MERA COINCIDÊNCIA – A OPOSIÇÃO ENCENA A SUA GUERRA DE SECESSÃO*.
Por Abdon Marinho.
CORRIA o ano de 1998. Um dia o então deputado estadual Aderson Lago – com quem trabalhava na campanha a governo do senador Cafeteira –, tendo chegado um pouco mais tarde que de costume, indaguei-lhe o motivo. Ele, então, me disse que ficara acordado até bem mais tarde e – além da insônia –, assistira uma comédia muito boa, que me recomendava: “Mera Coincidência”. Com précisão de engenheiro – e de bom contador de causos –, contou-me o enredo quase todo.
O filme estrelado por monstros do cinema, como Dustin Hoffman, Robert De Niro, Denis Leary, Michael Belson e grande elenco, dirigido por Barry Levinson, tem a seguinte sinopse: O presidente dos Estados Unidos (Michael Belson), a poucos dias da eleição, se vê envolvido em um escândalo sexual e, diante deste quadro, não vê muita chance de ser reeleito. Assim, um dos seus assessores entra em contato com um produtor de Hollywood (Dustin Hoffman) para que este «invente» uma guerra na Albânia, na qual o presidente poderia ajudar a terminar, além de desviar a atenção pública para outro fato bem mais apropriado para interesses eleitoreiros.
Não considerem o “spolier”, a película é muito mais que isso e, com mais de vinte anos de lançamento, ainda nos ensina muito sobre os nossos hábitos e sobre a política.
No sábado, escrevia o texto de domingo sobre a reforma da previdência (texto que publicarei ainda esta semana) quando começou a “chover” mensagens no celular, WhatsApp e outras redes sociais, sobre uma suposta declaração do presidente da República ofensiva aos nordestinos. Algumas das mensagens, inclusive, chegavam com a manifestação da autoridade com a legenda do que dizia.
Outras, com as reações e algumas com o protesto da cantora maranhense radicada no Rio de Janeiro, Alcione Nazaré, dizendo-se “indignada” com o presidente e cobrando respeito aos nordestinos.
Acabei o texto sobre a reforma da previdência e pus-me a pensar e a escrever sobre o assunto. O texto que publiquei no domingo, no lugar daquele anteriormente previsto.
Tendo aquelas informações e o vídeo recebido, expus meus pontos de vistas, compartilhados por alguns e criticados por outros, sobre a questão dos preconceitos – posição, aliás, já exposta em textos anteriores.
Recomendo a leitura de “PARAÍBA, SIM, SENHOR. PRECONCEITOS E FALSAS VÍTIMAS” e “INSINUAÇÃO DE ‘VIADAGEM’ AFLORA PRECONCEITOS ATÉ NO SUPREMO”.
Embora entendendo e justificando não tratar-se de preconceito do presidente – pelas razões que expus nos textos acima referidos –, dei crédito de verdade ao material que chegaram a mão, transcrevendo literalmente as legendas atribuídas.
Pesou nesta conduta o meu próprio “preconceito” em relação ao presidente pela enxurrada de enormidades que diz e também o fato dele ou alguém com sua senha de rede social ter confirmado aquilo que ele não disse.
Apenas no final do domingo alguém me alertou e fui atrás do link com a fala completa do presidente no polêmico café da manhã, em que, supostamente, teria desencadeado toda a confusão.
Encontrei o vídeo na Tv Uol e, contrariando a exploração da oposição e a própria rede social do presidente, lá não tem nada do que quase culminou a “guerra da secessão” encenado pela oposição.
Apesar do áudio ser ruim e do presidente falar mal, pude “pescar” que ele disse para o ministro Onyx Lorenzoni: “este governador ‘de’ Paraíba é pior que o “de” Maranhão”. Aí o presidente diz outra coisa e o ministro diz algo, que entendi como “Benjamin” e o presidente retruca: “Não tem que ter nada com esse cara”.
Devemos considerar, agora sem preconceitos, que o presidente tem vícios de linguagem graves, cortando indevidamente palavras. Mas, o conteúdo, pelo que pude perceber, é o transcrito acima. Ou seja, o governador do Maranhão é apenas “prata” no ranking de piores do presidente e não teve uma referência aos nordestinos como “paraíbas”, embora este seja um regionalismo dicionarizado desde meados do século passado no Rio de Janeiro.
Recomendo que procurem o link com o áudio real – até para saberem se estou certo.
Foi aí que lembrei o filme “Mera Coincidência”, referido acima.
Aproveitando-se do “truque”, de uma edição de áudio – que as autoridades, principalmente a Polícia Federal, precisam investigar para saber quem são os responsáveis –, a oposição vestiu-se para guerra. Armou suas trincheiras em todas as frentes, ressuscitando todos os preconceitos existentes – e fomentados ao longo de anos –, do Sul e Sudeste contra o Norte e Nordeste.
Notas oficiais de deputados e senadores; manifestações individuais de parlamentares, cidadãos e dos aduladores de plantão. Todos imbuídos do vergonhoso propósito de dividir ainda mais o país, provocar protestos, repúdios, atiçar ódios.
