AbdonMarinho - A CAPITANIA DO MARANHÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A CAP­I­TA­NIA DO MARANHÃO.

A CAP­I­TA­NIA DO MARANHÃO.

Por Abdon Marinho.

AVANÇADO século XXI a impressão que sobra é que o Maran­hão per­manece a mesma cap­i­ta­nia dos primeiros anos de sua existên­cia, com o estado à dis­posição – e para servir –, seus suser­a­nos.

O que digo não é nen­huma novi­dade. Até onde a lem­brança alcança, foi assim com Vitorino Freire; foi assim com Sar­ney.

O Suser­ano da vez é o comu­nista Flávio Dino, que quando assumiu, da sacada do Palá­cio dos Leões, prometeu-​nos a procla­mação da república – evento que, segundo ele, ainda não chegara ao Maran­hão, a despeito de ter ocor­rido para o resto do pais em 1889.

Já no quinto ano da promessa solene, o que con­sta­mos é que o Maran­hão é a mesma cap­i­ta­nia de sem­pre; um brin­quedo a serviço dos inter­esses dos gov­er­nantes – tal como o foi com Vitorino e com Sar­ney, ape­nas para ficar nos ante­ces­sores recentes de quem herda até o “ismo”, vitorin­ismo, sarneísmo, din­ismo.

Uma antiga car­i­catura, de um inspi­rado char­gista, quando da vitória de Roseana, em 1994, retratava o seu pai, ex-​presidente Sar­ney, entregando-​lhe o estado do Maran­hão (o desenho de um mapa) dizendo: –– toma filha, este é o seu brin­quedo.

Os cidadãos do Maran­hão sem­pre tive­mos como crítica aos gov­er­nos ante­ri­ores a uti­liza­ção do estado em bene­fí­cio de um grupo, tanto no campo político quanto no econômico.

O que a faz o atual donatário? Usa o estado, inclu­sive seus recur­sos em defesa de um pro­jeto pes­soal: o sonho de repe­tir Sar­ney e virar pres­i­dente da República – essa é a meta.

O roteiro é o mesmo de Vitorino Freire – apri­morado por Sar­ney e, agora, ampli­fi­cado e lev­ado ao exagero pelo sen­hor Dino –, para o público externo o verniz de democ­rata e defen­sor das liber­dades indi­vid­u­ais enquanto para o público interno a real­i­dade é bem outra.

Os exem­p­los do que falo estão aí, à vista de todos, falam por si.

Há alguns dias sua excelên­cia e o seu estafe – não ape­nas os inte­grantes do primeiro escalão, mas tam­bém os xerim­ba­bos do entorno –, vestiram-​se de defen­sores da liber­dade de imprensa na questão envol­vendo as pub­li­cações de con­ver­sas de autori­dades obti­das de forma crim­i­nosa, através de hack­ers, feitas pelo site The Inter­cept, sob a respon­s­abil­i­dade do jor­nal­ista norte-​americano Glenn Greenwald.

Achei curioso aquele povaréu todo nas redes soci­ais, nos pro­nun­ci­a­men­tos, defend­endo a liber­dade de imprensa, de expressão, o respeito à Con­sti­tu­ição.

Lem­bre que certa vez o ex-​presidente Lula “se zan­gou” e quase expulsa do país um jor­nal­ista, tam­bém, norte-​americano, Larry Rohter, então cor­re­spon­dente do New York Times, tudo porque este escrevera um artigo dizendo que o pres­i­dente bebia demais.

Por mais que puxe pela memória não con­sigo me recor­dar de nen­hum destes que hoje bradam pela liber­dade de imprensa, pelo o respeito à Con­sti­tu­ição, ter se lev­an­tado con­tra o autori­tarismo daquele gov­erno em favor do jor­nal­ista.

