AbdonMarinho - A REFORMA DA PREVIDÊNCIA E O OCASO DA OPOSIÇÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A REFORMA DA PRE­V­IDÊN­CIA E O OCASO DA OPOSIÇÃO.

A REFORMA DA PRE­V­IDÊN­CIA E O OCASO DA OPOSIÇÃO.

Por Abdon Marinho.

DESDE SEM­PRE, quando con­verso com os meus sobrin­hos e ami­gos, digo-​lhes que as chances de ascen­são na vida se dá através de muito estudo e/​ou de muito tra­balho.

Digo-​lhes, ainda, que tanto o estudo quando o tra­balho não são as coisas mais aprazíveis para se fazer.

Qual­quer um pref­ere pas­sar as noites nas bal­adas com os ami­gos à passá-​la com cabeça mer­gul­hada em livros. Qual­quer um pref­ere dias de “resenha” no ócio ao tra­balho árduo.

Nesta linha de pen­sa­mento, digo-​lhes, ainda que o ideal seria viver­mos na Pasár­gada, de Manuel Ban­deira, onde todos fôsse­mos ami­gos do rei, não pré­cisásse­mos estu­dar muito, tra­bal­har menos ainda, podendo des­fru­tar de alcalóides à von­tade, andar em burro brabo, ter a mul­her que quisesse, na cama que escolhesse.

Mas a vida não é o poema de Ban­deira. A vida exige outra dinâmica: estu­dar, tra­bal­har e só então poder des­cansar recebendo graças a esses anos de esforços e sac­ri­fí­cios uma com­pen­sação que garanta a vida que resta um mín­imo de dig­nidade.

O que sep­ara o mundo civ­i­lizado da bar­bárie é a existên­cia de um sis­tema prev­i­den­ciário justo que supra as neces­si­dades de quem dele pre­cise, jus­ta­mente quando mais frágeis.

As neces­si­dades na vel­hice ou decor­rentes de enfer­mi­dades impõe que tal sis­tema seja o mais igual­itário possível.

O Brasil – como todos os países do mundo –, deve rotineira­mente pas­sar por refor­mas no seu sis­tema prev­i­den­ciário. Isso é algo comum e não dev­e­ria provo­car tanta celeuma.

O que garante a manutenção do sis­tema prev­i­den­ciário é a con­tribuição solidária dos tra­bal­hadores da ativa. A diminuição da pop­u­lação eco­nomi­ca­mente ativa e o aumento da expec­ta­tiva de vida da pop­u­lação exige que a pre­v­idên­cia passé por proces­sos de adap­tação visando o seu equi­líbrio.

Qual­quer pes­soa sen­sata sabe que estou dizendo o óbvio. Dos anos quarenta até hoje a expec­ta­tiva do brasileiro aumen­tou em média 30 (trinta) anos. Pas­sando de 45 anos para 75 anos.

Hoje não é inco­mum ver­mos brasileiros e brasileiras com mais oitenta, noventa e até cem anos.

Enquanto isso, a taxa de natal­i­dade que se aprox­i­mava 7 (sete) fil­hos por mul­her nos anos quarenta e cinquenta baixou para menos de 2(dois) fil­hos por mul­her atual­mente.

É dizer, enquanto temos (e ter­e­mos) uma parcela da pop­u­lação cada vez maior neces­si­tando da pre­v­idên­cia temos (e ter­e­mos) uma pop­u­lação eco­nomi­ca­mente ativa cada vez menor sus­ten­tando o sistema.

Neste con­texto, a reforma da pre­v­idên­cia que se dis­cute no momento – e as virão futu­ra­mente –, não podem ser dis­cu­ti­das sobre o prisma de serem “boas” ou “ruins”, elas serão sem­pre necessárias. E, todas elas, sem­pre impli­carão em sac­ri­fí­cios por parte da pop­u­lação eco­nomi­ca­mente ativa – e de toda a sociedade, de maneira geral.

E aqui retorno ao dito no iní­cio deste texto: o ideal seria que estudásse­mos, tra­bal­hásse­mos ape­nas no lim­ite do prazer, que fôsse­mos todos habi­tantes da Pasár­gada da obra de Ban­deira.

A reforma da pre­v­idên­cia, do mesmo modo, não dev­e­ria rep­re­sen­tar qual­quer sac­ri­fico adi­cional a ninguém, que todos pudessem se aposen­tar cedo e gan­hando muito.

Eu quero me aposen­tar cedo! Eu quero gan­har muito! Eu quero levar uma vida de ócio! Uma vida com opulên­cia e conforto!

Ocorre que – exceto em Pasár­gada –, no mundo real, diante dos números apre­sen­ta­dos não é assim. A pop­u­lação eco­nomi­ca­mente ativa terá que tra­bal­har mais e se aposen­tar com val­ores suportáveis por aque­les que terão de sus­ten­tar o sis­tema.

