ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.
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- Criado: Segunda, 26 Novembro 2018 10:43
- Escrito por Abdon Marinho
ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.
Por Abdon Marinho.
SOU TOLO, bem tolo, daqueles que conversam com a secretária eletrônica e responde ou se despede das mensagens de áudio quando, eventualmente, recebe alguma. Deve ser um traço da educação que recebi.
Aprendi a cumprimentar, dar bom dia, boa tarde ou boa noite, a dizer até logo, obrigado, foi um prazer.
Assim, quando recebo um cumprimento ou informação, automaticamente respondo. Às vezes passo algum constrangimento ao responder à “máquina” na presença de estranhos ou me pego a rir sozinho quando me vejo cumprimentando um áudio.
São invenções maravilhosas do admirável mundo digital que bicho analógico, do século passado, ainda não se habituou.
Não é fácil. Essas máquinas parecem feitas para interagir e até reagir às nossas emoções.
Outro dia escrevi um texto em coautoria com a máquina ou aquilo que podemos chamar de inteligência artificial.
Logo cedo, equipamentos eletrônicos a postos sob uma árvore pus-me a dedilhar o teclado.
O assunto demandando pesquisa passei a utilizar “minha assistente digital”:
— Siri, preciso de informações sobre isso.
— Siri, quando aconteceu esse fato?
— Siri, quais as estatísticas sobre estes dados?
Alguns segundos depois lá estava ela respondendo.
— Abdon, encontrei os seguintes dados sobre o assunto; isso aconteceu no ano tal; os dados são estes.
Rapidamente abria a página mais adequada ao texto e copiava a informação ou só me inteirava do assunto.
Vez ou outra fazia uma pergunta que ela não entendia ou não conseguia responder e lá vinha ela:
— Desculpe, Abdon, não consigo entender ou encontrar essa resposta.
Outras vezes respondia:
— Abdon, quero muito lhe ajudar mas não consigo, pode reformular a pergunta?
Distraído e preso a formação analógica lá estava eu respondendo a máquina:
— Não se preocupe Siri, encontrarei a resposta de outro modo.
Ou: — obrigado, Siri, era isso mesmo.
Enquanto “trocava ideias” com a Siri, minha assistente pessoal e ia digitando o texto pensava, com meus botões: Deus meu, estou interagindo com uma máquina e ela está me ajudando, o que falta ainda acontecer? Chegará em quanto tempo o dia em que só direi o assunto e o computador escreverá o texto sozinho?
A máquina não faz tudo sozinha, faz-se necessário que tenha alguém capacitado para instruí-la e para perguntar corretamente.
Mas contar com a participação ativa da máquina na elaboração daquele texto foi deveras gratificante.
Vivemos uma era interessante. Hoje o tablet ou smartphone, depois alguns dias com você, passa a conhecer seu vocabulário e estilo de escrever. Você começa uma palavra e ele já coloca, como continuação, uma frase inteira ou, até, mais uma, dando-lhe apenas o trabalho de escolher a melhor opção.
Boas máquinas com seus programas potentes ou mesmo aplicativos já alerta e corrigem erros ortográficos que antes passavam despercebidos.
Na área jurídica, programas de computadores já produzem petições complexas em questões de segundos, dependendo apenas que lhe passem as informações básicas ou mesmo que só lhe diga o assunto. Já existe neste nesta área uma clara e real preocupação com a substituição do advogado pela máquina.
Na medicina, igualmente, os avanços tecnológicos e de inteligência artificial, já são capazes de identificar as enfermidades mais obscuras; programas a partir de determinadas ressonâncias, apresentam “cortes” do corpo humano em todos os sentidos.
Não demora e as próprias máquinas estarão substituindo médicos em muitos procedimentos cirúrgicos.
Isso, apenas para ficar nestas áreas mais comuns.
O certo é que a tecnologia e/ou a inteligência artificial são realidades incontornáveis, para quais teremos que está preparados.
Será isso o que vai determinar a posição das nações no cenário mundial. O domínio e educação sobre este novo mundo que se apresenta será a nova fronteira, a nova riqueza.
Infelizmente, para nós brasileiros, será mais um “ateste” do nosso atraso.
O país que já encontra-se na rabeira em tudo que é indicador educacional, mais uma vez, ficará aquém de qualquer classificação.
O futuro chegou, o admirável mundo novo bate à porta enquanto o Brasil encontra-se estacionado um pouco à frente da Idade Média. A parcela população brasileira com acesso às informações e tecnologias é ínfima, não deve chegar a um por cento. Conhecimentos básicos em matemática e linguagem não chega a cinco por cento.
Qual o número de estudantes da rede pública possui acesso a computadores e a internet? Um número baixíssimo. São estudantes a quem se nega o futuro.
Vejam, enquanto bem aí, no Uruguai, todas as crianças têm acesso a um notebook, podendo, inclusive, levá-lo para casa e suas escolas possuem internet que possibilitam inteiração com outros estudantes em qualquer canto do país através de videoconferência, por aqui se festeja, com fogos, a inauguração de uma escola de duas salas com banheiro. Uma vergonha!
A pauta educacional, que, inclusive, baliza a escolha de ministros, é a afinidade com o tal projeto “Escola Sem Partido”. Uma loucura!
O que o Brasil precisa é repensar toda sua estratégia educacional e/ou investimento massivo, com tecnologia de ponta nas escolas e com qualificação profissional decente, de sorte a evitar que fiquemos/continuemos tão atrasados em relação aos demais países.
Como falar em “Escola Sem Partido” se, sequer, temos escolas. Sim, essa é a verdade, não temos escolas.
O que temos é algo que está longe de preparar as crianças e jovens para os desafios do presente e muito menos para os desafios do futuro.
O Brasil que sempre foi considerado o país do futuro ficou para trás e agora, com o futuro à porta é a mais eloquente referência do passado.
A corrupção, os desacertos e a incompetência roubaram-nos tudo, até o o futuro.
O mundo que se avizinha será dividido entre os que possuem conhecimento tecnológico e está preparado para as novas inteligências e os que ficarão às margens disso tudo.
A sociedade seguirá idêntico roteiro.
O Brasil — e nosso povo –, infelizmente, estará neste segundo grupo. E, pior, sem qualquer chance de acompanhar as demais nações desenvolvidas.
Esse é o verdadeiro desafio que se impõe.
Abdon Marinho é advogado.