Ficaram mudos e muitos até defend­eram que o Brasil expul­sasse o jor­nal­ista. Não enx­er­garam qual­quer abuso nem mesmo diante das con­stantes ameaças de con­t­role social da mídia e do Con­selho Nacional de Comu­ni­cação.

Em relação ao episó­dio envol­vendo o jor­nal­ista Larry Rohter as ameaças de expul­são e proces­sos se deram por “suposto crime de opinião”. Nada mais que isso! Situ­ação bem diversa à do jor­nal­ista Glenn Green­wald, sob o qual pesa fun­dadas sus­peita de que possa ter algum envolvi­mento com o “hack­ea­mento” dos celu­lares e out­ros meios de comu­ni­cação de mil­hares de autori­dades brasileiras. Sem con­tar, ainda, a gravís­sima sus­peita de que teria “com­prado” o mandato do marido em troca deste tipo de tra­balho.

Mas isso é assunto para a Polí­cia Fed­eral, que cer­ta­mente dará as respostas necessárias.

Pois bem, é provável que digam que os fatos envol­vendo o jor­nal­ista Larry Rohter e o silên­cio obse­quioso dos agora defen­sores da liber­dade de imprensa e da Con­sti­tu­ição, estão “des­b­o­ta­dos” pelo tempo, mas o que dizer do que vem acon­te­cendo com a repressão à imprensa no nosso estado?

Nunca na história do Maran­hão se proces­sou tanto e tan­tos jor­nal­is­tas quanto desde a insta­lação do atual gov­erno em 2015. Os proces­sa­dos são muitos, as ações se con­tam às cen­te­nas.

Outro dia per­gun­tei a um jornalista/​blogueiro quan­tos proces­sos ele respon­dia ori­un­dos do atual gov­erno e ele respon­deu: — Abdon, somando todas, pas­sam de trinta proces­sos.

Não me recordo de ter lido da parte daquele jor­nal­ista nada que trans­borde do jor­nal­ismo inves­tiga­tivo ou da denún­cia moti­vada pelo inter­esse público.

E mesmo que tivesse alguma incor­reção fac­tual, o gov­erno – e os gov­ernistas –, pode­ria se valer do dire­ito de resposta garan­tido em lei.

Não querem isso. Não têm inter­esse em repor a ver­dade ou dar sua ver­são dos fatos.

O que, ver­dadeira­mente, inter­essa é asfix­iar finan­ceira­mente os jor­nal­is­tas, é obrigá-​los a gas­tar com advo­ga­dos e a perder tempo em audiên­cias.

Con­seguiram! O Maran­hão não tem mais uma imprensa vibrante, cora­josa, sem medo de gov­er­nos ou gov­er­nantes. Hoje, rara­mente, se encon­tra em algum jor­nal ou blogue, qual­quer crítica con­trária ao gov­erno local. Cri­aram o para­doxal jor­nal­ismo “à favor”.

Meu pai dizia que no Maran­hão “o que din­heiro ou ‘taca” não resolvesse era porque tinha sido pouca”.

Talvez seja assim que este­jam aniqui­lando a imprensa do Maran­hão.

Não temos notí­cia de qual­quer man­i­fes­tação de sol­i­dariedade, de apoio ou de defesa das liber­dades de imprensa, de expressão ou da Con­sti­tu­ição, da parte de ninguém.

Neste que­sito o atual gov­erno já chegou muito além do que imag­i­naram Sar­ney e Vitorino Freire.

Por um lado, com a força das ameaças, dos proces­sos e/​ou do din­heiro calam a crítica local, por outro, com muito din­heiro, tenta se con­struir fal­sos líderes nacionais.

Outro dia li, em algum veículo de comu­ni­cação que só uma empresa – que suposta­mente cuida da imagem de sua excelên­cia –, já rece­beu dos cofres públi­cos este ano perto de R$ 3 mil­hões de reais – e ainda esta­mos na metade do ano.

