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A POLÍ­CIA POLÍTICA E O SILÊN­CIO OBSEQUIOSO.

Escrito por Abdon Mar­inho

A POLÍ­CIA POLÍTICA E O SILÊN­CIO OBSEQUIOSO.

Por Abdon Marinho.

A POLÊMICA do momento no Brasil é a deter­mi­nação do pres­i­dente da República para que os quar­téis comem­o­rem a golpe mil­i­tar de 1964. Enti­dades e famil­iares das víti­mas do régime mil­i­tar entraram na justiça e o min­istério público fed­eral fez recomen­dações para que isso não ocorra.

A ditadura foi o mais triste período da história recente do país, encer­rado ofi­cial­mente em março de 1985, com eleição de Tan­credo Neves, pelo Colé­gio Eleitoral e, defin­i­ti­va­mente sepul­tado, com a pro­mul­gação da Carta Con­sti­tu­cional de 1988, opor­tu­nidade em que o pres­i­dente da Assem­bleia Nacional Con­sti­tu­inte, Ulysses Guimarães, externou, em nome do povo brasileiro, a repulsa aos regimes de exceções.

Pas­sa­dos tan­tos anos, no Maran­hão, exper­i­men­ta­mos um clima de retro­cesso democrático que jamais imag­iná­va­mos que fosse ocor­rer.

Pior que isso, sem que as insti­tu­ições e as autori­dades se dêem conta da gravi­dade dos fatos.

Há dias cir­cu­lam nos veícu­los de comu­ni­cação notí­cias de que um del­e­gado de polí­cia – registre-​se, apan­hando em “malfeitos” diver­sos –, declarou, em juízo, ter sido ori­en­tado pelo secretário de segu­rança para inves­ti­gar qua­tro desem­bar­gadores do estado.

Poder-​se-​ia dizer – e a acred­ito que as autori­dades usarão tal argu­mento –, que se trata de alguém que, apan­hado nos seus próprios deli­tos, como vin­gança e para enlamear e enfraque­cer as inves­ti­gações, tenta desviar o foco para out­ros assun­tos. Pode ser.

O argu­mento, entre­tanto, falece de sus­ten­tação quando lem­bramos não ser a primeira vez que noti­cias deste tipo cir­cu­lam.

Ano pas­sado tive­mos notí­cias de um expe­di­ente encam­in­hado a mil­itares lota­dos no inte­rior, alertando-​os a faz­erem lev­an­ta­men­tos sobre lid­er­anças políti­cas para “fins eleitorais”.

Naquela opor­tu­nidade o gov­erno disse tratar-​se de um equiv­oco, que jamais coon­es­taria com tais práti­cas, prom­e­teu inves­ti­gação, proces­sos, etc. Até hoje, pelo menos eu, não tomei con­hec­i­mento de qual­quer punição aos envolvi­dos e se de fato isso ocor­reu.

Além deste fato, sem­pre foi voz cor­rente nos meios políti­cos, notí­cias sobre supos­tos “lev­an­ta­men­tos”, bis­bil­ho­tices sobre os cidadãos maran­henses, políti­cos, empresários, lid­er­anças, jor­nal­is­tas e qual­quer um que rep­re­sente alguma importân­cia para os atu­ais donatários do poder.

Ainda na leg­is­latura pas­sada, uma par­la­men­tar chegou a me con­fi­den­ciar que deter­mi­nada pes­soa que já havia lhe declar­ado apoio, foi chamada “em palá­cio”, onde usaram argu­men­tos “fortes” para obrigá-​la a repen­sar a decisão – o que, de fato, acon­te­ceu.

A imprensa já noti­ciou diver­sas vezes a avalanche de proces­sos que sofr­eram, ou estão sofrendo, jor­nal­is­tas no estado, por criti­carem o gov­erno, inclu­sive, na esfera criminal.

Assim, a con­fis­são de alguém que até bem pouco tempo ocu­pava cargo de tanto relevo na estru­tura estad­ual, chegando a ser con­dec­o­rado “por bons serviços” pelo atual gov­erno – ainda que se façam ressal­vas –, não pode ser igno­rada.

