OS BOLSONARO E O LEÃO DA METRO.
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- Criado: Domingo, 15 Setembro 2019 20:56
- Escrito por Abdon Marinho
OS BOLSONARO E O LEÃO DA METRO.
Por Abdon Marinho.
O SAUDOSO senador Epitácio Cafeteira tinha umas “tiradas” formidáveis. Vez ou outra, para fustigar um adversário, saia-se com essa: — Fulano é como o leão da Metro.
Era uma alusão à famosa empresa de entretenimento americana Metro-Goldwyn-Mayer Inc., ou MGM, que ostenta na sua marca um leão que ruge alto. O senador queria dizer que aquele oponente – e mesmo alguns aliados –, só falavam muito e/ou alto mas sem qualquer efeito prático. Como o leão da marca, não mordiam ou assustavam ninguém.
Os Bolsonaro (pai e filhos envolvidos com a política), ao que parece, são “viciados” em falar bobagem e, em tempos de comunicação instantânea, acabam por ganhar amplitude maior do que realmente são.
Isso não vem de hoje e, diferentemente do muitos imaginavam, a chegada ao píncaro da fama e poder não os modificou em nada. Todas as “crises” e “stress” ocorridos até aqui no governo – e na política nacional –, têm como origem uma declaração desastrada de algum integrante da “primeira família”.
Ainda que digam que a imprensa tem “má vontade”, que estão contra o governo porque perderam a “boquinha”, e tantas outras desculpas – já cansadas por aqueles que teimam num voto de confiança ao governo –, justificam as tolices, a falta de “liturgia” aos cargos e à importância que ocupam.
A “última” – entre aspas porque enquanto escrevo provavelmente estão estão falando ou fazendo asnices –, foi proferida pelo vereador Carlos Bolsonaro, o zero dois que numa rede social escreveu: “por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”.
Cartuxo, como é referido por alguns, parece ser daqueles que “não conseguem assinar o nome sem quebrar a ponta do lápis”, razão pela qual a frase intempestiva virou motivo para todo tipo de interpretação, com alguns, da oposição, sugerindo tratar-se de uma ameaça de golpe militar e outros, até mais exagerados, dizendo que filho do presidente lhe dera mais uma “facada”, justamente quando este, o presidente, se encontrava convalescendo em um hospital em decorrência da facada que levou no dia 06 de outubro de 2018, véspera da eleição, e que muitos atribuem ter sido determinante para sua vitória nas urnas.
Refletindo essa falação desenfreada dos Bolsonaro foi que lembrei da famosa “tirada” de Cafeteira sobre o leão da Metro-Goldwyn-Mayer Inc., eles, assim como o leão que aparece na exibição de cada película do estúdio americano, podem até rugirem alto, mas não assustam ninguém.
Conforme alertei em textos anteriores o presidente Bolsonaro passou a integrar um “pacto da elite”, a favor da impunidade e contra os interesses da sociedade brasileira. Esse “pacto” tem pauta própria: implodir a Operação Lava Jato; soltar os corruptos presos, dentre os quais o ex-presidente Lula; manter a bandalha em pleno funcionamento; e, deixar tudo como dantes no quartel de Abrantes, como no dito.
Nada soa mais ilustrativo deste pacto que o apoio que recebeu a indicação, pelo presidente do futuro procurador-geral da República, o senhor Aras, que não foi sequer votado na lista tríplice do Ministério Público e já demonstrou mais de uma vez sua afinidade com as pautas que interessam aos saqueadores do país.
A indicação foi recebida com júbilo pelas “bancada” do STF contrária à Lava Jato, pelos diversos senadores “enrolados” com a Justiça, inclusive, pelos senadores do Partido dos Trabalhadores — PT, comprovando o “jogo de cartas marcadas” em curso.
Sem qualquer escrúpulo de consciência (o que não é estranho), o PT embarca no “pacto” das elites em apoio à indicação do futuro procurador-geral.
O partido, em verdade, será o primeiro (ou estará entre os primeiros) a se beneficiado, com a soltura de parte de sua elite partidária já nos próximos meses, entre eles o condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente-presidiário Lula da Silva, que, dizem, será solto já em outubro, ainda que tenham que mover “céus e terra”.
A novidade da estação é essa “dobradinha” do PT com o governo Bolsonaro.
Alguém percebeu que os integrantes do partido (e a esquerda de uma forma geral) arrefeceram nas críticas ao governo?
Pois é, estão com interesses comuns. E, estejam certos, não é a favor do Brasil.
O arrefecimento é para, sabendo que os Bolsonaro não tendo “papas nas línguas”, acabem por “melar” o “acordão”.
Os Bolsonaro foram “arrastados” ao pacto por seus próprios interesses: a nomeação do filho que sabe fritar hambúrguer para o cargo de embaixador; o alívio nos perrengues judiciais dos dois outros; mas, também, pela incontrolável mania de falar além do devido, o que serviu para enfraquecer o governo tanto perante sua base eleitoral – e na sociedade, de forma geral –, como no plano internacional.
Em termos comparativos, o governo Bolsonaro, com pouco mais de oito meses de implantação, revela-se tão frágil quando o foi nos seus estertores, o governo de João Goulart, nos anos sessenta. Diferente daquele governo que teve de aceitar um régime parlamentarista aprovado às pressas, o atual governo ainda finge governar.
A realidade – só não vê quem não quer –, é que governo Bolsonaro capitulou. Ninguém verbaliza nos meios de comunicação ou publicamente, mas o Brasil “virou” parlamentarista, com a pauta do país coordenada, não pelo Congresso Nacional, como seria normal, se vivêssemos tempos normais, mas, pela “elite”, parte dela não eleita, que sequestrou em benefício próprio os interesses nacionais.
Muitos têm a ilusão que alguns ministros do Supremo quando lançam ataques à Operação Lava Jato estão defendendo os interesses da sociedade ou da Justiça. Isso não é verdade. Estão, na verdade, defendendo os próprios interesses ou de pessoas bem próximas. Quando os técnicos da receita federal ou do COAF identificaram movimentações financeiras “atípicas” na contas de familiares de Gilmar Mendes ou Dias Toffoli o mundo veio abaixo. Logo um ministro amigo concedeu liminar para paralisar o trabalho dos órgãos, logo se deu uma liminar para suspender todas as investigações que tivessem essas informações sem ordem judicial prévia.
Muitos têm a ilusão de que temos um Congresso Nacional altivo preocupado com abusos de autoridade cometidos por juízes, promotores, delegados, policiais ou pelo guarda de trânsito que fica na esquina – não que estes abusos inexistam ou não devam ser coibidos, pelo contrário. Mas, não estão, suas excelências, grande parte conhecidas das famosas listas de propinas de empreiteiras por pseudônimos, estão preocupadas é em salvar a própria pele, estão preocupados em não serem molestados para continuarem a extorquirem a nação, querem é continuar “tirando o seu” das obras e serviços públicos, da emendas parlamentares.
Esta realidade infame que o atual presidente se comprometeu em mudar mas, no poder, acabou aderindo ao velho modelo, ao velho pacto de sempre e, pior, acrescentando uma pauta de obscurantismo nas relações sociais.
O Brasil, pelo andar da carruagem, terá que aguardar as próximas eleições presidenciais ou as seguintes em busca, novamente, de um projeto de mudança para o país.
O Bolsonaro que prometeu romper com as estruturas do atraso e da corrupção é o “novo” leão da Metro, como certamente diria o velho Cafifa.
Abdon Marinho é advogado.