O tra­balho é uma nota aqui, uma entre­vista ali, uma capa de revista acolá – a cri­ação de um sen­ti­mento favorável à figura de um gov­er­nante que não apre­senta nada de novo em ter­mos de gestão pública.

Ape­nas para se ter uma ideia do absurdo, o orça­mento de um dos esta­dos mais pobres do país com comu­ni­cação é quase a metade do orça­mento do gov­erno fed­eral – para o mesmo setor –, para divul­gar seus feitos do (e no) Brasil inteiro.

A uti­liza­ção do estado em bene­fí­cio de pro­je­tos pes­soais não fica restrita ape­nas a isso, alcança diver­sas out­ras coisas, até mesmo, as mais bizarras e infan­tis.

Agora mesmo, tomamos con­hec­i­mento que o gov­er­nador “decre­tou” a admis­são na Ordem Tim­bi­ras, no grau de Grã-​Cruz, o sen­hor Felipe de Santa Cruz Oliveira Scalet­sky, Pres­i­dente do Con­selho Fed­eral da Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil.

Emb­ora não tenha encon­trado em nen­hum sítio ofi­cial o inteiro teor da Lei Del­e­gada nº. 160, de 1984, bem como, o Decreto nº. 10.346, de 1987, sabe-​se que a admis­são na Ordem Tim­bi­ras é a prin­ci­pal dis­tinção do estado, con­ferida “a per­son­al­i­dades que se dis­tin­guiram por rel­e­vantes serviços presta­dos ao Estado do Maran­hão, con­cor­rendo para o bem-​estar social e grandeza mate­r­ial e espir­i­tual do seu povo”.

Não sou eu que estou dizendo, isso con­sta da jus­ti­fica­tiva do decreto.

O que per­gunto é: alguém sabe de algo de rel­e­vante que o sen­hor Santa Cruz tenha feito ao Estado do Maran­hão a jus­ti­ficar a con­cessão da maior hon­raria do estado? Eu, sin­ce­ra­mente, não lembro.

O que se sabe é que o sen­hor Santa Cruz é con­tes­tado pelos próprios inte­grantes da classe dos advo­ga­dos por utilizar-​se do cargo em bene­fí­cio de suas próprias con­vicções políti­cas e partidárias.

O que se sabe é que ele, na defesa de suas con­vicções, não reluta em ofender seus próprios rep­re­sen­ta­dos, como o fez em data recente ao referir-​se a uma advo­gada como “puta” – sem desmere­cer o respeito que se deve ter a estas profis­sion­ais do sexo –, no claro propósito de ofender uma colega que lhe con­fron­tou.

Este é o cidadão que o gov­er­nador enten­deu que merece rece­ber, com pom­pas e cir­custân­cia – provavel­mente em uma solenidade custeada pelos cofres públi­cos –, a maior hon­raria do estado.

A menos que me mostrem algo de rel­e­vante que o sen­hor Santa Cruz tenha feito a jus­ti­ficar o rece­bi­mento tal hon­raria, entendo que o gov­er­nador a con­fere ape­nas para provar que pode uti­lizar o estado para sat­is­fazer seus capri­chos, suas bir­ras con­tra o pres­i­dente da República, ainda que para isso tenha que ofender todas as mul­heres e advo­gadas que se sen­ti­ram afe­tadas pelos destem­peros ver­bais do pres­i­dente da OAB.

Aí volta­mos à velha ale­go­ria de Roseana recebendo o Maran­hão como brin­quedo do pai. Agora é o sen­hor Dino – aquele que prom­e­teu as luzes do pro­gresso quando assumiu –,

que, como um menino bir­rento, está “brin­cando” com o estado.

Não deve ser sem razão que no mesmo dia em sua excelên­cia reabil­i­tou que o ex-​presidente Sar­ney como guardião da Con­sti­tu­ição do Brasil decre­tou a hom­e­nagem a Santa Cruz.

Abdon Mar­inho é advo­gado.