Caso ver­dade, todas essas práti­cas são incom­patíveis com a democ­ra­cia e a liber­dade dos cidadãos.

A manutenção de uma “polí­cia política” é uma prática crim­i­nosa a afrontar o Estado Democrático de Dire­ito.

Diante de tudo isso, causa-​me estu­pe­fação que mesmo diante da infor­mação de que desem­bar­gadores (e sabe-​se lá mais quem) foram, ile­gal e crim­i­nosa­mente, inves­ti­ga­dos pela “poli­cia polit­ica do estado”, tal fato não tenha, até agora, des­per­tado indig­nação das autori­dades e dos setores orga­ni­za­dos da sociedade.

Não sei se estou ficando louco, mas acred­ito que não é todo dia que se divulga infor­mações dando conta que desem­bar­gares estão sofrendo inves­ti­gação clan­des­tina com o propósito de intimida-​los ou “prendê-​los”.

Ape­sar da gravi­dade da infor­mação, estam­pada em blogues e jor­nais, do depoi­mento do del­e­gado, em vídeo, rela­tando tais fatos, o sitio do gov­erno estad­ual – e mesmo da Sec­re­taria de Segu­rança –, não con­sta uma nota de esclarec­i­mento, um des­men­tido.

Agem como se nada estivesse ocor­rendo. Com­preen­sível. Devem pen­sar: se não falar­mos sobre o assunto, ele não existe. Trata-​se, por óbvio, de uma lóg­ica “torta”, mas com­preen­sível.

Incom­preen­sível é o Tri­bunal de Justiça, até agora, repito, não ter feito uma man­i­fes­tação, cobrado um esclarec­i­mento do gov­erno estad­ual, emi­tido um protesto, solic­i­tado uma providên­cia aos tri­bunais supe­ri­ores diante da gravi­dade da noti­cia.

No sitio do tri­bunal, não con­sta sequer uma nota de sol­i­dariedade aos desem­bar­gadores suposta­mente inves­ti­ga­dos.

O tri­bunal pode­ria dizer que a palavra do del­e­gado – que foi apan­hado em “malfeitos” –, não merece qual­quer crédito. Ou, que aceitam a “não resposta” do gov­erno estad­ual como argu­men­tação sufi­ciente de sua inocên­cia à imputação feita.

O silên­cio diante da infor­mação de um crime cometido con­tra o tri­bunal passa à sociedade a impressão que ninguém no estado está seguro.

Se têm a ousa­dia de inves­ti­garem de forma clan­des­tina e ile­gal os desem­bar­gadores do estado, o que será de nós, pobres mortais?

Se o silên­cio do Tri­bunal de Justiça diante de tão graves notí­cias – envol­vendo seus próprios mem­bros –, já causa pre­ocu­pação, o que dizer do mutismo do Min­istério Público Estad­ual do mesmo fato?

O Min­istério Público, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição Fed­eral, artigo 127, “é insti­tu­ição per­ma­nente, essen­cial à função juris­di­cional do Estado, incumbindo-​lhe a defesa da ordem jurídica, do régime democrático e dos inter­esses soci­ais e indi­vid­u­ais indisponíveis”.

Além disso, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição, cumpre-​lhe “exercer o con­t­role externo da ativi­dade poli­cial”.

Ape­nas uma leitura de tais dis­posições já é o sufi­ciente para saber que o MPE tem o dever de bus­car a ver­dade, apu­rar tais fatos, cobrar expli­cações e esclare­cer a sociedade se os mes­mos são ver­dadeiros ou não, bem como, perseguir a respon­s­abi­liza­ção dos cul­pa­dos, se exi­s­tirem.

Em todo caso, não pode se omi­tir, não pode deixar de prestar con­tas à sociedade.

Ape­sar disso, com os vídeos cir­cu­lando nos blogues, notí­cias em jor­nais, rela­tando fatos tão graves – e out­ras mais graves ainda, como manip­u­lação de inves­ti­gações crim­i­nais –, até agora, pelo menos no sitio do Min­istério Público Estad­ual, não con­sta qual­quer infor­mação sobre as providên­cias que estão sendo ou que serão ado­tadas em relação aos mes­mos.

