiu a polêmica envol­vendo o secretário nacional de cul­tura, Ricardo Alvim, e o seu famoso vídeo de estética clara­mente nazista, tor­nando o assunto incon­tornável e, por­tanto, pas­sando à frente das demais pau­tas. Paciência!

Qual­quer pes­soa desde que com um mín­imo de dis­cern­i­mento e isenção recon­hece que o gov­erno do sen­hor Bol­sonaro está repleto de bons quadros, talvez os mel­hores do país, em algu­mas áreas – se não fosse assim não teríamos os bons resul­ta­dos que vem apre­sen­tando até aqui, a despeito de toda a tor­cida con­trária e da sab­o­tagem interna que sofrem –, ao lado destes, em maior número e com amplo espaço de manobra, estão os famosos “sem noção”, a começar pelo próprio pres­i­dente, que dia sim e no outro tam­bém, emite declar­ações tolas, muitas das vezes ofen­si­vas, que só encon­tram apoio de out­ros “sem noção”, de den­tro ou de fora do governo.

A polêmica envol­vendo o ex-​secretário nacional de cul­tura tem as dig­i­tais das patas destes últi­mos.

Pouco depois de par­tic­i­par da tradi­cional “live” do pres­i­dente, na qual foi elo­giado pelo próprio que o apre­sen­tou como a solução para a cul­tura brasileira, o secretário dirigiu-​se ao órgão que con­duzia há dez sem­anas e pro­duziu o vídeo que o der­rubou menos de 12 horas depois, na esteira das pressões feitas por enti­dades da sociedade civil, autori­dades e, até mesmo, de gov­erno estrangeiro, no caso, o de Israel.

Os primeiros ques­tion­a­men­tos que fiz, ao tomar con­hec­i­mento da história, foi se o ex-​secretário tinha ideia do estava fazendo o tal vídeo; se foi uma ação pen­sada e delib­er­ada a repro­dução da “estética nazista” em uma peça sobre a pro­posta do gov­erno; Ou se foi ape­nas mais uma ati­tude “sem noção” de uma parte da ala do gov­erno, entre as tan­tas com as quais já brindaram à patuleia.

Fiz ainda as seguintes per­gun­tas: Fez para chocar a sociedade? Tinha noção do sig­nifi­cado do estava fazendo?

Ora, ficou bem claro para qual­quer um com con­hec­i­mento mín­imo de história que houve uma repro­dução da chamada “estética nazista”. Não foi ape­nas o estilo engo­mad­inho; a câmera a meio plano”; o ambi­ente assép­tico; a música de Wag­ner; ou, mesmo, o plá­gio (lit­eral em alguns tre­chos) do dis­curso de Goebbels, foi o con­junto da obra.

Pode­ria ter feito o dis­curso todo engo­mad­inho, com uma camada de gel na cabeça e com câmera a meio plano. Sem a trilha sonora e o plá­gio ninguém iria fazer alusão ao nazismo; pode­ria até fazer o plá­gio que sem os demais ele­men­tos não iriam perce­ber ou, percebendo, não iria escan­dalizar tanto.

Já a trilha sonora de Richard Wag­ner, soz­inha, tam­bém, pouco ou nada sig­nifi­caria, além do que é: boa música.

O alemão Wag­ner nasceu em 1813, em Leipzig, Ale­manha e mor­reu em 1883, em Veneza, Itália, ou seja, muito antes da ascen­são e queda do Nazismo. Sua obra é vasta – não ape­nas no campo da música –, e, dizem abriu cam­in­hos para a música mod­erna. Vinculá-​la ao Nazismo, pelo fato de Hitler ter sido seu fã ou pelo fato da mesma ter sido exe­cu­tada em Cam­pos de Con­cen­tração não passa de des­on­esti­dade int­elec­tual.

O pobre Wag­ner, a despeito de sua grande con­tribuição para a cul­tura uni­ver­sal, mor­reu na mis­éria e exi­lado, fug­indo dos cre­dores.

O fato de Hitler ter sido pro­fundo admi­rador de sua obra não a torna cúm­plice das mon­stru­osi­dades que ele e os seus adu­ladores – entre os quais Joseph Goebbels –, praticaram con­tra a humanidade e con­tra os judeus, em particular.

É ver­dade que durante muitos anos a obra de Wag­ner foi proibida de ser exe­cu­tada no estado de Israel, mas mesmo esse tabu caiu há alguns anos.

