AbdonMarinho - A Pátria Amazônica.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A Pátria Amazônica.

A PÁTRIA AMAZÔNICA.

Abdon Mar­inho.

NÃO vais falar sobre a Amazônia?

Foi no ápice dos incên­dios na região amazônica e de toda a polêmica em torno do assunto, inclu­sive, com seus des­do­bra­men­tos inter­na­cionais, quando fui abor­dado por um amigo/​leitor.

— Vou, só estou esperando a poeira baixar um pouco. Respondi.

No feri­ado da Inde­pendên­cia do Brasil parei um momento para refle­tir sobre o que vem acon­te­cendo com o nosso país.

A essa altura dos acon­tec­i­men­tos, acred­ito, mesmo o ali­ado mais fiel do pres­i­dente da República já deve ter se con­ven­cido que o homem é uma crise política ambu­lante – muitos, por con­veniên­cia ou inter­esse podem até nada diz­erem ou até faz­erem mux­oxos com suas pre­sepa­das –, com uma capaci­dade ilim­i­tada para dizer asneiras a ponto de, com menos de um ano no posto, já se ouvirem tra­mas sobre um pos­sível impeach­ment.

Se isso não acon­te­cer será mais pelos inter­esses dos “donos do poder” e pelo tempo que acharem que uma situ­ação de um pres­i­dente frágil politi­ca­mente e pop­u­lar­mente lhes é muito mel­hor.

Com uma veloci­dade espan­tosa sua excelên­cia vai atraindo ódios para si e com­pro­m­e­tendo a imagem do país no con­texto inter­na­cional.

Trata-​se de uma situ­ação bem pecu­liar: o gov­erno, pelo menos até aqui, não é visto como ruim, vem tocando as refor­mas necessárias (vez ou out­ras atra­pal­hadas), não se tem, ainda, notí­cias de cor­rupção e out­ras maze­las e até apre­senta resul­ta­dos pos­i­tivos, como na segu­rança pública com o aumento das apreen­sões de dro­gas, con­fisco de bens de traf­i­cantes, o encar­ce­ra­mento em presí­dios fed­erais de seus prin­ci­pais coman­dantes e, tam­bém, e, con­se­quên­cia disso tudo, redução sig­ni­fica­tiva no número de homicí­dios e ouros delitos.

O prob­lema do gov­erno, até aqui, repito, é o seu coman­dante e a sua incon­trolável língua.

Um pres­i­dente da República não é um “peladeiro” de final de sem­ana de quem se tol­era os xinga­men­tos e a boca suja.

Um pres­i­dente da República fala em nome da nação, se ofende um chefe de estado estrangeiro ou uma autori­dade de um organ­ismo inter­na­cional, emb­ora feito em nome próprio, é como se a nação inteira tam­bém o estivesse fazendo.

Um pres­i­dente da República pre­cisa ter a infor­mação – e a com­preen­são –, que o cargo que ocupa é infini­ta­mente maior que ele e, mais, que as respon­s­abil­i­dades do encargo dizem respeito a todos os cidadãos brasileiros e não ape­nas a ele, sua família e aos seus puxa-​sacos.

Feitas estas con­sid­er­ações, pas­samos a análise da chamada “crise amazônica”.

Todos sabe­mos da existên­cia de queimadas no Brasil, inclu­sive na Amazô­nia, e que elas não vem acon­te­cendo ao longo das décadas.

As destes anos, aliás, nem foram as maiores, em gov­er­nos ante­ri­ores os focos de incên­dio já chegaram ao triplo do que assis­ti­mos atualmente.

Então, por que todo esse escar­céu em torno do assunto e por que o pres­i­dente foi apon­tado como respon­sável pelos incên­dios na Amazô­nia?

Como sabe­mos a Amazô­nia brasileira vem sendo ocu­pada – e tam­bém não é de hoje, remonta há décadas –, por “grileiros”, que vão tomando as ter­ras públi­cas e, tam­bém, aque­las des­ti­nadas às reser­vas indí­ge­nas na “mão grande”, seja para explo­ração de garim­pos, madeira, cri­ação de gado, etc.