O MPMA vai aceitar o silên­cio das autori­dades do gov­erno estad­ual como expli­cação sufi­ciente? Ou será que, per­di­dos em suas quere­las inter­nas, ninguém se deu ao tra­balho de ver­i­ficar as noti­cias que cir­cu­lam nos meios de comunicação?

Outra insti­tu­ição que, tam­bém, guarda obse­quioso silên­cio é a Assem­bleia Leg­isla­tiva, nen­hum dos dep­uta­dos fez um protesto for­mal ou cobrou uma providên­cia – pelo menos não con­sta no seu sitio na inter­net –, nem a ala gov­ernista (ainda para defender o gov­erno, óbvio) ou da oposição, em sen­tido con­trário. Mas isso era de se esperar.

Não faz muito tempo, um dos seus inte­grantes, detido após abuso de bebida alcoólica e out­ras sub­stân­cias, e por agressão a um can­tor e ameaças a poli­ci­ais, em um estado viz­inho, tendo declar­ado naquela opor­tu­nidade, den­tre out­ras coisas: “a gente mata gente”, até a pre­sente data, nen­huma das excelên­cias com assento na Casa de Manuel Bequimão, disse qual­quer coisa sobre o assunto ou tomou alguma iniciativa.

Aliás, o mesmo com­por­ta­mento das demais insti­tu­ições, inclu­sive do Min­istério Público, a quem reputo, teria a respon­s­abil­i­dade de apu­rar se de fato o dep­utado e seus famil­iares, como ele próprio declarou “mata gente”, “manda matar gente”.

A impressão que fica é que existe um vazio insti­tu­cional no estado, com as autori­dades – pelo menos do ponto de vista de se pro­nun­cia­rem pub­li­ca­mente –, se omitindo diante de fatos graves; fatos gravís­si­mos, frise-​se.

São fatos que, diante do vazio e/​ou omis­são das insti­tu­ições, recla­mariam uma inter­venção fed­eral no estado.

Um dia o dep­utado diz que ele e a família “matam gente”; outro dia, um del­e­gado informa à justiça que inquéri­tos foram manip­u­la­dos aten­dendo a esse ou aquele inter­esse (escuso); outra vez, que até desem­bar­gadores foram ou estão sendo inves­ti­ga­dos de forma ile­gal e clan­des­tina pelo gov­erno estad­ual, etcetera.

Quem mais estaria sendo? Juizes? Advo­ga­dos? Jor­nal­is­tas? Cidadãos comuns? Lid­er­anças políti­cas? Quais out­ros inquéri­tos estariam sendo manipulados?

Nen­huma autori­dade tem nada a dizer sobre tais fatos? Esta­mos vivendo uma democ­ra­cia ou o prenún­cio de uma ditadura?

Vejam, isso tudo pode ser men­tira, mas as autori­dades devem esclarec­i­men­tos sobre estes fatos. A sociedade não pode viver na inse­gu­rança de ser ou de já está sendo a vitima da vez.

É mín­imo que nos deve!

Diante da deter­mi­nação (ao meu sen­tir, absurda) do pres­i­dente da República, para fes­te­jarem nos quar­téis o 31 de março, cel­e­brando a rup­tura da democ­ra­cia e a inau­gu­ração do régime de exceção, assisto aos jus­tos protestos de parte da sociedade, de algu­mas enti­dades e instituições.

Diante de fatos tão graves que estariam acon­te­cendo no pre­sente, em nosso estado, assisto ao impávido silên­cio de todos.

Os mes­mos que protes­tam pela “hom­e­nagem” aos fatos do pas­sado são os mes­mos que silen­ciam diante dos graves fatos do pre­sente e que ameaçam o futuro de nossa gente.

Abdon Mar­inho é advogado.

A ILHA PROIBIDA.

Escrito por Abdon Mar­inho

A ILHA PROIBIDA.

Por Abdon Marinho.

