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A DEMOC­RA­CIA SE FAZ COM A PAR­TIC­I­PAÇÃO DE TODOS.

Escrito por Abdon Mar­inho

DEMOC­RA­CIA SE FAZ COM PAR­TIC­I­PAÇÃO DE TODOS.

Por Abdon Marinho.

GOSTO muito de con­ver­sar com pes­soas mais expe­ri­entes que eu, que viveram out­ras situ­ações. Acho muito bom saber os “cau­sos” da polit­ica. E, tanto faço que às vezes acabo por me tornar par­ticipe de alguns deles.

Cor­ria o ano de 1998, a eleição já se aviz­in­hava.

Certa vez indaguei a um sen­horz­inho – já ido nos anos –, em quem votaria.

–– Doutor, eu votarei na Roseana. Respondeu-​me.

–– E para dep­utado estad­ual? Perguntei.

–– Ah, doutor, para dep­utado estad­ual eu votarei no Ader­son Lago.

Sem enten­der muito bem as respostas quis saber o propósito de votar em Roseana Sar­ney e em Ader­son Lago, aquela altura o maior – e mais com­pe­tente –, adver­sário do grupo Sar­ney e, tam­bém, coor­de­nador da cam­panha do senador Cafeteira no estado. Eu mesmo, na condição de advo­gado de Cafeteira e de Ader­son já tinha per­dido as con­tas das ações e rep­re­sen­tações feitas con­tra a gov­er­nadora can­di­data à reeleição.

Ao meu sen­tir não fazia muito sen­tido, mas o sen­horz­inho ensinou-​me.

–– Ah, doutor, vou votar na Roseana porque tenho “sim­pa­tia” por ela e no Ader­son Lago para ser o “cão de guarda” dela, vigiar tudo que fizer, como já vem fazendo.

Há vinte anos, com sim­pli­ci­dade, aquele sen­horz­inho me dava uma lição de democ­ra­cia. Qual seja, o quando é impor­tante que os gov­er­nantes sejam “vigia­dos” pelos opos­i­tores e que sejam insta­dos à prestarem con­tas dos atos por ocasião das eleições reg­u­lares.

Não é saudável a democ­ra­cia que eleições ocor­ram com can­di­dat­uras “única” ou para “constar”.

Ape­nas regimes dita­to­ri­ais ocor­rem eleições com cha­pas úni­cas, com cercea­mento da liber­dade de par­tic­i­pação dos can­didatos. Assim foi na Líbia, de Kadafi, no Iraque, de Sad­dam; assim, ainda é, infe­liz­mente, na Cor­eia do Norte, de Kim Jong-​un, na Cuba, dos Castro/​Ruiz; na ditadura venezue­lana, de Maduro, nos mod­e­los autoritários chinês e russo.

Ainda nos países onde as pes­soas foram chamadas a irem as urnas, a democ­ra­cia já foi de tal forma frag­ilizada que não merece ser chamada por tal nome. No Iraque ou Líbia, quem não lem­bra das eleições em que os dita­dores obtiveram quase cem por cento dos votos?

E, agora mesmo, na Venezuela, quem em sã con­sciên­cia leva a sério o resul­tado das últi­mas eleições?

Não acred­ito em democ­ra­cia com par­tidos úni­cos, sem oposição, sem liber­dade de imprensa ou de opinião, onde o poder seja usado para destruir a legit­im­i­dade que lhe foi con­ferida através da von­tade pop­u­lar.

Assim, quando saudamos como pos­i­tivo o ingresso de out­ros con­cor­rentes na dis­puta eleitoral maran­hense não quer dizer que este­jamos “con­tra” ou fazendo oposição aos gov­er­nantes, ape­nas que é saudável para a democ­ra­cia que hajam out­ros na dis­puta, de prefer­ên­cia com­pet­i­tivos, com pro­postas obje­ti­vas e claras.