Dito isso, entendo que uma reforma prev­i­den­ciária “boa” é aquela que elim­ine o máx­imo pos­sível dos priv­ilé­gios das cor­po­rações.

A pre­v­idên­cia brasileira sem­pre foi um amon­toado de priv­ilé­gios. Os mais ricos, as car­reiras de Estado, os servi­dores públi­cos mel­hores remu­ner­a­dos – que pode­riam, per­feita­mente, pagarem por um sis­tema prev­i­den­ciário pri­vado –, sem­pre (e con­tin­uarão a sê-​los) rep­re­sen­taram um maior custo para o sis­tema em detri­mento ao con­junto dos tra­bal­hadores da ini­cia­tiva pri­vada.

A pro­posta apre­sen­tada pelo gov­erno, exceto por dois ou três itens: aposen­ta­do­ria rural, Bene­fí­cios de Prestação Con­tin­u­ada (BPC) e a questão das pen­sões, era bem mel­hor que o resul­tado final aprovado no primeiro turno pela Câmara dos Dep­uta­dos.

A oposição, o bloco par­la­men­tar con­hecido como cen­trão e até parte do gov­erno se uni­ram para garan­tir priv­ilé­gios e detur­param o sen­tido da reforma da pre­v­idên­cia.

Mais que qual­quer outro, merece relevo o papel da oposição neste episó­dio, porque ela, no afã de se con­tra­por ao gov­erno – ou por von­tade própria –, tornou-​se cor­re­spon­sável pela manutenção dos priv­ilé­gios de diver­sas cat­e­go­rias, criando, no futuro, uma casta de aposen­ta­dos difer­en­ci­a­dos dos demais brasileiros.

Noutras palavras, aquela der­rota que ten­taram impor ao gov­erno – unindo-​se a ele, que para­doxo –, rep­re­sen­tou a der­rota do Brasil.

Oposição, cen­trão e (parte) gov­erno, uniram-​se con­tra o restante da pop­u­lação, con­tra o Brasil. Não existe ver­dade difer­ente desta.

Numa democ­ra­cia que o valha a oposição dev­e­ria ter uma pro­posta justa que se con­tra­pusesse àquela do gov­erno – ou que a com­ple­tasse –, não tinha.

O máx­imo que con­seguiram, repito, foi der­ro­tar o Brasil.

Outra cav­alar estu­pidez, tam­bém fruto da intran­sigên­cia da oposição, rep­re­sen­tada pelos gov­er­nadores do Nordeste, foi a reti­rada dos esta­dos da reforma. Jus­ta­mente os esta­dos que mais neces­si­tam de uma reforma prev­i­den­ciária que equi­li­bre suas con­tas.

Ao invés de nego­cia­rem para se inserirem no pro­jeto nacional fiz­eram “beicinho”, bat­eram o “pez­inho” até ficarem de fora, se obri­g­ando a faz­erem suas próprias refor­mas ou tentarem, através do Senado, uma emenda sal­vadora. Tudo isso, para se colo­carem con­tra o gov­erno e não assumirem a defesa de uma medida impop­u­lar, mas que todos sabem, necessária.

Quanta irre­spon­s­abil­i­dade! Que­bram o país, que­bram seus esta­dos, dis­tribuem mis­éria a toda a pop­u­lação ape­nas para se colo­carem con­tra o governo.

O dep­utado fed­eral Júlio Del­gado (PSB-​MG), que votou con­tra a reforma da Pre­v­idên­cia seguindo a ori­en­tação do par­tido, resumiu bem o que acon­te­ceu: “Isso que fize­mos tem nome: é este­lion­ato”, disse o dep­utado a uma revista. “Nós entramos na nego­ci­ação, con­seguimos reti­rar quase tudo o que queríamos do texto orig­i­nal, mas, mesmo assim, na hora de votar, vota­mos con­tra.” Foi além: “Se é para fazer oposição por oposição, não dev­eríamos ter entrado em nego­ci­ação”, finalizou.

Fal­tou ao dep­utado só acres­cen­tar que além de con­seguir o que que­riam reti­rar da pro­posta do gov­erno foram além, unindo-​se ao gov­erno e ao que temos de mais atrasado na política nacional, para garan­tir priv­ilé­gios injus­ti­fi­ca­dos a algu­mas cor­po­rações. Ficaram con­tra a maio­ria da pop­u­lação para aten­der a inter­esses cor­po­ra­tivos.

O certo é que a oposição não con­seguirá aprovar nada de suas pau­tas, mais ainda tem grande poder de atra­pal­har o Brasil, basta sem­pre que quis­erem fusti­gar o gov­erno, se unirem àque­les que não per­dem a a chance se “san­grarem” a nação.

Abdon Mar­inho é advo­gado.