MADRU­GADA de domingo, um tro­vão mais intenso acordou-​me. Eram três e quinze. A par­tir daí pas­sei a acom­pan­har a chuva per­sis­tente que caia sobre a Ilha de São Luís. A chuva não ces­sava. Acos­tu­mado com as con­se­quên­cias, sai à varanda enquanto pen­sava nos transtornos que o agua­ceiro estaria provo­cando nos vários pon­tos que con­hece­mos bem.

Quando dia clareou, antes mesmo de rece­ber as notí­cias, des­mar­quei com dois ami­gos que ficaram de vir ao sítio olhar umas coisas. Sabia que as estradas não dariam passagem.

Logo após o café da manhã, pelas redes soci­ais, come­cei a rece­ber as ima­gens do caos que tomara conta dos municí­pios da região met­ro­pol­i­tana. Estrada de Riba­mar, inter­di­tada em vários, pon­tos, Estrada da Maioba, a mesma coisa, Estrada da Mata Fechada, MA 204, tomada por um mar de água na região do Beira-​Rio, tam­bém sem per­mi­tir pas­sagem.

No cen­tro da cap­i­tal um pré­dio histórico ruiu, em diver­sos pon­tos da cidade a água tomou conta de casas, inva­diu pon­tos com­er­ci­ais, esta­ciona­men­tos, nas áreas de risco, casas ruíram e famílias foram desa­lo­jadas, etc.

A Ilha de São Luís tornou-​se uma espé­cie de “ilha proibida”, com a pop­u­lação impe­dida de se loco­mover, vis­i­tar algum par­ente, fazer os pas­seios domini­cais, ir à igreja ou mesmo aos almoços de família.

Em situ­ação bem pior, aque­les que pas­saram o domingo, limpando suas casas ou empre­sas e con­tabi­lizando os pre­juí­zos, os móveis, os veícu­los e, até mesmo, os lares per­di­dos.

Decerto que as autori­dades não podem ser respon­s­abi­lizadas pelo vol­ume de chu­vas que caiu sobre a Ilha (e mesmo o estado) nos últi­mos dias, segundo dizem, em ape­nas 24 horas, choveu a metade da média histórica pre­vista para todo o mês de março.

Mas, tão pouco, é cor­reto deb­itar todo o caos ocor­rido na conta de São Pedro.

As chu­vas foram inten­sas, é ver­dade, mas tam­bém é ver­dade que os pon­tos prin­ci­pais de alaga­mento e de transtornos são os mes­mos de sem­pre.

Desta vez, encheram mais, provo­caram mais danos, mas são os mes­mos que con­hece­mos de cor: a Estrada de Riba­mar, nas prox­im­i­dades do Rio Paciên­cia – que no primeiro ano de man­dado, em 2015, o gov­er­nador, em pes­soa, durante um alaga­mento foi lá prom­e­ter que solu­cionaria o prob­lema e qua­tro anos depois con­tinua, prati­ca­mente, a mesma coisa –, nas ime­di­ações do Pátio Norte, cujo o alaga­mento piorou após a sua implan­tação; na entrada do Maiobão/​Lima Verde; depois do Maiobão, no Tam­baú; na ponte sobre o Rio São João; nas prox­im­i­dades do Wang Park, no acesso a sede de Paço do Lumiar; na MA 204, no Beira-​Rio; na Avenida Gua­ja­jaras; no Anil; no Mer­cado Cen­tral; no Renascença próx­imo ao Curso Welling­ton.

Estes são os pon­tos prin­ci­pais de alaga­men­tos respon­sáveis pelo “trava­mento” da ilha em dias de chuva.

São prob­le­mas con­heci­dos de todos e que, pela sua con­stante repetição, poder-​se-​ia usar as fotos do pas­sado como se fos­sem do último alaga­mento.

Um amigo que morava nas ime­di­ações da Lagoa da Jansen teve que aban­donar seu imóvel após se cansar e se angus­tiar com as repeti­das inun­dações da sua casa todos os anos. Isso após reit­er­a­dos pedi­dos de socorro as autori­dades estad­u­ais e munic­i­pais, de reit­er­adas matérias jor­nalís­ti­cas exter­nando o prob­lema.