Se há a chance do atual e o gov­erno ante­rior faz­erem com­par­a­tivos sobre o que fiz­eram cada um, isso é muito bom, o cidadão/​eleitor terá a chance de recon­hecer um ou outro como o que entende de mel­hor para o futuro.

Mais, mel­hor ainda, se sur­girem out­ras alter­na­ti­vas, ter­ceira, quarta ou quin­tas vias na dis­puta.

A sucessão maran­hense cam­in­hava perigosa­mente para uma dis­puta que, a despeito dos pregam os atu­ais gov­er­nantes – de que são democ­ratas –, para a negação dos que sejam estes con­ceitos. Cam­in­hava (e tra­bal­havam arden­te­mente) para uma dis­puta de can­di­datura única – ou com can­didatos “para con­star” –, algo que não é salu­tar para a democ­ra­cia em lugar nen­hum do mundo.

As condições obje­ti­vas do hege­monismo estavam postas: mais de uma dezena de par­tidos “con­ven­ci­dos” do pro­jeto, inclu­sive aque­les com ideário e pro­gra­mas antagôni­cos ao do atual gov­er­nante; cole­tivos da sociedade civil apáti­cos, indifer­entes ou apáti­cos; uma mídia extrema­mente dócil e colab­o­ra­tiva com o dis­curso ofi­cial; recur­sos públi­cos con­stru­indo uma ideia de “fim de história”, de que, final­mente, o Maran­hão encon­trara o seu destino.

Ape­nas uma cir­cun­stân­cia mil­i­tando con­tra os atu­ais deten­tores do poder: a obsessão dos mes­mos em arras­tar a dis­puta para os tri­bunais, algo abso­lu­ta­mente inimag­inável para quem dis­põe de condições tão favoráveis, con­forme insis­tem em pas­sar a ideia de uma vitória já no primeiro turno para a pat­uleia.

Reiterando o que já externei noutras ocasiões, em tan­tos anos de mil­itân­cia no dire­ito eleitoral não me recordo de ter visto um can­didato que vende a ideia de uma vitória acacha­pante provo­car tan­tas ações judi­ci­ais. E não são ape­nas de adver­sários, o que se pode­ria deb­itar na conta da dis­puta, mas, tam­bém, do Min­istério Público Eleitoral, encar­regado de fis­calizar a lisura do pleito.

A leitura é sim­ples: quem está cor­rendo na frente não tem razões ou motivos para ficar provo­cando ques­tion­a­men­tos sobre reg­u­lar­i­dade do pleito. Ao atrair tan­tas ações e recla­mações de adver­sários e do MPE, passa-​se a ideia de que não estaria tão bem na dis­puta, até porque, como é sabido por todos, são pro­fun­dos con­hece­dores da leg­is­lação eleitoral, não iriam cor­rer tan­tos riscos “de graça”.

Os desac­er­tos, decerto, rev­ela inse­gu­rança com relação ao resul­tado do pleito, moti­vando que out­ros can­didatos se apre­sen­tem para a dis­puta, den­tre as quais a ex-​governadora Roseana Sar­ney e, segundo dizem, o man­i­festo inter­esse em dis­putar do dep­utado estad­ual Eduardo Braide, que vem embal­ado da eleição para prefeito da capital.

O surg­i­mento de novos con­tende­dores, além dos que já tin­ham se man­i­fes­tado e lançado suas pré-​candidaturas, como Roberto Rocha, Ricardo Murad, Maura Jorge – e tan­tos out­ros que ainda não se apre­sen­taram –, qual­i­fica o debate político eleitoral, quando, esper­amos, saia desta inter­minável dico­to­mia Sarney/​anti-​Sarney.

Isso é o que se espera de todos os can­didatos, emb­ora saibamos que tanto o can­didato à reeleição, que pos­sui como ativo politico basi­ca­mente o dis­curso anti-​Sarney, diante da escassez de real­iza­ções enquanto a ex-​governadora vai defender seu legado já que, por motivos óbvios, não pode fugir da própria origem.