Todos os anos essa “turma” aproveita a estação seca e de ven­tos fortes para essas práti­cas crim­i­nosas e aos poucos e com a cumpli­ci­dade de autori­dades cor­rup­tas vão se assen­ho­rando de mil­hares de hectares.

Logo, não serve aos defen­sores do pres­i­dente, a des­culpa de que “nos gov­er­nos ante­ri­ores” os incên­dios eram maiores, ou “desde sem­pre que a flo­resta queima”, ou “os que são con­tra as queimadas têm inter­esses escu­sos na flo­resta”, e infini­tas des­cul­pas infames.

Os cidadãos de bem, inclu­sive os mil­hões que votaram no atual pres­i­dente, pre­cisam com­preen­der que a flo­resta não se recom­põe todos os anos ou que as queimadas ocor­rem em áreas já queimadas ante­ri­or­mente.

Não é nada disso, as queimadas vão se somando ao longo dos anos e as ter­ras públi­cas vão sendo “tomadas” por esper­tal­hões para explo­ração e venda das riquezas, que são de todos os brasileiros, em seus próprios proveito.

O pres­i­dente, e o gov­erno, erraram feio ao igno­rarem os dados do Insti­tuto Nacional de Pesquisas Espa­cial — INPE, e, pior, tentarem fazer um pros­elit­ismo político cretino, dando “caneladas” em todos que os aler­tavam para o que vinha ocor­rendo e para insanidade de suas colo­cações.

Pô, chegaram a ponto de ques­tionar as fotografias da NASA mostrando os focos de incên­dio.

As neg­a­ti­vas do pres­i­dente ao que estava acon­te­cendo soou como uma “autor­iza­ção” para os crim­i­nosos de sem­pre incen­di­arem a flo­resta e lucrarem com isso mais alguns mil­hões ou bil­hões.

Emb­ora incên­dios sejam comuns, sabe­mos, pelas razões acima expostas, que muitos são crim­i­nosos.

Os incendiários não são empresários do agronegó­cio. Estes sabem dos danos que podem sofrer no mer­cado inter­na­cional. Os incendiários são crim­i­nosos, espec­u­ladores, que pouco estão lig­ando para o país.

O pres­i­dente e o gov­erno deram uma “força” a essa gente.

Os erros do pres­i­dente – e do gov­erno –, troux­eram à tona uma outra dis­cussão, que emb­ora já insin­u­ada, nunca tinha sido exposta de “viva-​voz” por uma autori­dade: a sobera­nia nacional sobre a Amazô­nia.

O sen­hor Macron, pres­i­dente da França, talvez acos­sado pela grande rejeição interna; talvez reen­car­nando um sen­ti­mento colo­nial­ista; ou talvez, sim­ples­mente, inspi­rado maus modos do pres­i­dente brasileiro em falar asneiras, resolveu ques­tionar nos­sas fron­teiras.

Se serve de con­solo aos brasileiros, o sen­hor Macron se por­tou como o Bol­sonaro da França.

Como disse em relação ao pres­i­dente brasileiro, quando um pres­i­dente fala ele fala em nome do país que rep­re­senta.

Não cabia (e não cabe) a gov­erno nen­hum ques­tionar a inte­gral­i­dade das fron­teiras do nosso país. Ainda que diga que faz isso com as mel­hores das intenções.

Não faz parte da min­has lem­branças, em tem­pos recentes, quais­quer outra ofensa à sobera­nia nacional. Muito menos ainda, vinda da França, cujo der­radeiro mal-​estar diplomático que se tem notí­cias teria sido a suposta afir­mação do gen­eral De Gaulle de que “o Brasil não é um país sério”. Fora isso, nada mais.

