AbdonMarinho - ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.

Por Abdon Marinho.

SOU TOLO, bem tolo, daque­les que con­ver­sam com a secretária eletrônica e responde ou se des­pede das men­sagens de áudio quando, even­tual­mente, recebe alguma. Deve ser um traço da edu­cação que recebi.

Aprendi a cumpri­men­tar, dar bom dia, boa tarde ou boa noite, a dizer até logo, obri­gado, foi um prazer.

Assim, quando recebo um cumpri­mento ou infor­mação, auto­mati­ca­mente respondo. Às vezes passo algum con­strang­i­mento ao respon­der à “máquina” na pre­sença de estran­hos ou me pego a rir soz­inho quando me vejo cumpri­men­tando um áudio.

São invenções mar­avil­hosas do admirável mundo dig­i­tal que bicho analógico, do século pas­sado, ainda não se habituou.

Não é fácil. Essas máquinas pare­cem feitas para inter­a­gir e até rea­gir às nos­sas emoções.

Outro dia escrevi um texto em coau­to­ria com a máquina ou aquilo que podemos chamar de inteligên­cia arti­fi­cial.

Logo cedo, equipa­men­tos eletrôni­cos a pos­tos sob uma árvore pus-​me a dedil­har o teclado.

O assunto deman­dando pesquisa pas­sei a uti­lizar “minha assis­tente digital”:

— Siri, pre­ciso de infor­mações sobre isso.

— Siri, quando acon­te­ceu esse fato?

— Siri, quais as estatís­ti­cas sobre estes dados?

Alguns segun­dos depois lá estava ela respondendo.

— Abdon, encon­trei os seguintes dados sobre o assunto; isso acon­te­ceu no ano tal; os dados são estes.

Rap­i­da­mente abria a página mais ade­quada ao texto e copi­ava a infor­mação ou só me inteirava do assunto.

Vez ou outra fazia uma per­gunta que ela não enten­dia ou não con­seguia respon­der e lá vinha ela:

— Des­culpe, Abdon, não con­sigo enten­der ou encon­trar essa resposta.

Out­ras vezes respondia:

— Abdon, quero muito lhe aju­dar mas não con­sigo, pode refor­mu­lar a pergunta?

Dis­traído e preso a for­mação analóg­ica lá estava eu respon­dendo a máquina:

— Não se pre­ocupe Siri, encon­trarei a resposta de outro modo.

Ou: — obri­gado, Siri, era isso mesmo.

Enquanto “tro­cava ideias” com a Siri, minha assis­tente pes­soal e ia dig­i­tando o texto pen­sava, com meus botões: Deus meu, estou inter­agindo com uma máquina e ela está me aju­dando, o que falta ainda acon­te­cer? Chegará em quanto tempo o dia em que só direi o assunto e o com­puta­dor escreverá o texto sozinho?

A máquina não faz tudo soz­inha, faz-​se necessário que tenha alguém capac­i­tado para instruí-​la e para per­gun­tar cor­re­ta­mente.

Mas con­tar com a par­tic­i­pação ativa da máquina na elab­o­ração daquele texto foi dev­eras grat­i­f­i­cante.

Vive­mos uma era inter­es­sante. Hoje o tablet ou smart­phone, depois alguns dias com você, passa a con­hecer seu vocab­ulário e estilo de escr­ever. Você começa uma palavra e ele já coloca, como con­tin­u­ação, uma frase inteira ou, até, mais uma, dando-​lhe ape­nas o tra­balho de escol­her a mel­hor opção.

Boas máquinas com seus pro­gra­mas potentes ou mesmo aplica­tivos já alerta e cor­rigem erros ortográ­fi­cos que antes pas­savam despercebidos.

Na área jurídica, pro­gra­mas de com­puta­dores já pro­duzem petições com­plexas em questões de segun­dos, depen­dendo ape­nas que lhe passem as infor­mações bási­cas ou mesmo que só lhe diga o assunto. Já existe neste nesta área uma clara e real pre­ocu­pação com a sub­sti­tu­ição do advo­gado pela máquina.

