AbdonMarinho - AS ELEIÇÕES E A VIÚVA PORCINA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

AS ELEIÇÕES E A VIÚVA PORCINA.

AS ELEIÇÕES E A VIÚVA PORCINA.

Por Abdon Mar­inho.

DIZIA a um amigo que pre­tendia escr­ever sobre con­jun­tura política local quando ele fez uma observação/​recomendação bem inter­es­sante: —Mas apro­funda. Tem coisas que pare­cem ser mas não são.

Deci­dido a escr­ever porém “encu­cado” com as colo­cações deste amigo, lembrei-​me de “Roque San­teiro”, fol­hetim da Rede Globo, de auto­ria de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, exibido no horário das 20 horas entre os anos de 1985 e 1986.

Aquele fol­hetim teve por base uma peça do próprio Dias Gomes, apre­sen­tada nos anos sessenta e, depois, numa nov­ela, já com o nome “Roque San­teiro” que foi cen­surada pelo régime mil­i­tar em mea­dos dos anos setenta.

Com o fim do régime mil­i­tar e a rede­moc­ra­ti­za­ção do país a par­tir da eleição de Tan­credo Neves e José Sar­ney em janeiro de 1985 e a posse deste último em março – Tan­credo Neves adoe­ceu na véspera da posse e mor­reu no mês seguinte –, a cen­sura foi abol­ida e o fol­hetim, final­mente foi exibido.

Ainda menino, lem­bro que exis­tia toda uma expec­ta­tiva para assi­s­tir a nov­ela que fora cen­surada pelos “mil­i­cos”, as pes­soas não des­gru­davam da tele­visão no horário da nov­ela e no dia seguinte comen­tavam nas feiras, nos bares ou nas repar­tições o que ocor­rera no capí­tulo anterior.

A nov­ela, de fato, não decep­cio­nou, tanto que ainda hoje lem­bramos de seus per­son­agens mem­o­ráveis, como o Sin­hoz­inho Malta, o poderoso do pedaço, inter­pre­tado por Lima Duarte e seu famoso bor­dão: “tô certo ou tô errado?”, enquanto sacu­dia o braço com grossas pul­seiras de ouro; o prefeito de Asa Branca, seu Florindo, inter­pre­tado por Ary Fon­toura; o Zé das Medal­has, de Armando Bógus; o padre Hipól­ito, de Paulo Gracindo; o Roberto Math­ias, de Fábio Júnior e grande elenco.

A espinha dor­sal da his­to­ria gira em torno da suposta morte de Roque San­teiro, um faze­dor de San­tos, que suposta­mente teria mor­rido ao defender sua cidade, inter­pre­tado por José Wilker e sua falsa viúva chamada de viúva Porcina, magis­tral­mente inter­pre­tada por Regina Duarte. Como ficamos sabendo, Roque nunca mor­reu defend­endo a cidade, Porcina nunca fora casada com ele (na ver­dade era amante de Sin­hoz­inho Malta) e, por­tanto, nunca fora viúva.

À história a viúva Porcina pas­sou a des­ig­nar as “coisas que eram sem nunca terem sido”. Daí ter lem­brado de Roque San­teiro quando meu amigo disse que as coisas na política local pare­cem ser uma coisa quando na real­i­dade é outra.

Nada mais parece caber na definição de viúva Porcina do que a suposta can­di­datura à presidên­cia da República do gov­er­nador do Maran­hão, sen­hor Flávio Dino, do PCdoB.

Logo que assumiu o comando do estado pela segunda vez, sua excelên­cia declarou-​se pré-​candidato à presidên­cia.

Não só declarou como ten­tou a todo custo (e ainda tenta) polarizar com o pres­i­dente Jair Bolsonaro.

A cada coisa que diz o pres­i­dente, certa ou errada, lá está o gov­er­nador para desdizê-​lo, ainda que seja só para isso: ser do con­tra.

Não ape­nas o gov­er­nador mas todo o “estafe” gov­er­na­men­tal, este­jam em horário de expe­di­ente ou não, lá estão a fusti­garem o pres­i­dente. Se este disser que o céu é azul-​anil lá estarão o gov­er­nador e seus xerim­ba­bos a diz­erem que o céu é ver­melho como a ban­deira do par­tido.

Ape­sar de tamanha insistên­cia para se fazer notar, não colou.

Ninguém levou a sério essa can­di­datura de Flávio Dino à presidên­cia. Nem os supos­tos adver­sários, na figura do atual pres­i­dente – ou do seu min­istro Sér­gio Moro, outro alvo pref­er­en­cial dos comu­nistas locais –, nem, prin­ci­pal­mente, os ali­a­dos.

Ninguém no chamado campo da esquerda “deu bola” para a can­di­datura de Dino à presidên­cia, pelo con­trário, o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, que ainda detém o sta­tus de maior força política de oposição, já disse tex­tual­mente que o próx­imo can­didato do par­tido será o sen­hor Had­dad, der­ro­tado no último pleito; o Par­tido Democrático Tra­bal­hista — PDT, com Ciro Gomes – que não saiu-​se mal na última dis­puta –, con­tinua no pro­jeto de viabilizar-​se como alter­na­tiva ao pro­jeto petista, mas levando os votos deste campo.

A Dino resta o minús­culo PCdoB… e só.

Mesmo as out­ras siglas “nan­i­cas” con­tin­uarão como “viú­vas” de Lula ten­dendo a seguir uma futura can­di­datura petista.

O boato sobre uma pos­sível ida do gov­er­nador para PDT não deve pas­sar de boato (provavel­mente espal­hado pelos ali­a­dos do gov­er­nador) pois par­tido algum abriria mão de uma can­di­datura já con­sol­i­dada para aventurar-​se numa nova sem qual­quer motivo aparente.

