AbdonMarinho - A PEREGRINAÇÃO DO ÓCIO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A PERE­GRI­NAÇÃO DO ÓCIO.

A PERE­GRI­NAÇÃO DO ÓCIO.

Por Abdon Marinho.

SOUBE através do sen­hor Flávio Dino – quase uma dezenas de ami­gos man­daram sua men­sagem de vídeo –, que ele e out­ros nove gov­er­nadores estiveram, hoje, 10 de abril, em Curitiba, no Paraná.

Nas palavras do gov­er­nador, foram hipote­car sol­i­dariedade pes­soal e política ao ex-​presidente Lula, segundo eles, vítima de um erro judi­cial, tanto na questão de mérito, pois o caso do aparta­mento não com­por­taria tal con­de­nação, como tam­bém a questão do cumpri­mento da pena, pois dev­e­ria esperar o trân­sito em jul­gado da sen­tença con­de­natória con­forme pre­ceitua o Código de Processo Penal e Con­sti­tu­ição Fed­eral; pregam a resti­tu­ição da sua liber­dade e dos seus dire­itos políti­cos e encerra com a palavra de ordem: Lula livre.

Cer­ta­mente estes governadores-​peregrinos foram à cap­i­tal do Paraná às suas próprias expen­sas, pagando as pas­sagens, em voos de car­reira, com seus cartões ou dos próprios bol­sos.

Não seria de esperar outra con­duta daque­les que se dizem tão éti­cos.

A viagem valeu pelo pas­seio, uma vez que a juíza da Vara de Exe­cuções Penais, apli­cando a lei, deter­mi­nou que o ex-​presidente – assim como os demais pre­sos –, só tem dire­ito a visita dos seus advo­ga­dos e dos famil­iares, estes dev­i­da­mente cadastra­dos, uma vez por sem­ana, nas quartas-​feiras.

Desnecessário dizer do acerto da juíza ao cumprir a lei e não ceder a pataquada que suas excelên­cias pre­tendiam ence­nar.

Sem­pre acho pre­ocu­pante autori­dades não saberem sep­a­rar opor­tunismo político de funções insti­tu­cionais. E não falo ape­nas da anom­alia de tentarem infringirem as nor­mas do sis­tema carcerário. Vai além.

O gov­er­nador do Maran­hão, por exem­plo, não sei se falou em nome dos demais no vídeo que fez dis­tribuir, clara­mente desafia a autori­dade do poder judi­ciário que jul­gou e con­de­nou o ex-​presidente Lula a doze anos e um mês de prisão no processo do aparta­mento do Guarujá.

Caso tenha man­i­fes­tado um sen­ti­mento cole­tivo, os gov­er­nadores foram a Curitiba dizer que o mérito jul­ga­mento, já con­fir­mado em segunda instân­cia, e que os tri­bunais supe­ri­ores – ainda que não ten­ham se man­i­fes­tado no processo através de recur­sos espe­cial e extra­ordinário –, apre­ciando HC disse não haver qual­quer incom­pat­i­bil­i­dade com o cumpri­mento da pena.

Estivésse­mos diante de par­ente injustiça ou ile­gal­i­dade, STJ e STF diriam isso?

Será que os gov­er­nadores ao se imiscuirem-​se no mérito de decisões judi­ci­ais e cumpri­mento de pena, se acham com legit­im­i­dade para mod­i­ficar a situ­ação posta?

Só não arrisco dizer que foi uma “estu­dan­tada” porque dez ou nove gov­er­nadores, legí­ti­mos rep­re­sen­tantes do povo, devem saber o que estão fazendo e o momento em que estão fazendo.

Se acham que qual­quer “amigo” ou “ali­ado” pode vis­i­tar os pre­sos quando bem enten­derem, talvez pre­tendam fazer gestões junto aos Judi­ciário e deter­mi­nar as admin­is­trações pen­i­ten­ciárias dos seus esta­dos que passem a agir deste modo. Qual­quer dia, qual­quer hora, um “amigo” pode bater na porta do presí­dio para “levar um papo” com o amigo encarcerado.

Se acham que os con­de­na­dos em primeira e segunda instân­cia só devem cumprir pena após não lhes restar quais­quer recur­sos nas demais instân­cias da justiça, pois esse é um dire­ito dos cidadãos e que o con­trário disso é ofender a ordem jurídica e a Con­sti­tu­ição, talvez pre­tendam, tam­bém, junto à justiça de seus esta­dos, envi­dar os esforços necessários para soltarem todos os encar­cer­a­dos que se encon­tram nas mes­mas condições do ex-​presidente Lula.

A per­si­s­tir a “ideia” que foram vender em Curitiba vão resolver o prob­lema carcerário nacional.

Para isso vão deter­mi­nar a soltura de todos os pre­sos pro­visórios, todos os con­de­na­dos na primeira e instân­cia e ainda aque­les que con­de­na­dos em segunda instân­cia, ainda têm recur­sos pen­dentes nos tri­bunais superiores.

E, como são autên­ti­cos democ­ratas e defen­sores dos dire­itos humanos, da Con­sti­tu­ição, per­manecerão tam­bém soltos os que fiz­erem ape­los à ONU e out­ros organ­is­mos inter­na­cionais.

Estará resolvido o assunto que tanto afligem os cidadãos pagadores de impos­tos.

O exem­plo para ser bom, já dizia meu pai, tem que começar den­tro de casa.

Os gov­er­nadores que ocu­param um dia útil de tra­balho passe­ando e fazendo pros­elit­ismo político no Paraná, pode­riam envi­dar seus esforços para aplicar as ideias que foram defender em relação ao sen­hor Lula à pop­u­lação carcerária dos seus esta­dos. Não é uma boa ideia?

E, como cer­ta­mente, não tem assun­tos mais urgentes a se ocu­parem, já encon­traram uma ocu­pação.

Pois é, a econo­mia dos esta­dos, vai de vento em popa.

A infraestru­tura, uma maravilha;

Mesmo as chu­vas tor­ren­ci­ais que caem no nordeste do país, não afe­tou em nada a vida das pes­soas.

Edu­cação e saúde, dis­pen­sam quais­quer cuida­dos.

Pronto, suas excelên­cias poderão se dedicar a causa de soltar os pre­sos con­de­na­dos ape­nas em segunda instân­cia, trata-​se de uma causa que deve unir todos os brasileiros, como bem disse o gov­er­nador do Maranhão.

E eu que pen­sava que as coisas não pode­riam mais pio­rar no Brasil.

Abdon Mar­inho é advo­gado.