Ah, para aque­les que não sabem, a mar­cha nup­cial (bridal cho­rus) exe­cu­tada em, prati­ca­mente, cem por cento dos casa­men­tos ao redor do mundo é de auto­ria jus­ta­mente de Richard Wag­ner, isso não torna os nubentes ou mesmo os sim­ples apre­ci­adores dela e de tan­tas out­ras obras, nazis­tas, não mesmo.

Como disse ante­ri­or­mente o que des­graçou a per­fo­mance do ex-​secretário nacional de cul­tura foi a con­junção dos ele­men­tos com­pondo a estética nazista. Se fez para “copiar” Goebbels ou sim­ples­mente como “sem noção”, já pagou o preço com a exon­er­ação do cargo.

O pres­i­dente Bol­sonaro, o sem noção-​mor da República, pelo que li, ainda relutou, teria se dado por sat­is­feito com o pedido de des­cul­pas e com a atribuição de culpa ao anôn­imo asses­sor, mas, foi ven­cido pela pressão das ruas. Fez bem em ceder rápido e evi­tar que o assunto se pro­lon­gasse por mais tempo.

O episó­dio, entre­tanto, dev­e­ria servir para inspi­rar as forças de políti­cas de oposição, prin­ci­pal­mente as de ori­en­tação marxista/​leninista.

Estas fiz­eram o maior escar­céu con­tra o ex-​secretário e con­tra o próprio pres­i­dente – com razão –, mas é inca­paz de olhar os mil­hões de cadáveres das ditaduras comu­nistas do pas­sado e do pre­sente; bem como, diver­sos out­ros regimes total­itários que apoiam. Muito pelo con­trário, ainda hoje “pagam pau” para os anti­gos dita­dores da União Soviética, da China, do Cam­boja, de Cuba, da Cor­eia do Norte, da Albâ­nia, etcetera.

Dev­e­ria inspi­rar, tam­bém, tan­tos quan­tos são estes que fusti­garam e pedi­ram a “cabeça” do ex-​secretário por uma per­for­mance de inegável mau gosto e de inspi­ração nazista – cujo o hor­ror e fla­gelo ceifou mil­hões de vidas há mais de setenta anos –, a faz­erem o mesmo em relação aque­les políti­cos nacionais que ainda hoje defen­dem, como dout­rina política, os mod­e­los total­itários que tam­bém cei­faram e ainda hoje ceifam mil­hões de vidas ao redor do mundo.

Os exem­p­los estão aí à vista de todos. Outro dia um vereador do PSOL do Rio de Janeiro apre­sen­tou uma moção de lou­vor ao dita­dor da Cor­eia do Norte Kim Jong-​Un. Acredita-​se que ninguém, muito menos os esclare­ci­dos que protes­taram con­tra a “estética nazista” do ex-​secretário de cul­tura, ignorem o que passa naquele país, onde a posse de uma Bíblia é motivo de prisão; onde mil­hões de cidadãos e suas famílias amargam pela eternidade em cam­pos de con­cen­tração até piores que os nazis­tas; onde as penas pas­sam das pes­soas dos supos­tos infratores alcançando sua ascendên­cia, descendên­cia e colat­erais. Não esta­mos falando de fatos pas­sa­dos, mas sim, que estão acon­te­cendo neste momento.

Pois é, não se ouviu nen­hum protesto e o vereador con­tinua no seu cargo.

É o mesmo silên­cio cúm­plice que se observa em relação ao que acon­tece em Cuba, na China, no Cam­boja e na Venezuela. Mod­e­los políti­cos do pre­sente recon­heci­dos pela opressão política aos opos­i­tores, as divergên­cias, e pelas vio­lações dos dire­itos humanos.

Para estes – e para os crimes con­tra a humanidade que estão sendo prat­i­ca­dos neste momento –, os nos­sos políti­cos dis­pen­sam aplau­sos e moções e não se ouve de enti­dades da sociedade e dos seus adu­ladores, um lamento ou protesto.

Por último, na falta do que fazer ou pela falta de ver­gonha na cara, estes mes­mos políti­cos estavam defend­endo a ditadura teocrática do Irã, outro régime recon­hecido pelos mas­sacres con­tra a pop­u­lação que ouse protes­tar e pelos assas­si­natos das pes­soas que não vivem con­forme a “car­tilha” do régime ou mesmo por pos­suírem uma ori­en­tação sex­ual difer­ente. Descon­hecem a exe­cução pública de homos­sex­u­ais no Irã e tan­tas out­ras vio­lações con­tra mul­heres e/​ou minorias?