Cansou-​se depois que viu, depois de tan­tos ape­los, as autori­dades preferirem inve­stir uma pequena for­tuna na con­strução de praças no local ao invés de fazer a drenagem e resolver o prob­lema dos moradores.

Foi se endi­vi­dar com­prando outro imóvel para viver com a família, longe do alaga­mento certo como o movi­mento das marés.

Exceto pelo vol­ume de chu­vas, as autori­dades maran­henses – da ilha, prin­ci­pal­mente –, não estão diante de uma novi­dade, não podem ale­gar sur­presa, diz­erem que estão sur­preen­di­dos com o que acon­te­ceu e anun­ciar com pompa “medi­das emer­gen­ci­ais”.

O gov­er­nador está no quinto ano con­sec­u­tivo de mandato e foi teste­munha ocu­lar deste tipo de situ­ação desde o primeiro inverno que pas­sou no cargo, sendo aler­tado todos os anos por fatos idên­ti­cos.

O prefeito da cap­i­tal com seis anos no cargo, tam­bém não pode dizer que não sabia que isso pode­ria acon­te­cer.

Os demais prefeitos, do mesmo modo – talvez a exceção da prefeita do Municí­pio da Raposa, que não tem muita exper­iên­cia admin­is­tra­tiva, até pela pouca idade –, não podem, ale­gar que descon­hecem os prob­le­mas que agora mar­t­i­riza os munícipes, lhes causam pre­juí­zos e desassossego.

Vou além, antes os prefeitos e mesmo os gov­er­nadores, tin­ham como des­cul­pas o fato de serem de par­tidos adver­sários, inimi­gos políti­cos.

Hoje não, são todos ali­a­dos do gov­er­nador desde cri­anc­in­has.

Dizem, que se o gov­er­nador pedir a algum deles que fique sem res­pi­rar 5 min­u­tos, o indig­i­tado morre, mas não con­traria o “chefe”.

A afinidade é tamanha que fazendo troça à situ­ação de vas­salagem, outro dia um amigo contou-​me que deter­mi­nado prefeito chegou para o gov­er­nador:

— Chefe, chefe, sabe as duas pes­soas que mais gosto na vida?

O gov­er­nador pen­sou que ele fosse dizer a esposa, o filho, a amante, etc., mas per­gun­tou:

— Quem, fulano?

Ao que o cidadão respon­deu:

— A primeira é o sen­hor.

— E a segunda? Insis­tiu o gov­er­nante.

— A segunda é quem o sen­hor man­dar. Respondeu-​lhe o alcaide.

Claro que isto é uma ale­go­ria desde meu amigo, mas serve para retratar muito bem, o nível de relação entre as autori­dades da região met­ro­pol­i­tana e o governador.

Assim, parece-​nos injus­ti­ficável, que todos eles sabendo dos prob­le­mas oca­sion­a­dos aos munícipes no período das chu­vas não ten­ham travado um “diál­ogo” – para usar o termo que virou moda –, visando resolver os prob­le­mas decor­rentes das chu­vas.

Não sabiam que os rios, que insis­tem em cor­tar a Ilha pre­cisam ser limpos? recu­per­a­dos? Pas­sarem por um processo que lhes per­mi­tam rece­ber um vol­ume maior de água, uma vez que estão assore­a­dos?

Quan­tas vezes, os cidadãos, não aler­ta­mos as autori­dades para as con­struções irreg­u­lares, den­tro das faixas de domínio das rodovias e às mar­gens dos rios e igara­pés? Eu perdi as con­tas.

Quan­tas vezes não aler­ta­mos que sem drenagem pro­funda não se resolve­ria o prob­lema do excesso de água sobre as pis­tas nos dias de chuva?

Quan­tas vezes não foram aler­ta­dos para a situ­ação caótica dos pré­dios do Cen­tro Histórico da capital?

