AS BATATAS DOS VENCEDORES.
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- Criado: Quarta, 10 Outubro 2018 23:52
- Escrito por Abdon Marinho
AS BATATAS DOS VENCEDORES.
Por Abdon Marinho.
OS MAIS antigos devem lembrar da expressão “ao vencedor, as batatas”.
Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, Machado de Assis nos apresenta o filósofo Joaquim Borba dos Santos, o autor da tese do “humanitismo”, segundo a qual somente os mais aptos sobrevivem e enxerga a guerra como forma de selecionar a espécie.
Em «Quincas Borba» a tese do «humanitismo» é apresentada pelo próprio filósofo que expõe seus conceitos a Rubião, personagem daquela obra, diz ele: “Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.
Vez ou outra costumo usar a expressão “ao vencedor, as batatas”. Uso-a, quase sempre para dizer que as vezes nos apegamos as míseras vitórias, conquistadas a qualquer preço, passado por cima de tudo e de todos, travando-se guerra de destruição contra “tribos-irmãs, contra companheiros de ontem que, quando précisávamos nos estendeu as mãos, para receber as “batatas” como troféus, ante a grandiosidade da vida.
Pensava sobre isso enquanto analisava o resultado do último pleito.
A mídia e os puxa-sacos festejando a vitória como a tribo que acabara de dizimar a outra para ter acesso ao “vale das batatas”. No caso da vitoria eleitoral, as gordas verbas, os cala-boca, as sinecuras ou mesmo os carguinhos para os parentes e aderentes.
Para estes tudo é motivo de alegria e para festejar. Tanto que até perdem a capacidade de análise dos números e cotejando-os com os fatos.
Ainda no começo do ano, bem antes do início do processo eleitoral me perguntaram se acreditava na vitória do atual governador.
Respondi: –– E ele vai perder para quem? Só se for para ele mesmo.
Como previsto, a vitoria ocorreu ainda em primeiro turno, obtendo, o candidato vencedor quase 60% por cento dos votos válidos, elegendo os dois senadores e as maiores bancadas de deputados federais e estaduais.
Apesar de festejarem como uma vitória “avassaladora” sobre os adversários, um verdadeiro “fim da história”, não é isso que se depreende dos números e dos fatos.
Como dissemos anteriormente o candidato ao governo não teve adversários à altura, senão vejamos:
A candidata Roseana Sarney, que ficou em segundo lugar nas pesquisas, foi para disputa apenas “por dever de ofício”, demonstrando a mesma empolgação da torcida do Ibis Futebol Clube, conhecido como o pior time do mundo, diante do campeonato nacional.
Até às vésperas das convenções aconteciam apostas de que ela não seria candidata, não teria “coragem” para entrar.
Não bastasse essa “empolgação de velório”, a candidata enfrenta o “peso da história” de pertencer a um grupo politico “acusado” de desmandar no estado por cinquenta anos, ela própria tendo governado o estado por quatorze anos. Isso cansa.
Lembro que um mês antes do pleito, na barbearia que frequento na COHAB, ouvia alguns os populares dizerem: –– Roseana novamente, não, já deu. Que votemos em qualquer outro.
Acho até que foi longe ao alcançar pouco mais de trinta por cento dos votos válidos.
A candidata que ficou em terceiro lugar, ex-prefeita Maura Jorge, embora demonstrando mais interesse pela disputa, não dispunha de tempo algum de rádio e televisão, não era conhecida em todo o estado e não teve a experiência necessária para “colar» sua campanha na do candidato a presidência Jair Bolsonaro, visto serem do mesmo partido.
Embora dando o desconto de que o candidato por conta do atentado passou o primeiro turno quase que todo internado num hospital de São Paulo, faltou à Maura a “sacação» para ir visitá-lo, pegar um depoimento em video a seu favor e espalhar nas redes para «casar» os votos dele aos seus.
Se tivesse feito isso, talvez até tivesse chegado ao segundo turno. Com certeza teria muito mais votos que teve. Arrisco que teria mais de vinte por cento ao invés dos oito por cento que teve.
Não fez isso – não o quanto se esperava –, como resultado, os eleitores do candidato Bolsonoro votaram no comunista candidato à reeleição. Duas propostas totalmente antagônicas.
O terceiro candidato do trio oposicionista, o senador Roberto Rocha, o único, a meu sentir, com condições de enfrentar o senhor Flávio Dino de “igual para igual”, apresentou um bom plano de governo, um rumo efetivo para o Maranhão, mas demorou para «engatar» na campanha – talvez devido as problemas de saúde na família, a falta de recursos financeiros, etc.