Custo a com­preen­der como uma tosca apolo­gia a um mod­elo, já exe­crado no pas­sado, cause mais protestos que as apolo­gias a mod­e­los pre­sentes tão ou mais crim­i­nosos que aque­les.

Defin­i­ti­va­mente, vive­mos tem­pos estranhos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

E O MARAN­HÃO FICOU PARA TRÁS.

Escrito por Abdon Mar­inho

E O MARAN­HÃO FICOU PARA TRÁS.

Por Abdon Marinho.

CON­STA da lenda famil­iar que, certa vez, meu irmão Armando, o quarto mais velho dos fil­hos de Van­der­lino e Neuza, lá pelos princí­pios dos anos setenta, chegou para o nosso pai e disse: — papai não quero mais saber de estu­dar. Vou ficar aqui com o senhor.

Ape­sar de não ser­mos ricos, nosso pai con­seguia man­ter uma cas­inha humilde na Rua do Sossego, Gov­er­nador Archer, onde os mais vel­hos estudavam.

Nosso pai virou-​se para ele e disse: — Está bem, meu filho.

No dia seguinte, já pelas qua­tro ou cinco horas, lá estava papai sacud­indo o punho da rede do meu irmão: — vamos meu filho, está na hora. Assim foi no primeiro para roça com uma “trin­cha” limpar a plan­tação. Noutro dia com um “sacho” plan­tar alguma coisa. Antes de cuidar da roça tin­ham que “tirar o leite” das vacas, levá-​las para quin­tas para se ali­men­tar; depois o dia inteiro sobre o sol inclemente do sertão, com um inter­valo de pouco tempo para almoçar ou beber água que lev­avam numas cabaças.

Para encur­tar a con­versa, depois de uma ou duas sem­anas, meu irmão já tinha refeito os planos e voltado aos estudos.

Meu avô era reti­rante nordes­tino e veio para o Maran­hão fug­indo da sequidão do sertão do Rio Grande do Norte.

Um dia cansado de tanta seca incumbiu o meu tio Pedro Cal­heiro de vir ao estado em busca de um local onde pode­riam tra­bal­har e criar suas famílias. Tio Pedro veio e escol­heu a região do médio Mearim, entre os hoje municí­pios de Gov­er­nador Archer e Gonçalves Dias. Tem­pos depois de “assen­ta­dos” uma parte da família migrou para o municí­pio polo da região e um dos mais desen­volvi­dos do estado: Pedreiras.

O Maran­hão era a “terra prometida”, a esper­ança de tan­tos e tan­tos nordes­ti­nos cansa­dos do fla­gelo da seca.

Escol­hido o local de assen­ta­mento, pouco depois a família do meu avô, ele com esposa, dez fil­hos, esposas, gen­rose já alguns netos –, e mais alguns viz­in­hos, orga­ni­zaram a diás­pora e desce­ram para o Maran­hão, onde havia ter­ras boas e far­tas e estariam longe do suplí­cio da seca.

Conta a lenda que vieram em car­a­vana, uns em lom­bos de ani­mais, out­ros a pé mesmo. Acam­pavam ao longo do tra­jeto e comiam toucinho de porco, far­inha seca e rapadura. Out­ros fiz­eram o tra­jeto em “pau de arara”.

Todos traziam a certeza que encon­trariam uma vida mel­hor para si e para os seus.

Lem­brei destas “pas­sagens” – a do meu irmão e, depois, de como minha família chegou por estas par­a­gens e a esper­ança que nutriam em futuro de pros­peri­dade numa terra que se prome­tia con­de­nada ao desen­volvi­mento –, enquanto assis­tia ao pro­grama Globo Rural, da Rede Globo, alu­sivo aos seus quarenta anos de lança­mento.

O pro­grama – muito bom e que recomendo –, mostra a evolução da agri­cul­tura brasileira nos últi­mos quarenta anos. Bas­taria dizer que saltou de 40 mil­hões de toneladas de grãos em 1980 para mais 243 mil­hões de toneladas de grãos na safra 2019/​2020, sem que se tenha ele­vado a área plan­tada significativamente.