Caberá aos demais can­didatos a rup­tura com essa dico­to­mia do atraso e apre­sentarem pro­postas que, de fato, apon­tem out­ros rumos para o Maranhão.

Esta é a importân­cia de ter­mos mais can­didatos: que eles apre­sen­tem pro­postas além do dis­curso maniqueísta do con­tra ou a favor.

A polit­ica que ver­dadeira­mente faz por mere­cer o nome de Polit­ica com “P” maiús­culo, não se faz com o debate em torno de nomes, mas sim em torno de pro­postas.

Infe­liz­mente, já se chegando ao primeiro quarto do século 21, insiste-​se em fazer a polit­ica em torno de pes­soas. Ainda hoje se fala em sar­ney­ismo, roseanismo, din­ismo.

Na ver­dade é como se o Maran­hão estivesse esta­cionado no século 17, com a polit­ica ainda cen­tral­izada nas pes­soas. Não tendo chegado, sequer. a fase gru­pos, quiçá, de par­tidos políticos.

Em um quadro que já nos pare­cia dan­tesco, pelas razões acima, chegou-​se a cog­i­tar can­di­datura única ou com can­didatos para “con­star”, sem debates, sem dis­cursões sobre a situ­ação do estado – como se ela não fosse preocupante.

Assim é que vejo como pos­i­tivo para o avanço nas con­quis­tas democráti­cas, as can­di­dat­uras a reeleição do gov­er­nador Flávio Dino, da ex-​governadora Roseana Sar­ney, do senador Roberto Rocha, do dep­utado estad­ual Eduardo Braide, da ex-​prefeita Maura Jorge e de quan­tos mais quis­erem con­cor­rer e con­tribuir com o debate politico.

O Maran­hão tem prob­le­mas demais, não podemos nos dar ao luxo de ter­mos can­didatos de menos.

A democ­ra­cia se faz com a par­tic­i­pação de todos.

Abdon Mar­inho é advogado.

O MITO DA PRISÃO POLÍTICA.

Escrito por Abdon Mar­inho

O MITO DA PRISÃO POLÍTICA.

Por Abdon Marinho.

QUANDO a prisão do ex-​presidente Lula com­ple­tou trinta dias, li e me sen­si­bi­lizei com uma tocante carta que suposta­mente lhe teria sido man­dada pelo ex-​deputado João Paulo Cunha, que fora pres­i­dente da Câmara dos Dep­uta­dos e, como out­ros petis­tas, envolvido em escân­da­los de cor­rupção e con­de­nado pelo Supremo Tri­bunal Fed­eral – STF, na Ação Penal 470, pop­u­lar­mente con­hecida como “men­salão petista”.

A carta do ex-​deputado sensibilizou-​me não pelo con­teúdo em si, mas por nar­rar uma situ­ação que pode­ria ter ocor­rido. O Lula pode­ria ter sido este mito, este herói. Mas não é, pelo con­trário, é alguém que frus­tou mil­hões de brasileiros que nele con­fiou. Se man­tém ainda apoio pop­u­lar é pelo descrédito da classe política ele mesmo desmor­al­i­zou.

Desde que o ex-​presidente foi denun­ci­ado e, sobre­tudo, depois que con­de­nado e preso, após con­fir­mação do decreto con­de­natório ser con­fir­mado em segunda instân­cia, os seus ali­a­dos ten­tam pas­sar a ideia, den­tro e fora do país, de que o sen­hor Lula é vítima de um erro judi­ciário ou que fora con­de­nado para sat­is­fazer a sanha de cruéis algo­zes que não o querem na dis­puta eleitoral deste ano.

