AbdonMarinho - Lula “fechado” com Bolsonaro.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Lula “fechado” com Bolsonaro.

LULA «FECHADO» COM BOLSONARO.

Por Abdon Marinho.

ALGUM brasileiro moti­vado pela inveja ou pelo ciúmes ou por ambos, inven­tou a troça de que nos­sos irmãos por­tugue­ses seriam “bur­ros”. Durante anos, décadas, os mais imag­i­na­tivos se puseram a criar piadas envol­vendo nos­sos patrí­cios, colocando-​os sem­pre na condição de desprovi­dos de inteligência.

Um amigo, que vez por outra vai à ter­rinha, e que tem muitos par­entes por lá, diz que os por­tugue­ses riem dessa nossa estultice.

Falo de Por­tu­gal e de por­tugue­ses porque de lá, e deles, me socorre a lem­brança de um ditado muito antigo que eu – na minha sagrada ignorân­cia nunca tinha com­preen­dido –, somente agora, começo a enten­der o seu real alcance e valia.

O dito pop­u­lar antigo de Por­tu­gal afirma que dire­ita e esquerda se encon­tram.

Quando digo que o ex-​presidente Luís Iná­cio Lula da Silva está “fechado” com o atual pres­i­dente Jair Bol­sonaro não estou dizendo que os dois se encon­traram e à sor­relfa fiz­eram um acordo espúrio.

Não é isso, em abso­luto. É que a forma de agir de ambos con­vergem para a comunhão de inter­esses que atende aos dois. Noutras palavras, existe um acordo, de ideias e é espúrio, sim.

Podemos lis­tar uma série de fatos e cir­cun­stân­cias que acabam por dar razão ao antigo dito por­tuguês: dire­ita e esquerda se encon­tram e, acres­cen­taria, no Brasil, não ape­nas se encon­tram como estão mais jun­tas do que nunca.

O Brasil atrav­essa a pior crise san­itária da sua história. Não há reg­istro de que uma molés­tia ou qual­quer outra tragé­dia que tenha cau­sado tan­tas per­das humanas, em tão pouco tempo, quanto esta pan­demia do coro­n­avírus.

Aí, vejo que o sen­hor Bol­sonaro investido na condição de pres­i­dente da República, ao invés de assumir o comando dos esforços de com­bate a tragé­dia – como fez todos os demais pres­i­dentes do mundo civ­i­lizado –, fez (e faz) foi min­i­mizar a tragé­dia, dizendo tratar-​se de uma gripez­inha, antes dos mil mor­tos; e, daí?, quando o número de mor­tos pas­sou dos cinco mil; con­vite para chur­rasco, quando pas­sou dos dez mil; ‘lamento, é assim mesmo”, quando pas­sou dos vinte mil; indifer­ença quando pas­sou dos trinta mil; “a globo não vai ter mais manchete”, quando a soma de per­das humanas, pas­sou dos trinta e cinco mil.

Disse isso jus­ti­f­i­cando a “estraté­gia” do gov­erno de só divul­gar os números de con­tá­gios e óbitos altas horas da noite, sem tempo dos mes­mos serem veic­u­la­dos nos tele­jor­nais noturnos.

O Brasil encon­trou a forma pecu­liar de com­bater a pan­demia: ocul­tar o número de mor­tos da pat­uleia.

Devem pen­sar: se o jor­nal não divul­gar o povo vai pen­sar que nada acon­te­ceu. Maneiro.

Pois bem, além de não assumir o comando da situ­ação, o pres­i­dente, sem­pre que teve chance, sabotou todas as estraté­gias de iso­la­mento social, pre­gou o enfrenta­mento da pan­demia “de peito aberto” – aquilo que Trump disse, nos crit­i­cando, que se tivesse feito, teria provo­cado a morte de dois mil­hões e meio de amer­i­canos –, e, estim­u­lou, inclu­sive com a par­tic­i­pação osten­siva de atos de aglom­er­ação em apoio ao seu gov­erno e con­trários aos out­ros poderes da República.

Out­ros chefes de estado, vendo o que acon­tece no Brasil, não con­seguem com­preen­der como o chefe de uma nação estim­ula que os seus rep­re­sen­ta­dos, em plena pan­demia, arrisquem a própria vida num enfrenta­mento político que o próprio pres­i­dente provocou.

Bol­sonaro fez e faz isso, e agora não está sozinho.

Quando o número de brasileiros mor­tos – pais e mães de famílias, avós, fil­hos, par­entes ami­gos –, avança para a casa dos quarenta mil, tanto o atual pres­i­dente, quanto o ex-​presidente Lula, inflam seus lid­er­a­dos para irem às ruas protes­tar con­tra e a favor do governo.

Eis a prova cabal de que vive­mos em uma nação na qual líderes pouco ou nada de respeito pela vida das pes­soas demon­stram.

Essa estraté­gia comum de bol­sonar­is­tas e lulis­tas não é a única a dar razão ao ditado lusitano.

Outro dia dezenas de políti­cos, artis­tas, int­elec­tu­ais e out­ros que os val­ham, assi­naram um man­i­festo, segundo eles, em favor da democ­ra­cia brasileira e con­tra o gov­erno Bolsonaro.

Pelo que li a única força política que se eximiu de assi­nar foi o Par­tido dos Tra­bal­hadores– PT, e seus líderes e lid­er­a­dos.

A jus­ti­fica­tiva do próprio ex-​presidente Lula, seria que muitos dos que assi­naram o tal man­i­festo não seriam democ­ratas e/​ou out­ras des­cul­pas equivalentes.

Sabe­mos que o ex-​presidente e seu par­tido nunca foram de muito pudores em relação aos cos­tumes.