Mas não é só isso. O que encanta é o quanto de tec­nolo­gia foi inserida no campo brasileiro. Hoje pos­suí­mos uma agri­cul­tura – assim como a pecuária –, de altís­sima pré­cisão.

No campo já se sabe o mel­hor momento para plan­tar, o que plan­tar, como será clima ao longo do ano; através do mon­i­tora­mento por drones ou satélites, se sabe qual­quer alter­ação na lavoura ou se existe alguma infes­tação de praga, podendo se fazer o com­bate ime­di­ato; o maquinário desen­volvido é um capí­tulo à parte, tra­bal­hando prati­ca­mente soz­in­hos e com uma capaci­dade infini­ta­mente supe­ri­ores aos ante­ri­ores. E já se encon­tra em testes tra­tores que dis­pensa a oper­ação humana.

Assim com a agri­cul­tura, a pecuária não deixou a dese­jar, evoluindo do mesmo modo, com as fazen­das pro­duzindo as mel­hores carnes e os reban­hos sendo con­tro­la­dos quase que inte­ri­or­mente pelos com­puta­dores, da ali­men­tação do boi, quando, através de um chip se con­trola o quanto comeu, peso, altura, etc., à ordenha das vacas, feita, tam­bém de forma mecan­izada.

Diria que hoje, só falta, mesmo, o boi ir soz­inho para o abate, pois para a ordenha as vacas já vão soz­in­has.

Noutras palavras, o Brasil vive um momento espetac­u­lar no campo, habilitando-​se, como apren­demos no primário, a ser o celeiro do mundo a não dever nada aos grandes pro­du­tores mundi­ais, inclu­sive, na pro­dução de cul­turas que vão além das “com­modi­ties” de grãos. Os vin­hos, os quei­jos, o choco­late, o azeite, sem con­tar uma vocação nacional: o café fino. Todos estes pro­du­tos, repito, sem dever em qual­i­dade, já fazem bonito nas mel­hores mesas do país e do exte­rior.

Tudo isso somente foi pos­sível graças à visão extra­ordinária de pesquisadores e pro­du­tores, que enx­er­garam no campo um motor para o cresci­mento da nação. Con­taram ainda, aque­les que se desen­volveram, com o apoio dos gov­er­nos, fed­eral e estad­u­ais.

Pois bem, lembrei-​me da lenda famil­iar envol­vendo o meu irmão, referida no iní­cio do texto, porque na reportagem ouvi um jovem dizer que hoje em dia se você quiser “ir para roça” tem é que estu­dar muito, tal o nível de con­hec­i­mento que se pre­cisa ter para lidar com essa nova real­i­dade do campo.

Noutra quadra, a refer­ên­cia à “diás­pora” da minha família para o Maran­hão é para dizer que, a despeito do estado ter sido, em mea­dos dos anos cinquenta e sessenta, a grande esper­ança para os demais nordes­ti­nos reti­rantes da seca, o mesmo, não ape­nas ficou para trás, con­forme já mostramos em um texto ante­rior, como até mesmo retrocedeu.

O estado. ape­sar de ser um dos mais ricos em recur­sos hídri­cos e de pos­suir estações climáti­cas bem definidas – o que é uma benção para a pro­dução agrí­cola –, não desen­volveu sua vocação. Se hoje ocupa a décima posição na pro­dução de grãos, isso se deve aos núcleos agrí­co­las insta­l­a­dos, sobre­tudo, na região sul, a par­tir da “col­o­niza­ção” por parte de agricul­tores vin­dos do sul do país.

Na ver­dade a agri­cul­tura maran­hense foi sendo, aos poucos, “destruída” nos últi­mos sessenta anos, prin­ci­pal­mente, dev­ido à falta de incen­tivos do gov­erno estad­ual. Hoje, descon­tada a pro­dução ori­unda do agronegó­cio, não “sobra” quase nada. E o que sobra, ainda hoje é pro­duzido através de méto­dos atrasa­dos que remon­tam aos princí­pios da civ­i­liza­ção. É a roça do toco, a limpeza do solo através da queimadas, o plan­tio feito no sacho, etc. Uma pro­dução insu­fi­ciente para a sub­sistên­cia das famílias.