Os números con­tra os quais lidam os defen­sores do ex-​presidente são acacha­pantes. No bojo da Oper­ação Lava-​Jato, no qual encontra-​se inserido, já ocor­reram, até o momento quase 200 con­de­nações, con­tra mais de cento e vinte pes­soas e que con­tabi­lizam perto de um mil e nove­cen­tos anos de pena, por crimes diver­sos, den­tre os quais cor­rupção, lavagem de din­heiro, for­mação de orga­ni­za­ção crim­i­nosa. Só os crimes denun­ci­a­dos envolvem o paga­mento de mais de R$ 6,4 bil­hões de reais, out­ros R$ 11 bil­hões são alvos de recu­per­ação através de acor­dos de colab­o­ração. Até aqui, o total de ressarci­mento solic­i­tado pelo MPF já somam R$ 38,1 bil­hões.

Não se tem notí­cia em lugar nen­hum do mundo, em qual­quer tempo da história, de um esquema de cor­rupção tão vasto e sofisti­cado. A máquina de cor­rupção detec­tada, e que a Oper­ação Lava Jato tenta pôr fim, se ali­men­tava de recur­sos públi­cos. Din­heiro que dev­e­ria ir para esco­las, saúde, segu­rança, infraestru­tura, eram desvi­a­dos pelos e para os cor­rup­tos num sis­tema de troca e manutenção da quadrilha encaste­lada no poder.

Ape­nas no primeiro processo em que o ex-​presidente foi con­de­nado (ainda têm out­ros), resta com­pro­vada na sen­tença judi­cial, con­fir­mada e ampli­ada em segunda instân­cia, que o mesmo, den­tro de toda essa engrenagem, foi ben­e­fi­ci­ado no esquema de cor­rupção.

Os crimes que fun­daram sua con­de­nação estão dev­i­da­mente iden­ti­fi­ca­dos e com­pro­va­dos numa sen­tença min­u­ciosa que conta com mais de duzen­tas lau­das. Tal sen­tença pas­sou pelo escrutínio de uma segunda instân­cia que, não ape­nas a con­fir­mou, mas, tam­bém, a ampliou.

As demais instân­cias, Supe­rior Tri­bunal de Justiça — STJ e o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, não exam­i­nam mais os fatos, ape­nas as for­mal­i­dades proces­suais. E, nas vezes em foram deman­dadas a opinarem sobre o processo especí­fico do ex-​presidente, nos infind­áveis inci­dentes sus­ci­ta­dos pela defesa – antes dos recur­sos próprios –, não enx­er­garam haver qual­quer equívoco no mesmo ou descon­formi­dade com a leg­is­lação pátria.

São necessários estes esclarec­i­men­tos diante da cam­panha que o ex-​presidente e seus ali­a­dos vêm fazendo no Brasil e, prin­ci­pal­mente, no exte­rior, de que é um pri­sioneiro político. Nada mais falso, como já demon­strado acima.

Ainda assim, fazendo uso de diver­sas enti­dades e movi­men­tos soci­ais, muitos deles sub­sidi­a­dos, com recur­sos públi­cos, ven­dem essa falsa nar­ra­tiva da prisão política, ofend­endo e desmere­cendo todo o Judi­ciário brasileiro e mesmo nosso país, como se fôsse­mos uma republi­queta de bananas.

Agora mesmo tomei con­hec­i­mento que uma tal “nata” da int­elec­tu­al­i­dade mundial teria assi­nado um man­i­festo pela liber­dade do preso comum Luiz Iná­cio Lula da Silva. Soube tam­bém que um artista dos Esta­dos Unidos fez o mesmo. Antes alguns ex-​dirigentes de out­ras nações assi­naram uma nota de sol­i­dariedade a ele. E que os petis­tas estariam “deses­per­a­dos” atrás de Obama para que tam­bém fizesse o mesmo.

Ini­cial­mente, entendo que essas man­i­fes­tações de int­elec­tu­ais não é algo que deva dar muito crédito. Estes int­elec­tu­ais são os mes­mos que estão silentes desde sem­pre à tragé­dia que vem acon­te­cendo na Venezuela; que nunca se man­i­fes­taram con­tra as prisões políti­cas em Cuba, inclu­sive as mais recentes; as vio­lações dos dire­itos humanos na China, no Laos e em tan­tos out­ros países. São e sem­pre foram omis­sos. Ou pior, muitas das vezes cúm­plices de ditaduras que ver­dadeira­mente vio­lam os dire­itos humanos.

