AbdonMarinho - INSTITUIÇÕES EM FRANGALHOS, SOCIEDADE OMISSA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

INSTI­TU­IÇÕES EM FRAN­GAL­HOS, SOCIEDADE OMISSA.

Por Abdon Marinho.

ANTIGA­MENTE (depois de deter­mi­nada idade podemos falar assim) imag­i­nava que o fra­casso social, os prob­le­mas, as desigual­dades eram dev­i­das à falta de infor­mação. Como as pes­soas não sabiam o estava acon­te­cendo, não tin­ham con­hec­i­mento das coisas, aceitavam tudo com nat­u­ral­i­dade.

Acred­i­tava que um dia, porém, com a infor­mação ao alcance de todos, as vel­has práti­cas seriam abol­i­das, as pes­soas não aceitariam mais os abu­sos dos “donos do poder” e se rebe­lar­iam exigindo ética, moral­i­dade, respeito aos dire­itos dos contribuintes.

Os fatos da atu­al­i­dade, a despeito do que pen­sava, provam que estava errado. Talvez tenha esque­cido (ou estar preso aos meus dese­jos) uma vari­ante: as pes­soas com tanta infor­mação pas­sariam a achar tudo banal, sem relevân­cia, aceitar, mesmo sabendo errado, tudo com nat­u­ral­i­dade.

A des­façatez venceu. Tudo pub­li­cado e ao alcance de todos, colo­ca­dos na prateleira do senso comum, tudo pas­sou a ter a mesma importân­cia, qual seja, nen­huma.

O resul­tado é que temos hoje as insti­tu­ições extrema­mente frag­ilizadas, diria que em fran­gal­hos, enquanto a sociedade não “está nem aí”. Tudo se tornou tão banal que a forma mais efi­ciente de se ocul­tar um fato é publicando-​o.

Na abor­dagem deste assunto não explo­rarei fatos rela­ciona­dos à esfera fed­eral ou de out­ros esta­dos, ape­nas o nosso.

Agora mesmo tomamos con­hec­i­mento que o gov­er­nador via­jou ao estrangeiro com o obje­tivo de vender-​se como estadista. O vice-​governador, por fatos que descon­hece­mos, afastou-​se para ceder o gov­erno estad­ual ao pres­i­dente da assem­bleia leg­isla­tiva.

Con­forme con­fes­sado na mídia gov­ernista trata-​se de “pres­ti­giar” o pres­i­dente do par­la­mento, uma estraté­gia política.

Essa é a mesma prática já viven­ci­ada no antigo gov­erno quando, nos últi­mos meses, por pouco a rapariga do copeiro do palá­cio não virou gov­er­nadora do Maran­hão.

Mas agora são “out­ros tem­pos”, esperava-​se out­ras práti­cas.

Emb­ora, em princí­pio, veja tal ati­tude como inócua, uma mera vaidade tola, esse tipo de ati­tude inter­essa a sociedade? Não se estaria usando o próprio estado em favorec­i­mento pes­soal?

Mas isso é o de menos.

Não faz muito tempo um del­e­gado de polí­cia que chegou a rece­ber con­dec­o­ração do gov­erno estad­ual (antes de ser preso e afas­tado), con­fes­sou, em depoi­mento à justiça, rece­ber instruções do próprio secretário de segu­rança para dire­cionar inves­ti­gações, espi­onar desem­bar­gadores e famil­iares e tan­tos out­ros fatos de gravi­dade ímpar.

A timidez da reação a fatos de tamanha gravi­dade, do Min­istério Público, Poder Judi­ciário, dep­uta­dos estad­u­ais, OAB, asso­ci­ações de classes, etc., foi algo espantoso.

Agora, a denún­cia ante­ri­or­mente igno­rada, é con­fir­mada pelo depoi­mento em carta de um outro del­e­gado, segundo noti­cia um blogue da cidade.

Nova­mente é como se nada estivesse acon­te­cendo.

Até mesmo o Min­istério Público, a quem com­pete “exercer o con­t­role externo da ativi­dade poli­cial”, con­forme esta­b­elece o artigo 129, da Con­sti­tu­ição Fed­eral, pelo que sabe­mos, não ado­tou nen­huma medida rela­cionada aos fatos gravís­si­mos divul­ga­dos ampla­mente.

No seu site ofi­cial, que pelo dever de transparên­cia, dev­e­ria infor­mar a pat­uleia, não encon­trei. Se existe é algo tão secreto que ninguém sabe.

O que é isso senão a frag­ili­dade man­i­festa daquela que “é insti­tu­ição per­ma­nente, essen­cial à função juris­di­cional do Estado, incumbindo-​lhe a defesa da ordem jurídica, do régime democrático e dos inter­esses soci­ais e indi­vid­u­ais indisponíveis”?

Mas o que vai dizer o MPMA quando não con­segue, ele próprio, escapar das suas con­tradições. Não faz muito tempo que desre­spei­tando as nor­mas que visam com­bater o nepo­tismo – que cobram dos demais –, o procurador-​geral nomeou a esposa do sobrinho para um cargo qual­quer daquela insti­tu­ição. Como se as regras valessem para os out­ros mas não para o Min­istério Público Estad­ual.