Não é sem razão que ao per­cor­rermos as estradas do Maran­hão, seja o dia que for, seja a que for, encon­tramos mul­ti­dões de cidadãos nas por­tas, embaixo de árvores, sem pro­duzirem nada, muitas das vezes se entre­gando ao alcoolismo e out­ros vícios, enquanto aguardam a esmola men­sal dos pro­gra­mas de trans­fer­ên­cia de renda, seja o bolsa família; seja as fal­sas aposen­ta­do­rias como tra­bal­hadores rurais; seja através dos seguros des­ti­na­dos a pescadores.

Não é sem razão que mais da metade da pop­u­lação maran­hense vive abaixo da linha da mis­éria, e destes, uma parte sub­stan­cial, na condição de mis­éria absoluta.

São mil­hões de cidadãos maran­henses que foram – e que con­tin­uam –, aban­don­a­dos pelo poder público que os escrav­izam através da explo­ração de sua mis­éria e falta de instrução e qual­i­fi­cação.

Fazem isso de propósito, para man­terem um exército de eleitores “acríti­cos”, pron­tos para elegerem aque­les que pos­sam aten­der suas neces­si­dades mais ime­di­atas.

Enquanto noutros esta­dos os agricul­tores podem acionar os téc­ni­cos da EMATER através de um aplica­tivo de celu­lar, por aqui, até este impor­tante órgão foi extinto.

Os gov­er­nantes do estado duvi­daram – e con­tin­uam a duvi­dar –, do imenso poten­cial do nosso estado para a agri­cul­tura, pecuária e sua cadeia pro­du­tiva, por isso foi con­de­nado a mis­éria per­pé­tua por Deus que não nos dotou de um solo fér­til – a exceção de uma faixa de ter­ras entre Gra­jaú e For­t­aleza dos Nogueiras –, con­forme assen­tou o ex-​presidente Sar­ney, em um dos seus arti­gos e que refutei de pronto em um texto ante­rior sobre o assunto.

Como sus­ten­tar que o Maran­hão não pro­duz porque tem solo “pobre” quando vemos o Estado de Israel, com 65% (sessenta e cinco por cento) de seu ter­ritório como deserto e cer­cado de inimi­gos, pro­duzir grande parte dos ali­men­tos con­sum­i­dos por seu povo?

Como aceitar que o nosso estado, o segundo do Nordeste, com tan­tos recur­sos, não con­siga pro­duzir nem o sufi­ciente para ali­men­tar sua pop­u­lação, tendo que impor­tar quase tudo que con­some de out­ros esta­dos, inclu­sive dos esta­dos que sofrem muito mais com a seca que o nosso?

O MARAN­HÃO perdeu o bonde da história e ficou para trás.

Que, pode sim, se desen­volver a par­tir de grandes pro­je­tos em curso, mas que pode­ria ser o próprio propul­sor do seu desen­volvi­mento, se tivesse tido a sorte de pos­suir gov­er­nantes com visão, nos últi­mos cinquenta ou sessenta anos.

Difer­ente do que foi exposto pelo ex-​presidente Sar­ney, nosso estado não pobre porque o nosso solo não é rico e não temos recur­sos min­erais de monta. O estado pobre porque não tive­mos, até aqui, políti­cos com capaci­dade de pen­sar além dos próprios inter­esses.

Depois de tudo de bom que Deus no deu Ele nos legou políti­cos ruins e inca­pazes. Essa é a razão do nosso atraso cul­tural, pro­du­tivo e da mis­éria do nosso povo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

ELEIÇÕES 2020: O COMEÇO DO JOGO E OS DESAFIOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

ELEIÇÕES 2020: O COMEÇO DO JOGO E OS DESAFIOS.
Por Abdon Marinho.

NO ÚLTIMO dia do ano pas­sado um dos edi­tores de jor­nal­ismo de uma emis­sora local me alcançou através de um aplica­tivo de celu­lar. Que­ria uma entre­vista sobre o cal­endário eleitoral, para o dia seguinte. Não vendo qual­quer óbice, já mar­camos para as oito e trinta horas do dia seguinte.

Se a primeira visita não pare­cesse muito ade­quado se falar de política logo no primeiro dia do ano, o assunto era mais do que opor­tuno. O dia primeiro já trazia as primeiras vedações a vin­cu­lar os agentes e o processo político eleitoral como um todo, como por exem­plo, a vedação de divul­gação de pesquisas sem prévio reg­istro na justiça eleitoral e den­tro das bal­izas legais; a proibição de doar bens, val­ores ou bene­fí­cios por parte da admin­is­tração pública, ressal­va­dos os casos de calami­dade pública ou pro­gra­mas soci­ais já em anda­mento e, ainda assim, podendo ser acom­pan­hado pelo min­istério público; a proibição de exe­cução de pro­gra­mas soci­ais por enti­dades vin­cu­ladas nom­i­nal­mente a can­didatos ou por estes man­ti­das; e, por fim, a lim­i­tação à pub­li­ci­dade da admin­is­tração pública fed­eral, estad­ual ou municipal.