Situ­ação bem difer­ente do que ocor­reu no Brasil onde o ex-​presidente, e todos os demais, que já foram con­de­na­dos no curso da Oper­ação Lava Jato com todas as garan­tias pre­vis­tas em lei.

Mas, ainda dando o crédito da dúvida a estes int­elec­tu­ais, fico, nos meus vagares, con­jec­turando se eles têm con­hec­i­mento de tudo que ocor­reu com o processo do ex-​presidente e de todos os demais con­de­na­dos; se sabem o quanto estas pes­soas “sagraram” dos cofres públi­cos; se sabem quan­tas cri­anças ficaram sem edu­cação; quan­tos pacientes ficaram sem saúde; e tan­tos out­ros males decor­rentes da corrupção.

Se o sen­hor Lula é um “preso político” todos os demais pre­sos já con­de­na­dos na Oper­ação Lava Jato tam­bém o são. Deve-​se a eles esten­derem o epíteto de “pre­sos políti­cos”. Ou será que pre­ten­dem “pinçar” o ex-​presidente em detri­mento de todos os demais?

Outra con­jec­tura que deve­mos fazer em relação aos “int­elec­tu­ais” que nada veem de errado em relação à Venezuela, só para citar o exem­plo mais gri­tante, teriam a mesma leniên­cia em relação à cor­rupção se se tratasse do seus países.

Será que sabem que por crimes idên­ti­cos, nos seus países as prisões ocor­rem de forma pre­ven­tiva, só per­mitindo respon­der em liber­dade medi­ante o paga­mento de altas fianças, pas­sando a cumprir pena tão logo ocorra a con­de­nação em primeira instân­cia.

Como ousam intrometer-​se nas decisões do judi­ciário brasileiro quando acham que está tudo per­feito no fun­ciona­mento dos seus países?

Quero acred­i­tar que estes “int­elec­tu­ais”, políti­cos e artis­tas descon­hecem em pro­fun­di­dade as cir­cun­stân­cias da con­de­nação do ex-​presidente e estão se deixando levar pela falsa nar­ra­tiva que seus defen­sores estão ten­tando pas­sar.

Noutra per­spec­tiva, acred­i­tam que o Brasil é uma republi­queta de bananas onde todo o Poder Judi­ciário cede a descabidas pressões exter­nas.

Con­cor­dar com tais pressões é admi­tir que o Brasil não pode exi­s­tir como nação soberana.

Ao meu sen­tir a pos­si­bil­i­dade do ex-​presidente ser solto só pode­ria se dar, se no cúmulo do absurdo, o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, decidir que o cumpri­mento da pena a par­tir da con­fir­mação do decreto con­de­natório em segunda instân­cia é incon­sti­tu­cional e deter­mi­nar, de ofí­cio, a soltura de todos os con­de­na­dos do país que se encon­tram em tal situ­ação. Uma polit­ica de cadeias aber­tas para lib­erar cor­rup­tos, assas­si­nos, estupradores, etc.

Ainda no tema, e para encer­rar, recordo que tam­bém por ocasião do trigésimo dia do cumpri­mento da pena do ex-​presidente ocor­reu uma romaria à Apare­cida, pela sua liber­dade. Con­fesso que me inqui­etou tal fato pois o que querem os fer­vorosos católi­cos ao cla­marem, em sua defesa, por sua liber­dade, com pen­i­ten­cias e orações é o sen­ti­mento oposto do suce­dido com Jesus Cristo. Basta lem­brar que na primeira ten­ta­tiva para matar Jesus, Herodes, o rei dos Judeus, man­dou matar todas as cri­anças de Belém e seus arredores, com até dois anos de idade. E disse Mateus, 2:16: “Então, Herodes, vendo que tinha sido ilu­dido pelos magos, irritou-​se muito e man­dou matar todos os meni­nos que havia em Belém e em todos os seus con­tornos, de dois anos para baixo, segundo o tempo que dili­gen­te­mente inquirira dos magos”.

