MEU QUERIDO INIMIGO.
Por Abdon Marinho.
FOI o gênio de Fernando Pessoa que cunhou as belas palavras que seguem abaixo no poema “Autopsicografia”:
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Quando o poeta nos brindou com tais versos não conhecia o poder de fingimento que acomete os políticos brasileiros de uma forma geral e aos maranhenses em especial.
Agora mesmo vejo dois lados da política maranhense se digladiando, dinistas e roseanistas ou sarneysistas, com ataques mútuos e críticas recíprocas, fingem uma antipatia que de fato não sentem. Pelo contrário, ambos, os grupos, até se admiram e poderiam, por vezes até demonstrarem mais afeto se não fosse a necessidade de fingir, como aliás, vimos recentemente, o comandante do Partido Comunista do Brasil — PCdoB, senhor Márcio Jerry, com “capo” do Sistema Mirante de Comunicação e irmão da pré-candidata Roseana Sarney, Fernando, num agradável colóquio com direito a efusivo abraço no velório do ex-senador Epitácio Cafeteira.
Só não digo que tudo que comunistas e sarneysistas mais queriam nesta quadra política era o confronto entre eles, porque do lado dos atuais donatários do poder foi acalentada a ideia de que poderia vencer a eleição por WO, ou seja, sem adversários, chapa única, com adversários só para dar o verniz da legitimidade, como, aliás, registre-se, é a prática em todos os regimes autoritários que se prezam.
Os comunistas maranhenses sonharam e tudo fizeram (ou fazem) para afastar os demais concorrentes da disputa, não se podendo aferir o nível do “convencimento” que empregam e/ou mesmo sua legitimidade em face do modelo de democracia que vivemos.
Espalharam a não mais poder que fulano, sicrano ou beltrano não seriam candidatos, que seriam “convencidos” a não disputar.
Fora o modelo da candidatura única – com a vertente do adversário de “mentirinha” ou para constar –, tudo que eles desejavam era a candidatura de Roseana Sarney, pediram isso diversas vezes e vice-versa.
O grupo Sarney também era e é desejoso deste confronto. Querem fazer a confrontação dos governos de Roseana com o do atual governo do senhor Dino, a quem acusam de pouco ou nada fazer
São os “queridos inimigos”. A ambos interessa o discurso da “encruzilhada do atraso” entre Sarney e Anti-Sarney que, como mostrei em textos anteriores, só tem levado o Maranhão para insignificância e para a miséria do povo, apesar de ser, dos estados da federação, um dos mais ricos.
Este é o debate que querem travar e que, sabemos, não interessa ao Maranhão e ao nosso povo. O debate para saber quem é o responsável pela miséria e quantos miseráveis cada um gerou. Se nos governos da senhora Roseana foram gerados mais miseráveis que no atual governo do senhor Dino; se a violência era maior lá ou agora; se a corrupção era maior ou menor, e por aí afora.
Ora, sabemos o que foram os governos da senhora Roseana e estamos vendo o que é o governo do senhor Dino.
São governos que não apontaram e não apontam um futuro de desenvolvimento para o estado. Eles não têm projetos de desenvolvimento e não possuem a capacidade de ouvir quem tenha. Administraram e administram com perspectiva do “arroz com feijão”, das obras públicas que são próprias de gestores municipais e não de governos que têm a responsabilidade com o crescimento econômico do estado, a geração de empregos e renda, obras estruturantes capazes de elevar a economia estadual de patamar.
Um dos maiores problemas do estado é a falta de emprego para os jovens, para os pais de família e, já vimos – e estamos vendo –, as iniciativas dos atuais “cordiais adversários”, não foram capazes de apresentar soluções.
O quadro político atual só não se apresenta pior diante da terrível perspectiva, que se afigurou, e que foi vendida, da candidatura única. Fora isso, o quadro do debate dicotômico entre comunistas e sarneysistas é a segunda pior opção.
Extraio de positivo do anúncio de que a ex-governadora Roseana se apresenta para a disputa, apenas a possibilidade de que seu ingresso incentive a participação de outros políticos, com outras propostas de governo para o debate. E que isso nos prive do debate vergonhoso de quem gerou mais miseráveis e mortos.
O Maranhão precisa que outros quadros políticos – já testados ou não –, entrem no debate político apresentando suas propostas para sairmos do final da fila do desenvolvimento. Precisamos de propostas de governos audaciosas e que apontem para o desenvolvimento, para o crescimento econômico, com geração de emprego e renda para os jovens; precisamos integrar projetos de infraestrutura nas diversas regiões do estado.
Para que isso ocorra é necessário que as pessoas que têm ideias, além do debate dicotômico Sarney-Anti-Sarney, se apresentem, participem do debate político, disputem a eleição que se avizinha. Quem não se apresentar agora não terá qualquer legitimidade no futuro.
Chega a ser patético que já tendo avançado tanto no século 21, a nossa pauta ainda seja da miséria, das estradas que se desmancham nas primeiras chuvas, da violência que assombra a família.
Este é o debate da vergonha. Os brasileiros/maranhenses não temos estímulo para votar num quadro que se afigura tão desalentador.
Precisamos que surjam mais nomes, com trabalho, projetos, história de vida limpa, que nos apresentem soluções para os problemas do estado como perspectiva de desenvolvimento real. Os nomes que se apresentam, pelo mostraram e mostram estão longe de representar alguma novidade neste quesito.
O Maranhão não avançará se insistirem no debate de “comadres” que ensaiam. Precisamos ir além disso e este é o momento.
E existem outras possibilidades de trazer o desenvolvimento para o estado, uma delas é o projeto da Zona de Exportação do Maranhão — ZEMA, que o senador Roberto Rocha encampa desde que iniciou seu mandato; também o projeto do polo aeroespacial de Alcântara, que tem o deputado José Reinaldo, como um dos precursores. Além disso faz-se necessário conhecer os projetos de desenvolvimento de outros políticos, como da pré-candidata Maura Jorge que se coloca na disputa ou até mesmo de outros políticos, como por exemplo, o deputado Pedro Fernandes; Eduardo Braide, e outros que devem aparecer mas que não me ocorre lembrar no momento. O debate político atual é tão ordinário que nem nomes para lembrar temos.
O que reputo como importante é que saiamos deste dueto de uma proposta só. A proposta do atraso.
Até fingem que são propostas diversas mas no fundo, tem o mesmo viés e não apontam para lugar algum que de fato interesse aos cidadãos, aos jovens, aos senhores e senhoras, pais de famílias que precisam fechar as contas no final do mês.
Abdon Marinho é advogado.