O certo é só foi para o enfrentamento contra o candidato a reeleição nos últimos dias.
Até que teve uma inquestionável melhor participação no debate promovido pela TV Globo, mas aí já faltavam apenas três dias para o pleito, a Inês jazia morta.
Não bastasse a demora em “pegar» na campanha, o candidato passou quatro anos tendo sua imagem sendo desconstruída pela máquina de destruir reputações formadas pelos diversos meios de comunicação alinhados e/ou subvencionados pelo governo e seus aliados.
Confesso que não esperava que o estrago em sua imagem tivesse sido no tamanho que foi, mas não chegou a ser uma surpresa.
Já no início deste ano escrevi um texto intitulado “Um senador e seus moinhos”, onde alertava para as situações que teria que “vencer” caso pretendesse ser um candidato com alguma chance.
Infelizmente, pouco ou nada chegou a fazer para mudar a péssima imagem que ele próprio ajudou a construir, mas que foi infinitamente ampliada por seus adversários nos últimos anos.
Como considerar como uma vitória “avassaladora” uma disputa em que o “Exército Vermelho” – com todos os recursos que só poder podem proporcionar –, enfrentou um autêntico “Exército de Brancaleone” e só colocou cerca de nove pontos percentuais para evitar um imprevisível segundo turno?
Acho que falta humildade no folguedo. Um governador com a máquina na mão (e governo é governo, já dizia papai), enfrentando esse time adversários, só consegue ficar a nove pontos do segundo turno não pode “subir nos saltos” e achar que “abafou”.
Basta ver os números de Alagoas, da Bahia, do Ceará e de Pernambuco.
Além do mais no último quadriênio, para chegar até aqui, sua excelência, foi se aliando e abrindo as portas do palácio para notórias figuras da política local e seus partidos, muitos dos quais com programas absolutamente antagônicos ao do seu partido, sem contar os históricos expoentes do grupo Sarney.
Foi assim com o deputado Maranhãozinho e seu PR; com o deputado Rezende e seu DEM; com o deputado Fufuca e seu PP; com o deputado Fernandes e seu PTB; com o ex-deputado Gastão Vieira do PROS, o prefeito Luís Fernando, e tantos outros.
Alguns destes o governador/candidato ergueu suas mãos e os “apresentou” como as melhores pessoas para acompanhá-lo.
Mas não é só, segundo os opositores, para conseguir essa “magra” vitória a chapa governista teria cometido uma série de abusos e ilícitos que já estão sendo – e outros que serão –, discutidos perante a Justiça Eleitoral.
Com tudo isso, só ficou a nove pontos da “nota de corte” do segundo turno, e ainda teve uma votação nominal inferior ao do seu candidato a senador, o não menos notório deputado Weverton Rocha, presidente do PDT local.
Como conselho, talvez sua excelência devesse considerar que, bem diferente do que alardeia, não faz um bom governo, e que os cidadãos de bem não aprovam muitas de suas atitudes tais como o vale tudo político/eleitoral; a “ingratidão” em relação ao ex-governador José Reinaldo; a política tributária que aumentou os impostos sobre os menores, mas que beneficiou apenas um ou dois grupos econômicos; a política de “tomar” os veículos dos cidadãos que por uma ou outra razão atrasaram o pagamento dos impostos e taxas, bem como, inscrevê-los, por conta disso, nos órgãos de proteção ao crédito.
Diferente do que é vendido para o público interno e externo, a miséria no Maranhão só aumentou nos últimos anos, estamos na rabeira de quase tudo quanto é indicador social e de desenvolvimento, continuamos sem produzir quase nada, sem gerar riquezas e com uma grande parcela da população sobrevivendo de esmolas – isso num estado tão rico quanto o nosso.
Quem teve a oportunidade de, na sexta-feira anterior ao pleito, assistir ao programa Globo Repórter, da Rede Globo, teve a oportunidade de ver um pouco da realidade de muitos dos nossos municípios: uma estrada só de “puaca” no verão e lama no inverno, levando a uma escola sem qualquer tipo de estrutura de ensino; viu também crianças conduzindo jumentos por quilômetros para fazer chegar em casa a água de beber, cozinhar, etc. e mulheres lavando rouba numa espécie de “bica” coletiva.
Essa é a realidade de uma grande parcela da população do interior mas, também, das periferias da capital e outros centos.
Como disse no início do ano: sua excelência ganhou porque não tinha para quem perder. Se tivesse, o resultado talvez fosse bem outro.
Ainda assim, ao vencedor, as batatas.
Abdon Marinho é advogado.