As fron­teiras do Brasil, exceto pelo Acre que incorporou-​se ao ter­ritório no começo do século pas­sado, estão prestes a com­ple­tar duzen­tos anos de con­sol­i­dação. Repito, duzen­tos anos de fron­teiras con­sol­i­dadas. Antes, emb­ora essas áreas já inte­grassem o ter­ritório nacional, haviam divergên­cias com os out­ros países local­iza­dos ao norte em relação às fron­teiras de cada um.

A par­tir da Inde­pendên­cia do Brasil as fron­teiras foram con­sol­i­dadas graças aos her­cúleos esforços da diplo­ma­cia brasileira no Primeiro e Segundo Impérios, não restando, quanto a elas, quais­quer dúvi­das.

São duzen­tos anos de paz com nos­sos viz­in­hos, sem nen­hum deles ques­tio­nando nos­sas fron­teiras ou a sobera­nia do país sobre áreas do nosso ter­ritório.

Emb­ora ache legí­tima a pre­ocu­pação (desin­ter­es­sada) dos povos do mundo com a questão ambi­en­tal e a preser­vação das flo­restas, prin­ci­pal­mente a Amazô­nia, não faz qual­quer sen­tido a provo­cação do sen­hor Macron de ques­tionar a sobera­nia nacional sobre parte do ter­ritório brasileiro.

O sen­hor Macron, ainda que com as mel­hores das intenções – e o inferno está cheio de bem inten­ciona­dos –, pode­ria externar suas pre­ocu­pações (legí­ti­mas ou não), ofer­e­cer ajuda, sug­erir providên­cias por qual­quer outra forma, jamais ques­tio­nando a sobera­nia de um país com quase duzen­tos anos de inde­pendên­cia sobre uma parcela de seu ter­ritório.

Emb­ora nos dias atu­ais a diplo­ma­cia inter­na­cional tenha se tor­nado uma espé­cie de “vale-​tudo” de baixís­simo nível, o pres­i­dente da França cru­zou um lim­ite perigoso. Nem Don­ald Trump, tam­bém recon­hecido por sua imensa capaci­dade de pro­ferir tolices chegou a tanto: o máx­imo que fez foi sug­erir a intenção de “com­prar”, da Dina­marca, a Groen­lân­dia, sendo pronta­mente rechaçado por aquele reino que con­siderou a sug­estão como absurda.

Mas, como disse ante­ri­or­mente, a “crise amazônica”, desde os incên­dios flo­restais ou tres­lou­cado surto colo­nial­ista do pres­i­dente francês – como todas as out­ras crises ocor­ri­das no país desde o iní­cio do atual gov­erno –, têm origem na falta de travas na lín­gua do pres­i­dente brasileiro, que de tanto falar tolices, só pode ter “tomado água de chocalho”, como se dizia no meu inte­rior.

Ape­sar de mil­i­tar – e orgulhar-​se disso –, sua excelên­cia, parece nunca ter pas­sado perto dos ensi­na­men­tos de Sun Tzu, antigo gen­eral, estrate­gista e filó­sofo da Dinas­tia Zhou (543251 a.C.), para quem “um grande gen­eral não é arras­tado ao com­bate. Ao con­trário, sabe impô-​lo ao inimigo”. Ou dos ensi­na­men­tos de Sócrates (469399 a.C.), para quem “sob a direção de um forte gen­eral, não haverá jamais sol­da­dos fra­cos. Ou, ainda, do que dizia Públio Siro, por volta do ano 100 da Era comum: “o valor dos sol­da­dos depende da estraté­gia do general”.

Sua excelên­cia parece não saber nada disso e, dia sim e no outro tam­bém, em pre­juízo do seu gov­erno e da nação, provoca e deixa arrastar-​se para os “com­bates” mais desnecessários, demon­strando sua pro­funda inca­paci­dade de coman­dar o que quer que seja.

A seu favor, talvez só prevaleça o fato de, ape­sar de Coman­dante em chefe das Forças Armadas, nunca ter ido além de capitão, e assim mesmo através de pro­moção de dispensa.

Abdon Mar­inho é advogado.