No poder, fiz­eram da cor­rupção uma estraté­gia, se uni­ram com todos os políti­cos cor­rup­tos do Brasil e do mundo; nunca viram nada demais em apoiar os dita­dores mais hor­ren­dos da história da civ­i­liza­ção.

Ah, Lula, conta outra!

Aliás, a “coisa” anda tão sem rumo no Brasil que acabamos esque­cendo que Lula é um con­de­nado por cor­rupção e lavagem de din­heiro que só está solto dev­ido a leniên­cia da Justiça brasileira com crim­i­nosos de “colarinho-​branco”.

Na ver­dade, Lula e o PT, não assi­naram o tal man­i­festo pois, como fiz­erem ao longo de suas histórias, acham que só eles têm a legit­im­i­dade para gov­ernarem ou para serem opos­i­tores aos gov­er­nos.

É assim desde o começo dos anos oitenta: Colé­gio Eleitoral, Con­sti­tu­inte; Plano Real, etc.

Na eleição de Bol­sonaro, Lula e o PT, foram deci­sivos.

Bol­sonaro escol­heu o PT como adver­sário e o PT escol­heu Bol­sonaro. Tanto assim, que quando ter­mi­nou o primeiro turno das eleições escrevi um texto: “Deu PT, e agora?”. Decidi ficar em casa no dia da eleição.

E con­tin­uam com a mesma estraté­gia para as próx­i­mas eleições. Lulis­tas e bol­sonar­is­tas enx­ergam que o con­fronto entre os dois gru­pos, a divisão abissal do país é a solução ideal para a ganân­cia e son­hos de poder de ambos.

Firmes nesse pen­sa­mento jus­ti­fi­cam os maiores absur­dos que os seus líderes digam ou façam.

Os mais recentes foram as jus­ti­fica­ti­vas dadas pelos bol­sonar­is­tas para o “E, daí?”, de Bol­sonaro, para mon­tanha de mor­tos pela pan­demia; e para o “Ainda bem”, de Lula, quando a mon­tanha de mor­tos alçava ao número de dez mil pela mesma pan­demia.

Difer­ente de Bol­sonaro que nunca se arrepen­deu por nen­hum dos absur­dos que vocif­era dia após dia, con­de­nando seus apoiadores a se desumanizarem para jus­ti­ficar o injus­ti­ficável, o próprio Lula, vendo o tamanho da besteira que disse, tomou a ini­cia­tiva de se des­cul­par deixando ape­nas os bobos que cor­reram para defender o absurdo de suas palavras com cara de tolo.

Exis­tem diver­sos out­ros fatos que jus­ti­fi­cam o acerto do dito por­tuguês em relação à sua apli­cação prática na quadra política nacional, cito por der­radeiro, o “encon­tro” da chamada “esquerda” do Brasil, rep­re­sen­tada por petis­tas, comu­nistas, lulis­tas, com a chamada “dire­ita”, rep­re­sen­tada por bol­sonar­is­tas, ter­ra­planistas, olav­is­tas, etc., a união em torno do propósito único de destruírem o ex-​juiz e ex-​ministro Sér­gio Moro.

Os esquerdis­tas não per­doam o ex-​juiz por ele ter sido o respon­sável pelo desmonte do maior esquema de cor­rupção já mon­tado em qual­quer tempo da história do mundo para desviar din­heiro público e colo­car na cadeia diver­sos mem­bros de seus par­tidos, empresários “ami­gos”, e até o ex-​presidente Lula.

Aos esquerdis­tas pouco – ou nada –, importa se as con­de­nações vieram tam­bém de out­ros juízes, desem­bar­gadores ou min­istros, o Moro é a encar­nação do demônio.

Os dire­itis­tas, leiam, bol­sonar­is­tas, não per­doam o ex-​ministro por ele não ter “baix­ado” a cabeça a um pro­jeto de gov­erno que vai ao encon­tro do eles próprios com­ba­t­iam há bem pouco tempo: o apar­el­hamento das insti­tu­ições repub­li­canas, no caso, a Polí­cia Fed­eral, e a leniên­cia com a cor­rupção, o acordão guloso por ver­bas públi­cas que une o gov­erno aos políti­cos do centrão.

Ambos, “dire­itis­tas” e “esquerdis­tas” se unem – e até têm e tra­bal­ham uma estraté­gia comum –, con­tra o ex-​juiz e ex-​ministro, dev­ido ao receio que têm dele enveredar com afinco pelo cam­inho da política e con­seguir romper com essa política extrem­ista que está levando o país à ruína, à destru­ição e à morte.

No fundo as duas cor­rentes dese­jam – e tra­bal­ham por isso –, aumen­tar o sen­ti­mento “anti”, antipetista, anties­querdismo, anti-​bolsonarista, anti-​direita, para, a par­tir do ódio que con­seguirem infundir nos cidadãos con­quistarem ou man­terem o poder.

Nunca na história vimos – e ver­e­mos muito mais –, uma cam­panha de destru­ição de imagem tão sór­dida, mas tão ajus­tada quanto está que estão fazendo con­tra o ex-​ministro Moro.

Esquerda e direta nunca estiveram tão afi­nadas e unidas num propósito quanto este de destruir aquele que enx­ergam com o prin­ci­pal e real adversário.

Essa mesma “união” não mira ape­nas Moro, ela vai se man­ter con­tra qual­quer outro que tente romper com esse mod­elo de ódio que implan­taram no Brasil.

Qual­quer um que tente ousar romper com isso enfrentará o ódio mil­i­tante, as redes de fake news, dos dois grupos.

Não ten­ham dúvi­das: Lula está “fechado” com Bolsonaro.

Abdon Mar­inho é advo­gado.