Quem tem acom­pan­hado a cena política estad­ual – e nos municí­pios –, têm visto que desde o encer­ra­mento do último pleito munic­i­pal os pre­tendentes às sucessões já colo­caram seus “blo­cos” nas ruas come­tendo toda sorte de abu­sos.

Tais práti­cas recrude­sce­ram a par­tir do tér­mino do pleito estad­ual – e posse dos eleitos –, quando acrescentou-​se aos primeiros pre­tendentes uma série de out­ros pre­tendentes, estes, “calça­dos” nos mandatos de dep­uta­dos estad­u­ais e fed­erais, que pas­saram a usar as pre­rrog­a­ti­vas e poderes iner­entes aos car­gos para se apre­sentarem como pré-​candidatos e a faz­erem cam­pan­has com recur­sos públi­cos, se pro­movendo através das mais vari­adas mídias custeadas pelos contribuintes/​eleitores.

Se no inte­rior do estado – e mesmo na região met­ro­pol­i­tana –, temos pre­tendentes ao cargo de alcaide e/​ou vereadores sub­sti­tuindo o poder público na exe­cução de obras ou mesmo destru­indo benesses, tais como mate­r­ial de con­strução, ces­tas bási­cas, equipagem, equipa­men­tos de som, motos, pneus, etc., e até mesmo refeições, além de pro­moverem uma infinidade de ativi­dades fes­ti­vas, na cap­i­tal, prin­ci­pal­mente, na per­ife­ria, não é muito difer­ente.

A cidade está coal­hada de pro­pa­ganda pro­mo­cional dos pre­ten­sos can­didatos à sucessão munic­i­pal.

Isso sem con­tar a pro­moção regia­mente paga através de blogues e out­ras mídias.

O mal exem­plo vem de cima. Prati­ca­mente no mesmo dia em que assumia o segundo mandato o gov­er­nador do estado já “se lançou” can­didato à presidên­cia da República. Fez mais, a par­tir de então, os inter­esses da boa gestão foram joga­dos para “escant­eio” e o Estado do Maran­hão pas­sou a ser ape­nas um degrau dos seus son­hos (ou delírios).

A pop­u­lação mais esclare­cida da ilha – o pouco que restou –, assis­tiu, no penúl­timo dia do ano, a espetáculo, dig­amos, inusi­tado: um gov­er­nador de estado ir a “inau­gu­ração” de uma reforma de feira. Acho que já seria demasi­ado um gov­er­nador ir a inau­gu­ração de uma feira. Ir a inau­gu­ração de reforma, então, dis­pensa quais­quer comen­tários. Falta do que fazer ou, talvez, a rev­e­lação, inad­ver­tida, da real dimen­são do gov­erno.

Não que seja novi­dade o atual gov­erno “ape­que­nar” o papel do estado. Noutras opor­tu­nidades já o vimos inau­gu­rar “um” poço arte­siano, uma escol­inha de duas salas, etc.

Assim, não foi de todo sur­preen­dente que o gov­er­nador, em pes­soa, em pleno horário de expe­di­ente, fosse com seu séquito de pos­tu­lantes a can­didatos a prefeito da cap­i­tal à inau­gu­ração da “reforma” da feira da Macaúba, no antigo Cam­inho da Boiada, onde se deli­ciou com um fumegante mocotó.

Na inau­gu­ração da “reforma” da feira o gov­er­nador cumpriu o duplo papel: apresentar-​se como líder pop­u­lar e apre­sen­tar, à pop­u­lação local, seus prováveis can­didatos à sucessão do atual alcaide.