Restando a Lula só a mudança do entendi­mento sobre o cumpri­mento da pena em segunda instân­cia, pre­ten­dem, os nos­sos romeiros – e todos os demais defen­sores do ex-​presidente –, que se soltem todos os crim­i­nosos (nas mes­mas condições) para, assim, soltar o con­de­nado Lula.

Assim, creio, não haverá sal­vação… para o Brasil.

Abdon Mar­inho é advogado.

O TRI­UN­VI­RATO ATRÁS DAS GRADES.

Escrito por Abdon Mar­inho

O TRI­UN­VI­RATO ATRÁS DAS GRADES.

Por Abdon Mar­inho.

A FOTOGRAFIA que acom­panha esse texto foi edi­tada, entre­tanto rep­re­senta bem mel­hor o momento atual que a orig­i­nal, pois mostra, 15 anos depois, o que se deu com o tri­un­vi­rato petista: os três homens mais fortes do Brasil, em 2003, estão, hoje, atrás das grades.

Os três con­de­na­dos por crimes diver­sos e respon­dendo por out­ros tan­tos deli­tos con­tra o país.

Naquele 2003, época da foto orig­i­nal, não tinha para ninguém: José Dirceu, o capitão do time, con­duzia a política do gov­erno recém-​instalado, era um espé­cie de primeiro-​ministro infor­mal, coman­dando os arran­jos políti­cos, a dis­tribuição de car­gos entre os ali­a­dos, fazendo fun­cionar a política de alianças que garan­tiu a eleição e garan­tiria a “gov­ern­abil­i­dade”, para isso, pouco inter­es­sava com quem faria os acor­dos e o que daria em troca; na econo­mia o todo-​poderoso czar Anto­nio Palocci, homem de con­fi­ança do par­tido, com a mis­são de fazer inter­locução com a “banca” finan­ceira e “azeitar» a engrenagem que faria fluir os recur­sos para um pro­jeto politico de hege­mo­nia; pairando sobre eles, o pres­i­dente Lula, o comandante-​em-​chefe do pro­jeto de poder em nome do qual não exi­s­tiria lim­ites entre o certo e o errado. O poder era um fim em si a ser atingido e man­tido, por dez, vinte, trinta ou cinquenta anos, talvez cem.

O resul­tado é o que esta­mos assistindo: o ex-​presidente, há quase dois meses ini­ciou o cumpri­mento da pena de 12 anos e um mês, no primeiro processo a que foi con­de­nado; Dirceu, há poucos dias ini­ciou o cumpri­mento da pena de mais de trinta anos; e Palocci, preso e já con­de­nado em primeira instân­cia a mais de doze anos de prisão, nego­cia acor­dos colab­o­ração com a justiça visando a redução desta e das demais penas que advirão.

A situ­ação dos três homens mais poderosos do país naquele, já longín­quo 2003, no momento é a mesma: os três estão atrás das grades. O que já é algo hor­rível e inimag­inável para qual­quer um ser humano e mais ainda ainda para quem se imag­i­nou e tin­ham a chance de um futuro dourado pela frente.

O des­tino pode ser difer­ente para um e pior para os out­ros dois – e muito mais gente –, na even­tu­al­i­dade, quase certa, da ou das delações de Anto­nio Palocci virem a ser homolo­gadas. Como homem forte da econo­mia e do par­tido tem infor­mações e ele­men­tos que pode afun­dar, se é que isso é pos­sível a situ­ação dos out­ros mem­bros do tri­un­vi­rato petista.

Nos basti­dores da política já dão como certo que a homolo­gação do acordo de colab­o­ração de Palocci aumen­tará, em muito, o calvário do Par­tido dos Tra­bal­hadores, que já tem a cúpula das últi­mas décadas já presa ou impli­cada nos mais diver­sos esque­mas, da ex-​presidente Dilma Rouss­eff e de muitas cabeças da banca econômica nacional.