Uma vergonha para quem prega a paz e o amor.
Reitera-se que contaram para isso, com a própria biografia do presidente e com um desastrado endosso do que “não disse” no áudio, em sua rede social.
Vivemos tempos estranhos e de coincidências mais estranhas ainda.
Não faz muito tempo o governador do Maranhão encontrou-se com o ex-presidente José Sarney, conforme tratei nos textos: “Dino Enterra os 50 Anos de Atraso” e “Sarney & Dino e o Acordo que Não Ousa Dizer o Nome”.
Desde então as coincidências se avolumam.
Outro dia me chamaram a atenção para o fato da televisão Mirante agora ser só gentilezas com o governo e o governador e, na ausência de fatos levantes, noticiar até uma singela doação de bateria musical.
Logo mais passarão para os aniversários de bonecas.
O jornal O Estado do Maranhão e blogueiros do “sistema”, compraram como absoluta verdade os queixumes do governador, como se o presidente tivesse declarado “guerra” aos maranhenses.
No domingo, como disse, recebi o vídeo da cantora Alcione Nazaré, vestida na bandeira do Maranhão, admoestando o presidente da República e cobrando respeito ao Nordeste, supostamente, pelo fato dele ter se referido aos nordestinos como “paraíba” – que o vídeo/áudio original revelam não ser verdade.
Logo ela que está radicada no Rio de Janeiro há décadas e tendo, inclusive, feito uma música intitulada “Paraíba do Norte Maranhão”. Com boa vontade dirão: — Ah, ela pode. Pode? Não é preconceito?
Mas, não foi só isso. Todos assistimos a “nossa Marrom”, devidamente “fardada”, em passeata junto com o notório ex-governador Sérgio Cabral (condenado a mais de um século de cana por “malfeitos” diversos) e do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, defendendo que os royalties do petróleo ficassem para os estados produtores, em detrimento dos pobres e miseráveis do Norte e do Nordeste pelos quais, agora, cobra respeito.
Na segunda-feira recebo um outro vídeo da “nossa Marrom”, vestida com os mesmos trajes em um animado colóquio com o ex-presidente Sarney.
Não é por nada, e perguntar não ofende:
Sarney e Alcione participaram da fake news?
Eles (Sarney e Alcione) estavam juntos quando a artista se fantasiou de bandeira maranhense e fez o vídeo admoestando o presidente ou o colóquio deu-se noutro momento?
A fake fez parte do “acordo que não ousa dizer o nome”?
A Marrom, fiel escudeira dos Sarney, entrou no “pacote”?
Sarney estaria por trás desta tentativa de desestabilizar o país?
Sarney e Dino, juntos e misturados – como sempre estiveram –, seriam os responsáveis por esta articulação?
O ex-presidente Sarney – ninguém duvida –, é o político mais astuto do país, capaz das articulações mais mirabolantes.
Neste mundo artimanhas é uma espécie de “avô” do que hoje se chama “fake news”.
Que Trump, que nada! Basta lembrar que em 1994, para desestabilizar a campanha a governador de Epitácio Cafeteira, denunciou em sua coluna semanal que o senador seria o responsável pelo “desaparecimento” do cidadão José Raimundo Reis Pacheco, sugerindo que o teria mandado matar em represália à um acidente de trânsito que vitimou o sogro, Conselheiro Hilton Rodrigues.
Dias antes, já tinham forjado a existência de um irmão por nome de Anacleto Reis Pacheco – o primeiro irmão “fake” que se tem notícia –, que, através de um advogado do Ceará, denunciou o senador da República perante o Supremo Tribunal Federal.
Cafeteira e sua equipe, dentre eles Aderson Lago, Juarez Medeiros, Benedito Terceiro e outros, só conseguiram desfazer a patranha nas vésperas da eleição, quando já não havia mais tempo para desfazer a mentira espalhada por todo o Maranhão.
Vamos reconhecer que experiência para artimanhas, sobra.
Mas, talvez, tudo seja mera coincidência, como no filme homônimo.
Até a conclusão deste texto, a equipe do presidente da República, não conseguira desfazer a mentira da “guerra da secessão” semeada pela oposição, tendo o senhor Dino como principal beneficiário, vendendo-se como vítima e se vestindo como o anti-Bolsonaro.
A edição e exploração criminosa de uma fala do presidente é algo muito grave. O país por pouco não entrou em uma convulsão.
Algo tão grave que me suscita um derradeiro questionamento:
Se ousaram editar e explorar exaustivamente uma falsa fala do presidente da República, não poderiam editar as conversas de Moro, Deltan, etc.?
Recordando uma frase emblemática do saudoso ex-governador Leonel Brizola: — Algo há!
Abdon Marinho é advogado.
(*) Referência à Guerra Civil Americana ocorrida entre abril de 1861 e abril de 1865, que opôs os estados do norte aos do sul.
P.S. Um atento leitor diz que o colóquio entre a Marrom e o ex-presidente que circula nas redes sociais, deu-se noutro momento. Coincidências acontecem.