A nota pitoresca – sem a qual o evento não estaria com­pleto como a comé­dia bufa, que foi –, é que um dos pré-​candidatos do con­sór­cio gov­ernista apre­sen­tado a uma legí­tima iguaria da culinária maran­hense, o mocotó, comportou-​se como se estivesse diante de um guisado de “krip­tonita”, o que foi cap­i­tado pelas lentes indisc­re­tas de alguns dos pre­sentes e explo­rado, à exaustão, pelos próprios inte­grantes do con­sór­cio, através dos diver­sos veícu­los de comu­ni­cação a soldo ou sim­páti­cos aos out­ros con­cor­rentes, que não “des­cansaram” na “queimação” do pre­tendente a prefeito nem durante a queima de fogos da virada de ano.

Nunca se viu tanto “fogo amigo” con­tra uma pes­soa quanto este, dis­pen­sado pelos próprios ali­a­dos, con­tra o con­cor­rente.

O jogo político maran­hense para esta eleição, e para a de 2022, se apre­senta como o espetáculo dan­tesco. Com rarís­si­mas exceções, impondo ao cidadão a obri­gação de escol­her entre o pior e o menos ruim.

Com rarís­si­mas exceções, repito, olhamos para os quadros sucessórios nos municí­pios – e, mesmo, o que se desenha para o pleito estad­ual –, e ficamos com a clara sen­sação que o homem de bem desis­tiu da política, resolveu deixar o comando dos des­ti­nos das cidades – e do estado –, nas mãos dos arriv­is­tas de sem­pre, os que enricaram enquanto diziam rep­re­sen­tar o povo.

O pior é que, na maio­ria das vezes, são jovens, mas já “doutores” nas vel­has práti­cas, o que nos leva ter menos esper­ança no futuro do que no pre­sente.

A política maran­hense não apre­senta qual­quer novi­dade entre o que viven­ci­amos nos quase cinquenta anos sob o jugo do sarneísmo e que se vivên­cia agora, sob o comando dos comu­nistas.

Arriscamos-​nos a dizer, até, que essa nova hege­mo­nia se apre­senta muito mais deletéria que a ante­rior, não ape­nas sob a ótica da dom­i­nação política como, tam­bém, no que se ref­ere à gestão da máquina admin­is­tra­tiva.

A sucessão munic­i­pal que está posta não apre­senta para os cidadãos quais­quer mel­ho­ras (ressal­vando a exceção que jus­ti­fica a regra) em relação aos pleitos ante­ri­ores, antes, pelo con­trário.

Mesmo a cap­i­tal, sem­pre recon­hecida como celeiro de novi­dades e rebel­dia, se deser­ti­fi­cou. Den­tre as pré-​candidaturas postas a única que se apre­senta como “algo novo” é a do (ex) juiz Car­los Madeira. Não que eu acred­ite que possa obter êxito no pleito que se aviz­inha, quando, até aqui, se apre­senta, segundo a última pesquisa do ano pas­sado, com menos de um por cento de prefer­ên­cia do eleitorado – a não ser que acon­teça alguma coisa impre­visível –, mas pelo que rep­re­senta como alter­na­tiva futura.

Ressaltando, entre­tanto, que para isso é necessário que ele se coloque como oposição a tudo isso que está posto, não se deixando “abduzir” pelo antigo régime, rep­re­sen­tado pelo grupo Sar­ney ou pelo atual mod­elo vin­cu­lado aos “comu­nistas”. Numa ou noutra hipótese será ape­nas mais um.

Em um quadro político tão ruim, com tan­tos abu­sos acon­te­cendo diari­a­mente em todos os municí­pios e prat­i­ca­dos por pes­soas que se acos­tu­maram a desafiar a lei, a Justiça Eleitoral, por suas diver­sas instân­cias, pre­cisa ficar atenta e com­bater com sev­eri­dade e celeri­dade os “desvios” e/​ou crimes per­pe­trado pelos pre­ten­sos candidatos.

Emb­ora enten­dendo que os abu­sos que vêm sendo cometi­dos nos últi­mos anos não este­jam isen­tos de punição e/​ou mesmo do imped­i­mento à par­tic­i­pação destes can­didatos no pleito vin­douro, ainda que se lim­ite a uma ação efe­tiva a par­tir do primeiro dia deste ano, já pode con­tribuir – e muito –, com o igual­dade de condições na dis­puta entre todos os candidatos.

Durante o ano tentare­mos acom­pan­har e expor nos­sas opiniões sobre o quadro político, os proces­sos sucessórios e as demais novi­dades na área da Justiça Eleitoral.

Um bom ano de 2020 a todos com esper­ança e fé.

Abdon Mar­inho é advo­gado.