Não é sem tris­teza que assisto a esse ocaso. O tri­un­vi­rato que assumiu o comando do pais em 2003 tinha tudo para ter o mais lumi­noso futuro e colo­car o Brasil no cam­inho da pros­peri­dade.

A eleição do sen­hor Lula foi inques­tionável, ninguém dis­cu­tia sua legit­im­i­dade para coman­dar o país; a larga maio­ria da pop­u­lação o apoiava; o con­gresso, for­mado quase sem­pre por pes­soas sem cred­i­bil­i­dade, não tinha como enfrentar o gov­erno que “sur­fava” nos mais ele­va­dos índices de pop­u­lar­i­dade; podiam fazer aprovar todas as medi­das que quisessem sem maiores embargos.

Ainda hoje me per­gunto o porquê de terem optado pelo cam­inho do fisi­ol­o­gismo; dos acor­dos espúrios; do “toma lá dá cá”, ao invés de con­stru­irem uma base de sus­ten­tação política com as mel­hores pes­soas do Con­gresso Nacional.

Ora, mesmo o PSDB que perdera a eleição e entre­gava o gov­erno, não tenho dúvi­das, apoiaria um gov­erno de união nacional. Vimos isso na tran­sição. O gov­erno de Fer­nando Hen­rique Car­doso facil­i­tou e apoiou em tudo que lhe foi solic­i­tado na troca de gov­erno. Mesmo a cessão de nomes para inte­grar o gov­erno e evi­tar maiores sobres­saltos foi ofer­tada a nova equipe, que con­tou, no primeiro momento, com este suporte.

Ape­sar de tudo isso preferi­ram apos­tar na política de «terra arrasada” satanizando o gov­erno ante­rior e se apre­sen­tando como “fun­dadores» da República, quem não lem­bra do bor­dão “nunca antes na história deste país”?

O resul­tado para o país das opções erradas que tomaram naquele momento são estas que esta­mos vivendo.

Foi o tri­un­vi­rato, que aparece na fotografia que ilus­tra esse texto, o respon­sável por quase tudo que o Brasil vem pas­sando, por vaidade, arrogân­cia e cin­ismo, os seus defen­sores não recon­hecem isso.

Entre­tanto, não há como fugir da real­i­dade de que foram eles – o tri­un­vi­rato –, e out­ros inte­grantes de ponta do chamado “núcleo duro» que fiz­eram a opção de lotear os gov­er­nos de Lula/​Dilma entre o que se tinha de pior da política brasileira.

Foram eles que mon­taram, coor­denaram, tin­ham con­hec­i­mento, par­tic­i­param ou silen­cia­ram enquanto as bur­ras da viúva eram alivi­adas.

Na sanha alu­ci­nada do «poder pelo poder”, não medi­ram as con­se­quên­cias que os seus atos trariam para o país. Man­tiveram e ampli­aram todos os esque­mas de cor­rupção em todas as áreas do gov­erno, investindo pesado no desmonte da Petro­bras, onde todos os recur­sos, inclu­sive os dos rou­bos, eram e são superla­tivos.

Agora mesmo, quando os vejo satanizar o gov­erno Temer, fico com a impressão que estão desconec­ta­dos da história. Agem como se esque­cessem que o Temer – e todos os que o cer­cam – não tivesse sido escol­hido por eles para vice-​presidente na chapa de Dilma e apre­sen­tado como uma espé­cie de gênio da polit­ica, o mais capac­i­tado, que pode­ria ocu­par tal cargo na sua ausên­cia. Nos enga­naram nisso tam­bém? Parece que sim.

O tri­un­vi­rato petista, atrás das grades, purga parte dos seus peca­dos. Infe­liz­mente são tan­tos, que a sociedade brasileira tam­bém é con­vi­dada a pagar a conta dos seus “malfeitos”.

Abdon Mar­inho é advo­gado.