Mesmo a pere­gri­nação à Curitiba para adu­lação de Lula dev­erá sur­tir algum efeito para a can­di­datura pres­i­den­cial de sua excelência.

E, emb­ora o gov­er­nador venha a público dizer que “estava brin­cando” ao lançar-​se can­didato à presidên­cia da república qua­tro anos antes da dis­puta, qual­quer um que analise mel­hor o quadro sabe que não estava. Ele ten­tou – e con­tinua ten­tando com inves­ti­men­tos ele­va­dos na mídia, local, nacional e inter­na­cional –, vender-​se como a alter­na­tiva da esquerda brasileira para 2022, acon­tece que, até aqui, a estraté­gia não tem dado certo e ninguém o tem lev­ado a sério, obrigando-​o a recuar e dizer que a can­di­datura era a “viúva Porcina” – a que era sem nunca ter sido.

Não fosse o “chega pra lá” dos com­pan­heiros de luta, o gov­er­nador teria facil­i­tado, em muito, aquela que é a sua prin­ci­pal difi­cul­dade: acal­mar os ali­a­dos “doid­in­hos” para ocu­parem a cadeira que hoje ocupa.

A ideia perseguida por sua excelên­cia é con­seguir êxito onde Sar­ney fra­cas­sou (a velha obsessão), qual seja, unir todos do grupo – já que a oposição inex­iste –, em torno de sua can­di­datura à presidên­cia.

A mesma estraté­gia de Sar­ney com o pro­jeto pres­i­den­cial de Roseana antes do escân­dalo da Lúnus, quando pre­tendeu união de todos (até da oposição) em torno do mesmo.

Difer­ente de Sar­ney é que na atual quadra e, con­forme con­fes­sado, com uma can­di­datura “viúva Porcina” – vejam que iro­nia –, o gov­er­nador que gan­hou a eleição no primeiro turno; que “empol­gado” lançou uma can­di­datura à presidên­cia da República; com a futura eleição sucessória cam­in­hando para ser deci­dida entre os ali­a­dos de hoje – a menos que surja até 2022 algum “out­side”, que até agora não vis­lum­bramos –, não terá voz ativa na própria sucessão.

Ora, já temos duas can­di­dat­uras postas: do atual vice-​governador e do senador Wev­er­ton Rocha (PDT) – e difer­ente do que fez o gov­er­nador –, estes dois, não escon­dem de ninguém que “não abrem nem para um trem car­regado de giletes”, como se dizia out­rora. O vice-​governador dis­putará no cargo, com os dois leões tra­bal­hando por ele, mas o segundo já conta com uma forte artic­u­lação política, somando-​se a isso o fato de ter colo­cado “as mãos” na FAMEM, ter con­struído um pequeno império de comu­ni­cação e ter se cap­i­tal­izado (e ainda está se cap­i­tal­izando) para disputa.

Pois bem, enquanto, pelo menos, dois “ali­a­dos” estiverem tra­vando a “briga de foices” pelo gov­erno estad­ual, sua excelên­cia, já vestido de ex estará “cor­rendo” atrás de votos para eleger-​se senador. E não pensem sem que será fácil.

Emb­ora sua excelên­cia tente se vender – nas esferas nacional e inter­na­cional –, como um grande líder – o Col­lor das “esquer­das”, cri­ado arti­fi­cial­mente as pela mídia nacional e transna­cional –, o certo é que seu gov­erno tem sido pífio, con­seguindo o inimag­inável: pio­rar os indi­cadores soci­ais her­da­dos da oli­gar­quia Sar­ney, aumen­tando o número de mis­eráveis do estado; a econo­mia do estado cresce como rabo de cav­alo: para baixo; os servi­dores públi­cos já não sabem até quando terão seus salários pagos em dia; os aposen­ta­dos assis­tem, incré­du­los, a que­bradeira do seu fundo de aposen­ta­do­ria e, tam­bém, temem pelo amanhã; a infraestru­tura estad­ual pare­cendo uma piada com as estradas se “dis­sol­vendo” nas primeiras chu­vas, e tan­tas out­ras mazelas.

Sobre as obras que se dis­solvem com as chu­vas já há quem diga que estes empre­it­eiros – que dom­i­nam as obras estad­u­ais –, não podem par­tic­i­par de algum evento em que este­jam del­e­ga­dos sérios, sob pena de serem pre­sos em flagrante.

Mas não é só, optou, sua excelên­cia, por seguir as ori­en­tações de Maquiavel, preferindo ser temido a amado, talvez por isso, dia sim e no outro tam­bém, a pauta da mídia local seja sobre perseguições a jor­nal­is­tas, com infini­tos proces­sos; aos adver­sários, aos ali­a­dos e até mesmo out­ros expoentes cidadãos, como desem­bar­gadores – e seus famil­iares –, juízes, etcetera, com uma “polí­cia política” investigando-​os, con­forme se tem notí­cias desde o começo do gov­erno.

São escân­da­los sérios para os quais, até agora, o gov­erno estad­ual não apre­sen­tou respostas sat­is­fatórias, tanto assim, que o Tri­bunal de Justiça, depois de um longo e tene­broso inverno – fala-​se destas espi­ona­gens desde muito tempo –, resolveu cobrar inves­ti­gações por parte da Procu­rado­ria Geral de Justiça; do Con­selho Nacional de Justiça e ao próprio Supremo Tri­bunal Fed­eral.

Com tudo isso, não é estranho que pesquisa recente aponte os maran­henses como os mais desmo­ti­va­dos dos brasileiros.

Tô certo ou tô errado”?

Abdon Mar­inho é advo­gado.