Pois é, ninguém nunca ouviu, ou, se ouvi­ram, fiz­eram pouco caso, acharam que era coisa de quem era “do con­tra”, quando na ver­dade o que se que­ria era con­tribuir com a cidade.

Outro dia veio abaixo o teto do giná­sio Castelinho.

Recordei que antes mesmo da posse dos atu­ais donatários do poder, recomende-​lhes que a Sec­re­taria de Esportes ficasse com o encargo de cuidar ape­nas daquele do Com­plexo Castelão, pas­sando todos os demais giná­sios que estivesse próx­imo de alguma escola para a respon­s­abil­i­dade da Sec­re­taria de Edu­cação – que pos­sui muito mais recur­sos e ver­bas para esta final­i­dade –, fiz­eram ouvi­dos moucos.

O teto do Castelinho caiu e colo­caram a culpa em São Pedro, emb­ora aquele giná­sio esteja encravado num bairro pop­u­lar e não se tenha notí­cia que out­ras residên­cias do bairro ten­ham ruído.

Como se Éolo – o deus dos ven­tos –, tivesse lançado sua fúria somente sobre a praça esportiva, talvez zan­gado com os maus resul­ta­dos.

Como ser­tanejo aprendi que a chuva não é um prob­lema, é ela que traz far­tura, alivia a nossa sede, coloca o ali­mento na nossa mesa.

Tanto assim, que quando avis­ta­mos nuvens negras no hor­i­zonte não digo que o dia está feio e sim, que está bonito para chover.

Não temo, nunca temi a chu­vas, o que me apa­vora, mesmo, são gestores imprev­i­dentes. Aque­les que inca­pazes de apren­derem algo com a história, ten­tam cor­rer com medi­das emer­gen­ci­ais para mino­rar os prob­le­mas que não exi­s­tiriam se tivessem agido no tempo certo.

Com medo de qual­quer con­tratempo e não chegar em casa, hoje sai do escritório bem mais cedo, a tempo de atrav­es­sar as áreas de risco na baixa-​mar.

A Ilha do Maran­hão evoluiu tanto que volta­mos a nos loco­mover de acordo com a tábua da maré.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

O FRA­CASSO REPUBLICANO.

Escrito por Abdon Mar­inho

O FRA­CASSO REPUB­LI­CANO.

Por Abdon Marinho.

A SEM­ANA ter­mi­nou com dois ex-​presidentes da República como hós­pedes invol­un­tários do Estado. Na nada edi­f­i­cante condição de pre­sos.

O primeiro, o ex-​presidente Lula, há quase um ano encar­cer­ado, cumprindo penas que, somadas, já passa de um quarto de século – em ape­nas dois dos proces­sos que responde, parece que e se aprox­ima de uma dezena.

O segundo, o ex-​presidente Temer, preso pre­ven­ti­va­mente, sob a acusação de coman­dar uma quadrilha que há mais de quarenta anos dilap­ida o erário.

Em que pese exi­s­tirem dis­cussões sobre a legal­i­dade da prisão pre­ven­tiva (tendo em vista o réu pos­suir residên­cia fixa, emprego definido, até onde se sabe não está cau­sando embaraços as inves­ti­gações), poucos, quase nen­hum, dos que sus­ten­tam isso, ousam “colo­car as mãos no fogo” na defesa da inocên­cia do ex-​presidente.

Noutras palavras: mesmo os que acham que houve excesso na dec­re­tação da prisão de Temer e parte de seus “ali­a­dos”, são con­hece­dores das “estrip­u­lias” do mesmo desde mea­dos dos anos oitenta.

Emb­ora não seja inédito dois ex-​presidentes virarem hós­pedes do Estado – out­ras nações tam­bém já pas­saram por tal con­strang­i­mento –, tal fato não deixa de nos enver­gonhar.

Caso a Justiça não abuse do dire­ito de ser lenta, tal con­strang­i­mento poderá aumen­tar.