Como cobrar dos demais aquilo que eles não se dão ao tra­balho de cumprir? Pas­sam a sociedade a imagem do retrato puro e acabado do ditado pop­u­lar “casa de fer­reiro, espeto de pau”?

Essa “falta de moral” para cobrar recato aos demais e até mesmo para cumprir as atribuições que lhes são atribuí­das pelo orde­na­mento jurídico brasileiro, con­tribui para a ampli­ação do clima de bal­búr­dia que tomou de conta do estado.

Agora mesmo tomamos con­hec­i­mento de con­fli­tos exis­tentes den­tro da corte de con­tas – que dev­e­riam guardar espe­cial recato –, moti­va­dos por inter­esses pes­soais, políti­cos e/​ou par­tidários. Sabe-​se até que con­sel­heiros tratam pes­soal­mente de can­di­dat­uras à car­gos ele­tivos, suas e de seus famil­iares, pub­li­ca­mente e sem quais­quer con­strang­i­men­tos.

E ape­sar de tudo isso ser público não tomamos con­hec­i­mento de qual­quer ati­tude des­ti­nada a coibir esse tipo de coisa.

Ora, se os con­sel­heiros, um, dois ou mais, têm inter­esse político com qual isenção vai jul­gar as con­tas dos seus adver­sários, dos adver­sários dos par­entes ou dos aliados?

Será que ninguém con­segue enten­der que estar tudo fora de lugar?

Será que as ditas insti­tu­ições de con­t­role, essen­ci­ais ao fun­ciona­mento do Estado nada têm a dizer?

Há poucos dias, sem qual­quer prece­dente na história do país, a Assem­bleia Leg­isla­tiva do estado pro­moveu uma “eleição fora de época” – isso mesmo, como antiga­mente se pro­moviam os car­navais fora de época –, e fiz­eram isso com quase dois anos antes da data cor­reta.

O pres­i­dente e sua chapa gan­haram por una­n­im­i­dade, chapa única.

Até agora, e até onde sei, ninguém disse nada. Trataram o assunto com uma nat­u­ral­i­dade espan­tosa.

Como se fosse nor­mal, como se tal fato não sig­nifi­casse uma burla ao entendi­mento do leg­is­lador con­sti­tu­inte orig­inário que deter­mi­nou que os mandatos fos­sem de dois anos e sem recon­dução para os mes­mos cargos.

O Min­istério Público Estad­ual, a Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil, acharam tal acon­tec­i­mento a coisa mais nor­mal do mundo. Não duvido que os mem­bros destas insti­tu­ições ten­ham man­dado cumpri­men­tos efu­sivos a chapa única vito­riosa que desre­speitou a Con­sti­tu­ição. Não duvido. Talvez até ten­ham ido fes­te­jar e se con­frat­er­nizar pelo “feito”.

Ainda no rescaldo de tan­tas ver­gonhas e con­strang­i­men­tos, caso tivessem, foi a vez da Fed­er­ação dos Municí­pios Maran­henses — FAMEM, baixar uma “recomen­dação” ori­en­tando os municí­pios fil­i­a­dos (quase todos) a con­tratarem um deter­mi­nado escritório de advo­ca­cia para bus­car recu­per­ação e/​ou mel­ho­ria no Fundo de Par­tic­i­pação dos Municí­pios — FPM.

Mais uma vez o silên­cio total.

Não é de hoje que o MPMA faz exigên­cias absur­das aos municí­pios em relação a con­tratação de escritórios de advo­ca­cia, em muitos casos chegam a tratar os advo­ga­dos públi­cos como crim­i­nosos, inclu­sive, ofer­e­cendo denún­cias ou pro­movendo ações de impro­bidade con­tra os mes­mos por tra­bal­harem para municí­pios e, agora, diante de tal situ­ação, até onde se sabe, não disse nada.

Todos no Maran­hão, em Brasília e até mesmo em Maranguape, sabem o que se encon­tra por trás deste tipo de recomen­dação da FAMEM. Todos sabem que exis­tem diver­sos out­ros escritórios, inclu­sive no Maran­hão, capazes de pro­mover este tipo de ação. Todos sabem que as per­das exis­tentes no Fundo de Par­tic­i­pação dos Municí­pios já são recon­heci­das pelo gov­erno fed­eral que já estuda fór­mu­las de com­pen­sar e/​ou mel­ho­rar os repasses. Todos sabem os que querem e irão lucrar com isso.

Estran­hamente, mesmo quando os advo­ga­dos do Maran­hão são dura­mente atingi­dos por um tipo de recomen­dação – com esta da FAMEM –, a OAB, como em todos os demais casos relata­dos acima, se man­tém surda, cega e muda – pedindo, de já, des­cul­pas aos por­ta­dores de tais defi­ciên­cias.

Daqui a pouco, talvez, alguém passé a ques­tionar se vale a pena despender-​se tan­tos recur­sos públi­cos, que na ver­dade são dos con­tribuintes, para man­ter estas insti­tu­ições que em nada cor­re­spon­dem à sociedade, mas sim, fun­cionam a serviço da manutenção dos priv­ilé­gios de seus mem­bros.

Abdon Mar­inho é advo­gado.