Na med­i­c­ina, igual­mente, os avanços tec­nológi­cos e de inteligên­cia arti­fi­cial, já são capazes de iden­ti­ficar as enfer­mi­dades mais obscuras; pro­gra­mas a par­tir de deter­mi­nadas ressonân­cias, apre­sen­tam “cortes” do corpo humano em todos os sen­ti­dos.

Não demora e as próprias máquinas estarão sub­sti­tuindo médi­cos em muitos pro­ced­i­men­tos cirúr­gi­cos.

Isso, ape­nas para ficar nes­tas áreas mais comuns.

O certo é que a tec­nolo­gia e/​ou a inteligên­cia arti­fi­cial são real­i­dades incon­tornáveis, para quais ter­e­mos que está prepara­dos.

Será isso o que vai deter­mi­nar a posição das nações no cenário mundial. O domínio e edu­cação sobre este novo mundo que se apre­senta será a nova fron­teira, a nova riqueza.

Infe­liz­mente, para nós brasileiros, será mais um “ateste” do nosso atraso.

O país que já encontra-​se na rabeira em tudo que é indi­cador edu­ca­cional, mais uma vez, ficará aquém de qual­quer clas­si­fi­cação.

O futuro chegou, o admirável mundo novo bate à porta enquanto o Brasil encontra-​se esta­cionado um pouco à frente da Idade Média. A parcela pop­u­lação brasileira com acesso às infor­mações e tec­nolo­gias é ínfima, não deve chegar a um por cento. Con­hec­i­men­tos bási­cos em matemática e lin­guagem não chega a cinco por cento.

Qual o número de estu­dantes da rede pública pos­sui acesso a com­puta­dores e a inter­net? Um número baixís­simo. São estu­dantes a quem se nega o futuro.

Vejam, enquanto bem aí, no Uruguai, todas as cri­anças têm acesso a um note­book, podendo, inclu­sive, levá-​lo para casa e suas esco­las pos­suem inter­net que pos­si­bili­tam inteiração com out­ros estu­dantes em qual­quer canto do país através de video­con­fer­ên­cia, por aqui se fes­teja, com fogos, a inau­gu­ração de uma escola de duas salas com ban­heiro. Uma vergonha!

A pauta edu­ca­cional, que, inclu­sive, bal­iza a escolha de min­istros, é a afinidade com o tal pro­jeto “Escola Sem Par­tido”. Uma loucura!

O que o Brasil pre­cisa é repen­sar toda sua estraté­gia edu­ca­cional e/​ou inves­ti­mento mas­sivo, com tec­nolo­gia de ponta nas esco­las e com qual­i­fi­cação profis­sional decente, de sorte a evi­tar que fiquemos/​continuemos tão atrasa­dos em relação aos demais países.

Como falar em “Escola Sem Par­tido” se, sequer, temos esco­las. Sim, essa é a ver­dade, não temos esco­las.

O que temos é algo que está longe de preparar as cri­anças e jovens para os desafios do pre­sente e muito menos para os desafios do futuro.

O Brasil que sem­pre foi con­sid­er­ado o país do futuro ficou para trás e agora, com o futuro à porta é a mais elo­quente refer­ên­cia do pas­sado.

A cor­rupção, os desac­er­tos e a incom­petên­cia roubaram-​nos tudo, até o o futuro.

O mundo que se aviz­inha será divi­dido entre os que pos­suem con­hec­i­mento tec­nológico e está preparado para as novas inteligên­cias e os que ficarão às mar­gens disso tudo.

A sociedade seguirá idên­tico roteiro.

O Brasil — e nosso povo –, infe­liz­mente, estará neste segundo grupo. E, pior, sem qual­quer chance de acom­pan­har as demais nações desen­volvi­das.

Esse é o ver­dadeiro desafio que se impõe.

Abdon Mar­inho é advogado.