Além dos dois ex-​presidentes, que, por pura coin­cidên­cia, foram diri­gentes e eminên­cias par­das dos maiores par­tidos da nação nos últi­mos vinte anos (Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT e Movi­mento Democrático Brasileiro – MDB), segundo lev­an­ta­men­tos feitos, ape­nas os ex-​presidentes Fer­nando Hen­rique Car­doso (PSDB) e Ita­mar Franco (já fale­cido) não fig­u­ram como partícipes dos escân­da­los que estão vindo à tona.

Tanto assim que um dos “memes” que cir­cu­laram nas redes soci­ais logo após a prisão de Temer, con­tinha as ima­gens dele, do ex-​presidente Lula, com a leg­enda “preso”, e a imagem da ex-​presidente Dilma Rouss­eff, com a leg­enda “car­regando”. Uma insin­u­ação de que será a próx­ima.

Em ape­nas 34 anos – da posse de Sar­ney, em 15 de março de 1985, inau­gu­rando o que se chamou de a Nova República para cá, em oposição à ditadura mil­i­tar que dirigiu o país nos vinte anos ante­ri­ores –, temos uma sucessão de escân­da­los a não fazer a nen­huma republi­queta de bananas.

Mesmo os dois ex-​presidentes que não fig­u­ram na atual “safra” de escân­da­los, não pas­sam imunes a um exame mais min­u­cioso de suas gestões. Não estão nesta safra, mas têm seus próprios esquele­tos nos armários. E todos sabe­mos, ou tomamos con­hec­i­mento disso, nas épocas próprias e nos momen­tos pos­te­ri­ores.

Vive­mos sob a égide de um mantra: o escân­dalo de hoje é maior que o de ontem e menor que o de amanhã.

Nada rep­re­senta mel­hor ou é mais sig­ni­fica­tivo sobre tal assertiva do que o acon­te­cido no Estado do Rio de Janeiro, estado da ex-​capital fed­eral, onde o crime, a cor­rupção desen­f­reada, “seque­strou” o poder público e faliu o estado, a ponto de ano pas­sado exper­i­men­tar uma inter­venção fed­eral, fato que não tín­hamos notí­cia em tem­pos recentes.

E, para com­ple­tar, na mesma sem­ana em que um segundo ex-​presidente da República virou hós­pede do Estado, no Rio de Janeiro, todos os ex-​governadores, eleitos, ainda vivos, tiveram a exper­iên­cia de ver o sol nascer quadrado.

Coroando tudo isso, foi reg­istrado que pela primeira vez na história, o livro de posse dos par­la­mentares estad­u­ais deixou a sede do Par­la­mento Estad­ual e foi ao Com­plexo Pen­i­ten­ciário de Bangu. Motivo: empos­sar cinco par­la­mentares que, eleitos, não pud­eram assumir no dia cor­reto por estarem pre­sos por crimes diver­sos.

Cheg­amos à situ­ação em que as pes­soas – mesmo as cul­tas (ou que se dizem), artis­tas, int­elec­tu­ais –, pregam e defen­dem que a política não pode ser feita sem cor­rupção, sem o desvio de recur­sos públi­cos, sem o enriquec­i­mento pes­soal, sem o com­padrio, sem o jogo de inter­esses pessoais.

Firme nesta con­cepção que estes defen­dem, com “unhas e dentes”, que políti­cos sabida­mente cor­rup­tos, sejam jul­ga­dos “pelo povo”, como se fazia nos primór­dios da civ­i­liza­ção.

Acham – e talvez ten­ham razão, pois nunca viveram nada difer­ente –, que a política é uma coisa nec­es­sari­a­mente “suja” e que é necessário meter a mão na m***, como disse certa fez um destes artis­tas int­elec­tu­ais, para se atin­gir deter­mi­na­dos obje­tivos, como sal­var o “povo”. Acham legí­timo que para “sal­var o povo” espoliem a nação.

Por conta disso vejo diari­a­mente as pes­soas de bem “fugirem” da política, se fecharem em suas próprias vidas, cuidarem dos próprios inter­esses, enquanto os maus inten­ciona­dos se ocu­pam dos inter­esses dos esta­dos e pas­sam a admin­is­tração das coisas públi­cas.

Tam­bém, por isso, assis­ti­mos as posições públi­cas serem ocu­padas, suces­si­va­mente, por pes­soas que nunca “fiz­eram por mere­cer”, que nunca “enfi­aram um prego numa barra de sabão”, eleitos por ser fil­hos, esposas, amantes, “pro­te­gi­dos” de out­ros tam­bém sem quais­quer qual­i­fi­cações que chegaram antes.

Acred­ito pas­sar da hora de uma autocrítica sobre as insti­tu­ições nacionais, sobre o que vem acon­te­cendo desde a Procla­mação da República até os dias atu­ais.

A própria República pre­cisa fazer uma autocrítica.

Ainda com os meus lim­i­ta­dos con­hec­i­men­tos históri­cos, chego a con­clusão que desde 1889 para cá, nunca tive­mos um período duradouro e sem escân­da­los como os viven­ci­a­dos nos momen­tos ante­ri­ores.

A história não pode se negar a recon­hecer – como, aliás o fez no último Car­naval –, que a República foi procla­mada para aten­der aos piores inter­esses e aos piores políti­cos que exis­tiam no Império.

Foi a primeira vitória dos maus políti­cos con­tra os inter­esses nacionais.

Essa é uma ver­dade que neces­sita ser recon­hecida: os maus políti­cos do império se assen­hore­aram da República recém-​proclamada, chegando, inclu­sive, à presidên­cia por mais de uma vez, para tratar dos próprios inter­esses, do for­t­alec­i­mento das próprias oli­gar­quias.

No Segundo Império se tinha uma con­sciên­cia do sen­tido de nação – com o próprio imper­ador à frente de tal sen­ti­mento e o colo­cando em primeiro lugar –, ao qual se deve a inte­gral­i­dade ter­ri­to­r­ial brasileira, caso con­trário, seríamos um mosaico de republi­que­tas (Pará, Maran­hão, Bahia, etc), como se tornou o restante da América do Sul.

O último Con­selho do Império, o do vis­conde de Ouro Preto, tinha planos de refor­mas auda­ciosos e mod­er­nos para o país – e que con­tavam com o apoio do Imper­ador D. Pedro II.

A par­tir da procla­mação da República, com a ascen­são da elite con­ser­vadora, com a roupagem do novo, se teve um mon­u­men­tal retro­cesso e o iní­cio das crises cícli­cas que per­du­ram até hoje. Sem um período de esta­bil­i­dade duradouro. Com golpes, ten­ta­ti­vas de golpes, “rev­oluções”, ditaduras.

Conta-​se nos dedos das mãos os anos de esta­bil­i­dade con­ju­ga­dos com cresci­mento e inter­esse nacional.

Já nos anos vinte – e até antes –, as primeiras crises que cul­mi­naram com a rev­olução de 30 e à ditadura Var­gas, até 45, depois um pequeno momento de tran­quil­i­dade, até o golpe de 64, os vinte e anos de ditadura, e a chamada Nova República, com todos seus pres­i­dentes na situ­ação que nar­ramos ante­ri­or­mente.

Custo a acred­i­tar que será na atual con­jun­tura, com um pres­i­dente recon­heci­da­mente despreparado, inapto (ainda que até aqui não lhe pese a alcunha de cor­rupto) que até agora não se rev­elou capaz de com­preen­der a grandeza dos prob­le­mas nacionais e uma classe política onde ser hon­esto é a exceção a jus­ti­ficar a regra, que levare­mos o país a um des­tino grandioso.

Será uma sur­presa que isso venha acon­te­cer, sobre­tudo, se não con­seguir do palanque para gov­ernar sem os pita­cos dos fil­hos que, parece, lhes tem ascendên­cia.

Nada pode ser mais ilus­tra­tivo do fra­casso do pro­jeto de nação do que ter­mi­n­ar­mos a sem­ana com dois ex-​presidentes pre­sos e, pior, com a certeza que muito mais autori­dades, de todos os Poderes da República, dev­e­riam lhes fazer com­pan­hia.

Existe sal­vação para a República brasileira?

Abdon Mar­inho é advogado.